quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

FRENTE ÚNICA JÁ!

Por: Odilon de Mattos Filho:
Tem um aforismo na política brasileira que foi criado por Magalhães Pinto, ex-governador de Minas Gerais, que diz o seguinte: “Política é igual nuvem. Você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já está de outro jeito”. E realmente essa metáfora retrata a inconstância na dinâmica política do país.

Dito isso, podemos concluir, também, que há várias formas de leitura que permite analisar o peso dessa “nuvem” e antecipar os seus movimentos, desdobramentos e o seu desfecho. Porém, nos parece que a esquerda brasileira, especialmente, o PT desaprendeu como fazer essa análise ou simplesmente faz olhando apenas para o seu umbigo, foi o caso, por exemplo, das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados e para o Senado Federal ocorridas neste ano de 2021.

Sabemos ser intrínseco ao campo progressista a tática de intensificar, mobilizar, organizar a luta social e reconquistar, a cada dia, a classe trabalhadora. Mas, a esquerda brasileira abandonou essa tática e optou pelos espaços institucionais, especialmente, pelo parlamento e o resultado nós conhecemos, aliás, é o que Karl Marx chama de “cretinice parlamentar”. 

Não há argumento plausível que sustente a malfadada decisão de apoiar os dois candidatos golpistas e governistas como aconteceu nas eleições do Congresso Nacional em 2021. A esquerda, em especial, a Direção do PT perdeu a grande chance de marcar território e mostrar à classe trabalhadora que, realmente, existe oposição a este governo negacionista, genocida e patronal, mas, o Partido preferiu apoiar Baleia Rossi (MDB) e Rodrigo Pacheco (DEM) com a cretina justificativa de tentar ocupar cargos na mesa e nas comissões para reduzir futuros danos. A propósito, fato semelhante ocorreu nas eleições de 2017 com Rodrigo Maia para a Câmara e Eunício para o Senado, mas, parece que as lições não foram assimiladas.

Aliás, pela atualidade das palavras e dos fatos, vale recuperar a manifestação do senador à época, Lidbergh Farias (PT/RJ) sobre a decisão da Direção do PT de negociar com Rodrigo Maia e Eunício. Disse o senador: “...É um cretinismo parlamentar. É quando um parlamentar de esquerda, que está no Parlamento há muito tempo, começa a achar que tudo é Parlamento, que o mundo é Parlamento. Fora, você tem movimentos sociais, sindicais, etc... É um escândalo, um erro brutal. Uma decisão descolada da realidade, sem consonância com a militância do partido e da esquerda em geral..Precisamos entrar 2017 com sangue nos olhos, pedindo diretas já e defendendo Lula1”.

De volta às recentes eleições das duas Casas e a tática suicida do PT, vale citar os acertados comentários do professor Daniel Valença da UFERSA sobre este fato. Escreveu o professor: “...Poderíamos estar com uma candidatura própria defendendo, ao longo de todo esse período, o impeachment de Bolsonaro, o fim das privatizações e a reestatização das empresas privatizadas após o golpe; a derrubada da EC 95, das reformas da previdência e trabalhista...Além de se constituir-se em instrumento de politização da população, em meio a um estágio da luta de classes que mais se assemelha a uma maratona que a cem metros rasos. Inclusive, uma candidatura de esquerda nos possibilitaria chegar ao segundo turno em melhores condições. E, antes de mais nada, deixaria demarcado para as classes trabalhadoras que não há alternativa senão derrotarmos os neoliberais e a extrema direita; ao final, eles muito mais se assemelham que se diferenciam...2” .

Neste mesmo sentido, um abaixo-assinado do agrupamento Diálogo e Ação Petista – DAP de Santa Catarina retrata, também, a revolta da militância contra essa tática da Direção do PT em apoiar os golpistas na Câmara e no Senado. Diz a Nota: “[Esse apoio] desqualifica a resistência ao golpe do impeachment dado por essa gente, às miseráveis PECs que votaram contra o povo e a nação e é um instrumento contra lutas futuras...Rodrigo Maia é o homem da contra-reforma da Previdência e o presidente atual da Câmara que está sentado em cima de 60 pedidos de processo de impeachment contra Bolsonaro...Não é possível que na disputa, nesta hora trágica, em face da barbárie, não haja Oposição real no país. Sim, é da responsabilidade do PT que o povo brasileiro veja que existe uma Oposição. A única unidade da Oposição é uma candidatura democrática e antiimperialista, que urge apresentar3”.

Evidente que estamos destacando o PT porque é o Partido que possui a maior bancada na Câmara dos Deputados e porque, reconhecidamente, é o maior e mais importante Partido de esquerda do Brasil e da América Latina, mas que juntamente com os demais Partidos de esquerda, eraram grosseiramente na tática escolhida para as eleições da presidência da Câmara e do Senado, o que não significa, porém, que devemos jogá-los aos leões, até porque sabemos da relevância dos demais Partidos de esquerda do país e da importância do PT como um Partido Operário, de massas e como referência, esperança e instrumento para a luta da classe trabalhadora. 

Portanto, cabe agora a Direção Nacional do PT reconhecer o seu erro, catar os cacos, aceitar que não há espaço para conciliação e agir como o PT agia, ou seja, primeiro, o Partido necessita resgatar o seu papel histórico e político contra a ordem capitalista e anti-sistema e depois buscar a unidade com os demais Partidos de esquerda, com as centrais sindicais e com os  movimentos sociais para formar uma Frente Única e conclamar a classe trabalhadora e a sociedade em geral a ganharem as ruas do país e exigir o fim deste governo bonapartista, negacionista e genocida.  Foco e ação camaradas! 

 

 



1 Fonte: https://www.midiamax.com.br/politica/2017/e-um-escandalo-diz-lindbergh-sobre-apoio-do-pt-a-lideres-pro-impeachment 

2 Fonte:https://www.brasil247.com/blog/a-eleicao-da-presidencia-da-camara-e-o-pt

3-Fonte: https://petista.org.br/2021/01/04/petistas-coletam-adesao-ao-maia-nao-da/

 

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