Respeitem Lula!

"A classe pobre é pobre. A classe média é média. A classe alta é mídia". Murílio Leal Antes que algum apressado diga que o título deste texto é plágio do artigo escrito por Ricardo Noblat (...)

A farsa do "Choque de Gestão" de Aécio "Never"

“Veja” abaixo a farsa que foi o famoso “Choque de Gestão” na administração do ex-governador Aécio “Never" (...)

A MAIS TRADICIONAL E IMPORTANTE FACULDADE DE DIREITO DO BRASIL HOMENAGEIA O MINISTRO LEWANDWSKI

"O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski recebeu um “voto de solidariedade” da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) pela “dedicação, independência e imparcialidade” em sua atuação na corte. (...)

NOVA CLASSE "C"

Tendo em vista a importância do tema, reproduzimos post do sitio "Conversa Afiada" que reproduz trecho da entrevista que Renato Meirelles deu a Kennedy Alencar na RedeTV, que trata da impressionante expansão da classe média brasileira. (...)

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A CRUELDADE DO MARCO TEMPORAL DAS TERRAS INDÍGENAS

Por: Odilon de Mattos Filho

É sabido que desde 1500 a população indígena brasileira começou a ser exterminada e vários povos foram extintos. Estima-se que no ano do “achamento” do Brasil existiam, aproximadamente, 3,0 milhões de índios em terras tupiniquins. Atualmente a população indígena brasileira, segundo o último senso do IBGE está em torno de 817.963 índios espalhados por todos os Estados do Brasil.

Não há duvidas de que a redução da população indígena brasileira se deu em decorrência de vários fatores. A história é testemunha de que várias tragédias perpetradas pelos colonizadores atingiram a vida dos povos originários dessas terras, tais como: escravidão, guerras, doenças, massacres, genocídios, etnocídios e outras atrocidades e males que por pouco não eliminaram, por completo, a população indígena brasileira.

Realmente, a perversidade contra os nossos irmãos índios parece sistemática. A violência teima em persistir contra esses povos, só que desta feita fica por conta dos grandes empresários do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras, grileiros, etc e tudo com complacência do atual governo federal. São invasões de terras indígenas, assassinatos, exploração sexual, exploração do trabalho, inclusive, infantil e todo tipo de crueldade contra os povos originários do Brasil.

A propósito, dados do “Conselho Indigenista Missionário (Cimi)”, apontam quue “das 1.298 terras indígenas no Brasil, 829 (63%) apresentam alguma pendência do Estado para a finalização do seu processo demarcatório e o registro como território tradicional indígena na Secretaria do Patrimônio da União. Destas 829, um total de 536 terras (64%) não teve, ainda, nenhuma providência adotada pelo Estado1”.

Com relação a violência praticada contra os indígenas em 2019, o Cimi tem os seguintes dados: “abuso de poder (13); ameaça de morte (33); ameaças várias (34); assassinatos (113); homicídio culposo (20); lesões corporais dolosas (13); racismo e discriminação étnico cultural (16); tentativa de assassinato (25); e violência sexual (10), totalizando o registro de 277 casos de violência praticadas contra a pessoa indígena em 2019, o que significa mais do dobro do total registrado em 2018, que foi de 110 casos...A mortalidade infantil de índios em 2019 chegou a 825 e o número de suicídio a 1332”. Realmente, um abandono revoltante e criminoso!

Sabemos que está previsto na nossa Constituição Federal que "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".

Mas, não obstante esse dispositivo, no ano de 2009, um conflito de terra envolvendo plantadores de arroz e índios das Terras Raposa Serra do Sol levou ao STF à discussão sobre a demarcação de terras indígenas, naquela ocasião os ministros argumentaram em favor do povo indígena alegando que eles já estavam naquelas terras quando foi promulgada a CF/88 e esse entendimento desencadeou a tese ou narrativa do marco temporal das terras indígenas.

Dante da decisão do STF a AGU acolheu essa tese do marco temporal e como resultado são mais de 30 processos aguardando definição do STF, dentre eles, um caso concreto que é dos indígenas Xokleng, da Terra Indígena Ibirama La-Klãnõ, em Santa Catarina.

