Respeitem Lula!

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A farsa do "Choque de Gestão" de Aécio "Never"

“Veja” abaixo a farsa que foi o famoso “Choque de Gestão” na administração do ex-governador Aécio “Never" (...)

A MAIS TRADICIONAL E IMPORTANTE FACULDADE DE DIREITO DO BRASIL HOMENAGEIA O MINISTRO LEWANDWSKI

"O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski recebeu um “voto de solidariedade” da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) pela “dedicação, independência e imparcialidade” em sua atuação na corte. (...)

NOVA CLASSE "C"

Tendo em vista a importância do tema, reproduzimos post do sitio "Conversa Afiada" que reproduz trecho da entrevista que Renato Meirelles deu a Kennedy Alencar na RedeTV, que trata da impressionante expansão da classe média brasileira. (...)

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

OS BANQUEIROS GOVERNAM O BRASIL?


Por: Odilon de Mattos Filho

É sabido que um dos braços fortes do capitalismo em decomposição é o sistema financeiro. Um  conjunto de entidades e instituições altamente lucrativo, expropriador e explorador que tem os seus tentáculos espalhados por vários lugares chaves, como, por exemplo, na mídia, nos Partidos Políticos, nos Parlamentos, no Sistema Judiciário e nos governos mundo afora.

Aliás, para compreendemos melhor o atual sistema de rapina (Bancos) vale ler “O Capital do Século XX” de Thomas Piketty que dentre outros pontos analisa a financeirização, a armadilha da dívida pública e a concentração da riqueza no planeta.

No Brasil essa percepção da promiscuidade entre o sistema financeiro e o Estado é muito maior, tanto, que até em governos ditos de esquerdas, como aconteceu nos mandatos de Lula e Dilma o sistema estava muito bem representado, Henrique Meireles e Joaquim Levy são exemplos clássicos dessa afirmativa, aliás, a grande maioria dos presidentes do Banco Central do Brasil (BCB) são oriundos do Sistema Financeiro.

Aqui em terras tupiniquins, os banqueiros para ampliar seus lucros lutaram por anos a fio pela autonomia e independência do BCB, até que no atual governo de extrema direita conseguiram realizar o seu grande desejo, ou seja, o governo abriu mão da nossa soberania monetária e a colocou nas mãos do mercado e do sistema financeiro nacional e internacional, trocando em miúdos, colocou a rapousa dentro do galinheiro. Aliás, a velha narrativa daqueles que defendem a autonomia sempre foi a de que o BCB nas mãos dos não políticos contribuirá para uma maior estabilidade monetária, pois, não estará sobre a pressão política, ao contrário, desenvolverá o seu trabalho sempre pautado pela racionalidade da tecnocracia. Um argumento, como veremos a seguir, que não se sustenta e que não passa de uma balela descarada e desvergonhosa para enganar o povo, 

Neste contexto, explodiu um escândalo no mundo financeiro brasileiro, nessa última semana do mês de outubro, que desmontou por completo essa narrativa dos banqueiros. Um áudio vazado do banqueiro André Esteves dono do BTG Pactual, que tem no ministro Paulo Guedes um de seus fundadores, mostrou as entranhas do conluio entre banqueiros, políticos, governo e o BCB.

O áudio é de uma Conferência fechada do BTG Pactual, ocorrida no dia 21/10/2021 e vazado para o Portal 247. Nessa conferência André Esteves disse que convenceu ministros do STF, que à época analisavam uma ação sobre o tema, da importância da independência do BCB. Disse, ainda, que recebeu uma ligação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), perguntando sobre a repercussão no mercado, da saída de quatro assessores do Ministério da Economia, mostrando uma intimidade incomum com o presidente da Câmara, e foi mais longe: assumiu, também, a paternidade da Emenda Constitucional do Teto de Gastos que congelou recursos da saúde e da educação por vinte anos, aliás, sobre essa EC vale citar as precisas e sábias palavras de Jeferson Miola que disse “...EC representou o pacto das oligarquias para oportunizar o aumento da apropriação dos fundos públicos pelo rentismo em prejuízo da maioria da população, sacrificada com cortes em áreas essenciais como SUS, educação e políticas sociais...1

