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terça-feira, 29 de agosto de 2023

DEVOLVAM O MANDATO DA PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF..!

 


Por: Odilon de Mattos Filho

Em abril de 2016, escrevemos neste espaço, um texto cujo título foi: impeachment é constitucional? A reposta para a pergunta é muito simples: sim, impeachment é constitucional! O Artigo 85 da CF/88 prevê essa modalidade, excepcional, para se apear do poder um presidente da república. Porém, essa pergunta tem outra resposta se elaborada de forma diferente: o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma foi constitucional? A resposta, também, é simples: não, foi inconstitucional!

Ao contrário do que muitos pensam, o processo de impedimento de um presidente da república não é apenas político, é essencialmente jurídico. Nesse sentido, o STF já se manifestou: "A indicação da tipicidade é pressuposto da autorização de processamento, na medida em que não haveria justa causa na tentativa de responsabilização do Presidente da República fora das hipóteses prévia e taxativamente estabelecidas. Se assim não fosse, o processamento e o julgamento teriam contornos exclusivamente políticos e, do ponto de vista prático, equivaleria à moção de desconfiança que, embora tenha sua relevância própria no seio parlamentarista, não se conforma com o modelo presidencialista, cujas possibilidades de impedimento reclamam a prática de crime de responsabilidade previsto em lei específica. Inobservada a limitação da possibilidade de responsabilização às hipóteses legais, todo o devido processo cairia por terra1”.

Portanto, à luz dessa decisão da Suprema Corte e de inúmeras manifestações de renomados juristas e de organismos internacionais, ficou claro que o impedimento da presidenta Dilma foi uma farsa e uma clara vingança da direita brasileira que contou com a participação da grande mídia, de militares e do empresariado nacional, enfim, da classe dominante que não aceitavam a derrota nas urnas e optaram conquistar o poder por meio de uma "Ponte para o Futuro", ou seja, por intermédio de um golpe parlamentar.

Mas passados mais de sete anos do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e depois de uma ação judicial impetrada pelo MPF na 4ª Vara Federal de Brasília, o processo foi arquivado e tanto Dilma Rousseff quanto Guido Mantega e outros acusados, foram inocentados, uma vez que as acusações careciam de fundamentação. E em setembro de 2022, a 5ª Câmara de Coordenação e Revisão - Combate a corrupção argumentou que o Tribunal de Contas da União afastou a possibilidade de responsabilização dos agentes públicos que concorreram para as pedaladas fiscais do ano de 2015, seja em virtude da constatação da boa-fé dos implicados, seja porquanto apenas procederam em conformidade com as práticas do MPOG (Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão)".

Finalmente, no dia 21 de agosto de 2023, a inocência de Dilma foi sacramentada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que por unanimidade, manteve a decisão 4ª Vara Federal Cível do Distrito Federal que negou a ação de improbidade administrativa apresentada pelo MPF sobre as “pedaladas fiscais” e arquivou a ação. Segundo o relator do processo, ministro Saulo Bahia, não havia causa para o seguimento do processo, pois, não foi apontada conduta ilícita e os atos descritos não poderiam ser punidos pela lei de improbidade porque o MPF não conseguiu provar dolo.

Trocando em miúdos, a presidenta Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade e/ou improbidade administrativa, o que se depreende que, realmente, o processo de impeachment foi uma grande farsa que culminou no golpe parlamentar e que, posteriormente, abriu caminho para o país ser jogado nas mãos de um genocida e corrupto que com sua gangue saquearam o país e destruíram a vida da maioria dos brasileiros. Assim, como bem assinala o Professor, Luis Felipe Miguel "...é importante, para a história do Brasil, deixar registrada essa tautologia: o golpe foi golpe2

Mas, lamentavelmente, essa vitória da presidenta Dilma, que deveria ser amplamente divulgada pelos meios de comunicação como mais uma vitória da democracia, ao contrário, abalou parte da imprensa golpista que, mesmo diante da decisão do TRF-1 de que não houve conduta ilícita e tampouco dolo da presidenta Dilma nas chamadas "Pedaladas Fiscais", imediatamente reagiu com uma falsidade intelectual e vil tentando impor sua narrativa para desapreciar a decisão do TRF-1 e justificar a aberração jurídica e política que foi o impeachment da honesta presidenta Dilma. No entanto, parece que essa abjeta reação não encontrou eco na sociedade, pois, a verdade histórica, mais uma vez, se impôs e opôs a essas teses conspiratórias tão costumeiramente alardeadas pela grande imprensa contra o campo progressista do país.