Essa tribo, historicamente, sofreu, perseguição pelos colonizadores e os remanescentes dessa etnia foram afastados de suas terras originais na primeira metade do Século XX. Contudo em 1996, conseguiram a demarcação de 15 mil hectares e em 2003 foi expandida para 37 mil hectares. No entanto, se valendo do marco temporal a Fundação de Amparo Tecnológico ao Meio Ambiente reivindica a posse dessa área.

Aliás, sobre esse tema, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 490/2007 que prevê, dentre outras coisas, a criação de um "marco temporal" para a demarcação de terras indígenas. O referido projeto já foi aprovado pela CCJ e vai a Plenário a qualquer momento. Esse projeto, não obstante ser uma grande covardia e um cruel retrocesso na política indigenista, se tornou prioridade para o governo Bolsonaro e para a bancada ruralista que vê nessa proposta a grande oportunidade de aumentar seus negócios e ampliar seus lucros.

Mas, não obstante a tramitação deste PL na Câmara dos Deputados o caso do marco temporal está sendo julgado no STF e pode definir essa questão nos próximos dias, inclusive, enterrar o PL 490/2007. O PGR já apresentou Parecer contrário à ação, ou seja, contrário à tese do marco temporal. O Relator do Processo, ministro Luiz Edson Fachin afirmou em seu voto que “...a proteção constitucional aos direitos originários sobre as terras que (os indígenas) tradicionalmente ocupam independe da existência de um marco temporal em 05 de outubro de 1988 (data da promulgação da Constituição) porquanto não há fundamento no estabelecimento de qualquer marco temporal3".

Agora só resta aguardar a decisão do STF e esperar, sem ilusões, que seja a favor dos povos indígenas, pois, a depender do atual governo e da ganância do capital privado, não existirá nem mais um centímetro de terra indígena no Brasil e como bem assinalou o grande e saudoso Bispo Dom Pedro Casaldáliga “...a política indigenista será o que seja a política. Se temos uma política neoliberal, a causa indigenista não cabe. É uma causa perdida. Se partimos para uma política economicista capitalista, não só a causa indígena, mas a causa de todos os pobres, também, é perdida...Temos que partir para outra política. O problema não é de decisão política, mas sim de opção política. Se há uma opção política clara, vivenciada e apaixonada, a decisão virá e a causa vencerá”



1 Fonte: https://cimi.org.br/2020/09/em-2019-terras-indigenas-invadidas-modo-ostensivo-brasil/

2 Fonte: https://cimi.org.br/2020/09/em-2019-terras-indigenas-invadidas-modo-ostensivo-brasil/

3Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-ago-25/supremo-julga-autonomia-bc-demarcacao-terras-indigenas

 

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

CONSTITUINTE OU BARBÁRIE

Por: Odilon de Mattos Filho

O Brasil nestes últimos trinta anos, para ficarmos apenas neste espaço de tempo, passa por criminosos e inaceitáveis projetos de desmonte do Estado brasileiro. Começou com Collor de Mello, depois FHC, Temer e agora com o Bolsonaro.

Nessa esteira observamos, também, que as instituições encontram-se totalmente anacrônicas, carcomidas, aparelhadas e visivelmente a serviço das elites do mercado nacional e internacional.

No campo político a nossa pseudodemocracia representativa e o sistema político brasileiro estão em profunda decomposição e totalmente esgotados.

Diante desse quadro, agravado pelo atual mandatário do país, as pesquisas apontam que a maioria dos trabalhadores e da sociedade é favorável ao fim deste governo genocida que hoje se encontra tutelado pelos militares e amparado pelo bloco fisiológico do Centrão. Porém, considerando a composição do Parlamento, dificilmente, esse desejo se concretizará nas vias institucionais, a única saída possível seria por meio de uma convulsão social nos moldes do Chile, por exemplo, ou por meio das próximas eleições.

