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quinta-feira, 28 de março de 2024

BRASIL, 31 DE MARÇO DE 1964


 Por: Odilon de Mattos Filho

Segundo Pesquisa Datafolha, 75% dos brasileiros acham que os vinte e um anos de ditadura militar foram os mais tristes capítulos da nossa história. Como se sabe, o golpe militar de 1964 que implantou essa ditadura foi apoiado por parte da grande mídia, pelas elites agrárias e industriais do País e pelo governo estadunidense. O novo regime resultou na cassação de direitos políticos, repressão aos movimentos sociais e sindicais, censura aos meios de comunicação e aos artistas, o uso de métodos como a tortura, o assassinato, o desaparecimento dos opositores ao regime, pervecidades contra os negros, homossessuais e até violência física e ataques à cultura dos povos originários e outras barbáries cometidas pelas mãos sujas do Estado

Com o fim da ditadura, o Brasil inicia um processo de redemocratização. Primeiro, vieram às eleições indiretas, depois, em 1988, a promulgação da nova Constituição Federal, e finalmente, em 1989, a primeira eleição direta após o regime de “chumbo”.

Contudo, está claro que esse ciclo de redemocratização do país não se completou, falta ainda, conhecermos as entranhas do regime de exceção que marcou de forma indelével a vida dos brasileiros e a punição dos militares que participaram da selvageria do regime de arbítrio que iniciou em 1964.

O golpe militar e a instalação do regime de exceção completam, respectivamente, nos dias dia 31 de março e 01 de abril de 2024, sessenta anos. São datas que não deveriam ser esquecidas pelos brasileiros e, especialmente, por um governo do campo popular e democrático, mas, lamentável e surpreendentemente, o chefe deste governo, o presidente Lula parece pensar diferente, pelo menos é o que se depreende de sua entrevista quando disse que o "golpe militar de 1964 é história, não quero ficar remoendo o passado...Estou mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64” e para ratificar essa posição, o presidente determinou o silêncio do governo sobre essas datas.

Não Excelentíssimo Senhor Presidente, mesmo levando em conta a balela da governabilidade, gesto de boa vontade e da pacificação, a sua fala e sua decisão sobre essa efemérides foram lamentáveis, um “desastre ferroviário”, como diria o grande jornalista Mino Carta, pois não há espaço para conciliação e tampouco se pode ser benevolente e tolerante com golpistas, torturadores e defensores da violência e do martírio, sejam eles de outrora ou do presente. Quanto não remoer o passado, vale dizer que quem está remoendo e chorando o pavoroso passado são as famílias que perderam seus entes e todos os que sofreram as atrocidades cometidas pelas mãos dos militares e jagunços a serviço do Estado que, lamentavelmente, se encontram impunes, diferentemente, do que ocorre em países vizinhos como, por exemplo, na Argentina, onde a Justiça, mais uma vez, acaba de condenar dez ex-agentes da ditadura militar (1976 a 1983) argentina com a pena de prisão perpétua, enquanto no Brasil, graças a um arranjo legal de 1979, que fere a Constituição da República de 1988 e Acordos Internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário, os assassinos de fardas, foram ilegalmente anistiados.

Mas, como não poderia ser diferente, a declaração do presidente Lula, deixou muitos perplexos e teve repercussões negativas junto a Grupos de Direitos Humanos e lideranças da esquerda, pois, além de parecer acovardada, leva a crer que a tutela militar ainda ronda o nosso meio e está operando dentro do governo, ou seja, parece que uma ameaça, ainda paira no ar.

Não se pode alegar, também, que falar de 1964 é tirar o foco da tentativa de golpe no 08 de janeiro, que diga-se de passagem, teve o envolvimento de inúmeros militares de pijama e da ativa, inclusive, do Alto Comando das Forças Armadas. É de fácil dedução, que se os militares da geração de 64 tivessem sido punidos, o 08 de janeiro não teria acontecido e talvez, nem Bolsonaro seria eleito. Portanto, falar da ruptura democrática de 64 “não se trata de falar do passado, mas sim de lidar com o nosso presente e construir o futuro. É parte de um processo de educação e insurreição das consciências”. Aliás, cabe aqui a célebre frase do grande Karl Marx: "A história se repete primeiro como tragédia, depois, como farsa".

