terça-feira, 30 de março de 2021

UM GOLPE DE ESTADO OU UMA CONVULSÃO SOCIAL?


Por: Odilon de Mattos Filho
Não é novidade para ninguém a personalidade belicista, intervencionista, desumana e autoritária do presidente Bolsonaro. Suas falas, discursos e o seu comportamento corroboram tal afirmativa e os exemplos são muitos. Não devemos nos esquecer do execrável discurso de Bolsonaro enaltecendo o torturador da presidente Dilma Rousseff ou quando ele afirmou que “o erro da ditadura foi torturar e não matar” e vários outros discursos que provam a sua mente doentia.

Mas, não obstante essa personalidade, engana-se quem pensa que o Bolsonaro é burro e que a sua chegada ao Poder foi um acaso, longe disso, ele construiu o seu Projeto de Poder e está muito perto de atingir o seu objetivo final: implantar uma nova ditadura militar no Brasil.

Evidente que não podemos descartar que a eleição de Bolsonaro, teve como componentes a onda da extrema direita pelo mundo, como foi o caso da Hungria, Índia, Polônia e EUA, o peso da tecnologia digital e a abjeta operação lava-jato. Mas, no caso de Bolsonaro teve outras estratégias que foram subestimados pelos seus adversários. Primeiro, está claro que Bolsonaro tem um Projeto de Poder que foi sendo construído. Sabemos que no início de sua carreira política, Bolsonaro não passava de um mero deputado do baixo clero que só fazia aqueles discursos démodé do anticomunismo. Depois ele foi moldando a sua fala e começou a agradar os militares como, por exemplo, a luta contra a “Comissão da Verdade”. Quando vieram as manifestações contra a presidenta Dilma e contra o PT o capitão pegou carona nesses eventos e sabiamente, veio com um forte discurso com as pautas de costumes, da anticorrupção, do antipetismo, antilulismo e antissistêmico e assim foi construindo a sua base de apoio em vários segmentos da sociedade e utilizando as técnicas de Steve Bannon conseguiu dialogar com os perfis de usuários das redes sociais e vencer as eleições.

Vencidas a eleições e após a sua posse, Bolsonaro começa a colocar em prática o seu Projeto de Poder. Primeiro, continua com a mesma linha de discurso, tanto, que muitos analisavam que Bolsonaro continuava em campanha eleitoral, mas, na verdade é a maneira que ele encontrou para segurar a sua base que, sabidamente, gira em torno de 25 a 30%. Em seguida começou a desmantelar os programas sociais, depois implementou as políticas econômicas de interesse do capital privado, rapidamente conseguiu realizar o seu sonho de armar a sociedade, ou seja, armar os seus soldados e prepara-los para o golpe final e recentemente conseguiu cooptar o Centrão e emplacar dois aliados como presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Mas, todo esse arranjo não impediu o agravamento da Pandemia, o enorme número de desempregados no país, a estagnação econômica, a carestia dos alimentos, o aumento da pobreza e da fome e a falta de vacinas para o povo, fatores que estão transformando o Brasil num barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento. Não nos esquecendo, também, da restituição, provisória, dos direitos políticos do presidente Lula que é a peça mais importante nesse jogo contra Bolsonaro.

Diante desse quadro e certamente antecipando a uma possível convulsão social ou uma provável candidatura de Lula em 2022, o governo, se sentindo acuado, avança suas peças nesse tabuleiro. No dia 29/03/2021 o presidente Bolsonaro fez um novo e surpreendente movimento que foi uma mini reforma ministerial que, teve como ponto chave, a queda do ministro das Relações Exteriores, Ernesto de Araujo e do ministro da Defesa, o general de Exército Fernando Azevedo e Silva, que diga-se de passagem, sempre agiu para que Bolsonaro não instrumentalizasse as Forças Armas, em especial o Exército. E já no dia seguinte, mais um movimento estratégico, foram demitidos os comandantes das três Forças Armadas, fatos que podem ser um forte sinal de que esteja-se preparando no Palácio do Alvorado um “cheque mate” que viria com a decretação de Estado de Defesa, Estado de Sítio ou mesmo um golpe de estado. Aliás, outros sinais, recentemente, foram dados de maneira clara pelo presidente como, por exemplo, a resposta aos bolsomínios de plantão que se queixavam das medidas restritivas em vários estados e cidades e que Bolsonaro respondeu: “Tenham calma, está chegando ao fim” e agora, o claro estímulo às rebeliões das polícias militares em seus Estados.

O certo é que vivemos um momento delicadíssimo e tudo pode acontecer em breve: a convulsão social ou um golpe de estado. Resta saber se a esquerda brasileira, os movimentos sociais e sindicais estão prontos para liderar essa explosão social e se as Forças Armadas estão dispostas a embarcar nessa aventura transloucada do golpe de estado pretendido pelo presidente Bolsonaro. Todo cuidado é pouco, afinal, amanhã é dia 31 de Março!

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