Respeitem Lula!

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A farsa do "Choque de Gestão" de Aécio "Never"

“Veja” abaixo a farsa que foi o famoso “Choque de Gestão” na administração do ex-governador Aécio “Never" (...)

A MAIS TRADICIONAL E IMPORTANTE FACULDADE DE DIREITO DO BRASIL HOMENAGEIA O MINISTRO LEWANDWSKI

"O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski recebeu um “voto de solidariedade” da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) pela “dedicação, independência e imparcialidade” em sua atuação na corte. (...)

NOVA CLASSE "C"

Tendo em vista a importância do tema, reproduzimos post do sitio "Conversa Afiada" que reproduz trecho da entrevista que Renato Meirelles deu a Kennedy Alencar na RedeTV, que trata da impressionante expansão da classe média brasileira. (...)

domingo, 17 de setembro de 2023

A ELITIZAÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO


Por: Odilon de Mattos Filho

É consenso que o Futebol no Brasil é o esporte de maior expressão popular e o responsável pelas principais pautas, socioculturais e políticas do país.

O futebol chegou ao Brasil em 1894 por intermédio de um jovem filho de ingleses chamado Charles Miller, mas, segundo o historiador José Moraes dos Santos Neto um pouco antes, por volta de 1879 e 1881 os jesuítas do Colégio São Luís da cidade de Itu visitaram grandes colégios na Europa que já praticavam o futebol e trouxeram essa modalidade esportiva para o Brasil.

Em 1933, a Confederação Brasileira de Desportos formalizou a atividade profissional do futebol e devido ao grande contingente de camadas sociais menos favorecidas do país, o futebol passou a ser uma das alternativas dessa classe para sair ou minimizar as condições de extrema pobreza.

Já no início da década de trinta, no governo Getúlio Vargas, começou a se investir nos esportes com ações coletivas que buscavam alcançar a maior quantidade de pessoas possíveis e foi neste contexto que a prática do futebol foi crescendo, se popularizando e se constituindo como um elemento formador da identidade nacional à medida que foi ganhando adeptos Brasil afora.

O Futebol brasileiro como esporte popular contava com grandes estádios que, inclusive, tinha espaços, como a “geral” do Maracanã, com ingressos a preços baixos para atender a classe mais pobre de torcedores, os chamados “geraldinos”, nome criado pelo jornalista Washington Rodrigues. Mas, passados quase noventa anos da profissionalização do futebol o mesmo passou por grandes transformações, em especial, a sua completa financeirização. É o capitalismo se apropriando do esporte mais popular do Planeta.

E essa nova acumulação de capital teve incio no futebol brasileiro com a  imposição da FIFA, quando da Copa do Mundo no Brasil em 2014, quando os Estádios se transformaram em Arenas com capacidade de público reduzida e os espaços mais baratos extintos. Aliás, foi nessa época que surgiu um forte movimento de arenização que sustentava a narrativa de que a transformação dos velhos e populares Estádios em Arenas modernas contribuiria para maior segurança e conforto para os torcedores. Mas, mesmo entendendo que isso é o mínimo que o torcedor merece, o fato foi que a arenização causou uma lamentável exclusão social, transformando o popular futebol brasileiro em um esporte elitizado, pois, são poucos os torcedores que podem arcar com os elevados preços dos ingressos que ajudam a pagar as pomposas Arenas frequentadas por uma minoria endinheirada.

Em seguida, trazendo a novidade do Velho Continente, alguns Clubes de futebol do Brasil começam a deixar de ser clubes associativos para se tornarem clubes-empresas e isso só foi possível com a promulgação da Lei n 14.193/2021, que criou a Sociedade Anônima do Futebol, conhecida como SAF, uma lei que, diga-se de passagem, foi pouco debatida no Congresso Nacional, mas, que teve um lobby pesadíssimo de empresários nacionais e internacionais que defendiam a sua aprovação como a panaceia para o falido futebol brasileiro. Começa, assim, uma espécie de privatização do futebol brasileiro.

Na linha dessas mudanças, os Clubes, mesmo os associativos, criaram a modalidade de “sócio torcedor” que consiste no pagamento de salgadas mensalidades que dá a este torcedor uma série de vantagens, inclusive, na preferência de compra dos ingressos. É o surgimento dos “torcedores Nutella" ou melhor, clientes/consumidores Nutella. Os ingressos não adquiridos por este sócio torcedor, são colocados à venda com valores exorbitantes, às vezes equiparados aos praticados nas grandes ligas europeias. Uma prova deste absurdo é a final da Copa do Brasil de 2023, entre o Flamengo e São Paulo. O primeiro jogo será no Maracanã e o menor preço de ingresso fixado pelo Flamengo para torcedores não sócios é de R$ 400,00 e no segundo jogo no Morumbi o São Paulo fixou em R$ 200,00 o valor do ingresso mais barato para o torcedor não sócio. E para fechar essa estupidez, vamos aos preços dos ingressos fixados pela Conmebol para a final da Copa Libertadores da América que acontecerá no Maracanã no dia 04 de novembro: Categoria 1: R$ 1300,00; Categoria 2: R$ 800,00 e Categoria 3: R$ 260,00.
 