A propósito, sobre não revisitar o passado,  o “Grupo Prerrogativas” deixa essa mensagem: “ignorar o passado favorece o recrudescimento de novos retrocessos, como é o caso da campanha para perdoar o inominável e seus cúmplices. É preciso requestionar o passado como condição para entender o presente e vislumbrar o futuro..Esquecer, jamais. Não se coloca no esquecimento milhares de mortos, desaparecidos, a cassação de mandatos, o AI-5 e a tortura. Se há algo a comemorar, é a resistência à tirania1”.

Nessa mesma linha o Economista Markus Sokol, membro da Executiva Nacional do PT, afirmou que “..não se trata de “remoer”, mas tomar medidas para proteger a República, tudo o que não foi feito desde 64. A questão dos Mortos e Desaparecidos, por exemplo, está pendente. Por isso, o porão voltou a agir e está aí...2”.

Dito tudo isso, fica sobejamente demonstrado que o dia 31 de março é uma data “para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, portanto, não se pode trancar os esqueletos dos militares no armário e passar pano na história. É imperioso rememorar, educar as novas gerações e denunciar publicamente, com manifestações o arbítrio de outrora e a recente tentativa de golpe. E no campo institucional, ou seja, no Parlamento, deveria ser revogada o restante que sobrou do entulho autoritário da Lei de Segurança Nacional e ser apresentada uma PEC revogando o principal símbolo da tirania tupiniquim que é artigo 142 da Constituição Federal. A propósito, o STF, recentemente, deu um passo adiante, formando maioria e decidindo que o artigo 142 da CF/88, não dá às Forças Armadas o arbítrio de Poder Moderador, ou seja, não há intervenção militar constitucional, como vinha sendo, amplamente propagado pela extrema-direita bolsonarista. Por fim, outra medida que deveria ser tomada pelo governo federal seria trocar todos nomes de Escolas, Prédios Públicos e Rodovias Federais que tenham nomes de militares que serviram no período da ditadura militar.

E antes que algum facistinha ecoa que essas decisões não passam de revanchismo e vingança, saiba que, ao contrário, elas buscam fazer Justiça, defender e fortalecer nossa incipiente e incompleta democracia formal e substancial. Ditadura Nunca Mais!












1Fonte:https://www.poder360.com.br/brasil/prerrogativas-diz-que-silencio-sobre-o-golpe-de-64-e-
2Fonte: Jornal O Trabalho n. 928 -Pag,6



domingo, 17 de março de 2024

A TEOLOGIA DO DOMÍNIO COMO ARMA DE PODER


Por: Odilon de Mattos Filho

O caráter do Estado laico brasileiro está consagrado desde a Proclamação da República, em 7 de janeiro de 1890, com a edição do Decreto nº 119-A,  alterado, posteriormente, pelo Decreto nº 4496/2002, de autoria de Rui Barbosa, que refletiu um rompimento drástico nas relações entre Estado e religião.

A despeito do que preconiza a Constituição de 1988, essa questão da laicidade do Estado brasileiro ganhou novas e calorosas discussões com o presidente Bolsonaro e esse vil debate quase nos levou a um Estado Confessional que poderia desencadear, para um Estado Teocrático. Essa nossa opinião é baseada na promíscua relação do ex-presidente com Pastores das igrejas Evangélicas, em especial, as pentecostais e neopentecostais, basta ver quem foram os seus ministros de estado, os ministros indicados por ele para Suprema Corte e um dos casos de corrupção do governo, envolvendo o Ministro da Educação, o Pastor, Milton Ribeiro.