De qualquer forma não se pode perder de vista que a única saída para reparar os erros, equívocos, distorções e atrocidades cometidas até agora contra o povo brasileiro e a classe trabalhadora será por meio de uma Assembleia Constituinte originária, livre, soberana e popular, aliás, isso tem que ser palavra de ordem nas ruas e/ou compromisso de um governo composto pelas forças de esquerda e popular que deverá ter início no ano de 2023.   

Somos sabedores de que a nossa Carta Magna, denominada “Constituição Cidadã”, realmente, possui muitos avanços, especialmente, no Capítulo dos Direitos Sociais, porém, praticamente nada foi regulamentado nos seus mais de cinquenta dispositivos, o que transforma esse importante capítulo, assim como outros, em meras letras mortas distribuídas em frias páginas de papel.

Dessa forma, é imperiosa uma nova Constituição, mesmo que tenhamos algumas resistências, a elaboração de uma nova Carta Magna em qualquer país é um fenômeno irrefutável e necessário quando imposto pela tensão com a realidade e pelo esgotamento do sistema político e democrático de um país. No caso do Brasil, conforme vimos acima, essa realidade impõe uma Assembleia Constituinte para elaboração de uma nova Carta na qual se garanta de maneira plena a radicalização democrática visando o bem-estar social, revogando os ataques cometidos contra a nossa soberania, recuperando e ampliando as conquistas e direitos da classe trabalhadora e formatando novas e democráticas instituições.

Porém, sabemos que o chamamento para uma nova constituinte é uma bandeira difícil de ser empunhada, pois, como dito alhures, encontra grandes resistências nas classes dominantes e até mesmo em parte das esquerdas, no entanto, diante da crise que corrói as instituições e o sistema político brasileiro, é imperioso a unidade da classe trabalhadora e do campo das esquerdas para colocar na pauta política essa importante e decisiva discussão. Contudo, temos que compreender que para se escrever essa nova Constituição e assegurar a legitimidade popular dessa nova Carta é necessário garantir que os constituintes sejam oriundos das classes sociais que formam a maioria do povo brasileiro, ou seja, os constituintes devem ser representados pela classe trabalhadora, por mulheres, negros, índios, lgbtqi+ dentre outros segmentos que compõe as classes sociais do Brasil.

Aliás, nesse sentido, uma exitosa experiência está chamando atenção do mundo e está acontecendo bem perto de nós, atrás das Cordilheiras do Andes, mais precisamente no Chile. Lá as massas foram para as ruas e apresentaram uma vasta pauta de reinvindicações onde se destaca a convocação de uma Convenção Constituinte livre, soberana e popular para escrever a nova Carta do povo Chileno, colocando fim a Constituição da Era Pinochet e do seu modelo econômico que produziu um apartheid social e que levou o povo chileno a um empobrecimento doloroso e descomunal.

Um dos grandes avanços dessa Convenção Constituinte é que pela primeira vez na história uma “instituição” escreverá uma Constituição pelas mãos de uma constituinte com equidade de gênero. Outra novidade e que consagra a democracia popular é a possiblidade de candidaturas independentes e de setores sociais que não estão associados a nenhum Partido Político. E por fim, depois de escrita a nova a Carta à mesma passará por uma consulta popular para a sua aprovação. Realmente, o povo chileno dá um grande exemplo para o mundo!

E parece que os bons ventos das Cordilheiras dos Andes estão soprando a favor da América do Sul. Na Venezuela, o primeiro país que convocou uma nova Assembleia Constituinte o povo resiste bravamente a favor dos avanços e conquistas. Na Argentina a centro-esquerda volta ao Poder e pode avançar com as pautas populares. Na Bolívia a esquerda retorna ao governo e certamente aprofundará as reformas que o país necessita. E no Peru o presidente eleito, Pedro Castilho garantiu que solicitará ao novo Congresso a convocação de uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Carta Magna para os Peruanos.

