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NOVA CLASSE "C"

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quarta-feira, 30 de março de 2022

SAF: A MERCANTILIZAÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO

Por: Odilon de Mattos Filho

É consenso que o Futebol no Brasil é o esporte de maior expressão popular e o responsável pelas principais pautas socioculturais e políticas do país.

O futebol chegou ao Brasil em 1894 por intermédio de um jovem filho de ingleses chamado Charles Miller, mas, segundo o historiador José Moraes dos Santos Neto um pouco antes, por volta de 1879 e 1881 os jesuítas do Colégio São Luís da cidade de Itu visitaram grandes colégios na Europa que já praticavam o futebol e trouxeram essa modalidade esportiva para o Brasil.

Sabe-se que o primeiro clube formado, especialmente, para a prática do futebol, foi o paulista da Associação Atlética Mackenzie College em 1898 e o primeiro Clube de futebol do Rio de Janeiro foi o Fluminense Football Clube, fundado em 1902.

Já no início da década de trinta, no governo Getúlio Vargas começou a investir nos esportes com ações coletivas que buscavam alcançar a maior quantidade de pessoas possíveis e foi neste contexto que a prática do futebol foi crescendo, se popularizando e se constituindo como um elemento formador da identidade nacional à medida que foi ganhando adeptos Brasil afora.

Aliás, foi em 1933, que a Confederação Brasileira de Desportos formalizou a atividade profissional do futebol e devido ao grande contingente de camadas sociais menos favorecidas do país o futebol passou a ser uma das alternativas dessa classe para sair ou minimizar as condições de extrema pobreza.

Passados quase noventa anos da profissionalização do futebol e trazendo a novidade do Velho Continente, alguns Clubes de futebol do Brasil começam a deixar de serem clubes associativos para se tornarem clubes-empresas e isso só foi possível com a promulgação da Lei n 14.193/2021, que criou a Sociedade Anônima do Futebol, conhecida como SAF, uma lei que, diga-se de passagem, foi pouco debatida no Congresso Nacional, mas, que teve um lobby pesadíssimo de empresários nacionais e internacionais que defendiam a sua aprovação como a panaceia para o falido futebol brasileiro. Começa assim, uma espécie de privatização do futebol brasileiro.

Aliás, esse mesmo discurso, ouvimos quando surgiu o movimento de arenização nos anos 2010, que transformaram os velhos e populares Estádios em Arenas modernas, seguras e confortáveis para os torcedores, mas, que por outro lado, proporcionou uma exclusão social, transformando o popular futebol brasileiro em um esporte elitizado, pois poucos torcedores podem arcar com os elevados preços dos ingressos que ajudam a pagar as pomposas Arenas frequentadas por uma minoria endinheirada.

Mas, voltando à SAF, essa experiência do Clube-empresa é muito lembrada a partir dos Clubes da Inglaterra que participam da festejada Premier League, mas ao contrário daqueles que defendem com unhas e dentes a iniciativa privada, essa nova modalidade de gestão do futebol tem, também, os seus senões e controvérsias, pois, não podemos nos esquecer de que se trata de empresas privadas mantidas por investidores e como tal o único objetivo é o lucro acima de qualquer paixão.

Aliás, o grande jornalista Irlan Simões aponta que na Inglaterra “...torcedores, organizados em coletivos, grupos ou movimentos, protestam contra os proprietários ou mandatários dos seus clubes, demandam reformas estruturais no futebol atual, reivindicam um papel mais importante como atores do futebol e do processo histórico de formação dos clubes enquanto instituições sociais coletivas1”.

Com relação ao Brasil o mesmo jornalista diz que “...nos últimos três anos a discussão da transformação dos clubes brasileiros em sociedades empresárias (ou clubes-empresa) já mostrou a reprodução de um método de atuação semelhante. Primeiro se faz a referência sem ponderações ao futebol europeu – através da proposta de replicação de fórmulas infalíveis para o alcance de um sucesso financeiro equivalente -, depois se misturam os interesses privados com os “benefícios coletivos” em meio a essas proposições – dado que essas empresas atuam nesse mercado e buscam sempre expandir seu campo de atuação -; e posteriormente o processo de abstenção geral de qualquer responsabilidade por eventuais problemas de percursos ou fracassos retumbantes – como ocorreu às arenas e como a empresarização dos clubes já provou ser em diversos países2”.

E realmente assiste razão ao citado jornalista, mal começou a SAF e já estourou o primeiro escândalo que foi a compra do Cruzeiro Futebol Clube pelo seu ex-jogador Ronaldo Nazário, que me recuso chamá-lo de fenômeno, em respeito aos grandes jogadores deste país como Pelé e Garrincha. Esse escândalo envolve a diretoria do Cruzeiro, a empresa XP que seria a intermediadora contratada pelo Clube, mas que tudo indica, favoreceu o comprador e mostrou, também a total falta de transparência nas negociações, inclusive, na escolha da empresa do Ronaldo, ou seja, estamos diante de uma cadeia de movimentos típicos de empresários e investidores que têm em mente tão somente o lucro, as favas os torcedores e a história do Clube.