Nesse mesmo áudio André Esteves afirma que um ano atrás foi consultado pelo presidente do BCB, Roberto Campos Neto sobre o limite para a queda da taxa de juros Selic e em seguida relatou aos participantes da Conferência a sua conversa com presidente do BC: “Eu achei que a gente meio que caiu demais os juros na pandemia, para esses 2%. Eu me lembro que tem um conceito que chama lower bound, alguns aqui já devem ter ouvido falar, que é qual a taxa de juros mínima. E eu me lembro que o juros tava assim em uns 3,5% e o Roberto me ligou para perguntar: ‘pô, André, o que você está achando disso, onde você acha que está o lower bound?’. Eu falei assim: ‘olha, Roberto, eu não sei onde que está, mas eu estou vendo pelo retrovisor, porque a gente já passou por ele. A gente… acho que em algum momento a gente se achou inglês demais e levamos esse juros para 2% o que eu acho que é um pouquinho fora de apreço. Acho que a gente não comporta ainda esse juros2”.

Esse aconselhamento do presidente do BCB com o banqueiro André Esteves é a mesma coisa que um juiz combinar com o presidente de um time de futebol o resultado do jogo que vai apitar. Isso é escandaloso, imoral e mostra a  promiscuidade e a submissão da área econômica do governo e do BCB aos banqueiros de plantão. E aqui não podemos deixar de destacar o papel da mídia que incobre e é partícipe desses abjetos aranjos que ao longos dos anos está nos conduzindo a um perigoso retrocesso civilizatório, vide o desgoverno Bolsonaro.    

Após essas revelações, o presidente do BCB, que, diga-se de passagem, possui milhões em paraísos fiscais, conforme denunciado pelo “Consórcio Internacional de Jornalistas investigativos” (ICIJ), soltou uma Nota afirmando que isso “...é da prática de bancos centrais e de autoridades de supervisão no mundo. Os membros da Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil mantêm contatos institucionais periódicos com executivos de mercados e esses contatos incluem dirigentes de instituições financeiras.3.”

Evidente que essa Nota é uma afronta, pois, mesmo discordando dessa prática, mas considerando essas "conversas" o certo é que elas deveriam ser realizadas em reuniões públicas, transparentes e devidamente agendadas e não por telefone de maneira sorrateira e altamente suspeita e comprometedora.

Assim, não pairam dúvidas que diante desse escândalo, o presidente do BCB deveria pedir demissão do seu cargo ou o Conselho Monetário Nacional deveria submeter ao presidente da república e ao senado federal a proposta de sua exoneração, aliás, a denúncia do (ICIJ) já seria suficiente para essa demissão, não só dele, mas, também, de Paulo Guedes que escondeu uma fortuna nos paraísos fiscais. Mas, lamentavelmente, no atual momento que o país vive, a falta de ética, moral e até o crime, são, solenemente ignorados pelas velhas e aparelhadas instituições que deveriam fiscalizar e punir esses infratores.

Dessa forma, está muito claro que as relações de poder da direita continuam fortemente baseadas, como afirma Emir Sader "....no sistema financeiro e no monopólio privado da mídia que são as suas bases fundamentais de sustentação. Aí resiste, no essencial, o poder, mesmo nos países onde predominam politicas posneoliberais4".

Diante de tudo isso é fácil responder a pergunta do título deste texto: Os banqueiros governam o Brasil? A reposta é simples e objetiva: sim!






1 Fonte: https://www.brasil247.com/blog/banqueiro-do-btg-mostra-brasil-capturado-pelo-rentismo
2 Fonte: https://www.poder360.com.br/economia/andre-esteves-do-btg-diz-ser-consultado-por-campos-neto-sobre-piso-de-juros/
3 Fonte: https://www.brasil247.com/economia/presidente-do-banco-central-confirma-consulta-a-andre-esteves-sobre-taxa-de-juros-e-diz-que-e-pratica-de-bancos-centrais
4-Fonte:https://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/O-poder-cade-o-poder-/2/30934

 

terça-feira, 19 de outubro de 2021

O NOVO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E O VELHO PRECONCEITO

Por: Odilon de Mattos Filho

Sabemos ser de reconhecimento mundial o Programa Bolsa Família criado no primeiro mandato do governo Lula e que está completando 18 anos. Aliás, a ONU o considerou modelo de instrumento de transferência de renda e a FAO como uma das principais estratégias para a superação da fome. Esse programa atende mais 14 milhões de famílias, o que corresponde a um quarto da população brasileira.

O Bolsa Família foi criado como uma Política de Estado, no entanto, no atual governo esse programa é visto como política de um governo de esquerda e que tem uma identificação muito forte com o presidente Lula e com o Partido dos Trabalhadores.