Portanto, a justiça do ponto de vista jurídico foi feita, agora se faz necessário e até imperioso que o Congresso Nacional reconheça que foi um golpe parlamentar que apeou a presidenta Dilma do Poder e faça a devida reparação a essa injustiça política e moral, e assim como no caso presidente João Goulart, devolva, de maneira simbólica, o mandato arrancado de forma injusta, ilegal e inconstitucional da honesta e honrada presidenta, Dilma Vana Rousseff.







1Fonte:http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/55a-legislatura/denuncia-contra-a-presidente-da-republica/documentos/outros-documentos/manifestacao-da-denunciada/ManifestaodaDenunciada.PDF
2-Fonte:https://www.brasil247.com/blog/o-golpe-foi-um-golpe

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

ANISTIAR OS MILITARES DO 08 DE JANEIRO É MATAR A DEMOCRACIA PELA SEGUNDA VEZ


Por: Odilon der Mattos Filho
Certamente mais da metade dos brasileiros tem consciência e clareza de que os vinte e um anos de “ditadura militar” foi um dos capítulos mais triste e vergonhosos da história do Brasil.

O golpe militar de 1964, apoiado por parte da grande mídia e pelas oligarquias do país, resultou na cassação de direitos políticos, fim do pluripartidarismo, repressão aos movimentos sociais e sindicais, censura aos meios de comunicação e aos artistas, e o uso de métodos violentos, inclusive a tortura e o assassinato de todos que se opunham ao regime autoritário.

Com fim do período de exceção, o Brasil inicia um processo de pseudo-redemocratização, mas pouco antes, em 1979, o presidente, general João Figueredo, sob pressão da sociedade, antevendo o fim da ditadura e buscando proteger os militares, sancionou a Lei n.º 6.683/70 que concede anistia “a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes”. Aliás, a legitimidade dessa Lei é questionada, visto que, parte dos senadores que a aprovaram não foram eleitos, são os chamados senadores  biônicos, coisa da ditadura militar!

Com o fim do regime de exceção, vieram às eleições indiretas, em seguida a promulgação da nova Constituição Federal, e finalmente, em 1989, a primeira eleição direta após o regime de “chumbo”.

Contudo, está claro que esse ciclo de redemocratização do país não se completou, falta ainda, conhecermos as entranhas do regime militar que marcou de forma indelével a vida dos brasileiros.

Procurando completar esse ciclo, foi criada a “Comissão da Verdade” por meio da Lei n.º 12.528/2011. Essa Comissão tinha como finalidade examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período da ditadura militar, a fim de efetivar o direito à memória, à verdade histórica, e promover a reconciliação nacional que deveria vir com as devidas punições dos militares envolvidos nas barbáries praticadas na ditadura militar, assim como ocorreu na Argentina e no Chile, por exemplo. No entanto, isso não ocorreu, todos ficaram impunes graças a Lei da Anistia e o resultado veio em 2018!

Depois do golpe militar o Brasil passou por mais um golpe de estado, porém, este sem os tanques de guerra nas ruas, mas com a apoio dos mesmos atores de outrora, inclusive, dos militares. Estamos falando do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff que, aliás, foi inocentada do crime de improbidade administrativa pelo Tribunal Regional Federal (TR-1) que arquivou o processo, ou seja, não houve crime de responsabilidade, mas houve o vergonhoso e ilegal impeachment da presidenta Dilma, um golpe que abriu caminho para mais um triste capítulo da nossa história política que foi a eleição de Bolsonaro e o desabrochar de uma extrema-direita que se encontrava adormecida nas profundezas dos esgotos país afora.

Com a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022 e logo depois da posse do presidente Lula em 2023, no dia 08 de janeiro, o povo brasileiro assistiu, incrédulo, a tentativa de mais um golpe de estado e novamente lá estavam os militares e parte do empresariado do país que apoiaram a extrema-direita na invasão e depredação dos Prédios dos Três Poderes.

