Diante do descalabro da taxação comercial imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a vários países — especialmente ao Brasil —, lembrei-me de uma das maiores obras sobre a história da América Latina: As Veias Abertas da América Latina, do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano e comcei a reler essa importante obra que, contextualizando, nos ajuda a entender o atual momento político.
O livro, revela com riqueza de detalhes como os colonizadores e imperialistas dominaram e saquearam as riquezas dos povos latino-americanos, e apoiaram golpes e instalaram ditaduras sangrentas como foi feito pelos EUA para moldar a política de toda a região.
Logo no início, Galeano sintetiza a essência da Teoria da Dependência: “A divisão internacional do trabalho consiste em que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os tempos remotos.”
E prossegue: “Segundo a voz de quem manda, os países do sul do mundo devem acreditar na liberdade de comércio (embora não exista), honrar a dívida (embora seja desonrosa), atrair investimentos (embora sejam indignos) e entrar no mundo (embora pela porta de serviço).”
Com o fim da Guerra Fria, os EUA consolidaram uma hegemonia que os fez se enxergar como “tutores do mundo”, acima do bem e do mal. Para sustentar esse status, participaram e iniciaram guerras, promoveram golpes e patrocinaram barbáries mundo afora, sempre em defesa de seus interesses — muitas vezes com o silêncio cúmplice de organismos internacionais e até de governos aliados.
Vale lembrar, que o saque imperialista começou com o ouro e a prata; passou pelo açúcar, tabaco, guano, salitre, cobre, estanho, borracha, cacau, banana, café e petróleo; e hoje mira as chamadas “terras raras”.
A nova tarifa de 50% imposta por Trump ao Brasil é mais que uma medida econômica: é uma tentativa de intervir na política nacional e atacar nossa soberania. Por trás, está o interesse em se apoderar das reservas brasileiras de terras raras — especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte —, essenciais para baterias, armas de precisão, satélites e chips. Aliás, o Brasil foi agraciado geográfica e geologicamente: temos as maiores áreas agricultáveis do mundo, uma potência em água doce, vastas reservas de petróleo, as terras raras, etc. e tudo isso instiga a cobiça de outras Nações, como, por exemplo, o império decadente dos EUA, como estamos assistindo nesse momento. Porém, o governo estadunidense, acostumado a tutelar parte do mundo e "negociar" com governos submissos, desta feita, quebrou a cara, pois, encontrou uma forte resistência do governo Lula à pressão de Trump para tentar espoliar essas riquezas e assim, reduzir sua dependência da China, transformando o Brasil em ativo geoestratégico.
A propósito, o momento remete ao governo João Goulart (1961-1964) quando interesses minerários estrangeiros também se chocaram com um projeto nacionalista. Outro período similar ao de agora, foi de 1951 a 1954, quando o presidente Getúlio Vargas criou a Petrobras e implementou políticas nacionalistas, despertando a sanha dos imperialistas do norte, que pouco tempo depois colaboraram com o golpe militar de 1964. Aliás, qualquer semelhança não é mera coincidência como bem pontua o destemido jornalista, Xico Sá ao relembrar a obra "Aos Trancos e Barrancos" do grande mestre Darcy Ribeiro: “Em 1962, o presidente João Goulart cancela o registro das jazidas de minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero, concedidas ilegalmente à Hanna Corporation. O Brasil recupera, assim, a massa principal dos seus minérios de ferro. Com essa decisão, empresas dos EUA se juntaram a militares e empresários brasileiros no financiamento do golpe de 1964. Logo que assumiu, Castelo Branco devolveu as minas à multinacional norte-americana.1”.
É exatamente isso que Trump desejava com a vitória do antipatriota Jair Bolsonaro e sua camarilha. Felizmente, quem venceu foi Lula e a democracia e neste contexto é preciso reconhecer a postura firme e soberana do presidente Lula que saiu da defensiva e retomou o diálogo com sua base, defendendo de forma intransigente os interesses do Brasil. Espera-se que suporte as pressões externas e não se curve às chantagens do imperialismo estadunidense. Nossa soberania exige que as riquezas naturais do país sejam preservadas: pertencem única e exclusivamente ao povo brasileiro, ademias, vale lembrar: o Brasil integra o BRICS, bloco que detém mais de 40% do PIB mundial, o que lhe garante retaguarda econômica, política e estratégica.
E para encerrar, recorro a um trecho do poema "Rio Doce", de Carlos Drummond de Andrade:
“Quantas toneladas exportamos? Quantas lágrimas disfarçamos sem berros?”
Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça!
1Fonte: https://iclnoticias.com.br/cobica-mineral-liga-tarifaco-de-trump-a-golpe-de-1964/
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