Mas não obstante os vários senões com a SAF, evidente que não dá para defender o atual modelo de gestão dos Clubes de Futebol do Brasil, pois, é sabido que a maioria dos clubes encontra-se falidos, tomados pela corrupção e com gestões ultrapassadas, o que defendemos, levando em conta que os Clubes utilizam recursos públicos, seria criar mecanismos legais de fiscalização externa por meio da Receita Federal e do Ministério Público, por exemplo, e o controle interno das administrações dos clubes por mecanismos de compliance, além de outras exigências de transparência.

Portanto, aqueles que defendem o “deus mercado” aqui representado pela SAF muita calma, pois, está claro que esses “investidores” não têm o menor interesse em conhecer a história e a importância dos Times de Futebol do Brasil e tampouco a relação dos torcedores com os seus clubes, pois, como investidores capitalistas o futebol não passa de mera mercadoria e os clubes poderosas fábricas que produzem a principal matéria-prima que são os jogadores. Aos torcedores, dentro de suas possiblidades, cabe ficar atentos a esses movimentos, afinal, Karl Marx nos alerta que “...sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites”. Estamos de olho!




1 Fonte: https://nabancada.online/2020/11/13/bom-para-quem-das-promessas-ao-futebol-brasileiro-arena-clube-empresa-e-o-direito-do-mandante/
2 Fonte: https://nabancada.online/2020/11/13/bom-para-quem-das-promessas-ao-futebol-brasileiro-arena-clube-empresa-e-o-direito-do-mandante/



quinta-feira, 10 de março de 2022

MAIS VENENO NO CARDÁPIO DOS BRASILEIROS

Por: Odilon de Mattos Filho
Somos sabedores que, lamentavelmente, o Brasil é campeão em vários dados negativos, especialmente, quando comparado com outros países, inclusive, aqueles com índice de desenvolvimento bem abaixo das terras tupiniquins. O mais novo dado e o mais discutido e denunciado é a liberação geral do uso de agrotóxico na nossa agricultura. Aliás, o Brasil está entre os maiores consumidores de agrotóxicos e cultivadores de plantas transgênicas. Os agrotóxicos, adubos químicos e sementes geneticamente modificadas formam a base que sustenta o modelo de produção agrícola hegemônico no país.

O Brasil, no ano passado, em apenas cento e vinte dias autorizou a utilização de mais 166 defensivos agrícolas, o que significa uma média de três a cada dois dias. Segundo, matéria do Site “Observatório do Agronegócio no Brasil”, entre os catorze rótulos que receberam concessão de uso, cinco são classificados pela Anvisa como “extremamente tóxicos”. Já foram aprovados 49 agrotóxicos classe I, a mais elevada na escala toxicológica estabelecida pela ANVISA...Somando os 24 rótulos classificados como altamente tóxicos, os produtos com grau elevado de toxicidade correspondem a 47% de todos os registros concedidos em 20191”. Depois de passados 1.158 dias de governo negacionista, chega-se a chocante marca de 1.629 agrotóxicos liberados, o que equivale a 1,4  agrtóxico por dia, isso  significa que realmente o veneno é um dos temperos do cardápio do povo brasileiro.  

Só para se ter uma ideia do descaso do governo com o meio ambiente e com a saúde da população, que, diga-se de passagem, não se restringe apenas a destruição das Floretas e a catástrofe da Pandemia da COVID-19 no país, o governo em quatro anos liberou mais de dois mil agrotóxicos para serem livremente utilizados na agricultura do país, objetivando não apenas aumentar a produtividade, mas sim, os fartos lucros do agronegócio e das empresas multinacionais produtoras destes defensivos agrícolas. A propósito, a Revista Forbes de 2021, publicou que dos 315 bilionários do mundo de todos os setores da economia, quarenta estão ligados ao agronegócio brasileiro, este grupo de empresários do Brasil possuem patrimônio no valor total de R$ 248,38 bilhões.

Se toda essa liberação de agrotóxicos não bastasse, está tramitando no Congresso Nacional (CN) o Projeto de Lei nº 6200/2002, chamado pelos ambientalistas de “Pacote do Veneno”. Este PL tem como objetivo flexibilizar, ainda mais, o uso de agrotóxicos no país, criando, segundo o site Brasil de Fato, “o marco legal dos agrotóxicos que tem a intenção de legalizar, de vez, ritos flexíveis para novos agrotóxicos2”. Aliás, não é de hoje que a bancada ruralista no CN articula para destruir os já frágeis instrumentos “regulatórios de proteção à saúde e ao ambiente no processo de registro e fiscalização do uso de agrotóxicos, em nome de uma suposta desburocratização e da falácia da produção de alimentos mais seguros3”.

