sexta-feira, 25 de maio de 2018

CAMINHONEIROS: GREVE OU LOCK-OUT?


Por: Odilon de Mattos Filho

Estamos assistindo nestes últimos dias uma grande paralização dos caminhoneiros do Brasil em protesto às constantes altas nos preços do óleo diesel.

Se analisarmos os preços dos combustíveis no Brasil nos últimos 23 anos vamos encontrar os seguintes números: de 95 a 2002, governo FHC o preço da gasolina teve reajuste de 350% em 8 anos, média de 44% ao ano. De 2003 a 2015, governo Lula/Dilma a gasolina foi reajustada em 45%, média de 3.75% ao ano.

Quando da deflagração do golpe em 2016, os caminhoneiros pegaram carona com as manifestações dos patos amarelos da FIESP e aumentaram o coro para apear a presidenta Dilma. Nessa ocasião e curiosamente esquecendo-se dos dados históricos dos preços dos combustíveis, a categoria, além, de gritar contra uma pequena alta nos preços, pediu a deposição da presidenta e criminalizaram o Partido dos Trabalhadores. 

Hoje, diferentemente, os protestos dos caminhoneiros não pedem a saída de Temer e muito menos bradam contra a corrupção do governo, ou por melhorias nos preços dos fretes, contra o corte dos direitos trabalhistas e contra essa política neoliberal que está levando o nosso país aos caos.

Não há a menor dúvida de que a política de preços adotada pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente com a concordância dos golpistas está levando o país a essa barbárie, pois, essa política, visa tão somente agradar os investidores internacionais e facilitar a venda de ativos. O resultado desse desastre lesa-pátria é explicado, também, pela estratégia escolhida pelos golpistas. Hoje a Petrobrás refina apenas 65% do seu petróleo, o restante do petróleo cru é exportado e refinado em refinarias estrangeiras, leia-se EUA e depois a Petrobras compra esse combustível com preços bem mais altos. O resultado foi um aumento espantoso das importações de combustíveis. Nos dez primeiros meses de 2017 essa desastrosa ação comercial alcançou a cifra de 1,5 bilhões de dólares um crescimento de 93% se comparado com 2016. Só para se ter uma ideia do agrado aos EUA, somente a gasolina e o óleo diesel corresponderam a 25% de todos os produtos vendidos pelos ianques ao Brasil no ano de 2017.  

Outro fato que chama atenção e que faz parte do pacote do governo golpista para agradar os investidores estrangeiros foi a aprovação no dia 29/11/2017 pela Câmara dos Deputados a MP 795, conhecida como PEC da Shell. Essa Medida Provisória isenta as petroleiras estrangeiras de pagarem mais de R$ 50 bilhões por ano de impostos ao Brasil, até o ano de 2040.  

Além destes dados, nestes últimos 12 meses, o preço médio da gasolina aumentou 18% e em 2018, o crescimento foi de 3,37%. Essa alta, assim como a do gás de cozinha, é devida a inversão da política de controle de preços adotada pelo governo golpista desde 2016, na qual a Petrobras abriu mão de controlar diretamente os preços, evitando variações inflacionárias para determiná-los de acordo com os preços do mercado internacional, ou melhor, do “deus” chamado mercado!  Após o golpe o Brasil possui a segunda gasolina mais cara do mundo, dentre os países produtores de petróleo, além do que, essa política da Petrobras está prejudicando, sobremaneira, as contas da balança comercial do Brasil.

Outro dado espantoso é sobre o preço do óleo. Esse combustível custa hoje R$ 3,518, é o mesmo de quando o petróleo valia US$ 140 o barril em agosto de 2008. Naquela oportunidade, o diesel na bomba estava a R$ 1,851 o que corresponde a R$ 3,685, se corrigido pela inflação. 


A propósito, vale destacar que foi nos governos neoliberais de FHC que essa política de desmonte da Petrobras e as criminosas políticas de privatizações começaram. Um exemplo claro para contextualizar a nossa discussão, foram as privatizações das ferrovias, do transporte de cabotagem e a falência da indústria naval, levando o país a quase total dependência de um modal de transporte que é o rodoviário. Hoje esse modelo é responsável por quase 70% do transporte de cargas no Brasil, o que para um país continental como nosso é um desastre para os custos de produção e para o consumidor final. E pensar que este país já teve uma das maiores malhas ferroviárias do planeta e que há 42 mil km de rios potencialmente navegáveis!

Segundo o DNIT o país possui, hoje, mais de 1,7 milhão de quilômetros de rodovias, sendo 7% federais, 15% estaduais e 78% municipais. Nessas estradas trafegam quase 2,0 milhões de caminhões, sendo que 46% são de autônomos, 53% de empresas privadas e 0,9% de cooperativas. A frota dos autônomos tem uma idade média de 17,9 anos, já das empresas são de 9,8 e das cooperativas 18,5 anos. Não podemos de deixar de considerar, também, o transporte de passageiro realizado por ônibus que, também, utiliza o óleo diesel. Hoje calcula-se que a frota de ônibus no Brasil já ultrapassou as casa das 500 mil unidades, sendo que, 70% pertencem às empresas de transporte de passageiros e o restante são de autônomos.

Portanto, realmente essa paralização se justifica, no entanto, não sejamos ingênuos, pois não se trata somente de uma greve de caminhoneiros, que, aliás, na sua maioria são autônomos sim, mas, listados e credenciados por transportadoras, ou seja, as obedecem ou são descredenciados. Devemos alertar, ainda, que essa paralisação caracteriza, também, um lock-out, pois, há milhares de caminhões de empresas transportadoras que estão fazendo parte dessa manifestação, que, diga-se de passagem, não questionam os preços da gasolina, do gás de cozinha e muito menos a política em curso de desmonte da terceira maior empresa petrolífera do mundo.

Não nos esquecemos que o golpe militar do Chile de Pinochet teve como estopim um movimento de caminhoneiros semelhante a este do Brasil e se somarmos a fragilidade das instituições e a atual conjuntura política desfavorável a elite dominante, não é exagero algum afirmar que o momento favorece o surgimento de aventureiros de fardas e/ou de togas com objetivos semelhantes a de tempos sombrios de tristes recordações. Por essa razão cabe à esquerda brasileira e aos movimentos sindicais e sociais pegar uma carona com os caminhoneiros e ganharem as ruas do páis pressionando o parlamento e a sociedade a se engajarem num movimento muito maior que é o de garantir as eleições livres deste ano assegurando, inclusive, a candidatura de Luiz Inácio Lula Silva, caso contrário, o país corre sérios riscos de retrocessos que podem culminar em outro golpe muito mais duro contra a sociedade. Toda atenção é pouca!    


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