Respeitem Lula!

"A classe pobre é pobre. A classe média é média. A classe alta é mídia". Murílio Leal Antes que algum apressado diga que o título deste texto é plágio do artigo escrito por Ricardo Noblat (...)

A farsa do "Choque de Gestão" de Aécio "Never"

“Veja” abaixo a farsa que foi o famoso “Choque de Gestão” na administração do ex-governador Aécio “Never" (...)

A MAIS TRADICIONAL E IMPORTANTE FACULDADE DE DIREITO DO BRASIL HOMENAGEIA O MINISTRO LEWANDWSKI

"O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski recebeu um “voto de solidariedade” da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) pela “dedicação, independência e imparcialidade” em sua atuação na corte. (...)

NOVA CLASSE "C"

Tendo em vista a importância do tema, reproduzimos post do sitio "Conversa Afiada" que reproduz trecho da entrevista que Renato Meirelles deu a Kennedy Alencar na RedeTV, que trata da impressionante expansão da classe média brasileira. (...)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

“A CADELA DO FASCISMO ESTÁ SEMPRE NO CIO”


Por:Odilon de Mattos Filho
É sabido que nestes últimos quatro anos vivenciamos o pior governo desde a proclamação da república brasileira. Um governo comandando por um ex-militar indisciplinado, preconceituoso, misógino, xenófobo e antidemocrático. Um arremedo de ditador!

O desgoverno de Bolsonaro saltava aos olhos, mas ele só conseguiu sustentar o seu mandato graças a um congresso subserviente e as Forças Armadas que mamaram nas tetas do governo até o 31/12/2022, e sejamos honestos, graças também, a uma extrema-direita organizada, fidelizada e apoiada por um enorme exército de fiéis religiosos, especialmente, evangélicos que reverberavam suas bravatas e narrativas nas redes digitais e nos seus cotidianos.

Neste contexto, é fato que o ex-presidente fujão, passou os seus quatro anos de mandato instigando o ódio, a violência e alimentando seus seguidores para a necessidade de um golpe de estado. As tentativas foram muitas e tudo começou com a narrativa de que as urnas eletrônicas não são confiáveis, aliás, esse argumento foi a base de todo seu discurso para uma possível ruptura institucional, chegando ao desplante de realizar uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada para informa-los sobre essa questão das urnas.

Em seguida, no dia 7 de setembro de 2022, Bolsonaro aproveitou-se dessa data cívica para inflamar os seus seguidores que estavam nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e com o discurso de que não aceitaria mais as decisões do STF e que iria devolver o Poder ao povo levou seus partidários ao êxtase e à crença de que, realmente, haveria a tomada de Poder, não pelo povo, mas, pelos militares.  

A outra tentativa de golpe veio após a derrota nas urnas, dessa feita com bloqueios de estradas e acampamentos ilegais de extremistas em frente de quartéis e de onde foram planejados outros atos terroristas como o que ocorreu no dia da diplomação do presidente Lula, onde um bando que vinha organizado do acampamento em frente ao quartel-general de Brasília transformaram as ruas da capital do país em um cenário de guerra, com carros e ônibus incendiados, explosões, tiros, bombas e um rastro de destruição por onde passaram, impunemente, estes criminosos bolsonaristas.

Depois de mais essa tentativa de golpe, no dia 24/12/2022 três extremistas tentaram explodir uma bomba no aeroporto de Brasília, mas, não conseguiram o seu intento, aliás, um deles Wellington Macedo, rompeu a tornozeleira eletrônica e encontra-se foragido. Detalhe: esse terrorista ocupou cargo no governo de Bolsonaro como assessor da ministra Damares Alves, hoje senadora da república.  Por fim e dando sequência as tentativas de golpe, veio o fatídico dia 08 de janeiro de 2023, data em que os extremistas invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes o crime mais grave cometido contra a democracia. Em sequência e durante as investigações deste caso, a PF descobre na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, mais uma tentativa de golpe, desta vez, em um documento no qual estava consubstanciado uma "Minuta de Comissão Reguladora das Eleições”, um instrumento "legal" que decretaria a intervenção no TSE e no STF e se concretizaria o golpe de estado .

