quarta-feira, 11 de agosto de 2021

UM DIA PARA BOLSONARO ESQUECER

Por: Odilon de Mattos Filho

O país acompanhou nestes últimos meses a saga, ou melhor, a fixação do presidente Bolsonaro pelo tal voto impresso, que restituiria, como diz Reinaldo Azevedo o “terraplanismo eleitoral”.

Para defender a sua tese de que as urnas eletrônicas não são seguras, o aloprado presidente se valeu de tudo, em especial, da artimanha da qual ele é imbatível, as Fake News, isso sem contar a utilização de depoimentos sigilosos em inquérito da PF sobre o tema, o que, certamente, vai lhe custar mais uma denúncia junto a STF.

Muitos sustentam a tese de que essa paranoia do presidente pelo voto impresso nada mais é do que cortina de fumaça para distrair a população para poder passar a boiada no congresso nacional, como aconteceu, por exemplo, com as privatizações da Eletrobrás e dos Correios, ou para desviar as atenções da CPI da COVID-19 e dos casos de corrupção envolvendo a alta cúpula do Ministério da Saúde, inclusive, com o possível envolvimento de Bolsonaro. Quanto a essa tese, somos de opinião que até pode fazer sentido, mas, na verdade o presidente está tentando sabotar as eleições de 2022 e essa narrativa de “contagem pública dos votos” seria parte de sua estratégia.

Sabemos que Bolsonaro fez um grande pacto com o Centrão que na verdade é quem está mandando no governo. O orçamento secreto é a grande recompensa para os deputados deste bloco, que juram fidelidade ao governo, e a posição do presidente Câmara dos Deputados, Arthur Lira no trâmite da PEC do Voto Impresso, corrobora tal fidelidade.

Foi amplamente divulgado que a Comissão Especial criada para analisar essa PEC do Voto Impresso rejeitou o projeto por 22 votos contrários e 11 a favor. Mas mesmo diante dessa derrota, o presidente da Câmara levou o projeto para o Plenário, fato regimental, mas, pouquíssimo usual na Câmara dos Deputados, o que nos leva a deduzir que Arthur Lira atendeu a um pedido do governo que esperava conquistar no Plenário os 308 votos necessários para aprovação da referida PEC.

No dia 10/08/2021, em tempo recorde, foi pautada pelo presidente da Câmara dos Deputados a votação da PEC e neste mesmo dia, o presidente Bolsonaro ordenou que os tanques da Marinha e do Exército, que participam da “Operação Formosa”, desfilassem na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios. Uma ordem com o claro objetivo de intimidação e tentativa de mostrar que as Forças Armadas estão fechadas com o seu comandante-em-chefe.

Mas, apesar de toda grana com o orçamento secreto, as intimidações, as Fake News e os cansativos falatórios do presidente Bolsonaro nas redes sociais e no “cercadinho” do Alvorada, a PEC foi rejeitado por 229 votos a favor e 218 contra, ou seja, não alcançou o quórum mínimo de 308 votos a favor para a sua aprovação. Porém, temos que reconhecer que o número de votos do governo foi emblemático e olha que se tratava de uma matéria esdrúxula e impopular, o que  demonstra que o governo, ainda possui, uma considerável base fisiológica na Câmara dos Deputados.

Mas, os destaques dessa votação, não foram os votos dos governistas ou do Centrão, mas, sim, o espúrio comportamento do PSDB que teve 62,5% dos deputados votando a favor da PEC, ou seja, apoiando os desvarios de Bolsonaro. E a votação do PSDB é emblemática porque foi, exatamente, no dia em que os tanques das Forças Armadas tentaram intimidar os parlamentares, ou seja, coagir a democracia. Portanto, se precisava de uma pá de cal para o triste fim deste Partido que nasceu sob as bênçãos da social democracia, essa votação cumpre esse fúnebre papel.

Mas, essa não foi à única derrota de Bolsonaro. Neste mesmo dia 10/08/2021 a famigerada, anacrônica e inconstitucional Lei de Segurança Nacional (LSN) foi derrubada no Senado para desespero dos bolsonaristas de plantão e dos abusos de poder por parte de algumas autoridades do presente, que a utilizava para fazer valer os seus sádicos desejos semelhantes àqueles de tempos pretéritos praticados, covardemente, nas masmorras das casernas ou do temido e nefasto DOI-CODI.

E a terceira derrota do dia, foi o patético desfile dos blindados militares na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, cujos os comandantes só aceitaram participar dessa presepada por conta da tal disciplina e hierarquia militar. Realmente, uma dia para se esquecer, diria Bolsonaro!

A propósito, com relação ao fiasco do desfile militar, vale citar o renomado psicanalista Christian Dunker, postada pelo jornalista Leonardo Sakamoto no site UOL. Para ele, o desfile revelou a frágil masculinidade do fascista. "Quando o governante vê o seu poder e, logo, a sua virilidade ameaçada (porque faz essa circulação libidinal de uma coisa com outra), inventa um ritual de exibição pública... A 'bravata' pode ter efeitos reais, mas vai se mostrando ridícula porque todos percebem o que ela significa1"

Mas não obstante todo esse delírio e as citadas derrotas de Bolsonaro, a sociedade precisa estar atenta, pois, realmente, o que importa para Bolsonaro é ver a boiada passando no Congresso Nacional e isso, sejamos justos, ele está conseguindo e a próxima boiada pode pisotear os servidores públicos e liquidar com os serviços públicos por meio da PEC 32, conhecida como Reforma Administrativa, que deverá ser votada neste mês de agosto ou inicio de setembro.

O certo é que mesmo diante das idiossincrasias de Bolsonaro o mesmo continua no Poder cumprindo o seu compromisso de defender os interesses do mercado financeiro e dos grandes empresários nacionais e internacionais com as suas nefastas e criminosas políticas de privatização, dilapidação de nossas riquezas e o sucateamento do Estado brasileiro. Portanto, não nos enganemos com essas derrotas, pois, a narrativa do voto impresso pode ser somente um sinal de que Bolsonaro e sua camarilha estão dispostos a tudo para permanecerem no Poder. Assim, ou lutamos pelo fim deste governo ou ele colocará um fim em nossa nova e frágil democracia. Todo cuidado é pouco!










1Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/08/09/bolsonaro-esconde-impotencia-exibindo-tanques-de-guerra-diz-psicanalista.htm 

   

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