E é nessa porteira que a boiada vai passar com produtos que a lei atual proíbe e que já foi amplamente estudada pela comunidade científica como causadora de riscos à saúde e ao ecossistema. A maldade e a hipocrisia são tamanhas que a bancada ruralista no CN, para tentar mascarar e enganar a sociedade sobre a nocividade dos defensivos agrícolas modificou o nome dos agrotóxicos para “pesticidas”. Outro dado preocupante neste PL, dentre vários outros, é o fato de que as análises e a divulgação dos resultados de monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos deixará de ser de responsabilidade de órgãos governamentais, tipicamente técnicos, como o IBAMA e a ANVISA e passará a ser de exclusividade de um órgão político como o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, ou seja, o ministro é que terá a chave da porteira.

A propósito, sobre a possibilidade de exclusão da ANVISA na responsabilidade do monitoramento e divulgação dos resultados de analise de agrotóxicos em alimentos, a referida Agência emitiu o seguinte Parecer: “O monitoramento é realizado pela ANVISA por meio da coordenação do Programa de Analise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), além da fiscalização, ações de informação à sociedade e capacitação em Toxicologia. Com este conjunto de ações e competências, a ANVISA vem colaborando para organizar a utilização de agrotóxico na produção de alimentos, de modo a favorecer as ações para a proteção da saúde humana. No âmbito do monitoramento de resíduos em alimentos, um dos principais resultados do PARA e a evidência da necessidade de desenvolver um planejamento estratégico que possa reduzir os efeitos nocivos do uso inadequado dos agrotóxicos. Isso corrobora com a estratégia e necessidade do envolvimento da ANVISA na regulação e controle de agrotóxicos4”.

Não podemos perder de vista, também, que esse “Pacote de Veneno” se associa a outras ameaças com relação à saúde e ao meio ambiente como, por exemplo, as citadas no Livro “Dossiê Contra o Pacote do Veneno - Em defesa da vida!” que apontam como ameaças “...o desmonte dos processos de legislação ambiental, o esvaziamento das tímidas politicas publicas voltadas à produção de alimentos orgânicos e de base agroecológica, o desaparecimento dos sistemas de acesso à saúde para as populações do campo, floresta e águas e a crise de insegurança que acaba com as perspectivas de soberania alimentar e nutricional, recolocando o pais no mapa da fome”.

Portanto, estamos diante de um Projeto de Lei que além de ferir a Convenção nº 155/83, da OIT que dispõe sobre Saúde e Segurança dos Trabalhadores e que foi ratificada pelo Brasil em 1992, é também, um atentado à saúde do povo brasileiro, ao nosso ecossistema e à economia do país, visto que, se aprovado este PL o país sofrerá sérias restrições à comercialização de seus produtos que contenham resíduos de agrotóxicos proibidos em outras Nações, pela quantidade de diferentes agrotóxicos que neles possam ser encontrados nos alimentos. E com relação à nossa população a aprovação deste PL “permitirá o registro de produtos mais tóxicos que os de uso já liberado no país e também, poderá autorizar o registro de produtos com potencial de causar mutação no material genético, câncer, toxicidade reprodutiva, desregulação hormonal e malformação fetal, expandindo o nível dos problemas que já existem a despeito da lei atual proibir seu uso5”.

Assim, a única saída é pressionar o Congresso Nacional para que este PL não seja aprovado e lutar para a implementação de politicas publicas de fomento à produção agroecológica e orgânica com a consequente redução de agrotóxicos e a transição de modelo agrícola, ou seja, a implantação de uma “Política Nacional de Redução de Agrotóxicos – PNARA”, conforme é defendido pelos ambientalistas, especialistas e pela comunidade científica. 

Chega! Façamos valer a mensagem do grande líder Emiliano Zapata: “Se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo”.  Não podemos esperar que este governo e este Parlamento continuem matando o nosso povo, o nosso ecossistema e a nossa economia para proteger os escusos interesses do capital privado nacional e internacional.

 

 

 

 



1 Fonte: https://deolhonosruralistas.com.br/2019/04/30/governo-aprova-mais-14-agrotoxicos-e-chega-a-166-no-ano-47-tem-grau-elevado-de-toxicidade/
2 Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/08/18/saiba-como-participar-das-mobilizacoes-contra-o-pacote-do-veneno-que-vai-a-votacao-na-camara
3 Fonte: Livro: Dossiê-Contra o Pacote do Veneno. Em defesa da vida!
4 Fonte: Livro: Dossiê-Contra o Pacote do Veneno. Em defesa da vida!
5 Fonte: Livro: Dossiê-Contra o Pacote do Veneno. Em defesa da vida!