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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

POR QUE O ÓDIO AO PT?

Por: Odilon de Mattos Filho
O PT nasceu em 1980 como um Partido operário, independente e sem patrões, engajado na luta pelos direitos da classe trabalhadora e pela defesa intransigente da democracia. Dois anos após a sua o Partido elege o seu primeiro Prefeito: Gilson Menezes de Diadema/SP. Já 1984 o PT foi protagonista na convocação, mobilização e participação no movimento das Diretas Já. 

Em 1987 veio o seu grande desfio com as eleições para escolher os deputados constituintes. Nesta ocasião o PT elegeu 16 Deputados comandados pelo líder do Partido, Luiz Inácio Lula da Silva. O PT teve um papel de vanguarda na Constituinte, especialmente nas mobilizações dos trabalhadores, nas mobilizações e debates pelas emendas populares e a representação dos movimentos sociais nas audiências públicas com grande poder de pressão junto aos constituintes. 

Já em 1989 o PT coloca o presidente Lula no segundo turno das eleições presidenciais, só não vencendo aquele pleito graças à intervenção da Rede Globo de Televisão que se valendo do último debate entre Lula e Collor fez uma edição escancarada e vergonhosa do debate favorecimento o candidato das elites, Fernando Collor. 

Depois o PT cresce faz vários govenadores e em 2003 Luiz Inácio Lula da Silva assume a presidência da república se reelege e depois faz a sua sucessora, Dilma Rousseff, a primeira mulher presidenta do Brasil. O presidente Lula deixa o governo com uma avaliação espantosa de 87% de aprovação. O resto da história que culminou em um golpe patrocinado pela mídia, pelo sistema judiciário brasileiro e pela direita conservadora do país contra a presidenta Dilma nós já conhecemos! 

Mas, somos de opinião que as eleições de 1989 teve um papel relevante, quase um divisor de água nesse ódio ao PT, pois, foi após este pleito que começa despertar e ser estimulado pela mídia nativa os sentimentos de intolerância, preconceito e o ódio de classe contra os excluídos da sociedade, contra Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores que surgia como um fiel aliado e defensor dessas classes atingidas por estes abjetos sentimentos. 

Aliás, esses sentimentos ficaram mais aguçados após os exitosos governos de Lula que tirou do Poder, por meio do voto, os poderosos que desde sempre se beneficiam das benesses do Estado, aliás, nesse sentido a professora da UFRJ, Denise Gentil corrobora dizendo que “o orçamento público se transformou num instrumento a serviço dos interesses do sistema financeiro. Temos a mais elevada taxa de juros do mundo e a dívida pública é o mecanismo mais brutal de apropriação privada dos recursos públicos. Em lugar nenhum há uma transferência tão violentamente explícita de renda aos bancos, fundos de investimento e fundos de pensão como no Brasil1

A propósito, sobre esse ódio de classe, a Historiadora e jornalista Márcia Camargos nos explica: “...sempre me perguntei de onde vinha o ódio visceral contra Lula e o PT. Hoje entendo perfeitamente que se trata de um ódio de classe. Uma raiva profunda, nascida entre as elites e difundida entre as classes médias graças ao controle e manipulação da mídia a serviço dos interesses das classes dominantes. Porque ao longo da nossa história escravocrata, oligarca e elitista, lugar de pobre sempre foi nas periferias, nas “senzalas” das grandes metrópoles - do negro escravo e seus descendentes, aos calangos que foram construir Brasília. Estes vieram das zonas castigadas pela seca, descendo em paus de arara em direção ao Sul Maravilha, onde ergueram os principais marcos arquitetônicos e urbanísticos, os prédios luxuosos nos quais jamais teriam a chance de morar2”. 

É sabido que antes das eleições de 1989 o PT era um pequeno Partido com poucos parlamentares no Congresso Nacional e, portanto, não significava ainda, uma ameaça aos interesses das elites dominantes e do capital. Porém, após esse pleito, a visão modificou-se por completo, pois, conheceram um Partido radical que crescia muito e estava se solidificando junto à classe trabalhadora e aos movimentos populares e sociais com suas claras propostas de Políticas Sociais e uma visão de Estado muito próxima ao socialismo ou a uma democracia socialista o que levou as classes menos favorecidas a enxergar no Partido dos Trabalhadores uma espécie de salvaguarda, uma esperança para dias melhores. Mas, por outro lado, o PT começa, também, a despertar a ira e pavor das elites em perder as suas regalias e o seu status quo conforme comentamos anteriormente o que culminou, no recrudescimento das manifestações de intolerância, preconceitos e o ódio contra o Partido. 

Aliás, para ilustrar a visão que a classe dominante tinha do PT valhamo-nos de uma célebre frase do saudoso Dom Helder Câmara que retrata de maneira precisa esse sentimento: “Se dou comida aos pobres, todos me chamam de santo. Mas quando pergunto por que são pobres, me chamam de comunista”. 