Sabe-se que no Brasil, os templos Evangélicos, particularmente os pentecostais e neopentecostais, deram um salto de crescimento nos últimos 30 anos, passando de 17.033 templos em 1990 para 109.560 em 2019, um aumento de 543%. Dados apontam que somente em 2019, foram abertos 6.356 templos, uma média de 17 templos por dia e esse vertiginoso aumento de templos, evidentemente, está relacionado ao aumento do número de fiéis evangélicos, que hoje, segundo o IBGE, somam 32% da população.

Estudos da USP mostram que este boom no número de Templos Evangélicos, está ligado a alguns fatores: o primeiro, paradoxalmente, foi durante o primeiro mandato do presidente Lula, que facilitou a abertura de templos no Brasil ao desobrigar as igrejas de uma série de responsabilidades estatutárias a partir da Lei n° 10.825/2003. Outro fator apontado pelo estudo é “o investimento de igrejas protestantes na compra de horários em canais de televisão para transmissão de cultos. Em regra, as igrejas entenderam que a televisão atrai fiéis, enquanto o templo fideliza”. Um terceiro fator está ligado ao discurso, ou melhor, à pregação de Pastores treinados para propagar a Teologia da Prosperidade, cujo núcleo central é “a comercialização da fé cristã a partir da deturpação dos ensinamentos bíblicos. Como diferencial, defendem ardorosamente o acúmulo de riquezas materiais na terra e buscam arrebanhar o maior número possível de adeptos, uma vez que por “prósperos empreendimentos”, compreende-se a doação aos “ministérios”, “obras” ou igreja1”.

A força das Igrejas Evangélicas como moldadores da personalidade de seus fiéis e a disseminação de suas Doutrinas/Teologias ultrapassam fronteiras e “contaminam“ outras Nações. No livro “Os Demônios Descem do Norte”, o autor Délcio Monteiro de Lima mostra um retrato de grande parte da população estadunidense que serve como parâmetro para entendermos o fenômeno religioso/político que acontece hoje no Brasil. O autor afirma que “os dois terços da população que compõe o multifacetado perfil do protestante dos EUA estão tomados de um misto de excitação patriótica e religiosa com características de uma onda de neo-conservadorismo nunca observada antes dos dois períodos do governo Reagan” e procurando fortalecer essa postura conservadora é sistematicamente “pregada a apologia do cristianismo salvador numa conjuntura ameaçada por ideologias esdrúxulas, precedentes de um mundo ateu e materialista2

Mais recentemente, observa-se o surgimento da nova e perigosa Teologia do Domínio, a qual coloca a Religião Cristã como uma verdade absoluta, e que pode ser a cartada final dos Evangélicos, mais especificamente, os pentecostais e neopentecostais, para dominar o Estado.

Aliás, o Professor da UERJ, João Cezar de Castro Rocha, em entrevista ao Sítio Publica, explica essa Teologia do Domínio, disse o Professor: “Essa teologia foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos e foi recentemente adotada no Brasil. Ela está na base da doutrina da Igreja da Lagoinha, onde Nikolas Ferreira (PL-MG) professa sua fé. A teologia do domínio está na base de outras igrejas que contaminaram as concepções de Damares Alves e Michelle Bolsonaro. Quando Michelle diz que chegou a hora da libertação, o que ela está dizendo é: chegou a hora do Estado civil subordinar-se à fé, não à espiritualidade, mas à crença deles. Pensando nisso, no nosso país tudo começa a ficar bastante claro e muito preocupante3”.

Fica evidente que não se pode - e aqui um alerta para as forças progressistas do país - menosprezar essa Teologia como força, não apenas religiosa, mas especialmente, como força política. Aliás, o Professor Cezar chama a atenção do livro de Edir Macedo, lançado em 2008, que tem como base teórica Thomas Hobbes e o Antigo Testamento. Edir Macedo, em um trecho do livro, diz que Deus é um estadista, Deus é, sobretudo, um gestor da coisa pública. Na última página do livro, o Bispo esclarece o potencial que tem um Estado adormecido e chama a atenção do leitor para não deixar essa “potencialidade” ser desperdiçada. Sinal mais claro do que isso não existe, mas parece que não foi visto pela esquerda brasileira e seus teóricos de plantão.