É fato que o presidente Bolsonaro e sua camarilha estão muito preocupados com as pesquisas de intenção de voto, pois, se as eleições fossem hoje, certamente, o presidente Lula venceria no primeiro turno. Evidente que essas pesquisas favoráveis ao presidente Lula não é apenas em virtude do legado do seu governo, mas também e especialmente, pelo caos econômico, social e institucional em que se encontra o país comandado pelo ex-capitão Bolsonaro.

No campo econômico o atual governo está amarrado e é partícipe de um modelo de política que privilegia apenas as elites dominantes e por outro lado, é extremamente excludente, e os defasados salários, o desemprego nas alturas, a alta informalidade, a carestia dos alimentos e a fome, são exemplos desse nefasto modelo econômico.

Quanto às Políticas Públicas o que estamos assistindo, também, é o fim ou a drástica diminuição das políticas sociais, inclusive, aquelas voltadas para educação, saúde e cultura, e a Pandemia que, lamentavelmente, já matou mais de seiscentos mil irmãos brasileiros é a prova inconteste da omissão e do absoluto fracasso do atual desgoverno.

O presidente Bolsonaro, desculpa a redundância, que só pensa nas eleições de 2022, sabe que com relação à política econômica não poderá fazer absolutamente nada de diferente, dado o seu comprometimento e os acordos com as elites nacional e internacional. Mas, por outro lado, ele sabe pela experiência com o Auxílio Emergencial, que pode fazer alguma coisa para tentar equilibrar o jogo eleitoral. Neste contexto e estrategicamente, Bolsonaro editou a MP nº 1.061/2021, que criou o Auxílio Brasil que substituirá o Bolsa Família. Com essa MP, que brevemente se transformará em lei, Bolsonaro conseguirá turbinar financeiramente esse programa e ao mesmo tempo, tentará apagar da memória da população o programa Bolsa Família, que como dito alhures, está intimamente ligado ao seu adversário, o presidente Lula e ao PT.

No entanto, esse novo programa, “Auxílio Brasil” já nasce com a marca deste governo reacionário e reconhecidamente preconceituoso, aliás, com a mesma mentalidade com que as elites dominantes olham os pobres do Brasil.

Neste novo programa, para ficarmos em apenas um exemplo, está previsto bonificações aos beneficiários que conseguirem um emprego formal. Tentando explicar ou enaltecer esse ponto do programa, o relator do Projeto, deputado, Marcelo Aras (PP/MG) em entrevista ao jornal Correio Brasiliense, disse que essa bonificação será uma forma de “estimular esse cara a continuar empregado1”.

Essa fala do deputado trás duas tristes constatações: a primeira é a lógica da perversidade. Será que o deputado esqueceu que o Brasil tem mais de 14 milhões de desempregados e mais de 36 milhões na informalidade, portanto, sem CTPS assinada? A segunda constatação, é que a frase do deputado nada mais é do que a reprodução da voz preconceituosa das elites do país. Aliás, sobre essa fala, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello disse: "...falar que uma pessoa precisa de estímulo para ficar empregado é tratar os mais pobres como vagabundos, como se eles não quisessem ter um emprego” Continuando ela disse: “...dar um bônus apenas aos beneficiários que conseguirem um emprego formal é punir duas vezes a pessoa que não consegue trabalho com carteira assinada – a primeira punição é o desemprego ou o emprego informal e sem direitos; a segunda é ser privada de um benefício, como se a culpa por não ter carteira assinada fosse dela2”.

Portanto, fica claro com esse novo programa “Auxílio Brasil” o desespero que tomou conta do presidente Bolsonaro em tentar ganhar a classe mais pobre do país e se garantir no segundo turno das eleições.de 2022. Aliás, a pressa foi tamanha, que estava marcado o lançamento do programa sem ter ajustado com a equipe econômica o valor das parcelas para os beneficiários e a fonte de receita para cobrir o Auxílio Brasil. Realmente, o pânico bateu no ex-capitão Bolsonaro e em toda sua camarilha. É a sombra do ex-metalúrgico Lula rondando o Palácio do Alvorada!

Agora é esperar para ver se essa estratégia de Bolsonaro poderá encobrir e fazer com que o povo esqueça o preconceito, a mesquinhez, o ódio, a corrupção, a violência e a incompetência deste governo que com a sua rotineira desídia não conseguiu evitar, por exemplo, que mais de seiscentos mil brasileiros e brasileiras perdessem suas vidas com essa Pandemia.

E diante desse tenebroso quadro, só nos resta aguardar que este sofrido povo brasileiro tenha amadurecido e se conscientizado politicamente, pois, o que está em jogo é a nossa incipiente democracia e o futuro das novas gerações. 