Realmente os valores dos ingresso são um absurdo, especialmente, considerando o tamanho da injustiça social que vive o Brasil e América do Sul. Esses preços e este modelo de futebol significa, não apenas mais um gesto de exclusão, mas sim, uma verdadeira e covarde expropriação do povo pobre de sua própria casa que, no passado recente, foi o único espaço democrático para o seu entretenimento.

Mas se tudo isso não bastasse para caracterizar a elitização do futebol brasileiro, no mês de junho deste ano, acompanhamos mais um ataque contra os torcedores pobres deste país. O fato aconteceu contra o Vasco da Gama, o Clube que, historicamente, mais lutou e luta pela inclusão social. Depois de uma briga entre torcedores e a Polícia Militar, a Justiça Desportiva puniu o Vasco da Gama interditando o histórico Estádio de São Januário, por quatro jogos, mas não obstante essa punição pelo órgão competente dos esportes, eis que entrou em campo a Justiça Brasileira confirmando e ampliando o prazo dessa interdição. Uma punição que penaliza a vítima que foi o Vasco da Gama e não o verdadeiro responsável que é o governo do Estado do Rio de Janeiro responsável pela segurança pública.

Acolhendo denúncia do Ministério Público, o “douto” Juiz de Direito Marcelo Rubioli, interditou o Estádio de São Januário, manifestando-se em uma decisão carregada de ódio de classe e preconceito contra os moradores que residem na Barreira do Vasco. Sentenciou o tal juiz: "Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado, o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio1".

Logo depois dessa decisão judicial, de imediato houve uma forte reação contra a decisão do juiz Marcelo Rubioli. O procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Rodrigo Mondego, indignado, assim se manifestou: "Estabelece o conceito antecipado do que, de fato, ele não conhece. Quando ele diz que a Barreira do Vasco é um local conflagrado, com estampido de tiros comumente ouvidos, ele não se pauta na realidade. Tendo em vista que aquele território é um território menos conflagrado, se ouve menos estampidos de tiros que em regiões da cidade que não são favelas"considera o parecer "arraigado de preconceitos2". 

Aqui, considerando o aspecto central do presente texto, vale um registro histórico. O Estádio de São Januário não é marcado apenas por grandes eventos esportivos, foi palco, também, de históricos momentos políticos do país, como, por exemplo, o antológico discurso do presidente Getúlio Vargas lançando o Projeto do Salário Mínimo e não menos importante, o grande discurso do comunista Luís Carlos Prestes para 100 mil pessoas quando de sua anistia concedida pelo governo Vargas. Portanto, São Januário não é um simples “campo de futebol” da periferia, mas um Estádio que faz parte da história do Brasil e como tal, tem que ser muito respeitado.


Por fim, um fato curioso, para se dizer o mínimo. A decisão judicial de interdição do São Januário foi publicada na mesma semana em que se comemorava o Centenário dos Camisas Negras, chamada assim a equipe do Vasco do Gama formada por negros e operários que se sagrou campeão em 1923, marcando o seu nome não só dentro de campo, mas em especial, na sua linda história de luta para incluir negros e operários em um esporte até então elitista, aliás  um elitismo e um preconceito que, depois de 100 anos, seguem vivos pelas mãos da classe dominante do nosso país.

 
 
 

 

1-Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/08/17/em-parecer-contra-sao-januario-juiz-cita-favela-ao-lado-e-torcedores-se-embriagando-sem-jogos-comercio-reclama-de-prejuizo.ghtml 2-Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/08/17/em-parecer-contra-sao-januario-juiz-cita-favela-ao-lado-e-torcedores-se-embriagando-sem-jogos-comercio-reclama-de-prejuizo.ghtml  

terça-feira, 5 de setembro de 2023

NOVO BRICS E A NOVA ORDEM MUNDIAL


Por: Odilon de Mattos Filho

O agrupamento denominado BRICS nasceu da ideia formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O'Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICS” e foi inicialmente incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China e em 2011, quando aconteceu a III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS. Este “Bloco” teve como objetivo abrir negociações por meio de tratados comerciais e a cooperação entre esses países para aumentar o crescimento econômico e elevar essas nações emergentes para papéis de protagonistas globais.

Segundo texto publicado no site do IPEA, o “BRICS não estavam reunidos em mecanismo que permitisse a articulação entre eles. O conceito expressava a existência de quatro países que individualmente tinham características que lhes permitiam ser considerados em conjunto, mas não como um mecanismo. Isso mudou a partir da Reunião de Chanceleres dos quatro países organizada à margem da 61ª. Assembleia Geral das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2006. Este constituiu o primeiro passo para que Brasil, Rússia, Índia e China começassem a trabalhar coletivamente. Pode-se dizer que, então, em paralelo ao conceito “BRICS” passou a existir um grupo que passava a atuar no cenário internacional, o BRIC. Em 2011, após o ingresso da África do Sul, o mecanismo tornou-se o BRICS (com "s" maiúsculo ao final)”.