Passadas todas essas tentativas e “coincidentemente”, logo após a visita de Lula à China e de sua posição com relação à guerra da Rússia com a Ucrânia, foi vazado para a CNN-Brasil (empresa estadunidense), imagens das câmaras do Palácio da Alvorada sobre o dia da invasão dos prédios dos Três Poderes, imagens essas que estavam sob sigilo de autoridades judiciais, da PF e do próprio GSI. Nessas imagens editadas e/ou cortadas aparece o general Gonçalves Dias, escolhido por Lula para chefiar GSI, andando e aparentemente conversando com os criminosos invasores. Essas imagens, ardilosamente incompletas, pois, não mostraram os outros agentes do GSI, que hoje se sabe são todos ligados a Bolsonaro, custou a exoneração do general e serviu para reforçar a narrativa estúpida da oposição de que essa invasão foi armada pelo próprio governo para se vitimizar e colocar o bolsonarismo sobre suspeita, o que reforçaria, ainda mais, na visão da oposição, a necessidade da criação da CPMI sobre o dia 08 de janeiro, mas que como sabemos, o objetivo dessa investigação parlamentar é tão somente criar uma instabilidade institucional que ao fim e a cabo, poderá resultar em mais uma tentativa de golpe, ou ao menos, paralisar os trabalhos no Congresso Nacional, especialmente, as pautas e projetos de interesse do governo, ou melhor, do povo brasileiro.

Aliás, o vazamento das imagens, exatamente, para a TV CNN-Brasil, não foi uma mera coincidência, pode até caracterizar uma teoria da conspiração, mas os EUA podem estar por detrás desse vazamento, operando internamente como já aconteceu. O fato é que os EUA não engoliram a posição altiva e soberana do presidente Lula em relação à guerra da Rússia e Ucrânia e não ficarão calados diante dessa posição de confronto.

A propósito, e para se ver como esse fato encorajou a oposição, foi noticiado pela coluna “Último Segundo”, do Portal “IG”, que políticos ligados ao PSDB e que integram o bloco de oposição ao governo, consultaram o vice-presidente, Geraldo Alckmin sobre um possível pedido de impeachment do presidente, indagando-o se “toparia assumir o país em caso de afastamento de Lula1”. Veja onde chegou o atrevimento dos tucanos que, aliás, não se diferem muito dos fascistas bolsonaristas, basta lembar do que fizeram com a presidenta Dilma.

Mas, voltando à questão da CPMI, não se pode afastar, também, a grande possibilidade do tiro sair pela culatra, pois, com a liberação pelo STF das imagens sem cortes está sendo desnudada toda argumentação falaciosa da extrema-direita, ficando cada vez mais claro, que Bolsonaro converteu um órgão de estado (GSI) em aparelho de governo e transformou grande parte do Exército em uma tropa de mercenários e tiranos. Aliás, nesse sentido o professor, Michel Gherman sentenciou: "..o Exército deixou de ser Exército e passou a ser uma milícia típica das milícias fascistas2". E tudo isso e muito mais poderá vir à tona com mais clareza na CPMI, inclusive, a possível participação do próprio presidente fujão, de seus filhos, empresários, militares de alta patente e até parlamentares da oposição nesse atentado à democracia. 

Diante deste quadro, nos afigura imperioso que o presidente Lula faça, urgentemente, a desbolsonarização do seu governo, transferindo e/ou exonerando todos os servidores ligados à extrema-direita e levando todos os militares para o lugar de onde nunca deveriam ter saído, dos quartéis e isso passa também, pela revogação do artigo 142 da CF/88 e pelo fim do GSI, que nada mais é do que uma nova versão do macabro SNI de tristes lembranças para o povo brasileiro.