O Professor Cezar de Castro mostrou, também nessa entrevista e de forma categórica, a ameaça da Teologia do Domínio como poder político dos evangélicos em busca do apoderamento, de vez, do Poder Central. Diz o brilhante Mestre: “...pela primeira vez na história, os evangélicos elegeram um presidente da República. A diferença de votos evangélicos dados para Jair Messias Bolsonaro e Fernando Haddad é a diferença de votos que o levou à vitória. A primeira vez que isso aconteceu na política brasileira numa eleição presidencial foi em 2002. Ganhou a eleição o presidente Lula, em segundo lugar ficou José Serra, em terceiro lugar, de maneira surpreendente, o Anthony Garotinho, que obteve 10% dos votos em todo o Brasil em 2002. Eram votos majoritariamente evangélicos4”.

A propósito, o Ato da extrema-direita ocorrido no dia 25/02/2024 em São Paulo e organizado pelo Pastor Silas Malafia mostrou a força da extrema-direita, e os discursos do deputado Nikolas Ferreira e de Michelle Bolsonaro mostraram de forma clara os propósitos da Teologia do Domínio e/ou do Sionismo e do Nacionalismo Cristão. Não se pode perder de vista a monstruosa votação do deputado Níkolas Ferreira (PL/MG), que foi forjado na Igreja da Lagoinha em Belo Horizonte, cujo criador foi o Sionista Cristão Márcio Valadão, votação essa que mostra a força, o poderio e a fidelidade religiosa e política dos fiéis evangélicos.

Outro fato que corrobora a força das Igrejas Evangélicas, vem do Congresso Nacional, onde a Bancada da Bíblia está implacando a PEC da imunidade tributária para as Igrejas, projeo este que tem como autor o Deputado/Pastor, Marcelo Crivella, nada mais, nada menos, que sobrinho do Bispo Edir Macedo. Não há duvidas de que essa PEC é um grande presente que vai fortalecer, ainda mais, as finanças das Igrejas, ou seja, mais munição para o "exército" religioso, enquanto isso, a correção da Tabela do IRPF fica para outra oportunidade, ou seja, os interesses dos trabalhadores continua à margem das discussões. 

Não se pode esquecer, também, a grande mobilização dos Pastores nas últimas eleições ds Conselheiros Tutelares. Os Pastores se empenharam para que seus fieis vencessem essas eleições, pois, todos sabem que os Conselheiros trabalham e atendem casos, que na sua maioria envolvem famílias em estado de vulnerabilidade e portanto, abaladas psicologicamente, o que faz dessas linhagens presas fáceis para serem cooptadas para suas Igrejas que precisam fechar seus caixas e a soma e simples: mais fieis  trabalhando, especialmente, nas instituições de estado significa mais Poder, mais fieis em suas igrejas é igual a mais voto e mais dízimos (R$). Aliás, corroborando essa afirmativa o Sítio “El País” aponta que em São Paulo 53% dos Conselheiros Tutelares eleitos são ligados a Igrejas neopentecostais e no Rio de Janeiro este número chega a 65%, a maioria petencentes à Igreja Universal do Brasil.

Por fim, vale destacar mais uma possível jogada dos evangélicos. Caso o ex-juiz “ladrão” Sérgio Moro seja cassado, já estão costurando para que Michelle Bolsonaro concorra a essa vaga de Sérgio Moro no Senado. O objetivo da extrema-direita é claro: dá maior visibilidade política à Michelle e prepará-la como candidata "ungida pelas mãos de deus" a presidente em 2026.

Dito tudo isso, está claro que as forças progressistas do país estão diante, não apenas de uma disputa política, mas sim de uma “Guerra Santa”, e como tal, se faz imperioso entender, em profundidade, todo esse processo e iniciar a construção de estratégias, mecanismos e instrumentos para barrar os movimentos da extrema-direita que sabidamente, está muito bem articulada, destemida e conforme os dados acima, com um perigoso e crescente contingente de “soldados de Deus”. 

