terça-feira, 5 de setembro de 2023

NOVO BRICS E A NOVA ORDEM MUNDIAL


Por: Odilon de Mattos Filho

O agrupamento denominado BRICS nasceu da ideia formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O'Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICS” e foi inicialmente incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China e em 2011, quando aconteceu a III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS. Este “Bloco” teve como objetivo abrir negociações por meio de tratados comerciais e a cooperação entre esses países para aumentar o crescimento econômico e elevar essas nações emergentes para papéis de protagonistas globais.

Segundo texto publicado no site do IPEA, o “BRICS não estavam reunidos em mecanismo que permitisse a articulação entre eles. O conceito expressava a existência de quatro países que individualmente tinham características que lhes permitiam ser considerados em conjunto, mas não como um mecanismo. Isso mudou a partir da Reunião de Chanceleres dos quatro países organizada à margem da 61ª. Assembleia Geral das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2006. Este constituiu o primeiro passo para que Brasil, Rússia, Índia e China começassem a trabalhar coletivamente. Pode-se dizer que, então, em paralelo ao conceito “BRICS” passou a existir um grupo que passava a atuar no cenário internacional, o BRIC. Em 2011, após o ingresso da África do Sul, o mecanismo tornou-se o BRICS (com "s" maiúsculo ao final)”.

Não temos dúvidas que o nascimento deste “bloco” que congrega as principais economias emergentes do sul-global, causou preocupações para os países da União Europeia e especialmente para os EUA. Esse agrupamento mexeu, de certa forma, no tabuleiro da geopolítica mundial, evidente, que, a princípio, não foi nenhuma jogada que ameaçasse à economia do velho continente e/ou dos imperialistas do norte, mas mostrou que o “bloco sul-Global” conhece muito bem os caminhos do jogo econômico e político do mundo e está pronto para participar desse jogo em igualdade de condições.

Neste ano, na cidade sul-africana de Joanesburgo, o BRICS se reuniram e dentre vários pontos da pauta de trabalho destacam-se a ideia da desvinculação do dólar como moeda reguladora do comércio externo entre os países do BRICS, fato que nos leva a concluir que talvez este seja o maior golpe desferido até hoje contra a hegemonia do dólar, desde os Acordos de Bretton Woods, em 1944, sem contar, a ideia de se criar uma moeda única do BRICS. Outra decisão importante, foi a ampliação do agrupamento com a entrada de mais seis novos parceiros: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Estes países a partir de janeiro de 2024 passarão a integrar o “bloco”, lembrando que vinte dois países já apresentaram pedidos formais de ingresso no BRICS. 

Hoje, após a entrada das novas Nações no BRICS, pode-se afirmar que este “bloco” se coloca em uma posição de protagonista na geopolítica mundial se comparado com o G7, especialmente, pela sua força econômica e política que foi acrescentado com a entrada dos novos países. Vejamos a tabela que corrobora tal afirmativa: 

 

PERCENTUAIS/PRODUÇÃO

G7

BRIC’S

PIB PPP

29,9%

33,4%

Percentual da População Mundial

10%

47,3%

Percentual da Produção Indústria Mundial

30,5%

38,3%

Percentual da Produção Agrícola

19%

49%

Percentual da População Mundial de Petróleo

24%

43%

Percentual da Produção de Alumínio

1,3%

79%

Percentual da Produção Mundial de Paládio

6,9%

77%

Percentual das Reservas Mundiais de Terras Raras

?

72%

Percentual Aproximado das Florestas Mundiais

18%

40%

Percentuais do Território Mundial

17%

36%

  Fonte: https://www.brasil247.com/blog/tabela-comparativa-brics-plus-x-g7


Diante destes números, é fácil constatar que a nova composição do BRICS fortalece o “bloco” como potência econômica, industrial, agrícola, energética, mineral e ambiental, fatores que poderão alterar, política e economicamente, a nova ordem mundial, não à toa que houve reações dos países do G7  que ganhou aqui em terras tupiniquins, o apoio da imprensa sabuja que ecoou o chororô dos imperialistas e plantou a narrativa de que essa expansão diminui a importância do Brasil no “bloco”.

Contrapondo a essa narrativa, o Doutor em Ciências Política, José Luís Fiori em entrevista ao site Tutaméia disse: “…Não há nada que sugira que Lula e o Brasil tenham perdido poder ou influência com a ampliação do BRICS, nem tampouco que Lula tenha feito algo com que estivesse em desacordo, submetendo-se à China ou a quem quer que seja. Pelo contrário, minha impressão é que ele conseguiu recuperar pelo menos em parte o que o Brasil perdeu e se submeteu durante os governos de Temer e Bolsonaro… 1”.

Evidente, que o Brasil, ao contrário das narrativas midiáticas, não perdeu a sua importância no “bloco”. Não se pode esquecer que a Presidenta Dilma Rousseff foi eleita para presidir o Banco do BRCS, denominado de “Novo Banco de Desenvolvimento (NBD)”, uma instituição financeira fundada com capital autorizado de US$ 100 bilhões e capital inicial de US$ 50 bilhões, com contribuições distribuídas igualmente entre os primeiros cinco membros fundadores (US$ 10 bilhões cada). Esse Banco nasceu visando “mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países do BRICS e em outros países em desenvolvimento, em complementação aos esforços existentes de instituições financeiras multilaterais e regionais para o crescimento global e o desenvolvimento2”.

Portanto, é notório, sim, que o aumento no número de países do BRICS dificulta a tomada de decisões, pois esse "bloco" opera por consenso e para se conseguir esse assentimento com onze países, fica mais difícil do que com cinco, porém, isso não implica que o Brasil foi prejudicado nessa ampliação.

De tudo isso, fica claro que a hegemonia econômica e política dos chamados países do "norte", que até então, exercia o controle sobre a governança global,  pode estar com os seus dias contados com essa nova composição do BRICS, que claramente, se fortaleceu e se apresenta, com autoridade, para redesenhar uma nova ordem mundial que poderá fazer surgir um mundo, verdadeiramente multipolar, com menos guerra, mais equilíbrio entre as Nações e por conseguinte com mais justiça social. É esperar para ver!

 

 



1 Fonte: https://outraspalavras.net/outrasmidias/fiori-novo-brics-sacode-a-geopolitica-global/
2 https://bricspolicycenter.org/new-development-bank/


 

 

 

 

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