Por tudo isso, entendemos que o presidente Lula precisa, urgentemente, se aproximar, cada vez mais, dos movimentos sociais, populares e sindicais, visto que, são essas forças progressistas que podem fortalecer e garantir a governabilidade, pois, o atual Congresso Nacional, com raríssimas e honrosas exceções de parlamentares, não passa de uma incubadora golpista repleta de fascistas. Por essa razão, lembremos da advertência de Bertolt Brecht:  “a cadela do fascismo está sempre no cio”.

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



1 Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/04/5089225-politicos-sondam-alckmin-sobre-impeachment-de-lula.html
2- Fonte: https://www.brasil247.com/brasil/exercito-deixou-de-ser-exercito-e-virou-milicia-fascista-nos-atos-de-8-de-janeiro-diz-michel-gherman

terça-feira, 18 de abril de 2023

LULA NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MULTIPOLAR


Por: Odilon de Mattos Filho
Já assistimos, outrora, a gritaria da turma de lambe-botas do imperialismo estadunidense contrário à política externa dos dois primeiros mandatos do presidente Lula. Com pouco mais de cem dias de governo, o Lula 3 dá fortes sinais de desenvolver uma política externa muito parecida com a política adotada em seus dois governos anteriores, mas, mal começaram as visitas aos países, já estamos assistindo a mesma gritaria de antes.

A imprensa sabuja não se cansa de mostrar a contrariedade dos EUA e da horda conservadora do país com a visita de Lula à China e isso não apenas, pela ampliação das relações comerciais, mas especialmente, na possível quebra de um paradigma na geopolítica, com a construção de um mundo multipolar, onde inevitavelmente, os imperialistas do norte perderão a sua já decadente hegemonia.

Outro fato a ser considerado, esse, porém, de ordem emocional para a extrema-direita, é o gritante contraste entre a atual política externa e a do governo anterior. Hoje Lula mostra  que o Brasil quer ser protagonista na geopolítica mundial, demonstrando que o país é grande, independente e diferente do governo Bolsonaro, onde a política externa primava, única e exclusivamente, à submissão do Brasil aos interesses do governo dos EUA comandado por Donald Trump, uma política de complexo de vira-latas. Lembra da continência à bandeira dos EUA?

Realmente, não pairam dúvidas a guinada, o pragmatismo e o reposicionamento da política externa do Brasil com Lula 3. Antes da posse, Lula já começou a sua peregrinação pelo mundo e foi para Europa. Depois, como convidado, participou da COP 27, Conferência da ONU voltada às pautas climáticas, realizada no Egito. Após a posse, Lula fez a sua primeira viagem como presidente para a Argentina e Uruguai, viagens marcadas pela volta do Brasil à Celac, o retorno do Brasil a Unasul e a reconstituição da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), além do reforço ao Mercosul.

Logo depois Lula recebeu a visita do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz e já mostrando a altivez do país, Lula foi claro em uma entrevista coletiva onde os dois chefes de estado estavam presentes: Lula disse: “o Brasil não tem interesse em passar munições para serem utilizadas entre Ucrânia e Rússia”, enfatizando que o papel do Brasil é formar um grupo de países para construir a paz e não alimentar a guerra.

Em fevereiro, a convite do presidente Joe Biden, Lula visitou os EUA e a conversa principal foi sobre uma agenda ambiental, inclusive, sobre a ajuda dos EUA para o Fundo da Amazônia, mas o que se viu foi uma pífia ajuda, se comparado com o que é destinado em armas para Ucrânia.

Após essa visita aos EUA, Lula foi a China e aos Emirados Árabes Unidos (EAU). Nessa viagem para a China Lula levou uma numerosa delegação e teve uma intensa agenda política cujo objetivo é tentar construir uma nova ordem internacional diferente daquela promovida pelos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial. No campo comercial, Lula conseguiu acordos da ordem de R$ 50 bilhões, diferentemente, dos resultados da sua visita aos EUA. Já nos EAU, Lula fortaleceu o multilateralismo e a pareceria entre os dois países, assinando vários acordos, dentre eles, nas áreas de defesa e do clima. Aliás, desde 2008 os EAU está entre os três principais parceiros do Brasil no Oriente Médio. 