Assim, dentro da nossa modesta opinião, entendemos que o primeiro passo é a esquerda reavaliar a sua posição de privilegiar os espaços institucionais e voltar para as ações e lutas concretas de suas bases históricas. Ja com relação  ao governo, não basta fazer Políticas Públicas sem fazer a disputa ideológica. Faz-se necessário, também, abandonar essa política de conciliação de classe, confrontar a extrema-direita e os setores reacionários do país, melhorar a sua comunicação e se aproximar mais da classe trabalhadora, dos movimentos sindicais e populares e rever sua política econômica direcionando-a aos interesses da classe trabalhadora, só assim, se pode barrar esse perigoso e fundamentalista movimento político/religioso que tem na Teologia do Domínio sua maior arma para atingir seus objetivos de  Poder. Todo cuidado é pouco!










1Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/articles/crgl7x0e0lmo#:~:text=De%2017.033%20templos%20evang%C3%A9licos%2C%20em,m%C3%A9dia%20de%2017%20por%20dia.
2 Fonte:https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/teologia-da-prosperidade-o-mercado-da-fe-e-a-fe-mercadologica/
3Fonte: Livro Os Demônios Descem do Norte – pag. 29 – Autor Delcio Monteiro de Lima
4Fonte: Livro Os Demônios Descem do Norte – pag. 29 – Autor Delcio Monteiro de Lima

sábado, 27 de janeiro de 2024

ABIN A GESTAPO DE BOLSONARO


Por: Odilon de Mattos Filho
Um dos mecanismos utilizados pela ditadura militar na repressão aos opositores do regime de exceção foi à circulação de informação e para que isso funcionasse a contento foi criado pelo general Golbery do Couto e Silva, Serviço Nacional de Informações, o temido e macabro SNI, órgão principal da espionagem da ditadura e peça-chave do Sistema Nacional de Informações (Sisni) que contou com o apoio e participação direta das Agências de Inteligência dos EUA.

Mesmo depois do golpe militar que, sabidamente, contou com a participação dos imperialistas do norte, o governo militar e alguns governos civis subsequentes continuaram com essa promíscua parceria com os serviços inteligência do governo estadunidense, um exemplo recente dessa abjeta relação foi a complacência do governo Temer e do Sistema Judiciário brasileiro com o modus operandi da Operação Lava-jato.

Com o fim da ditadura militar e a extinção do SNI foi criado em 1999, pelo governo FHC, a Agência Nacional de Inteligência a famosa Abin. Segundo a Lei 9.883/99 que criou a a Abin, […] entende-se como Inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimento dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

Portanto, fica claro que a Abin é um órgão de inteligência de Estado que busca analisar a conjuntura e levar informações e análises estratégicas e confiáveis, para um oportuno processo de decisão, ou seja, trata-se de órgão de Estado!.

Com a chegada de Bolsonaro a presidência deu-se início a um governo que claramente tentava buscar uma ruptura institucional e que se utilizava de métodos e estratégias da ditadura militar para fortalecer o seu governo, uma delas foi a espionagem, ou melhor, a arapongagem.

O então presidente Bolsonaro, para colocar em prática seus objetivos, nomeou para a Abin o delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem, um homem de sua inteira confiança. A propósito, a nomeação de Ramagem para Abin, segundo o brilhante jornalista investigativo Joaquim de Carvalho, autor do instigante documentário intitulado “Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil", iniciou-se “naquela tarde em que Adélio Bispo de Oliveira ficou frente a frente com Carlos Bolsonaro e caminhou na sua direção antes de ficar frente a frente com Jair Bolsonaro e, com sua atitude, eleger o líder da extrema-direita brasileira presidente da república…1”. E realmente pode-se afirmar que a "Gestapo" de Bolsonaro foi gestada na cidade de Juiz de Fora.

