"As manchetes dos jornalões paulistas sinalizam uma nova
flexão dos barões da mídia, famosos pelo seu histórico golpista" -
Altamiro Borges
No dia
17 de junho o Brasil foi sacudido com uma grande manifestação
realizada pelo “Movimento Passe Livre”, cujo objetivo foi protestar contra o
aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e do metrô da cidade de São Paulo. Depois desse primeiro dia de manifestações,
o movimento ganhou corpo e tomou conta de outras cidades, ampliando também, as
reivindicações.
Não
temos dúvidas de que tais manifestações são legítimas e que, certamente,
fortalecerão, ainda mais, a incipiente democracia do nosso país. Porém, não
podemos pensar que tudo é normal e que só há fatos positivos nesse movimento,
ao contrário, existem eventos ameaçadores que nos incitam a fazer algumas
reflexões.
O
fato positivo é que podermos afirmar que a nossa democracia, mesmo com alguns
senões, está consolidada. Outro fato que devemos reconhecer é reflexo do
primeiro. É muito salutar ver a nossa juventude protestando e lutando pelos
seus direitos e pela ampliação das conquistas sociais e econômicas dos últimos
dez anos.
Aliás,
se confrontarmos os resultados das manifestações do Brasil com aquelas que
estão ocorrendo na Europa, fica claro o avanço da nossa democracia frente a dos
países do velho continente. Lá as autoridades não estão negociando com os
movimentos populares, ao contrário, o compromisso único, como assinala Flávio
Aguiar, é com a Austerität über alles und alle, ou seja, “a austeridade acima
de tudo e por cima de todos”, ou seja, os governantes na Europa só negociam com
os grandes grupos empresariais e com o capital especulativo.
O
primeiro fato negativo que identificamos ficou por conta da truculência das
Polícias de São Paulo e de outros Estados, o que, certamente, serviu como
estopim para o recrudescimento das manifestações em todo o país. Outro dado negativo
e que ficou nítido foi à transformação de jovens bem intencionados
em massa de manobra de grupos de ultra-direita apoiados, descaradamente pela
mídia, com objetivo único de criar um clima de terror no país.
A
propósito, há um paradoxo com relação à postura da imprensa nesse episódio. A
democracia brasileira garante toda liberdade para a mídia “informar”,
investigar e desinformar a sociedade. Mas por outro lado, essa mesma mídia age
de maneira antidemocrática, especialmente, com relação à cobertura política, e
essas manifestações são mais uma prova cabal dessa postura partidarizada e
golpista da “mídia nativa”.
O
“comentarista” político da Rede Globo, Arnaldo Jabor – que para alguns é
referência política/ideológica - mas para este articulista não passa de um
cineasta reacionário e preconceituoso - no início das manifestações, fez o
seguinte comentário: “...Mas afinal, o que provoca um ódio tão violento contra a
cidade?...não pode ser por causa de vinte centavos. A maioria dos manifestantes
são filhos de classe média...no fundo tudo ali era ignorância política. Na
Turquia o povo se vinga de lideres fanáticos. Mas aqui, se vingam de que ? A
causa deve ser a ausência de causa...''.
Porém,
sem mais nem menos, o comentarista global muda de ideia e pede desculpas ao
movimento, e como num passe de mágica, ele e toda mídia resolveram mudar de
lado e começaram apoiar as manifestações, e de forma indireta, incitaram a
desordem, evidenciando que essa mudança
de posição não foi um mea-culpa, mas
sim uma estratégia de instrumentalizar o movimento para tentar
desestabilizar o Governo Dilma.
Aliás, nesse
sentido o jornalista Altamiro Borges, escreveu:.”...Há duas semanas, no início
dos protestos liderados pelo Movimento Passe Livre, a velha imprensa fez o
discurso da Velha República. Ela tratou as mobilizações sociais como “caso de
polícia” e rotulou os jovens de vândalos e terroristas, e exigiram sangue da
PM...Depois disso os protestos cresceram e tornaram-se ainda mais difusos e
confusos. Os jornalões e as tevês, que antes babavam ódio contra os
manifestantes, mudaram o tom da cobertura. Viram uma oportunidade de
instrumentalizar o movimento e passaram a apoiá-lo”.
Não
temos dúvidas também, de que há uma intenção muito mais oculta nessa mudança de
posição da mídia e da infiltração de militantes fascistas e de ultra-direita
nessas manifestações, além do apoio público da “Comissão Interclubes Militares”.
Isso nos remete a 1964, quando a “Marcha pela Família com Deus”, uma “ingênua”
manifestação, se transformou no álibi para o golpe militar, que sabidamente,
contou com o apoio de grande parte da imprensa e desses reacionários
direitistas. E é exatamente aqui que reside o perigo, pois, os atuais
acontecimentos são muito parecidos com aquele período.
Um relato postado por Afonso(...), no sitio do jornalista Paulo Henrique Amorim nos alerta: “...coloquei na minha página uma mascara do Anonymous, postei palavras de ordem, distribui a informação em grupos conservadores e não tardou para entrarem em contato. Para a turma que ainda acredita que tem uma divisão no MPL em São Paulo, que existe bagunceiros quebrando tudo, e que isso ocorre ao acaso, tenho uma bomba pra vocês. Não é divisão… é infiltração golpista...O que esta em ação, é o mesmo plano que levou o Jango a ter que aceitar o parlamentarismo em 1962 e posteriormente resultou no golpe em 1964, só que agora contra o PT. Estão inflamando jovens conservadores para criar o caos...descobri que eles estão cooptando pessoas com diversos nomes de entidades e movimentos, buscando jovens para fazer estes atos. Justificando que o governo Dilma é corrupto e que é hora de se indignar e fazer uma revolução...Os fortes indícios são público, podem ser encontrados na Internet: Páginas sugerem um golpe militar contra o governo eleito de Dilma Roussef, com a alegação falsa da nação correr risco de um golpe comunista. A página Golpe Militar 2014, deixa claro, que pretendem dar um golpe, preventivo contra os comunistas..."
Comentando sobre esse movimento paralelo, José Dirceu,
escreveu:...”o que está em jogo é a democracia, ameaçada não pelas
manifestações pacíficas – onde muitos setores legitimamente são de oposição e
críticos do governo – protestando contra a Copa, por melhores condições de
transporte e vida, por mais educação e saúde, contra a corrupção, contra o
atual sistema político...O que, sim, nos importa é a tentativa de usar e
dirigir as manifestações não apenas contra os governos do PT, mas também para
desestabilizar, repito, a democracia brasileira...”.
Diante
de tudo isso, fica a certeza de que todo cuidado é pouco. Não podemos perder os
consideráveis avanços sociais e econômicos conquistados nesses últimos dez
anos. Ao governo, cabe auscultar as legítimas vozes das ruas e ampliar essas
conquistas. Mas por outro lado, necessita intensificar, por meio dos setores de
inteligência as investigações sobre tais grupos. E momento pede sapiência e urgência,
pois, as novas “vivandeiras dos quartéis” estão prontas para golpearem,
novamente, a democracia e o povo brasileiro.
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