Por fim, esperamos que esses ventos atravessem essa Cordilheira e chegue aos corações dos brasileiros conscientizando-os da importância da unidade para a luta por uma nova Assembleia Constituinte originária, livre, soberana e popular que, certamente, representará uma ruptura importante para podermos transformar o país em uma Nação forte, soberana, igualitária e socialista, do contrário, continuaremos convivendo com as barbáries típicas de uma republiqueta das bananas. 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

AFEGANISTÃO: DE VOLTA A UM TRISTE PASSADO

Por: Odilon de Mattos Filho

Até o mundo mineral, como diria Mino Carta sabe que os EUA se alto intitulam tutores do mundo, porém, só agem dessa forma quando há algum interesse econômico e/ou geopolítico, mas, sempre com o falso pretexto de defesa da democracia.

Os exemplos dessa sanha dos imperialistas são inúmeras ao longo dos tempos, foi assim em Cuba, Vietnam, El Salvador, Nicarágua, Haiti, Líbano, Iraque, Afeganistão e tantas outras Nações que sofreram intervenções militares, atentados, golpes de Estado e destruição de suas  soberanias. Aliás, a organização WikiLeaks revelou ao mundo os crimes de espionagem, pressões políticas e/ou diplomáticas, más prática governamentais, abuso de poder e crimes de guerra cometidos, ao longo dos tempos, pelos imperialistas do norte, especialmente, contra o Iraque e o Afeganistão.

Sabemos que os EUA obtiveram muitos êxitos em suas empreitadas, mas, foram, também, muitas derrotas, as empreitadas, o grande e duradouro fracasso fica por conta de Cuba, mas emblemática mesmo, foram às derrotas para o Vietnã, Iraque e Afeganistão. Porém, com exceção do Vietnã, os povos do Iraque e Afeganistão sofrem com os rastros de destruição econômica, política e social deixado pelas guerras patrocinadas pelos EUA.

É sabido que a invasão do Afeganistão pelos EUA e por forças da OTAN em 2001 foi uma resposta aos ataques do “11 de Setembro”. Com a invasão do Afeganistão os EUA e aliados conseguiram tirar do Poder o Talibã, desmantelaram a AI-Qaeda e assassinaram o seu grande líder, Bin Laden numa operação denominada “Liberdade Permanente”, mas que apesar do nome, matou quase trezentos mil cidadãos de 2001 a 2021 e custou mais de US$ 200 bilhões aos cofres estadunidenses,  segundo a Agência Associated Press. A propósito, vale  ser lembrado - e isso é fato e não conjectura - que na Certidão de Nascimento do Talibã está escrito, Pai: Estados Unidos da América e isso, por mais que tetem esconder, a história registra.

Após a guerra e a ocupação dos EUA e das forças da OTAN, foi constituído um novo governo apoiado pelo ocidente, em especial, pelos EUA que se comprometeram a construir uma democracia ocidental no país e ajudá-los na sua reconstrução, no entanto, sabe-se que foram aplicados, apenas, US$ 40 bilhões em ajuda humanitária e para o desenvolvimento do país, o que, convenhamos, é uma bagatela perto dos US$ 200 bilhões gastos com a guerra que se quer, conseguiu derrotar ou isolar o Talibã, ao contrário, esse grupo foi, gradativamente, ganhando força financeira e política no país. Aliás, vale registrar, também, que durante esses vinte anos de ocupação dos EUA no Afeganistão, malgrado a propaganda enganosa e endossada pela mídia de ajuda humanitária ao povo afegão, a verdade é que a situação econômica naquele país elevou de forma gritante os níveis de extrema pobreza, miséria e abandono, e as barbáries como estupros, violências domésticas, espancamentos públicos e outras perversidades não cessaram durante a ocupação.     

Com relação ao poderio financeiro do Tlibã, a revista Forbes noticiou que esse Grupo é a quinta, entre as dez organizações consideradas terroristas mais rica do mundo, com um faturamento de US$ 400 milhões. Seus negócios, segundo noticiado, são oriundos do tráfico de drogas, da extorsão e cobrança de impostos de plantadores de papoula e de doações de fundos de caridade de países do Golfo.