Na verdade, esse ódio contra o Partido dos Trabalhadores, realmente, não passa de um ódio de classe que é cultuado a séculos por uma sociedade elitista que carrega em suas veias o sangue dos escravocratas de outrora, fato que pode ser observado neste pequeno fragmento da obra Conciliação e Reforma do Brasil do grande historiador, José Honório Rodrigues que diz: ”..Os liberais no império, derrotados nas urnas e afastados do poder, foram se tornando além de indignados, intolerantes; construíram uma concepção conspiratória da história que considerava indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso inesperado e imprevisto de suas forças minoritárias...Esses grupos prolongam as velhas elites que a Colônia até hoje nunca mudaram seu ethos...a maioria foi sempre alienada, antinacional e não contemporânea; nunca se reconciliou com o povo; negou seus direitos, arrasou suas vidas e logo que o viu crescer lhe negou, pouco a pouco, a aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”2” 

A propósito, neste mesmo sentido o brilhante Professor e Sociólogo Jessé Souza em sua magnifica obra “A Elite do atraso da Escravidão a Lava-jato” nos ensina que “..o ódio ao pobre hoje em dia é a continuação do ódio devotado ao escravo de antes. Quando as classes médias indignadas saíram piram às ruas a partir de junho de 2013, não foi, certamente, pela corrupção do PT, já que os revoltados ficaram em casa quando a corrupção dos outros partidos veio à tona. Por que a corrupção do PT provocou tanto ódio e a corrupção de outros partidos é encarada com tanta naturalidade? É que o ódio ao PT, na realidade, foi o ódio devotado ao único partido que diminuiu as distâncias sociais entre as classes no Brasil moderno. A corrupção foi mero pretexto. Não houve, portanto, nos últimos 150 anos, um efetivo aprendizado social e moral em direção a uma sociedade inclusiva entre nós3”. 

Comentando, também, o ódio ao PT o brilhante Teólogo Leonardo Boff, com precisão, escreveu: “...Já dissemos anteriormente e o repetimos: o ódio disseminado na sociedade e nas mídias sociais, não é tanto ao PT, mas àquilo que o PT propiciou para as grandes maiorias marginalizadas e empobrecidas de nosso país: sua inclusão social e a recuperação de sua dignidade. Não são poucos os beneficiados dos projetos sociais que testemunharam: “sinto-me orgulhoso não porque posso comer melhor e viajar de avião, coisa que jamais poderia antes, mas porque agora recuperei minha dignidade”. Esse é o mais alto valor político e moral que um governo pode apresentar: não apenas garantir a vida do povo, mas faze-lo sentir-se digno, alguém participante da sociedade4”. 

E realmente assiste razão a todos os escritores aqui citados, o que incomodou as elites não foi a corrupção, foram os projetos de inclusão social dos governos Petistas. A burguesia não aceitava e não aceita ver a filha da empregada doméstica preta sentar-se ao lado da filha da patroa branca na mesma sala de aula da faculdade de medicina. O empresário e o banqueiro não aceitavam e não aceitam ver o pedreiro ou o gari sentado ao seu lado em um avião de carreira, o ódio e o preconceito é tão claro e abjeto, que chegou-se a falar que os aeroportos do Brasil se transformaram em terminais rodoviários durante os governos Petistas e que os aviões viraram paus de araras com asas. 

Outro claro exemplo do preconceito estrutural foi a gritaria das classes dominantes contra a lei que assegurou às empregadas domésticas os mesmos direitos de um trabalhador celetista, o mesmo ocorreu com a lei de cotas. Até hoje essa lei é questionada e não é aceita pelas elites que para combatê-la utiliza a falsa narrativa da meritocracia, como se isso fosse fácil e plausível num país com tamanha desigualdade social. 

Verdadeiramente, mesmo com o pouco avanço das Políticas de inclusão social, já foi o suficiente para despertar a ira da classe dominante, pois, esses e outros espaços sempre foram ocupados por eles e não pela “ralé” e isso eles não admitem, não perdoam! 

Dessa forma, para quem tem um mínimo de conhecimento histórico e compreensão da nossa sociedade, há de reconhecer que realmente esse ódio ao PT nada mais do que o ódio de classe, típico do sistema capitalista onde as relações sociais hegemônicas passam por duas classes sociais antagônicas: os burgueses e os trabalhadores, ou é a “política do ódio” que nas palavras do Psicólogo, Minervino de Oliveira são “orientações políticas da direita e extrema direita cujo o conteúdo estão ligados a valores conservadores se expressando no ódio contra a população LGBT, negra, pobres, mesmo que de uma maneira mais maquiada...É o ódio reacionário da burguesia, de ver sua sociedade desmoronar junto ao seu poder por isso ataca tudo que se aproxime das pautas da esquerda, mesmo que de esquerda tenha apenas o “simbólico” e o “imaginário”, como no caso do PT, a reação avança com toda sua ferocidade atacando programas minimamente progressistas – e não estamos falando de um programa socialista ou de transição, mas de um progresso dentro dos marcos capitalistas5”. 

Por fim, podemos concluir que esse ódio ao Partido dos Trabalhadores, realmente, é fruto de dois fatores que se convergem: a cultura conservadora e preconceituosa advinda dos escravocratas e que perdura até os dias de hoje e do sistema capitalista que pela própria luta de classe desencadeia esses sentimentos de intolerância, preconceito, violência e ódio. Esse é o Brasil, esse é o mundo capitalista bem retratado num pequeno dito espanhol: “Entre Deus e o dinheiro, o segundo é primeiro”. 





1Fonte:https://www.correiocidadania.com.br/economia/11437-19-02-2016-todos-os-argumentos-em-favor-da-reforma-da-previdencia-visam-sua-privatizacao-e-financeirizacao2 

Fonte: Livro Conciliação e Reforma do Brasil – pag. 06.14.153 

Fonte: Livro A Elite do atraso da Escravidão à Lava-jato – Editora Laya -  pag. 67

4 Fonte: https://jornalggn.com.br/analise/leonardo-boff-o-que-se-esconde-atras-do-odio-ao-pt-i-e-ii/

5 Fonte: https://pcb.org.br/portal2/22346/o-odio-de-classe-e-a-mobilizacao-dos-trabalhadores/