terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A HERANÇA PERVERSA DEIXADA POR BOLSONARO

Por: Odilon de Mattos Filho
Não temos dúvidas que grande parte da sociedade brasileira sabia que a eleição de Bolsonaro em 2018 significaria um grande retrocesso social e econômico para o país. No entanto, a elite brasileira, tendo como caixa de ressonância a imprensa burguesa, tinha um grande objetivo: liquidar politicamente o Partido dos Trabalhadores e o seu maior líder, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para tanto, valia qualquer coisa, inclusive, apostar no caos, e naquele momento o objetivo foi alcançado, Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente da república em 2018.

Porém, essa mesma elite se esqueceu que depois da redemocratização, o Brasil passou por nove eleições diretas para presidente da república, cinco o PT venceu e em todas foi para o segundo turno, lembrando também, que dessas cinco Lula venceu três, portanto, é muito difícil liquidar um Partido de massa que possui o segundo maior número de filiados do mundo, que tem base popular, que tem o maior líder Político da história do Brasil e que carrega um legado político que nenhum outro Partido possui, ou seja, não se destrói um Partido Político com tamanha envergadura e com raízes tão sólidas como o Partido dos Trabalhadores.

Mas, o fato é que Bolsonaro venceu as eleições e foi empossado no cargo de presidente da república e cumpriu à risca o que as elites já sabiam: o caudilho mandatário levou o país à total degradação das relações sociais, políticas, econômicas e com permanentes ataques ao Estado Democrático de Direito. No campo pessoal, colocou em prática o seu já conhecido comportamento autoritário, misógino, homofóbico, racista, sexista e negacionista. 

E aqui vale uma advertência muito séria que pode, inclusive, ter reflexos no futuro próximo caso não se tome enérgicas providências. O que aconteceu no governo Bolsonaro não pode e não deve ser empurrado para debaixo do tapete, não há a menor possibilidade de se anistiar quem quer que seja do governo genocida, todos têm que pagar, nos termos da lei, os crimes cometidos, o país não pode mais ficar preso à cultura do esquecimento e da amnésia. “O Brasil criou seus impasses por meio do esquecimento. Como se não falar, não julgar, não elaborar, pudesse nos garantir alguma forma de paz. Foi assim em vários momentos de sua história, criando uma verdadeira compulsão de repetição...um país que ignora a força histórica, da justiça e da reparação condena-se a estar sempre acorrentado ao seu próprio passado. Ele não pode nunca ver o passado passar, porque aqui não há luto, não há dolo, não há responsabilização...Combater essa extrema-direita passa por nomear seus crimes e exigir verdade e justiça. O país não aguenta mais um pacto extorquido e nem merece mais uma farsa dessa natureza1”. 


Mas, ainda, dentro do mandato de Bolsonaro vieram as eleições de 2022 e o resultado foi a incontestável e extraordinária vitória do Presidente Lula, na verdade uma vitória dos trabalhadores e do povo brasileiro.  Perdida a eleição e inconformado com o resultado, Bolsonaro se recolheu, ou melhor, se acovardou e se impôs um silêncio obsequioso até que o dia 30/12/2022, gravou uma melancólica Live e depois saiu pelas portas do fundo do Palácio da Alvorada fugindo para os EUA antes mesmo de encerrar o seu mandato. Um fim trágico e vexaminoso como todo ditador é merecedor!


Mas vencida as eleições, Lula formou a sua equipe de Transição Governamental e em novembro de 2022, iniciou o processo de transição que teve como coordenador-geral o vice-presidente da república, Geraldo Alckmin. Esse processo de transição institucionalizado tem o objetivo central criar condições para que o governo eleito possa ter conhecimento da situação dos serviços públicos e da máquina pública e assim elaborar as diretrizes e propostas que foram referendadas nas urnas pelo voto popular.