Logo depois dessa barbárie começaram as investigações e punições dos terroristas, dos golpistas e de seus financiadores e apoiadores, inclusive militares de baixa patente das Forças Armadas, da PM e até de agentes da PRF, mas, estão de fora, por enquanto, os militares de altas patentes das Forças Armadas, em especial, do Exército Brasileiro.

Mesmo diante de fortes indícios e até de robustas provas do envolvimento de militares na tentativa de golpe do dia 08 de janeiro, as notícias que nos chegam dão conta de que está sendo costurado um grande acordo envolvendo o governo federal, o Parlamento e a Justiça para brindar os militares, especialmente, os oficiais generais.

A propósito, o jornalista Jeferson Miola escreveu que “são visíveis as costuras do acordão para livrar a responsabilidade das cúpulas fardadas e de altos oficiais das Forças Armadas que cometeram crimes, criaram esquemas sistêmicos de corrupção e atentaram contra a democracia. O site Metrópoles destaca que a blindagem das Forças Armadas une governo e oposição1”.

A fala da senadora Eliziane Gama, relatora da CPMI dos atos golpistas, comprova a assertiva de Jeferson Miola. Disse a senadora: “Acho que as Forças Armadas no Brasil hoje, o Alto Comando, a instituição, Forças Armadas impediu um golpe no país2”.

Já o deputado bolsonarista, Arthur Maia/PP, presidente da CPMI, declarou: "Eu entendo que foi justamente pela conduta correta, comprometida com a Constituição e com os valores democráticos, que esse país durante essa transição do governo diante de tantos problemas que aconteceram, como tentativa de atentados terroristas, invasão da Polícia Federal, o próprio 8 de janeiro, o papel das Forças Armadas foi fundamental para que nós preservássemos a democracia no nosso país3".

Evidente que não tem como punir uma instituição militar, mas se os seus comandantes participaram de forma direta ou indireta da tentativa de golpe ou de outros crimes durante o governo Bolsonaro, têm sim, que ser denunciados, julgados e devidamente punidos nos termos da lei. Não se pode esquecer desse bando de golpistas composto por civis, militares da reserva, família de militares da reserva, família de militares da ativa, todos acampados em frente dos Quartéis gritando palavras de ordem contra a democracia e arquitetando atentados a bomba, depredação de cidades e invasão como aconteceu com os Prédios dos Três Poderes. Não há dúvidas de que esses acampamentos se transformaram em verdadeiras incubadoras golpistas que estavam instaladas em área militar, onde é proibido esse tipo de manifestação, aliás, esses acampamentos receberam apoio dos comandantes dos quartéis, pois disponibilizaram água e energia elétrica e o pior, essa energia é fruto do famoso “gato”, ou seja, são os comandantes do Exército cúmplices de uma ilegalidade. Imagina se o MST resolve fazer um acampamento em frente aos quartéis, qual seria a reação?
 
Outro fato que, no mínimo, compromete o alto comando do Exército foi a noticia do jornal Folha de São Paulo de que no dia 07 de janeiro a cúpula do Exército já estava ciente da crise  que viria eclodir no dia 08 de janeiro, pois, foram devidamente informados pela Agência Brasileira de Inteligência e pelo Centro de Inteligência do Exército que produziu seus próprios relatório que foram enviados informalmente, via whatsapp, aos comandantes, mas que foram solenemente ignorados pelo alto comando do Exército.
 
Portanto, há que se deixar claro que os comandantes das Forças Armadas envolvidos na tentativa do golpe de 08 de janeiro, têm sim que ser responsabilizados no rigor das leis, agora se isso vai manchar, ainda mais, a imagem das Forças Armadas é um problema, exclusivamente, dos próprios militares envolvidos nesse atentado contra a democracia, aliás, uma das maneiras de se preservar essa tal imagem é a própria Justiça Militar e a Justiça Comum punirem esses militares de forma severa, inclusive, com a pena de expulsão, não se pode esquecer, também, que Bolsonaro, além de ser cria dos militares, teve total apoio dos mesmos, inclusive, na criminosa condução da Pandemia. 
   