 

 

 

 



1 Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/10/4955804-marcelo-aro-nao-faz-sentido-prorrogar-o-auxilio-emergencial.html

2 Fonte: https://pt.org.br/com-auxilio-brasil-bolsonaro-mostra-seu-preconceito-contra-os-pobres/

 

sábado, 9 de outubro de 2021

OS PARAÍSOS FISCAIS DAS ELITES TUPINIQUINS

 

Por: Odilon de Mattos Filho:
Não precisamos teorizar sobre o perfil dos “homens/mulheres” que defendem ardorosamente o carcomido e cruel sistema capitalista, pois, isso já é de conhecimento até do “mundo mineral”, como diria o brilhante jornalista Mino Carta. Este sistema capitalista que, de um lado é excludente e explorador da força de trabalho é o mesmo que defende os interesses das classes dominantes, inclusive, utilizando-se de vários subterfúgios amorais e até ilegais para proteger essa casta.

Veio à tona, graças ao “Consórcio Internacional de Jornalistas investigativos (ICIJ)” uma grave denúncia fruto de uma série de reportagens investigativas denominada Pandora Papers que mostra o sombrio mundo das aplicações financeiras nos paraísos fiscais por meio de offshore que são empresas de fachada que visam ocultar o patrimônio de celebridades, políticos, empresários e outros “personagens” fora de seus países de origem.

Segundo essa denúncia do ICIJ, figuram aproximadamente 330 políticos e 130 bilionários brasileiros com grana nestes paraísos fiscais, tais como: Luciano Hang, uma neta da família Marinho, filhos do apresentador Ratinho, os irmãos e sócios da rádio Jovem Pan, o grupo neonazista da Prevent Senior e mais alguns personagens da aristocracia tupiniquim, com destaque para as mais importantes autoridades financeiras do país, o Ministro da Economia, Paulo Guedes e o Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. O ministro Guedes, por exemplo, pode ter lucrado mais de R$ 16 milhões com a desvalorização do real diante do dólar, somente no período deste governo, aliás, é aqui que reside o grave problema do interesse público e que é o centro do debate político neste momento. Aliás, é esse caso é está sendo debatido e noticiado em sites independentes, pois, a grande mídia tenta esconder esse escândalo, porque como vimos acima, vários barões da mídia têm dinheiro escondido nesses paraísos fiscais e divulgar essa notícia é confessar o crime de corrupção, ou simplesmente, estão lucrando com essa política cambial e econômica.

Porém, antes de analisarmos o núcleo da questão, há que se ressaltar, que essas aplicações em paraísos fiscais, a depender do país dos aplicadores, são corriqueiros e legais. No Brasil, por exemplo, brasileiros podem aplicar seus recursos financeiros em paraísos fiscais, porém, essas transações têm que ser comunicadas à Receita Federal e ao Banco Central do Brasil e no caso de funcionários ou agentes públicos essa aplicação tem que ser informada, também, à Comissão de Ética Pública da Presidência da República que é regida pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal.

De acordo com algumas reportagens o ministro Paulo Guedes e o presidente do BC, Roberto Campos se defenderam afirmando que essas aplicações foram devidamente comunicadas aos órgãos acima mencionados, no entanto, isso não é suficiente, ou seja, pelo cargo que ocupam, não basta a essas autoridades serem honestas, devem parecer honestas, por essa razão perguntas merecem respostas: como ficam as questões ética e de interesse público neste caso? Por que o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central do Brasil têm aplicações em paraísos fiscais e não no Brasil, seria para fugir dos impostos ou trata-se dinheiro suspeito ou sujo? Será que não confiam nas próprias políticas econômicas por eles implementadas?

Sabe-se que o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal, proíbe funcionários do alto escalão de manter aplicações financeiras, no Brasil ou no exterior, passíveis de ser afetadas por políticas governamentais, porém, parece que essas autoridades fingem não conhecer esse dispositivo legal e ao mesmo tempo, parecem ter certeza, também, da impunidade, dado os elevados cargos que ocupam no governo central.