Neste contexto, vale destacar que foi o filho de Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, um dos idealizadores do “gabinete do ódio”, que sugeriu ao pai a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para Diretor-geral da Abin, onde permaneceu de 2019 a 2022, lembrando que Ramagem foi o delgado escalado para acompanhar o então candidato a presidência da república, Jair Bolsonaro.

Corroborando esse esquema montado por Carlos Bolsonaro, vale lembrar a entrevista concedida duas semanas antes de falecer, do ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno que afirmou que o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro queria montar uma agência de inteligência paralela visando espionar seus adversários políticos.

Aliás, comprovando que existia mesmo o aparelhamento da Abin, vale lembra da famosa reunião ministerial do 22/04/2022, na qual o ministro do meio ambiente disse que o momento era propício para "passar a boiada", e foi nessa mesma reunião que o ex-presidente afirmou, alto e bom som, a seguinte e comprometedora frase: "eu tenho o meu próprio sistema de inteligência...o meu funciona, o oficial desinforma ".

Empossado como Diretor da Abin, fica criado oficialmente a "Gestapo" do governo Bolsonaro e certamente, a mando de Bolsonaro, Ramagem começou a utilizar deste órgão estatal para realizar arapongagem e produzir dossiês contra os desafetos de Bolsonaro e até de alguns correligionários, inclusive, Embaixadores.  Aliás, a Gestapo de Bolsonaro não espionou apenas seus adversários, ao contrário, estava também, a serviço da proteção de sua família, como por exemplo, ajudou Flávio Bolsonaro a ter uma saída jurídica no inquérito das conhecidas rachadinhas e também, trabalhou para atrapalhar as investigações contra Jair Rean, "filho 04" de Bolsonaro no caso do inquérito cujo objeto era o tráfico de influência.

O primeiro caso que veio à tona sobre o modus operandi da "Gestapo" de Bolsonaro foi o da Universidade Nacional de Brasília-UnB, onde foi descoberto que um dos Porteiros que estava trabalhando na UnB é um agente da Abin. Depois apareceram denúncias dando conta de que o governo Bolsonaro estava investigando, espionando e criando dossiês de servidores públicos suspeitos de pertencerem a grupos antifascistas, isso mesmo, antifascista! Na época o caso foi denunciado ao MPF, mas, não se tem notícias do desfecho do mesmo.

Neste ano o Ministro Alexandre de Moares autorizou a PF a deflagar a “Operação Vigilância Aproximada” cujo objetivo é investigar a possível existência de uma organização criminosa instalada na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas, inclusive, há fortes evidências de que cerca de 30 mil pessoas foram monitoradas, dentre elas, os ministros, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e a Promotora de Justiça que investigava o caso do assassinato de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.

As investigações da PF tem como alvo vários servidores da Abin, dentre eles, se destaca o ex-Diretor-geral da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem.

O caso é de tamanha gravidade, que surgiu outra notícia de que o Procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que “o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) utilizou da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional para ter acesso aos dados sigilosos da Abin. As informações que supostamente o deputado conseguiu acesso eram referentes às investigações contra ele próprio em relação a irregularidades encontradas durante sua gestão do órgão2”.

Outro fato que causa perplexidade é a notícia de que mesmo tendo deixado a Abim em 2022, Ramagem não devolveu equipamentos pertencentes a Agência, como, por exemplo, um notebook e um aparelho de celular. Este fato, que a principio parece banal, pode ser de muita importância, considerando que pode ter nesses dois equipamentos informações que podem comprometer o próprio Ramagem, sem contar que se trata de apropriação ilegal de bem público.

A PF realizou, também, busca e apreensão na casa do filho de Bolsonaro, vereador, Carlos Bolsonaro e na residencia do militar do Exército, Jean Carlos ex-assessor de Ramagem na Abin onde foi apreendido 10 celulares e um computador pertencentes a Abin. Mas essa fase da Operação está sob suspeita, pois há indícios de que ela vazou e Bolsonaro fora avisado da Operação em sua residência em Angra dos Reis, com isso pode ter havido ocultação ou destruição de provas antes da chegada da PF.