Depois de duas décadas os EUA em julho deste ano retiraram o restante de suas tropas do Afeganistão e essa retirada  foi fruto de um acordo celebrado entre o Talibã e os presidentes Obama e depois pelo Trump. Neste acordo o Talibã se comprometeu que a Al-Qaeda ou qualquer outro grupo extremista não irá operar em áreas controladas pelo Talibã. Mas, não demorou muito, aliás, pouco mais de trinta dias do início da retirada dos soldados estadunidenses e o grupo fundamentalista derrotou o Exército Afegão e retornou ao Poder no país.

Segundo analistas, a vitória do Talibã  tem algumas razões básicas: o serviço de inteligência dos EUA falharam, os EUA não apoiaram o Exército Afegão e saíram muito rápido e desastrosamente do país e, por último, os imperialistas  subestimaram o poder financeiro e estratégico do Talibã. Aliás, o próprio Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reconheceu que “...os EUA investiram bilhões de dólares , durante quatro gestões de presidentes dos EUA nas forças do governo Afegão, dando-lhes vantagens sobre o Talibã, mas, ainda assim, não conseguiram impedir o avanço do grupo e tudo aconteceu mais rapidamente do que prevíamos1

Diante de toda essa barbárie, é de fácil constatação que o Afeganistão volta a situação de vinte anos atrás e o que sobra dessa abjeta e inútil guerra patrocinada pelos EUA é a miséria, a destruição do povo Afegão e o medo, a despeito das promessas do Talibã, de se impor, novamente no país, a secular Sharia (conjunto de leis do Islamismo baseada no Alcorão) e um governo Teocrático semelhante ao de tempos pretéritos no qual se via gravíssimas violações aos direitos humanos, especialmente, contra mulheres e minorias afegãs. 

Pelo lado dos EUA as imagens que correram o mundo com os afegãos se digladiando nas pistas do aeroporto de Kabul para fugir do país, mostra a derrota dos imperialistas e do próprio do presidente Joe Biden.  Por outro lado, se teve vencedores no meio desse caos, foram dois: o ex-presidente Ashraf Ghani que roubou US$ 170 milhões e fugiu do país e o segundo "vitorioso" foi um dos braços fortes do capitalismo selvagem que são as indústrias armamentistas estadunidenses, que não passam de uma fiel, covarde e implacável máquina de matar a serviço dos EUA e de outros impérios.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

A PANDEMIA ACELERA A PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO PÚBLCO

Por Odilon de Mattos Filho

Sabemos que um dos setores mais afetadas pela Pandemia da COVID-19 foi a Educação que, subitamente, teve que paralisar suas atividades presenciais com incalculáveis danos à comunidade escolar, em particular, com relação aos aspectos de aprendizagem.

Passados alguns meses do fechamento das Escolas e na tentativa de minimizar os efeitos para a aprendizagem dos alunos, começaram os trabalhados para colocar em prática o chamado ensino remoto ou ensino à distância. Aqui começamos a observar, não obstante saltar aos olhos, as grandes diferenças sociais no nosso país e a crise com que passa o sistema educacional do Brasil.

Evidente que a Pandemia não causou as sabidas distorções no ensino público, pois, a crise do sistema educacional é histórico e como bem afirma o Dossiê da CoronaChoque e financeirização da educação brasileira do Front Instituto de Estudos Contemporâneos e do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social a “realidade educacional brasileira é marcada por graves desigualdades que incluem problemas como as dificuldades de acesso ao ensino, abandono precoce dos estudos, subfinanciamento e precariedade material das instituições, baixa cultura letrada, analfabetismo funcional, avanço da mercantilização e presença de uma estrutura dual dividida entre a rede pública e a rede privada1” .

Portanto, a Pandemia só veio agravar a atual situação e desnudar a grande crise da realidade educacional brasileira.