Nestes dois países o presidente Lula, acertadamente, voltou a condenar a guerra entre Rússia e Ucrânia e mais uma vez, propôs a criação de um grupo de países para negociar a paz e aproveitou para mandar um recado: “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore suas relações com a China1” e como não poderia ser diferente, essa aproximação do Brasil com a China e o discurso de Lula pela paz, foram o estopim para uma nova gritaria dos EUA e dos capangas do imperialismo do norte, incluída a mídia, todos contrários à posição brasileira, inclusive, com vozes estadunidenses já clamando por sanções contra o Brasil.

No Brasil a defesa dos imperialistas foi mais longe e como sempre partiu da imprensa burguesa. O Editorial do jornal O Globo de 18/04/2023, teve a desfaçatez de sugerir que pode ocorrer o impedimento, ou “tombo” do presidente Lula por essa posição dita pró-Rússia. Diz o Editor: "A tradição de não alinhamento poderia ser seguida de modo mais produtivo em questões onde a voz do Brasil importa, como mudanças climáticas ou transição na Venezuela. Em vez disso, dentre quase 130 'neutros' no conflito ucraniano, o Brasil é o único que se meteu a criar um 'clube da paz' e flerta abertamente com a Rússia. O perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo2".

Evidente que esses olhares além de puro servilismo, trata-se de uma desonestidade intelectual quando afirma que o discurso do governo brasileiro é pro-Rússia. Lula, simplesmente, está pregando a paz e não a guerra. Será que ele está errado ao tentar buscar a paz?

Não se pode esquecer, também, que o Lula 3 conseguiu emplacar a presidenta Dilma como presidenta do Banco dos BRICS, uma escolha acertada, positiva, inteligente e com uma boa dose de vingança contra à elite do país.

Já no dia 17 de abril, Lula recebeu o Chanceler russo, Serguei Lavrov, uma visita de cortesia agendada há meses pelo Itamaraty, sem qualquer alinhamento com falas de Lula durante a sua visita à China. O Chanceler foi emissário de uma carta do presidente Putin convidando o presidente Lula para participar do Fórum Econômico de Petersburgo em junho deste ano. 

O fato, como dito alhures, é que realmente a política externa do governo Lula 3 é diametralmente oposta ao do seu antecessor fujão e tudo indica que está no caminho certo e muitos frutos poderão ser colhidos para ajudar no desenvolvimento do Brasil e a necessária cooperação Sul-Sul.

De tudo isso, concluímos que efetivamente, o mundo não pode ser tutelado por um ou dois países, o Planeta Terra encontra-se globalizado, mas doente pela ganância do capitalismo que destrói o meio ambiente e a vida humana, por isso, há uma imperiosa necessidade de se construir um mundo multipolar com diferentes centros de poder político, econômico e militar, cujo objetivo tem que ser a garantia da sobrevivência digna dos seres humanos no Planeta Terra.

































 



1 Fonte:https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/04/14/ninguem-vai-proibir-que-o-brasil-aprimore-sua-relacao-com-a-china-diz-lula-em-reuniao-com-xi-jinping.ghtml

2-Fonte: https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2023/04/neutralidade-de-lula-revela-apoio-tacito-a-russia.ghtml

 

 

terça-feira, 4 de abril de 2023

NOVO ENSINO MÉDIO: O NEGACIONISMO DA EDUCAÇÃO

Por: Odilon de Mattos Filho
A história da educação no Brasil teve o seu início com a chegada dos portugueses e dos Padres Jesuítas no país. Esses Sacerdotes assumiram o papel de catequistas e professores, tendo sido marcado pela relação estabelecida entre religião e letramento. Com a expulsão dos Padres Jesuítas em 1759 pelo Marquês de Pombal, o ensino passou a ser estatal.

