quinta-feira, 11 de março de 2021

"NÃO TROCO A MINHA DIGNIDADE PELA MINHA LIBERDADE"

Por: Odilon de Mattos Filho

Já perdemos as contas dos inúmeros textos que escrevemos sobre a operação Lava-jato. Em todos eles procuramos fazer os contrapontos necessários do que foi publicado na grande mídia que, sabidamente, foi o alicerce dessa malfada operação que teve como objetivos centrais destruir a Petrobrás, as nossas indústrias de infraestrutura, os empregos e especialmente, a vida política da maior liderança da classe trabalhadora da América Latina, Luiz Inácio Lula da Silva.

Sabemos que o ex-juiz Sérgio Moro e toda Força Tarefa da lava-jato contavam com o apoio de mais de setenta por cento da população, não à toa, que os brasileiros começaram a eleger os seus “heróis”, que teve um insignificante agente da PF conhecido pela alcunha de “Japonês da PF” até chegar no "semideus", Sérgio Moro.

As ações da Força Tarefa contra “os corruptos” se multiplicavam e cada dia dominavam as capas dos grandes jornalões, revistas e manchetes dos telejornais. Quando a operação, finalmente, alcançou o presidente Lula a grande imprensa teve um orgasmo, e a partir desse momento, iniciou-se o maior massacre moral que se tem notícia no país. O presidente Lula foi apontado como o maior vilão do Brasil e por outro lado o juiz Sérgio Moro foi elevado à categoria do grande mocinho brasileiro que teve força e coragem para prender um ex-presidente da república, políticos e grandes empresários, e tudo em nome da moral e da probidade.

Mas, não obstante todo o glamour e a aparente seriedade que cercavam a lava-jato, muitos juristas, em especial os advogados do Lula, acreditavam que vários processos oriundos dessa operação estavam sendo instruídos e julgados, única e exclusivamente pela capa, ou seja, pelo nome do réu, como exemplo principal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas, não demorou muito para surgir o verdadeiro herói que começou a desmascarar o mocinho Sérgio Moro e os demais falsos paladinos da moral que compunham a Força Tarefa. Entrou em cena o estudante Walter Delgatti Neto, um hacker que conseguiu hackear os celulares com as mensagens trocadas entre o juiz Sérgio Moro, o Procurador Deltan Dallagnol e os demais membros da Força Tarefa. Essas mensagens foram entregues ao site The Intercept Brasil que começou a publicá-las dando conhecimento, mesmo a despeito de certos setores da imprensa, das entranhas e das sórdidas manobras perpetradas pelo juiz Sérgio Moro e sua camarilha de Curitiba que tinham como objetivo central liquidar a vida política do presidente Lula.

Passado algum tempo e deflagrada a operação Spoofing, tais gravações foram periciadas pela PF a qual constatou a veracidade das mesmas. Após essa perícia, o ministro Ricardo Lewandowski disponibilizou à defesa do presidente Lula o acervo com essas gravações, tornando-as públicas, foi quando o povo brasileiro, finalmente, entendeu que os processos contra Lula não passaram de uma fraude perpetrada pela Força Tarefa, demonstrando assim, a indiscutível parcialidade do juiz Sérgio Moro na condução de tais processos e o conluio montado entre procuradores, delegados, juízes, desembargadores, ministros das cortes superiores e agentes públicos internacionais, especialmente, dos EUA.

No julgamento do Habeas Corpus impetrado pela defesa do presidente Lula que ocorreu no dia 09/03/2021 o ministro relator Gilmar Mendes quando da leitura de seu voto, colocou a nu todas as trapaças, ilegalidades e anomalias jurídicas cometidas pelo ex-juiz Sérgio Moro e sua gangue de Curitiba. O Brasil ficou estarrecido com tamanha barbárie cometida por um juiz de piso e por procuradores da república. Realmente, considerando o que vem acontecendo no Brasil, foi um dia marcante para o Estado Democrático de Direito.

Passado esse surpreendente momento do STF que se soma com a corajosa decisão do ministro Fachin de anular todos os processos que tramitavam na Vara Federal de Curitiba contra Lula, chega o dia 10 de Março de 2021, data em que o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva faz um discurso histórico durante entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Em seu discurso, além do carisma e empatia que lhe é peculiar, o presidente Lula de forma inteligente demonstrou a importância do Estado para as políticas sociais e econômica, falou de sonhos do futuro, alinhavou alguns pontos de um novo projeto nacional como o combate à desigualdade, a política externa independente, geração de empregos e investimentos. Relembrou a sua trajetória de luta como sindicalista, a criação do PT, fez um paralelo da sua vida política com uma autobiografia de um escravo/Poeta Cubano, Juan Francisco Manzano, prestou solidariedade às famílias que perderam seus entes em virtude da Pandemia e defendeu a Ciência, o SUS, os profissionais da saúde e as medidas sanitárias para o controle do vírus da COVID-19. De maneira simples, relembrou, também, suas relações com líderes políticos, religiosos e populares do mundo todo. Não se esqueceu das minorias, se colocando firme contra todo tipo de preconceito, violência e o ódio. Enfim, podemos afirmar que foi um discurso de um estadista conciliador, mas, com a necessária e boa dose de radicalidade, liquidando, também, de uma vez por todas, a tentaiva das elites em estabelecer uma simetria entre Lula e Bolsonaro.

A repercussão da entrevista foi espantosa, tanto, que chegou ao ponto de deixar Bolsonaro e sua camarilha constrangida, obrigando-os a usar, publicamente, suas máscaras, defender a vacinação em massa e até um Globo estava sobre a mesa do presidente Bolsonaro em uma de suas Live, sugerindo que abandonou a teoria terraplanista. Aliás, o mesmo impacto já teve nas pesquisas de opinião pública que já mostram que Lula é o nome mais forte para 2022.

A propósito, comentando o discurso de Lula e o julgamento do seu HC, vale citar as precisas e sábias palavras do professor de música de Hanôver, Jean Goldenbaum que escreveu: “...A soltura de Lula, a reversão do golpe fascista na Bolívia, a queda de Trump e agora a recuperação dos direitos políticos de Lula, são pequenas explosões de Fé que vêm a nós de quando em quando – e muito somente às vezes – para que nos lembremos que vale a pena continuar a lutar. E que enquanto existir o ser humano sobre a face da Terra, haverá a eterna dicotomia que separa a luz da escuridão1

Realmente, parece que vamos viver novos ares e o discurso de Lula consegue trazer um alento e luz neste momento de trevas, além do que, nos mostra a grandeza de um homem que possui consciência da importância da luta de classe e da resistência, não à toa, que quando ainda preso em de Curitiba ele jogou na cara dos seus algozes lavagistas: “não troco a minha dignidade pela minha liberdade”.

 



1 Fonte: https://www.brasil247.com/blog/lula-esta-de-volta-breves-reflexoes-sobre-o-nosso-direito-de-nos-alegrarmos-em-meio-a-tempos-sombrios-c3cgpkgy

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