Por fim, tem que se ter clareza, também, que não pode prosperar o argumento de que as Forças Armadas são um Poder Moderador, aliás, nesse sentido o brilhante dirigente José Genuíno nos adverte que “...a tutela militar se expressa na ideia de que eles são o poder moderador, donos do estado e do patriotismo, mas não são, na verdade, são subordinados ao poder civil que emana do voto popular.... Como portam arma com o monopólio da violência, acabam tendo a força na mão. É um modelo de pressão política…4

Diante de tudo isso, fica claro a imperiosa necessidade de desbolsonarizar as Forças Armadas e desmilitarizar o governo. Um passo importante está por acontecer com a PEC que propõe criar regras para proibir que militares da ativa das Forças Armadas disputem eleições ou ocupem cargos no primeiro escalão do Executivo e impõe restrições à cumulação de cargos, bem como ao exercício de cargo, emprego ou função pública civil temporária, mas, a PEC segundo informações, não revoga o citado Art. 142 da CF/88 a que se refere o brilhante José Genuíno. Mas, além dessas medidas, se faz urgente, também, a realização de uma profunda reforma/revisão dos conteúdos dos currículos das Escolas Militares que estão presas ainda, aos pretéritos tempos da Guerra Fria e do inimigo interno, leia-se comunismo! 

Já no caso dos atuais crimes contra a democracia, é urgente punir no rigor das leis todos os militares envolvidos na tentativa de golpe do dia 08 de janeiro, pois, o país não pode conviver com militares golpistas e uma nova anistia seria um erro gravíssimo que poderá fortalecer a caserna e matar pela segunda vez, a nossa frágil e incipiente democracia.  Não a anistia aos militares do 08 de janeiro!











1 Fonte: https://www.brasil247.com/authors/jeferson-miola
2 Fonte: https://www.brasil247.com/authors/jeferson-miola
3 Fonte: https://www.otempo.com.br/politica/congresso/maia-militares-envolvidos-no-8-de-janeiro-nao-refletem-as-forcas-armadas-1.3208474
4Fonte:https://marcozero.org/ou-comanda-as-forcas-armadas-ou-e-comandado-por-elas-o-conselho-de-jose-genoino-para-lula/




quarta-feira, 2 de agosto de 2023

A CHACINA NO GUARUJÁ INDICA QUE O BOLSONARISMO ESTÁ VIVO


Por: Odilon de Mattos Filho
Não é novidade para ninguém os ataques do ex-presidente Bolsonaro à democracia e a incitação ao ódio, a violência e a defesa enfática de regimes ditatoriais e de torturadores, mas por outro lado, o ex-mandatário posava de defensor dos preceitos evangélicos. E foi com esse discurso paradoxal que ele conquistou e tirou do armário uma legião de fanáticos, especialmente cristãos evangélicos e uma burguesia escravocrata que aguardava o surgimento de um líder, que com as mesas ideias, pudesse representá-los e liderá-los numa aventura absolutista.

Com a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, muitos entendem que o mesmo está morto politicamente e que o bolsonarismo perde, a cada dia, o seu espaço político junto à sociedade. Para nós é um ledo engano! Somos pelo entendimento de que Bolsonaro e o bolsonarismo estão muito vivos. Ninguém perde mais de quarenta e cinco milhões de votos de um dia para outro, portanto, é muito rasa e até irresponsável afirmar que a eleição e essa última votação de Bolsonaro foi coisa do acaso e do momento, ao contrário, o bolsonarismo é o maior movimento ou fenômeno da extrema direita que aconteceu na história política do Brasil, não à toa, que os três maiores colégios eleitorais do Brasil, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são governados por declarados governadores bolsonaristas e o PL, Partido do ex-presidente tem a maior bancada no Congresso Nacional, são 99 Deputados e 14 senadores.

Dentre os governadores declarados bolsonaristas, um se destaca mais por ter a mesma linha de atuação do ex-presidente, o govenador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que coincidentemente era também Capitão e foi ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro.