Já na República foi organizado a primeira reforma na educação, que passou a ser dividida por séries e conforme as faixas etárias. Em 1939 foi criado o primeiro curso de Pedagogia na PUC de Campinas e Paulo Freire, um dos maiores pedagogos do mundo, propõe trabalhos em educação popular. Em 1971, o ensino passou a ser organizado em primário, ginásio e colegial e obrigatório até os 14 anos de idade. E assim o país foi caminhando e passando por alguns avanços e retrocessos nos modelos de educação.

Neste contexto, pesquisa do IBGE mostra que entre os anos de 2007 e 2014 foi registrada queda do analfabetismo e aumento da escolarização para crianças entre os 6 e os 14 anos de idade. O nível da educação brasileira também cresceu nesse mesmo período, mas quando se analisa o conjunto da educação a realidade salta aos olhos. Dados mostram que 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais; 4% dos estudantes do ensino superior são considerados analfabetos funcionais e no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) da OCDE, o Brasil ocupa as posições 63.ª, 59.ª e 66.ª em ciências, leitura e matemática respectivamente.

Portanto, estes dados somados a outros mostram que a educação no Brasil necessita de um olhar muito mais atento e isso passa pelo orçamento do estado, ou seja, há uma imperiosa necessidade de se aumentar os investimentos em educação. Só para se ter uma ideia do sucateamento da educação pública, pesquisa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), mostra “que em 2021 o gasto público com a educação atingiu o menor patamar desde 2012. Essa mesma pesquisa mostra que parte das metas do PNE, aprovado em 2014, ainda não foi cumprida. O plano prevê a ampliação do investimento público em educação em até 7% do PIB no quinto ano de vigência da lei e 10% até 20241”, mas, estamos longe dessa meta!

Mas o problema da educação no país não se restringe apenas aos cortes de recursos financeiros, há que se registrar também, as alterações nos modelos de aprendizagem que se mostram, igualmente, maléficos ao ensino, e um dos exemplos deste retrocesso veio em 2017 com a sanção da Lei n.º 13.415/2017, que criou o Novo Ensino Médio (NEM). Essa lei, criada no governo Temer e referendada no governo Bolsonaro, nada mais é do que o negacionismo de uma educação plural e libertadora, é a negação ao direito dos alunos e alunas de se apropriarem do conhecimento científico produzido e acumulado pela humanidade ao longo dos anos.

Este modelo do NEM, resumidamente, cria itinerários formativos que é uma série de disciplinas, projetos e oficinas que supostamente pretende anteder as necessidades e perspectivas dos estudantes. Na teoria, a ideia é criar um ensino mais atrativo e inclusivo, porém, na prática, diminui a carga de disciplinas básicas, o acesso universal de alunos e alunas, fragmenta o curso, tem um caráter anticientífico e é privatista, não à toa, forças reacionárias e o capital privado como a Fundação Lehamann, o Grupo Lide, Fundação Roberto Marinho, a coalização de empresários "Todos pela Educação", "Educação e Trabalho" da Fundação Itaú, dentre outros patronos do projeto, são defensores deste Novo Ensino Médio, pois enxergam no pensamento crítico desenvolvido nas Escolas, uma perigosa arma à sua hegemonia.  

Aliás, a experiência dos atores escolares e as pesquisas científicas sobre os efeitos dessa reforma, dão conta que o NEM promove um ensino excludente e regressivo, pois, estudantes de nível socioeconômico mais elevado têm maior liberdade de escolha criando um abismo entre a educação pública e a privada, o que aprofunda o histórico dualismo no ensino médio, onde as classes mais privilegiadas recebem um ensino propedêutico e as camadas populares recebem um modelo esvaziado de conteúdos substantivos e voltado para uma suposta profissionalização imediata

A propósito, neste mesmo sentido a “Carta Aberta pela Revogação do Novo Ensino Médio” assinada por várias Entidades ligadas à educação, denuncia que “a implementação acelerada da Reforma em estados como São Paulo desnuda a falácia sobre a necessidade de diminuir o número de disciplinas no Ensino Médio, uma vez que, com os itinerários formativos, criou-se um conjunto de novas disciplinas sob a orientação de institutos e fundações da sociedade civil vinculadas ao capital, enquanto as disciplinas ligadas aos campos científicos, culturais e artísticos tradicionais da docência profissional ao nível médio foram eliminadas do currículo – num claro movimento de desmonte das possibilidades de formação científica e humanística da juventude que estuda nas escolas públicas..2”.