Como dito alhures, diante da Pandemia buscou-se alternativas para a educação e um delas foi o ensino remoto, no entanto, para se empregar tal modalidade, exige-se adequada infraestrutura tecnológica, formação dos Professores e dos demais profissionais da educação, planejamento para distribuição de material didático e especialmente, dotar alunos e educadores em geral para que tenham acesso mínimo, às tecnologias apropriadas, tais como: computadores, smartphones, uma boa rede de internet, etc, além disso, os governos deveriam ter preparado para o retorno às aulas, porém, o que observamos, em especial, no ensino público, foi um esculacho e uma enorme falta de compromisso com a educação do país e a incapacidade do atual governo para, ao menos, minimizar tal situação.

Temos que destacar, porém, que este descaso não ficou apenas por conta do Governo Federal, mas também, com raríssimas e honrosas exceções, por conta de governos estaduais e municipais. São inúmeros os relatos de professores noticiando que alunos dividiam o celular com quatro irmãos para assistirem as aulas, outros tinham que ficar no alto dos morros com internet móvel 3G para tentar acompanhar as aulas ou atividades e tantas outras tristes experiências que se sujeitaram alunos e professores Brasil afora.

A propósito, sobre essa omissão do Estado, o professor da UFRJ, Roberto Leher disse que “...além da desigualdade e precariedade no acesso a tecnologias de informação e comunicação há, também, falta de planejamento para o retorno das atividades presenciais assim que o controle da pandemia permitir. Esse processo exige investimento na infraestrutura das escolas, como, por exemplo, oferecer maior ventilação nas salas de aula, adaptação dos banheiros e bebedouros, etc2”.

O Professor mostra, também, a omissão do Estado com uma política de universalização do acesso público e gratuito à internet. Diz o Professor: “...Nós vimos que, ao contrário, infelizmente, os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), que é um fundo muito robusto, foram vetados por Bolsonaro. Isso produziu uma desigualdade que é de difícil qualificação. Mas é brutal, é inacreditável que num momento tão áspero nós tivemos seguramente mais da metade dos estudantes brasileiros – na ordem de 30 milhões de estudantes nos diversos níveis – sem efetivamente ter condições de acompanhar as interações e os ambientes virtuais de aprendizagem”.

Mas não obstante essa triste realidade do ensino público, a rede privada, por sua vez e como sempre, soube explorar essa Pandemia para elevar os lucros dos seus negócios, cortar custos, ampliar mercado e intensificar a exploração do trabalho, aliás, as mais importantes empresas educacionais do Brasil são Sociedades Anônimas com capital aberto em bolsa de valores e isso, por si só, explica a voracidade dessas empresas pelo lucro fácil a qualquer custo.

Neste contexto, não podemos perder de vista, também, outro setor que foi alavancado pela Pandemia que são as chamadas empresas EdTechs que desenvolvem ferramentas tecnológicas para a educação. Essas empresas tiveram um boom, extraordinário, em seus negócios com a Pandemia.

Mas voltando às Escolas Particulares, estudos mostram que para os seus alunos os danos na aprendizagem foram menores em comparação aos educandos da rede pública, isso porque estes alunos, na sua imensa maioria, são pertencentes às classes sociais mais elevadas, dessa forma, certamente, não tiveram dificuldades, por exemplo, ao acesso à estrutura tecnológica exigida. Já os professores da rede privada, assim como os da rede públicos, foram, covardemente, explorados por essas empresas/escolas, alguns com carga horária dobrada, outros com reduções salariais, intimidações e todo tipo de exploração possível. Um verdadeiro crime contra essa categoria que agrega mais de 2,0 milhões de educadores.  

Ainda com relação a essas escolas/empresas, há uma segura percepção de que pós-pandemia elas continuarão lucrando muito, pois, as políticas governamentais sinalizam a favor desses empresários e o campo e a ser explorado é muito vasto, conforme podemos observar no já citado Dossiê da CoronaChoque que informa que, “..o Brasil tem aproximadamente 211 milhões de habitantes. Destes, cerca de 8 milhões são crianças na educação infantil, 33 milhões são estudantes do ensino básico e 8 milhões do ensino superior...Evidentemente, que para o setor privado, estes milhões de estudantes são vistos como um enorme potencial para crescer e lucrar. Para se ter uma ideia, em 2019 cerca de 19% das matrículas do ensino básico eram em escolas privadas (INEP, 2019b), e 76% das matrículas em faculdades e universidades privadas de ensino (INEP, 2019a)3”.