A chacina do Guarujá ocorrida no de 30/07/2023 e as declarações do governador de São Paulo sobre essa barbárie, são na mesma linha do seu ex-chefe Bolsonaro "bandido bom é bandido morto" e mostra a crueldade, a covardia e o “modus operandi” dessa turma ou gangue da extrema-direita.

Foi amplamente noticiado pelos meios de comunicação que a Polícia Militar de São Paulo, em Operação na Baixada Santista contra o tráfico de drogas, mas que na que na verdade se buscava vingar o assassinato do soldado Patrick Reis a Polícia matou e/ou executou mais de 15 pessoas, a maioria negros e inocentes e se isso não bastasse houve relato de vários casos de torturas de outros moradores das periferias da Baixada. Outro dado também grave nessa Operação, foi o fato dos Policiais não ter usado suas câmaras em seus uniformes, o que pode apontar que a Operação Escudo não passou mesmo de uma vingança. A propósito, estudos mostram que a dinâmica dos assassinatos cometidas por policiais, são na sua maioria as chamadas “operações vinganças”, especialmente, quando correrem mortes letais contra agentes de segurança pública.

São várias as denúncias das barbáries cometidas contra os moradores da Baixada Santista, são denúncias de ameaças, torturas e execuções e o caso que mais chamou a atenção, foi a execução do vendedor, Felipe do Nascimento, de apenas 22 anos de idade, casado e com dois filhos. Felipe era empregado em um quiosque da praia das Astúrias e quando saiu de sua casa para fazer compras em um supermercado foi abordado e possivelmente executado pelos policiais militares. Seu corpo foi identificado no dia seguinte por meio das impressões digitais.

O governador Tarcísio de Freitas com o mesmo discurso do seu “mito” teve o desplante em afirmar numa coletiva a imprensa que as denúncias não passam de narrativas e que “cada ocorrência é investigada. Não há ocorrência que não seja investigada. Agora, não podemos permitir que a população seja usada e não podemos sucumbir a narrativas. A gente está enfrentando o tráfico de drogas. A gente está enfrentando o crime organizado, e a gente tem de ter consciência disso”, afirmando ainda, que está “extremamente satisfeito com a ação da polícia que agiu com profissionalismo”.

Com relação a essa entrevista do governador moradores reagiram com dureza: um deles disse: “Ele é bandido e mentiroso, igual aos policiais que ele quer passar pano, mas ele sabe que estão nos massacrando aqui. O meu sobrinho foi torturado na rua atrás da minha casa, ele gritava, enquanto machucavam ele, os policiais xingavam ele e batiam, foi horrível. Como o governador pode negar isso se ele nem estava aqui?”, Outro morador afirmou: “Eu já esperava que ele fosse falar isso mesmo e, olha, não foi divulgado um terço do que passamos aqui, até trator derrubando comércio teve1.”.

Autoridades também rechaçaram essa chacina na Baixada Santista. A ministra do Meio Ambiente, Marian Silva foi enfática dizendo que "a escalada da violência no Brasil nas últimas décadas agravou-se, especialmente nos anos recentes em que o Estado brasileiro foi controlado pela extrema-direita. É evidente que a 'guerra contra o crime' faz vítimas, principalmente entre pretos e pobres, e que a política de segurança precisa ser totalmente repensada. Não são apenas as táticas e estratégias policiais que precisam ser revistas, mas todo o relacionamento do Estado com o povo das periferias...Neste caso do Guarujá, o governo de São Paulo precisa dizer ao povo qual é o seu plano para a segurança pública do Estado de São Paulo, o que pode assegurar a redução da violência e de mortes, inclusive dos agentes de segurança2”.

Já o coordenador de Projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, David Marques, afirmou que está claro que o ocorrido no Guarujá foi uma revanche da Polícia Militar para se vigar a morte do soldado Patrick Reis. David disse que “é evidente que a gente tem de lamentar muito a morte do policial em serviço. Isso é algo inadmissível. Ele é representante do Estado, foi colocado pela sociedade nessa função, e não podemos esquecer isso..“Mas também é importante lembrar que, em um contexto democrático e de uma sociedade que tem um conjunto de leis que balizam a sua própria Justiça, não cabe espaço para ‘operação vingança’ dentro da atuação das forças policiais do Estado3”,