Não menos impactante, foi a notícia que a PF descobriu que o atual comando da Abin, agiu para proteger o deputado Alexandre Ramagem das investigações sobre atividades de monitoramento ilegal, ou seja, há dentro da Abin, por incrível que pareça, servidores ligados e a serviço do ex-presidente Bolsonaro, um deles é o Diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti que foi diretor de Inteligência na PF no último ano do governo Bolsonaro e número 2 de Anderson Torres, na Secretaria de Segurança do Distrito Federal, época que aconteceu a tentativa de golpe no fatídico dia 08 de janeiro de 2023.

Corroborando o envolvimento do atual comando da Abin nessa sórdida história, matéria do Portal UOL noticia que o atual Diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa convocou uma reunião com os diretores da Agência durante a Operação "Vigilância Aproximada" e segundo depoimentos colhidos pela PF, o Diretor-geral criticou as unidades que colaboraram com a investigação da CGU e da PF, inclusive, em tom irritado, Luiz Fernando teria se referido ao grupo colaborador de uma "bandalha". 
 
Por fim, está sendo noticiado pela imprensa que as Operadoras de telefonia Claro, Tim e Vivo sabiam que suas redes estavam sendo atacadas pelo software espião FirstMile e não comunicaram a Anatel, fato que pode caracterizar omissão ou conivência dessas operadoras com a "Gestapo bolsonarista". Vale lembrar, que esse equipamento foi comprado pela Abin em Israel, mas estava sendo utilizado ilegalmente pelos arapongas bolsonaristas lotados na Abin para monitorar certos correligionários e adversários políticos de Bolsonaro.

Diante de tudo é nítido a gravidade das denúncias, ficando patente que há dentro do atual governo e em órgãos estratégicos, pessoas que trabalham de maneira infiltrada contra o próprio governo, o que mostra claramente, um amadorismo político do governo Lula e o perigo que é um governo de coalizão.

Já com relação aos equipamentos da Abin apropriados, ou melhor, furtados por terceiros, mostra que essa Agência de Inteligência está totalmente vulnerável e sem comando. O que esperar de uma Agência de Inteligência que deixa ser furtado de suas dependências equipamentos que lhe pertencem? Esse fato, convenhamos, é um acinte à própria inteligência.

Isso posto, há neste momento a imperiosa e urgente necessidade de se investigar, julgar e punir nos termos da lei todos os envolvidos nessa criminosa arapongagem e em outros atos criminosos que envolveu o governo fascista de Bolsonaro, que, comprovadamente, fez da coisa publica coisa privada, aliás, a tentativa de Bolsonaro de surrupiar as milionárias joias que pertencem ao acervo da Presidência e incorporá-las a seu patrimônio particular, é um exemplo da promiscuidade que rondava o Palácio da Alvorada.

Por derradeiro pode-se concluir que esse caso da Abin é mais um exemplo da falência das instituições brasileiras, e a única saída para corrigir essa situação é a convocação de uma Constituinte livre e soberana, porém, até que aconteça, há uma premente necessidade do governo realizar uma profunda faxina em todos os órgãos governamentais, a começar pela Abin e com a retirada dos militares de seu quadro, ou até mesmo a extinção da Agência, caso isso não ocorra e considerando o momento político no parlamento e a falta de aproximação e diálogo do governo com os movimentos sindicais e populares, a democracia e o povo brasileiro podem estar correndo sérios riscos, inclusive, de sofrer um golpe de estado.

 

 

 

 

 



1Fonte: https://www.brasil247.com/blog/policiais-da-abin-paralela-atuaram-no-evento-de-juiz-de-fora
2Fonte:https://www.brasil247.com/brasil/pgr-afirma-que-ramagem-utilizou-da-ccai-para-acessar-dados-sigilosos?tbref=hp