Os estudos da CoronaChoque nos mostram ainda, como dito alhures, que o crescimento do setor de ensino privado durante a Pandemia ocorreu, também, com as vendas de vagas para o setor público por meio de programas de voucher utilizados por prefeituras e estados para comprar vagas nas escolas particulares. Aliás, segundo noticiado, o governo Bolsonaro quer vincular à distribuição desses vouchers aos beneficiários do novo Bolsa Família, ou seja, estamos caminhando, a passos largos, para a criminosa política de sucateamento e terceirização ou privatização do ensino público. É o poderoso lobby das escolas particulares em ação!

De tudo isso, podemos concluir que existe sim, uma política deliberada para destruir a educação publica no país, veja o que o governo está fazendo com a pesquisa científica, com os projetos acadêmicos, as intervenções nas universidades, os reiterados cortes de verbas para a educação, enfim, a Educação do Brasil caminha para o fundo do posso, aliás, a estúpida fala do ministro da educação de que “a universidade é para poucos” corrobora tal assertiva. Realmente, essa é a triste realidade do país que hoje é governado por uma camarilha comandada por um bonapartista a serviço do mercado, dos banqueiros e de um projeto que aprofunda, cada vez mais, o apartheid social que toma conta das terras tupiniquins. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



1 Fonte: https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-43-educacao-brasileira-pandemia/ 

2 Fonte: https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-43-educacao-brasileira-pandemia/ 

3 Fonte: https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-43-educacao-brasileira-pandemia/ 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

UM DIA PARA BOLSONARO ESQUECER

Por: Odilon de Mattos Filho

O país acompanhou nestes últimos meses a saga, ou melhor, a fixação do presidente Bolsonaro pelo tal voto impresso, que restituiria, como diz Reinaldo Azevedo o “terraplanismo eleitoral”.

Para defender a sua tese de que as urnas eletrônicas não são seguras, o aloprado presidente se valeu de tudo, em especial, da artimanha da qual ele é imbatível, as Fake News, isso sem contar a utilização de depoimentos sigilosos em inquérito da PF sobre o tema, o que, certamente, vai lhe custar mais uma denúncia junto a STF.

Muitos sustentam a tese de que essa paranoia do presidente pelo voto impresso nada mais é do que cortina de fumaça para distrair a população para poder passar a boiada no congresso nacional, como aconteceu, por exemplo, com as privatizações da Eletrobrás e dos Correios, ou para desviar as atenções da CPI da COVID-19 e dos casos de corrupção envolvendo a alta cúpula do Ministério da Saúde, inclusive, com o possível envolvimento de Bolsonaro. Quanto a essa tese, somos de opinião que até pode fazer sentido, mas, na verdade o presidente está tentando sabotar as eleições de 2022 e essa narrativa de “contagem pública dos votos” seria parte de sua estratégia.

Sabemos que Bolsonaro fez um grande pacto com o Centrão que na verdade é quem está mandando no governo. O orçamento secreto é a grande recompensa para os deputados deste bloco, que juram fidelidade ao governo, e a posição do presidente Câmara dos Deputados, Arthur Lira no trâmite da PEC do Voto Impresso, corrobora tal fidelidade.

Foi amplamente divulgado que a Comissão Especial criada para analisar essa PEC do Voto Impresso rejeitou o projeto por 22 votos contrários e 11 a favor. Mas mesmo diante dessa derrota, o presidente da Câmara levou o projeto para o Plenário, fato regimental, mas, pouquíssimo usual na Câmara dos Deputados, o que nos leva a deduzir que Arthur Lira atendeu a um pedido do governo que esperava conquistar no Plenário os 308 votos necessários para aprovação da referida PEC.