A vereadora do Psol Elaine Mineiro também se manifestou dizendo que “a gente precisa acabar imediatamente com a Operação Escudo, que é uma operação de vingança contra as comunidades daquele território. Os moradores estão absolutamente assustados, aterrorizados....o que a gente ouviu lá é que os homens estão com medo de voltar para casa. Pedem para as suas esposas para irem buscar na porta do trabalho, porque o alvo preferencial são homens, quase sempre negros e jovens4”

Até a comunidade internacional, como a ONU pediu investigações profundas sobre essa chacina do Guarujá. Diz a Nota: “é de extrema importância que essa situação não seja ignorada e que os padrões internacionais sejam devidamente observados. Estamos preocupados com as mortes e pedimos uma investigação imediata, completa e imparcial, de acordo com os padrões internacionais relevantes – particularmente o Protocolo de Minnesota sobre a Investigação de Mortes Potencialmente Ilegais – e que os responsáveis sejam responsabilizados5”.

Neste contexto, não podemos perder de vista, também, que esse tipo de barbárie, por mais paradoxal que pareça, envolve também, o governo da Bahia, um estado governado pelo PT há mais de 15 anos, mas que fez da Polícia da Bahia a mais violenta do Brasil, fato que é inconcebível e que exige a imediata intervenção da Direção Nacional e Estadual do PT exigindo as devidas mudanças na política de Segurança Pública do Estado, pois essas atrocidades não coadunam com a Política de Direitos Humanos do Governo Federal e tampouco com os princípios que o Partido dos Trabalhadores defende desde a sua fundação.

Por fim e sobre todas essas violências cometidas pelas mãos do Estado o Poeta e Rapper, Emicida comentando mais uma morte de um jovem de 13 anos, negro e pobre na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, fruto de mais uma beligerante Operação da PM, disse com muita propriedade que o Brasil “...não é um país, nunca esteve no plano ser um país, é uma máquina de moer pobre6". E realmente o que estamos vendo há muitos anos é exatamente isso, a violência policial contra cidadãos pretos e pretas residentes nas periferias das grandes cidades brasileiras e a inconcebível impunidade desses agentes do estado brasileiro.

Portanto, já passou da hora de se dar um basta nessas barbáries, ficando cada vez mais claro, que o governo federal precisa de uma forte política social, como por exemplo, a presença do Estado dentro das periferias das cidades brasileiras e uma Política Nacional de Segurança Pública que passa por um amplo debate sobre a desmilitarização das Pm's, que sabidamente tem a sua formação ancorada nas doutrinas do regime militar. Outro objetivo não menos importante, é o monitoramento das ações e dos passos da extrema-direita bolsonarista que se encontra viva e muito articulada, inclusive, com as Forças Armadas, lembrando, também, que esse espectro político não está mais ancorada apenas na burguesia e nos setores oligárquicos, ao contrário, ela conseguiu ampliar, sobremaneira, a sua composição social, fato, que justifica, ainda mais, a atenção do campo progressista, pois, nunca é tarde para lembrar da advertência de Bertolt Brecht: “a cadela do fascismo está sempre no cio”.

         



1 Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2023/07/31/tarcisio-chama-denuncias-de-tortura-e-chacina-no-guaruja-de-narrativa-e-moradores-da-regiao-respondem-bandido-e-mentiroso
2Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/2023/7/31/duro-recado-de-marina-silva-tarcisio-apos-chacina-da-pm-no-guaruja-141438.html
3Fonte:https://www.diariodocentrodomundo.com.br/chacina-promovida-pela-pm-em-guaruja-sp-segue-padrao-de-operacao-vinganca/
4-Fonte:https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/movimento-negro-faz-ato-pedindo-fim-da-operacao-escudo
5:Fonte:https://www.agendadopoder.com.br/geral/onu-cobra-apuracao-imparcial-e-punicao-rigorosa-dos-autores-da-chacina-de-gua
6-Fonte:https://twitter.com/emicida/status/1688704626080555008?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1688704626080555008%7Ctwgr%5E8ff9f41b8dba932b6f447ba7e056b3e641168267%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.brasil247.com%2Fbrasil%2Fo-brasil-e-uma-maquina-de-moer-pobre-diz-emicida