Criticando, também, a aberração do projeto do NEM, o historiador Fernando Horta com muita propriedade asseverou: “..Ninguém se torna um monstro se não souber “empreendedorismo”, “marketing pessoal” ou “o que rola por aí nas redes”. Mas fascistas são produzidos por falta de leitura de Rousseau, Vitor Hugo e Milton Santos, por exemplo. Um currículo abrangente forma cidadãos, enquanto “itinerários” que picotam o mundo e esfarelam o conhecimento, servem – com muita boa vontade – para o mercado. Currículo é história. Currículo é responsabilidade social e histórica. Currículo é futuro. Currículo é crítica3".

Outro fator negativo do NEM e talvez o mais “sacana” é que essa lei foi aprovada sem qualquer debate com alunos, alunas e professores e esse fato somados a outros está levando a juventude secundarista representada pela UBES e outras organizações a realizarem grandes debates e manifestações pela revogação da lei do NEM. E dando eco as palavras e sentimentos dos alunos secundaristas, a organização “Juventude e Revolução” produziu um Boletim Especial defendendo que os jovens “querem conhecer a nossa história, querem conhecer a natureza...Essa reforma abre o terreno para a ignorância do obscurantismo, teorias sobre a terra plana, propagandas anti-vacina e todo tipo de fakenews. Arrancar o conhecimento científico das escolas nos desprepara e nos desqualifica4”, diz o Boletim.

Diante de mais esse retrocesso e entulho deixado pela direita conservadora do país, realmente, a saída é revogar a Lei n.º 13.415/2017 (NEM), mas, por outro lado, não se deve esquecer que o modelo anterior do Ensino Médio está longe de ser perfeito, ao contrário, pois, não há como conceber, por exemplo, um modelo com treze matérias empurradas em apenas quatro horas. Aliás, sabe-se que nenhum dos primeiros quarenta países mais bem colocados do mundo em educação, tem mais do que oito matérias e menos do que sete horas de aula por dia. Por essa razão e não mesmo importante, é saber dos atores escolares quais são as perspectivas para o Ensino Médio com uma possível revogação do NEM e a resposta só pode ser dada depois de uma ampla discussão com os alunos, alunas, professores, especialistas e com a comunidade escolar, caso contrário, não teremos uma educação verdadeiramente universalizada e de qualidade.

Por fim, somos pelo entendimento de que o governo do presidente Lula tem que ter sensibilidade para escultar e auscultar os sentimentos dos jovens secundaristas e revogar a Lei n.º 13.415/2017. Não se pode perder de vista o papel histórico da juventude na luta política do país e a sua valiosa importância na extraordinária vitória do presidente Lula em 2022. Mas evidente, que não se pode ficar inerte esperando a boa vontade do governo, até porque, como vimos antes, há interesses do capital na permanência do NEM, por isso, é imperioso que a juventude com seu vigor e paixão vá para as ruas e pressione o governo para revogar a lei e avançar na conquista de uma educação de qualidade, plural, universal e libertária, afinal, “entre a angústia da impotência e essa enorme vontade de mudar, é preciso se apaixonar, nada grande no mundo foi feito sem paixão”.

 

 

 



1 Fonte: Fonte: https://www.assufrgs.org.br/
2 Fonte:https://www.cnte.org.br/images/stories/2022/2022_06_08_carta_aberta_revoga_em.pdf
3 Fonte: Fonte: https://www.brasil247.com/blog/em-defesa-do-curriculo
4 Fonte: Fonte:https://www.esquerdadiario.com.br/Vai-Juventude-fazer-Historia-nessa-vida