quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

BAHIA: GREVE OU INSURREIÇÃO POLICIAL?


 "...os policiais militares baianos não se encontram em greve, mas em rebelião contra o Estado e, por extensão, contra a República, cuja a Constituição os obriga a manter a lei e a ordem." Mauro Santayana


Segundo o Professor Luciano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, a palavra greve significa “...um tipo de arbusto existente nas margens do rio Sena, em Paris. Em francês, grève. Num terreno contíguo a uma dessas margens, formou-se uma praça, que veio a ser designada como Place de Grève. A praça tornou-se um local onde se juntavam trabalhadores sem emprego em busca de alguma ocupação. Quando os parisienses precisavam de algum trabalhador, iam lá atrás dessa mão-de-obra. Daí surgiram expressões como "ir a greve" (aller en grève), "estar em greve" (être en grève) e outros correlatos, para designar o trabalhador que, sem trabalho, lá ficava de braços cruzados sem ter o que fazer”. Assim surgiu o termo denominado greve.

No Brasil a primeira greve geral que se tem notícia, ocorreu em 1917 em São Paulo. Depois vieram vários outras, as últimas grandes greves aconteceram nas décadas 70/80 com os metalúrgicos da região do ABC e com os trabalhadores da Siderúrgica Nacional de Volta Redonda. Depois disso, o movimento grevista, volta a ocupar a pauta dos grandes jornais do Brasil, desta vez, foi à greve deflagrada pelos policiais da Bahia, no final do mês de janeiro. Uma paralisação atípica e flagrantemente inconstitucional, em face do inciso IV do artigo 142 da Carta Magna que prevê que “ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”.

Evidente, que não estamos aqui apenas para recriminar essa greve, temos consciência do vergonhoso vencimento recebido pelos policiais civis e militares de todos os Estados e as péssimas condições de trabalho que esses guardiões da ordem pública são submetidos. E por essa razão, a categoria tem todo o direito de reivindicar e lutar por melhores condições, contudo, como vimos acima, esse direito tem limites impostos pela Constituição Federal, portanto, e para inicio de conversa, essa ação dos policiais baianos nos parece uma afronta a citado dispositivo.

Mas malgrado esse aspecto constitucional, e considerando a forma violenta com que vinham agindo os policiais, e diante da revelação das escutas telefônicas entre os lideres “grevistas”, ficou evidenciado que há conexão desse movimento com atos de vandalismos, rebelião e crime contra a ordem pública, ou seja, isso é um insulto à democracia, portanto, essas manifestações estão longe de serem movimentos grevista-reivindicatórios.    
  
Aliás, nesse sentido o mestre Mauro Santayana, escreveu no Jornal do Brasil: “..Os policiais militares baianos não se encontram em greve, mas em rebelião contra o Estado e, por extensão, contra a República, cuja Constituição os obriga a manter a lei e a ordem. Registre-se que o líder do movimento é um ex-militar e que, portanto, não tem legitimidade para chefia-lo. Como se encontram em rebelião, cabe ao Estado, no uso moderado de sua força e seu poder, exigir-lhes rendição imediata e usar dos dispositivos legais para punir os responsáveis pelo movimento.

Nesse mesmo diapasão, a Presidenta Dilma Rousseff, assim se manifestou:“...considero legítimas as reivindicações em uma democracia, mas não podemos admitir que seja correto espalhar o pânico, o medo e criar situações não compatíveis com a democracia...”

É sabido que essa “rebelião” dos policiais foi deflagrada com o intento de pressionar o Governo Federal na aprovação do Projeto de Emenda Constitucional nº. 300, que prevê a fixação de um Piso Nacional para os Policiais, uma matéria muito controvertida, e que sabidamente, não agradam os Governadores.

Mas não obstante essa reivindicação há também certas “coincidências” nessa ação que nos chama atenção. Um delas é o fato de que um dos lideres, o policial Marco Prisco, ser filiado ao PSDB, ferrenho Partido de oposição ao Governo Federal e ao Governo petista da Bahia. Outra “coincidência” são as comprometedoras conversas entre alguns Políticos e os líderes grevistas, fatos que nos forçam a concluir que tal “greve/motim” pode ter conotação reivindicatória, mas também, nos levam a crer que tem um componente político/partidário, especialmente, por se tratar de ano eleitoral.

Assim, e pelo exposto, concluímos: primeiro não paira dúvida de que a ação do Governo Federal tem de ser rápida, firme e dentro de seus limites constitucionais; segundo, os governos têm de reconhecer que os policiais merecem melhores salários; terceiro, unificar e desmilitarizar a polícia é primordial e, finalmente, os policiais têm de entender, e que sirva de exemplo, que essa “rebelião” foi um “tiro no pé” da categoria, pois, existem outros mecanismos legais que garantem a eles o inalienável direito de reivindicação, fora a isso, conforme escreveu Mauro Santayna “....qualquer movimento de greve, por servidores armados, como ocorre agora na Bahia, não passa de insurreição, que deve ser contida, sem hesitações”.

0 comentários:

Postar um comentário