No dia 10/08/2021, em tempo recorde, foi pautada pelo presidente da Câmara dos Deputados a votação da PEC e neste mesmo dia, o presidente Bolsonaro ordenou que os tanques da Marinha e do Exército, que participam da “Operação Formosa”, desfilassem na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios. Uma ordem com o claro objetivo de intimidação e tentativa de mostrar que as Forças Armadas estão fechadas com o seu comandante-em-chefe.

Mas, apesar de toda grana com o orçamento secreto, as intimidações, as Fake News e os cansativos falatórios do presidente Bolsonaro nas redes sociais e no “cercadinho” do Alvorada, a PEC foi rejeitado por 229 votos a favor e 218 contra, ou seja, não alcançou o quórum mínimo de 308 votos a favor para a sua aprovação. Porém, temos que reconhecer que o número de votos do governo foi emblemático e olha que se tratava de uma matéria esdrúxula e impopular, o que  demonstra que o governo, ainda possui, uma considerável base fisiológica na Câmara dos Deputados.

Mas, os destaques dessa votação, não foram os votos dos governistas ou do Centrão, mas, sim, o espúrio comportamento do PSDB que teve 62,5% dos deputados votando a favor da PEC, ou seja, apoiando os desvarios de Bolsonaro. E a votação do PSDB é emblemática porque foi, exatamente, no dia em que os tanques das Forças Armadas tentaram intimidar os parlamentares, ou seja, coagir a democracia. Portanto, se precisava de uma pá de cal para o triste fim deste Partido que nasceu sob as bênçãos da social democracia, essa votação cumpre esse fúnebre papel.

Mas, essa não foi à única derrota de Bolsonaro. Neste mesmo dia 10/08/2021 a famigerada, anacrônica e inconstitucional Lei de Segurança Nacional (LSN) foi derrubada no Senado para desespero dos bolsonaristas de plantão e dos abusos de poder por parte de algumas autoridades do presente, que a utilizava para fazer valer os seus sádicos desejos semelhantes àqueles de tempos pretéritos praticados, covardemente, nas masmorras das casernas ou do temido e nefasto DOI-CODI.

E a terceira derrota do dia, foi o patético desfile dos blindados militares na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, cujos os comandantes só aceitaram participar dessa presepada por conta da tal disciplina e hierarquia militar. Realmente, uma dia para se esquecer, diria Bolsonaro!

A propósito, com relação ao fiasco do desfile militar, vale citar o renomado psicanalista Christian Dunker, postada pelo jornalista Leonardo Sakamoto no site UOL. Para ele, o desfile revelou a frágil masculinidade do fascista. "Quando o governante vê o seu poder e, logo, a sua virilidade ameaçada (porque faz essa circulação libidinal de uma coisa com outra), inventa um ritual de exibição pública... A 'bravata' pode ter efeitos reais, mas vai se mostrando ridícula porque todos percebem o que ela significa1"

Mas não obstante todo esse delírio e as citadas derrotas de Bolsonaro, a sociedade precisa estar atenta, pois, realmente, o que importa para Bolsonaro é ver a boiada passando no Congresso Nacional e isso, sejamos justos, ele está conseguindo e a próxima boiada pode pisotear os servidores públicos e liquidar com os serviços públicos por meio da PEC 32, conhecida como Reforma Administrativa, que deverá ser votada neste mês de agosto ou inicio de setembro.

O certo é que mesmo diante das idiossincrasias de Bolsonaro o mesmo continua no Poder cumprindo o seu compromisso de defender os interesses do mercado financeiro e dos grandes empresários nacionais e internacionais com as suas nefastas e criminosas políticas de privatização, dilapidação de nossas riquezas e o sucateamento do Estado brasileiro. Portanto, não nos enganemos com essas derrotas, pois, a narrativa do voto impresso pode ser somente um sinal de que Bolsonaro e sua camarilha estão dispostos a tudo para permanecerem no Poder. Assim, ou lutamos pelo fim deste governo ou ele colocará um fim em nossa nova e frágil democracia. Todo cuidado é pouco!










1Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/08/09/bolsonaro-esconde-impotencia-exibindo-tanques-de-guerra-diz-psicanalista.htm