O grupo de Transição de Lula denominado de Conselho Político de Transição Governamental dividiu os trabalhos em 28 Grupos Técnicos e depois que estes Grupos levantaram e conheceram os dados de cada área elaboraram seus respectivos relatórios e o repassaram para os coordenadores gerais para a elaboração do Relatório Final que foi definido como “... uma fotografia contundente da situação dos órgãos e entidades que compõem a Administração Pública Federal. Ela mostra a herança socialmente perversa e politicamente antidemocrática deixada pelo governo Bolsonaro, principalmente para os mais pobres2".

O Relatório Final do Gabinete de Transição, que qualquer cidadão pode acessar na internet (https://pt.org.br/veja-baixe-e-divulgue-o-relatorio-final-do-gabinete-de-transicao/), foi baseado em dados oficiais e elaborado com rigor técnico, participativo, transparente e com parcimônia no uso dos recursos públicos. É um Relatório que traz apontamentos e dados estarrecedores e que mostra de forma cabal o descaso, a irresponsabilidade e o total desrespeito do governo Bolsonaro com a Nação e com o povo brasileiro.

O citado Relatório, lamentavelmente, mostrou o que muitos já sabiam, a Nação brasileira virou terra arrasada com a desconstrução institucional, o desmonte do Estado e a desorganização das políticas públicas. Aliás, como consta do Relatório Final “..isso tem tido consequências graves para a saúde, a educação, a preservação ambiental, a geração de emprego e renda, e o combate à pobreza e à fome, entre outras. O governo Bolsonaro chega ao fim do mandato em meio a uma ameaça real de colapso dos serviços públicos, como por exemplo, “os livros didáticos que deverão serão usados no ano letivo de 2023 ainda não começaram a ser editados; faltam remédios no Farmácia Popular; não há estoques de vacinas para o enfrentamento das novas variantes da COVID-19; faltam recursos para a compra de merenda escolar; as universidades corriam o risco de não concluir o ano letivo; não existem recursos para a Defesa Civil e a prevenção de acidentes e desastres. Quem está pagando a conta deste apagão é o povo brasileiro3”.

Realmente, essa terrível e lamentável realidade salta aos olhos, especialmente para os mais de 40 milhões de pessoas pobres que vivem hoje no país, aliás, é algo que vai além da pobreza, é a miséria e a indigência no seu estado mais triste que foi se formando durante quatro anos de um governo comandado por uma "pessoa" desprezível, desumana, sem escrúpulo e sem nenhuma generosidade e compaixão com o povo pobre deste país.

Diante do caos e da herança perversa deixada pelo governo Bolsonaro e frente a resposta dada pelo sofrido povo brasileiro com a vitória de Lula, somos pelo entendimento ser imperioso a realização de algumas medidas emergenciais, tais como: retomar e iniciar, imediatamente, o programa “Bolsa Família” para atender os mais de 35 milhões de pessoas em situação de grave insegurança alimentar; combater o fenômeno da dissonância cognitiva e com o rigor da lei os atos terroristas praticados pela extrema-direita bolsonarista e extirpar de uma vez por todas, qualquer ato que prega ou dissemina o fascismo ou o ataque ao Estado Democrático de Direito. Não a anistia a fascistas!; recuperar o valor de compra do salário mínimo; revogar os famosos decretos de sigilos (100 anos) de Bolsonaro e revogar as privatizações e as Reformas Trabalhista e Previdenciária e por fim, buscar a unidade com a classe trabalhadora, os movimentos populares, sociais e sindicais e assim planejar a reconstrução do país com objetivo de se recuperar as políticas sociais, a educação e a saúde de qualidade, a geração de emprego e renda e recuperar e ampliar as conquistas e direitos da classe trabalhadora e da sociedade em geral. 

São essas e outras medidas que nos afiguram urgentes, pois, dialogam e traduzem as aspirações sociais e nacionais inscritas no mandato que o povo de forma livre, soberana e democrática conferiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.



 

 

 



1 Fonte: Gabinete Governamental de Transição – Relatório Fina – pag. 7 .
2-Fonte::https://aterraeredonda.com.br/abaixo-assinado-anistia-nunca-mais/

3 Fonte: Gabinete Governamental de Transição – Relatório Fina – pag. 7 .

  

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