Reproduzimos, abaixo, o preciso texto do brilhante jornalista, Paulo Nogueira:
"ELIO GASPARI ERROU: NADA SE EQUIPARA AO ÓDIO DA DIREITA
Um vídeo em que uma senhora septuagenária
profere insultos copiosos ao comunobolivarianismo do PT me remeteu a um assunto
sobre o qual eu queria falar já faz alguns dias.
O tema é o ódio político.
Num artigo, Elio Gaspari disse que o PT não
tinha moral para falar em ódio. Elio estava respondendo a Lula, que dissera que
o PT, nestas eleições, levaria a esperança a vencer o ódio.
O ponto de Elio é que o PT tem, ele também, um
histórico de raiva.
Na internet, o assunto foi intensamente debatido. Gostei de ver meu antigo chefe da Veja e na Exame, Antonio Machado, um dos melhores jornalistas com quem trabalhei, se manifestar.
Não lia nada dele fazia muito tempo. Foi como
rever um velho amigo.
Machado contestou Elio, a quem chamou,
ironicamente, de Doutor. Foi um contraponto divertido ao fato de que Elio chama
Dilma de “Doutora”.
Machado, e aí acho um exagero, quase que
igualou Elio a Reinaldo de Azevedo.
Elio não é Azevedo, a começar pela diferença
de que é um genuíno jornalista, e dos brilhantes.
É, sim, um colunista de centro. Talvez
gostasse de se movimentar um pouco mais para a esquerda, mas ele deve saber que
não duraria muito nem na Folha e nem no Globo se fizesse isso.
Barbara Gancia, e é um caso exemplar, fez este
movimento. Começou a falar em Casa Grande – um lugar comum que me enfastia,
aliás – e logo perdeu a coluna na Folha.
Mas o ponto central sobre o qual eu queria
falar é o ódio. Nisso, estou inteiramente com Machado e contra Elio.
Nada, rigorosamente, nada se iguala ao ódio da
direita. As raízes são profundas e distantes: ao longo de toda a ditadura
militar os brasileiros foram submetidos a constantes propagandas
anticomunistas.
O “comunismo ateu” era apresentado, sempre,
como a quintessência da maldade, do horror.
No plano internacional, Stálin era o demônio
supremo. No plano nacional, este papel era atribuído a nomes como Lamarca e
Marighella.
Neste ambiente, surgiram e floresceram
entidades como o Comando de Caça ao Comunismo e a Tradição, Família e
Propriedade – dedicadas a semear ódio patológico na sociedade.
Com o fim da União Soviética, e do comunismo,
o ódio da direita não cessou. Apenas foi remanejado para a esquerda em geral.
Na Venezuela, Chávez foi alvo de campanhas de
fúria inacreditável. Até sua mãe era insultada cotidianamente pela mídia e pela
direita venezuelana.
No Brasil, o anticomunismo de antes se
transformaria em antipetismo. Mudou o nome, mas não o ódio, ou mesmo sua
intensidade.
Em suas manifestações mais vis, a raiva nos
últimos anos se traduziu em pragas para que o câncer se abatesse novamente
sobre Lula e Dilma.
Não é, ao contrário do que Elio afirmou, um
ódio que encontre contrapartida na esquerda.
Não que a esquerda aprecie e admire a direita.
Mas não é a mesma coisa. Historicamente, não é. Definitivamente, não é.
Até por questões culturais. Faz parte da
cultura da esquerda endereçar o melhor de sua raiva às correntes rivais dentro
da própria esquerda.
Marx abominava Bakunin. Os bolcheviques viam
os mencheviques como seu maior obstáculo. No Brasil, integrantes do PC e do PC
do B mutuamente se abominavam.
No Brasil de hoje, repare como os petistas
enxergam grupos de esquerda por trás de protestos e como estes vêem o que
chamam, desdenhosamente, de “governistas”.
O ódio da esquerda como que se dispersa. O da
direita se concentra.
Nada se compara ao ódio da direita – e meu
velho chefe Machado, nisso, não poderia estar mais certo".
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