Não pairam dúvidas de que as duas nobres autoridades, no mínimo, infringiram o referido artigo 5º Código de Conduta da Alta Administração Federal, pois, as políticas financeiras e econômicas adotadas no país, têm impactos diretos nas aplicações de Paulo Guedes e Roberto Campos nos paraísos fiscais, em especial à política cambial. Neste contexto, dois fatos corroboram essa assertiva. Em palestra, Paulo Guedes disse o seguinte: “o dólar mais alto é bom para todo mundo, pois, o dólar mais baixo, todo mundo estava indo para a Disney, nos Estados Unidos, inclusive, empregada doméstica”. Aqui, além do nojento preconceito de classe,  fica claro que o ministro é defensor da alta do dólar, será por que? Ouro caso que evidencia que as políticas governamentais afetam de maneira positiva as aplicações de Paulo Guedes e Roberto Campos nos paraísos fiscais foi o empenho do ministro da economia junto ao Relator dos projetos que alteram a legislação tributária e que tramitam na Câmara dos Deputados. O ministro Guedes convenceu o Relator da matéria a retirar a incidência de Imposto de Renda sobre os valores mantidos nas “offshores1”, ou seja, o ministro usou da sua condição de chefe da área econômica do governo para pressionar os deputados, é praticamente legislar em causa própria. Um absurdo!

A propósito, neste mesmo sentido o festejado jornalista Luis Nassif pergunta: “O que uma autoridade econômica de uma grande economia pode fazer com seus fundos offshore, tendo acesso a informações antecipadas sobre os rumos da economia e as medidas econômicas? O caso Roberto Campos Neto e Paulo Guedes chamam a atenção. Uma primeira análise é sobre os rumos da política monetária. Ao permitir a notável depreciação do dólar, ambos foram diretamente beneficiados2”. Nassif foi claro ou precisa desenhar?

Aliás, no ano passado, caso semelhante foi descoberto envolvendo Richard Clarida, que foi vice-presidente do Federal Reserve (o Banco Central norte-americano), só que lá houve grande repercussão junto à mídia, tanto que Richard não aguentou a pressão e renunciou ao seu cargo. Mas, aqui no Brasil esse caso, certamente, mais uma vez, acabará em uma enorme pizza que será, devidamente, degustada pelas duas “nobres” autoridades nos paraísos fiscais.

Por fim, vale registrar outro fato que veio à tona com este escândalo e que mostra como a aristocracia tupiniquim é privilegiada e defendida por governos elitistas, corruptos e autoritários. Foi noticiado que os “sessenta e seis maiores devedores brasileiros de impostos, cujas dívidas somam 16,6 bilhões de reais, mantêm offshores com milhões depositados em paraísos fiscais3”, enquanto isso, o governo impõe uma política que destrói o pais com desemprego em massa, arrocho salarial, à fome e a miséria que voltou a tomar conta do país, os altos preços dos alimentos, gás de cozinha e combustíveis, a falta de acessos a moradia, a uma educação e saúde de qualidades, enfim, é um povo totalmente excluído pelo próprio Estado brasileiro, enquanto a classe dominante sonega, não produz um prego no país e aumenta a sua riqueza em paraísos fiscais.

Diante deste caos social, econômico, ético e moral que tomou conta do país, não basta exonerar, ou melhor, demitir o ministro Guedes e o presidente do BC Roberto Campos, a única saída é o povo ganhar as ruas do país e exigir o fim deste governo e a convocação de uma Assembleia Constituinte originária, livre, popular e soberana, pois, fora isso é o agravamento dos caos com consequências perigosas para o Estado Democrático de Direito!


 

 


1Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/guedes-diz-que-dolar-alto-bom-empregada-domestica-estava-indo-para-disney-uma-festa-danada-24245365
2 Fonte: https://jornalggn.com.br/editoria/politica/pandora-papers-o-caminho-para-investigar-paulo-guedes-e-campos-neto-por-luis-nassif/amp/
3 Fonte: https://brasil.elpais.com/pandora-papers/2021-10-04/brasileiros-com-offshores-no-pandora-papers-devem-a-uniao-16-bilhoes-de-reais-em-impostos.html

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

AUSCHWITZ É AQUI

Por: Odilon de Mattos Filho
A velha narrativa utilizada pelas classes dominantes e pelo capitalismo em decomposição para justificar os seus argumentos da necessidade de se constituir um Estado Mínimo com uma ampla política de privatizações e concessões para a iniciativa privada, é a de que o Estado é inoperante, pesado e corrupto. Partícipe desse pensamento o atual governo aposta na aprovação da Reforma Administrativa para colocar em prática parte dessa política de desmonte do Estado brasileiro.

Aliás, o atual governo foi eleito com esse compromisso: defender os interesses do capital nacional e internacional em detrimento aos interesses da classe trabalhadora. E a trancos e barrancos estão conseguindo cumprir as promessas.

