terça-feira, 30 de abril de 2019

O CORPO APRISIONADO, MAS, A MENTE LIBERTA.


Por: Odilon de Mattos Filho.
A trajetória de vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se confunde com a dos seus irmãos retirantes nordestinos que fogem da seca para tentar a vida na região “rica e molhada” do sul e sudeste do Brasil. O seu primeiro destino, juntamente, com a família foi à cidade de Santos/SP onde começou a sua primeira luta: sobreviver! Na cidade litorânea começou a trabalhar com oito anos de idade. Depois, Lula vai tentar a vida na grande e cosmopolita cidade de São Paulo e lá, lutou, cresceu e venceu, provando a assertiva de Euclides da Cunha que diz: “o sertanejo é antes tudo um forte”. 

Com a chegada a São Paulo e depois de concluir o ginásio, Lula, aos 14 anos de idade, consegue um emprego numa metalúrgica e é admitido no curso Técnico de Torneiro Mecânico do SENAI. 



Com as políticas desenvolvimentistas do governo do presidente Juscelino Kubitschek a região do ABC, na Grande São Paulo transformou-se em grande Polo Industrial e atraiu várias indústrias metalúrgicas do mundo, como as montadoras Scania e Volkswagen. Com o diploma de Técnico de Torneiro Mecânico e se valendo deste crescimento industrial, Lula consegue o seu primeiro emprego e passa a frequentar e trabalhar no chão da fábrica e fazer da metalurgia a sua profissão e lá sentiu, literalmente, na pele, os riscos que os trabalhadores correm em suas labutas, com apenas 17 anos de idade Lua perdeu o dedo mínimo da mão esquerda num acidente de trabalho em 1963. E quando completou 18 anos de idade, vivenciou o golpe militar e o fim das liberdades democráticas, o aparato repressivo, o longo período de retração da economia, acompanhada de desemprego, abusos trabalhistas e inflação. 


Já aclimatado na região do ABC e por influência de seu irmão comunista Vavá, Lula começa a frequentar reuniões do sindicato. Tido como um habilidoso negociador, Lula foi convidado a ocupar uma vaga de suplente na diretoria do sindicato que viria a ser eleita no início de 1969 e foi nesse ano que começa a sua exitosa trajetória de líder sindical, sendo o divisor de águas no sindicalismo brasileiro, um bom negociador, mas, um firme defensor da classe operária. Foi o líder que comandou no ano de 1979 a maior greve geral da história deste país em plena ditadura militar com a adesão de mais de 200 mil trabalhadores paralisando a produção das maiores indústrias automobilísticas do país. 

Ainda dentro do Sindicato e depois de sua saída da prisão, Lula e outros companheiros perceberam que a luta sindical não era suficiente para conquistar espaço nas esferas decisórias, ou seja, nos poderes executivos e legislativos, com isso resolveram fundar um Partido Político. Nasce, então, o maior e mais importante Partido de esquerda da América Latina: o Partido dos Trabalhadores, que tem como premissa o socialismo democrático e como tal agir como agente promotor de mudanças na vida de trabalhadores da cidade e do campo, militantes de esquerda, intelectuais e artistas, ou seja, ser uma real expressão política de todos os explorados pelo sistema capitalista. 

O primeiro grande ato comandado por Lula e pelo PT foi o comício pelas Diretas Já. Depois, Lula é eleito o deputado federal mais votado do Brasil, sendo, também, deputado constituinte onde teve uma participação fundamental na defesa da classe trabalhadora, garantindo direitos civis e sociais como o direito à greve, a licença-maternidade de 120 dias e a redução da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais, dentre outros direitos. 

Em 1989, depois de 29 anos sem eleição direta no Brasil, Lula disputa a sua primeira eleição para Presidente da República e vai para o segundo turno com Fernando Collor que venceria o pleito. Essa eleição marcou a primeira de muitas perseguições dos meios de comunicação, em especial, do Grupo Globo contra o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores. 

Depois de disputar mais três eleições, finalmente, Lula vence o pleito de 2001 e começa uma trajetória invejável como presidente da república, consagrando-se, também, como o maior líder político e popular da América Latina, provando que a sua liderança foi construída em base sólidas na história da luta de classe, aliás, Carlos Melo diz que o “líder possui sentido histórico, vocaliza um projeto histórico e de grupo, muito além de um projeto meramente pessoal1” e realmente Lula retrata bem esse ensinamento. E para aqueles que, ainda, duvidavam de sua liderança e capacidade, Lula se reelege nas eleições de 2005 e encerra seu mandato com uma assombrosa aprovação de 86% dos brasileiros que reconhecendo as políticas públicas dos governos do PT elege por duas vezes a presidenta Dilma Rousseff. Não foi por menos, que o presidente Obama disse: "Esse é o cara..!" 

Foram 16 anos de Poder do Partido dos Trabalhadores, até que um golpe interrompe o segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff e inicia-se uma arbitrária, covarde e escandalosa persecução penal contra o presidente Lula que culmina em sua injusta, ilegal e inconstitucional prisão. 

Essa persecução penal está sendo de tal forma arquitetada pelo Sistema Judiciário brasileiro que atingiu até a mesmo a liberdade de imprensa. Em 2018, por exemplo, os jornais “Folha de São” e o “El País” conseguiram uma liminar junto ao STF para entrevistar o presidente Lula, porém, temerosos de sua influência nas eleições, a liminar foi cassada e Lula foi submetido a um silêncio obsequioso. Passados oito meses, o ministro Dias Tófolli concedeu autorização para que os dois veículos de comunicação realizassem a entrevista que aconteceu no 26/04/2019. 

Nessa entrevista ficaram patentes à lucidez, firmeza, inteligência política, carisma, coragem, capacidade intelectual e a grande liderança e fascínio que o presidente Lula, mesmo preso, ainda, exerce sobre o cidadaão de bem. Aliás, isso ficou demonstrado nas redes sociais onde a entrevista de Lula foi “Trending Topics”, inclusive, com 10 milhões de views em, apenas dois dias. A repercussão foi vista, também, junto aos comentários dos principais intelectuais e lideranças nacionais e internacionais e repercutida nas matérias dos principais jornais do mundo, tais, como: os Franceses “Le Figaro" e "Le Monde", nos estadunidenses "The New York Times", "Washington Post", o britânico "The Guardian", o canal de notícias americano "Fox News", a Agência de notícias “Associated Press”, a agência russa “Sputnik”, o argentino “Página 12” A multiestatal “TeleSUR” e tantos outros veículos de comunicação. 

No entanto, a grande vergonha de tudo que cerca a entrevista do presidente Lula ficou por conta de parte da imprensa brasileira. Primeiro, até a própria Folha de São Paulo que fora censurada em 2018 pelo STF, paradoxalmente, utilizou-se do mesmo artifício censurando a primeira parte da entrevista na qual Lula discorre sobre a ilegalidade de sua prisão. E depois, foi a vez da Rede Globo que não deu nenhuma nota, ou melhor, também, censurou a veiculação da entrevista, demonstrando, ser um grupo de comunicação sem compromisso com a verdade e com o bom jornalismo, não é por menos, que a Globo é o mãe dos PIG. Mas, paciência! Deixaram de registrar um momento histórico do jornalismo brasileiro e da liberdade de imprensa que teve como protagonista o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a maior liderança política e popular da América Latina. Lula mostrou ao mundo que apesar de todos os sacríficos que a vida lhe impõe ele continua forte, lúcido e muito preparado. E para desespero de seus algozes mostrou, também,  que o seu corpo pode estar aprisionado, mas, a sua mente e a sua alma estão cada vez mais libertas.





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