Não temos dúvidas que o nascimento deste “bloco” que congrega as principais economias emergentes do sul-global, causou preocupações para os países da União Europeia e especialmente para os EUA. Esse agrupamento mexeu, de certa forma, no tabuleiro da geopolítica mundial, evidente, que, a princípio, não foi nenhuma jogada que ameaçasse à economia do velho continente e/ou dos imperialistas do norte, mas mostrou que o “bloco sul-Global” conhece muito bem os caminhos do jogo econômico e político do mundo e está pronto para participar desse jogo em igualdade de condições.

Neste ano, na cidade sul-africana de Joanesburgo, o BRICS se reuniram e dentre vários pontos da pauta de trabalho destacam-se a ideia da desvinculação do dólar como moeda reguladora do comércio externo entre os países do BRICS, fato que nos leva a concluir que talvez este seja o maior golpe desferido até hoje contra a hegemonia do dólar, desde os Acordos de Bretton Woods, em 1944, sem contar, a ideia de se criar uma moeda única do BRICS. Outra decisão importante, foi a ampliação do agrupamento com a entrada de mais seis novos parceiros: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Estes países a partir de janeiro de 2024 passarão a integrar o “bloco”, lembrando que vinte dois países já apresentaram pedidos formais de ingresso no BRICS. 

Hoje, após a entrada das novas Nações no BRICS, pode-se afirmar que este “bloco” se coloca em uma posição de protagonista na geopolítica mundial se comparado com o G7, especialmente, pela sua força econômica e política que foi acrescentado com a entrada dos novos países. Vejamos a tabela que corrobora tal afirmativa: 

 

PERCENTUAIS/PRODUÇÃO

G7

BRIC’S

PIB PPP

29,9%

33,4%

Percentual da População Mundial

10%

47,3%

Percentual da Produção Indústria Mundial

30,5%

38,3%

Percentual da Produção Agrícola

19%

49%

Percentual da População Mundial de Petróleo

24%

43%

Percentual da Produção de Alumínio

1,3%

79%

Percentual da Produção Mundial de Paládio

6,9%

77%

Percentual das Reservas Mundiais de Terras Raras

?

72%

Percentual Aproximado das Florestas Mundiais

18%

40%

Percentuais do Território Mundial

17%

36%

  Fonte: https://www.brasil247.com/blog/tabela-comparativa-brics-plus-x-g7


Diante destes números, é fácil constatar que a nova composição do BRICS fortalece o “bloco” como potência econômica, industrial, agrícola, energética, mineral e ambiental, fatores que poderão alterar, política e economicamente, a nova ordem mundial, não à toa que houve reações dos países do G7  que ganhou aqui em terras tupiniquins, o apoio da imprensa sabuja que ecoou o chororô dos imperialistas e plantou a narrativa de que essa expansão diminui a importância do Brasil no “bloco”.

Contrapondo a essa narrativa, o Doutor em Ciências Política, José Luís Fiori em entrevista ao site Tutaméia disse: “…Não há nada que sugira que Lula e o Brasil tenham perdido poder ou influência com a ampliação do BRICS, nem tampouco que Lula tenha feito algo com que estivesse em desacordo, submetendo-se à China ou a quem quer que seja. Pelo contrário, minha impressão é que ele conseguiu recuperar pelo menos em parte o que o Brasil perdeu e se submeteu durante os governos de Temer e Bolsonaro… 1”.

Evidente, que o Brasil, ao contrário das narrativas midiáticas, não perdeu a sua importância no “bloco”. Não se pode esquecer que a Presidenta Dilma Rousseff foi eleita para presidir o Banco do BRCS, denominado de “Novo Banco de Desenvolvimento (NBD)”, uma instituição financeira fundada com capital autorizado de US$ 100 bilhões e capital inicial de US$ 50 bilhões, com contribuições distribuídas igualmente entre os primeiros cinco membros fundadores (US$ 10 bilhões cada). Esse Banco nasceu visando “mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países do BRICS e em outros países em desenvolvimento, em complementação aos esforços existentes de instituições financeiras multilaterais e regionais para o crescimento global e o desenvolvimento2”.

Portanto, é notório, sim, que o aumento no número de países do BRICS dificulta a tomada de decisões, pois esse "bloco" opera por consenso e para se conseguir esse assentimento com onze países, fica mais difícil do que com cinco, porém, isso não implica que o Brasil foi prejudicado nessa ampliação.

De tudo isso, fica claro que a hegemonia econômica e política dos chamados países do "norte", que até então, exercia o controle sobre a governança global,  pode estar com os seus dias contados com essa nova composição do BRICS, que claramente, se fortaleceu e se apresenta, com autoridade, para redesenhar uma nova ordem mundial que poderá fazer surgir um mundo, verdadeiramente multipolar, com menos guerra, mais equilíbrio entre as Nações e por conseguinte com mais justiça social. É esperar para ver!

 

 



1 Fonte: https://outraspalavras.net/outrasmidias/fiori-novo-brics-sacode-a-geopolitica-global/
2 https://bricspolicycenter.org/new-development-bank/