A política entreguista e de destruição do Estado brasileiro, pós-redemocratização, teve início com Collor, depois com FHC, passou pelo governo golpista de Michel Temer e tendo continuidade com o governo negacionista e bonapartista de Bolsonaro.

A destruição do Estado brasileiro e o enfraquecimento do pacto social começaram a ser preparadas com Temer quando foi promulgada a EC/95, conhecida como a PEC da Morte, uma política de teto de gastos que, dentre outros absurdos, congelou por vinte anos as receitas da educação e saúde. .

A propósito, o presidente Lula foi muito assertivo e didático quando analisou o teto de gastos, dizendo: "A quem interessa o teto de gastos? Aos banqueiros? Ao sistema financeiro? Gasto é quando você investe um dinheiro que não tem retorno. Quando você dá 1,0 bilhão para o rico é investimento e quando você dá R$ 300 para o pobre é gasto? Nós vamos revogar esse teto de gastos!1",

Com o advento da Pandemia salta aos olhos que a tais narrativas da classe dominante não se sustentam. Essa grave crise sanitária revelou, dentre outras coisas, como essa EC/95 teve impacto negativo nas receitas financeiras da área de saúde, mas, mostrou também, que não obstante esse sucateamento, o nosso Sistema de Saúde Pública é de suma importância para o povo brasileiro. Ficou escancarado igualmente, o quanto o sistema capitalista está em decomposição acelerada e por fim, se comprovou o perigo, a falta de humanidade e de escrúpulos das empresas privadas - com honrosas exceções - que trabalham com a área de saúde.

Neste contexto, ficamos estarrecidos com as revelações da CPI da COVID-19, sobre o modus operandi da Prevente Senior, uma empresa de Plano de Saúde que possui, também, uma rede hospitalar para onde são levados a maioria de seus pacientes.

Ficou cabalmente demonstrado na referida CPI a ligação e a proximidade da direção da Prevente Senior com o “gabinete paralelo” do governo Bolsonaro, especialmente, com relação às condutas médicas defendidas por integrantes desse gabinete, especificamente, com o “tratamento precoce” composto por, exemplo, pelos medicamentos ivermectina e cloroquina, drogas, cientificamente comprovadas ineficazes para combater o vírus da COVID-19, mas ampla e macabramente prescritas por médicos da Prevente Senior. Aliás, ficou comprovado que a utilização desse tratamento preventivo fazia parte de uma “pesquisa” da Prevente Senior, que, aliás, não tinha autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) para realizá-la, ou seja, não passava de um experimento nos quais os pacientes, em sua maioria idosos, foram transformados em meras e indefesas cobaias desses monstros que se intitulam “médicos pesquisadores”.

Outros fatos dilacerantes envolvendo a Prevente Senior, também, vieram à tona na CPI, como, por exemplo, as revelações da advogada Bruna Morato que representa os médicos que denunciaram e que foram demitidos pela Prevente Senior. Segundo o depoimento da advogada, os seus clientes médicos relataram vários casos escabrosos cometidos nos hospitais da operadora, dentre eles a fúnebre redução do fornecimento de oxigênio por respiradores a pacientes internados em UTIs por mais de 10 dias. Segundo a advogada, “esses pacientes evoluíam a óbito dentro da própria UTI e se tinha uma liberação de leitos2". E esse escabroso crime até ganhou um mote da sanguinária diretoria da Prevente Senior: “óbito é também alta”. Esse delito tinha como vil objetivo economizar custos, ou seja, os pacientes morriam para a operadora que eles mesmos contrataram não tivessem prejuízos. Um horrendo crime que se assemelha muito àqueles cometidos nos campos de concentração da Alemanha nazista. Auschwitz é aqui!

Diante desses fatídicos fatos é fácil constatar o caos que recairá sobre o povo brasileiro se esse governo continuar e se a Reforma Administrativa for aprovada, pois, isso significará o fim do pacto social com a entrega dos serviços públicos para a iniciativa privada, especialmente, a área de saúde, a menina dos olhos do capital nacional e internacional, com isso, o povo brasileiro poderá ser jogado nas garras de algumas “Prevente Senior” da vida nacional.







1 Fonte: https://economia.ig.com.br/2021-06-17/lula-teto-de-gastos-revogar.html
2 Fonte: https://oglobo.globo.com/politica/a-expressao-que-eu-ouvi-ser-muitas-vezes-utilizada-obito-tambem-alta-diz-advogada-sobre-prevent-senior-25216484