quarta-feira, 23 de novembro de 2022

SARAVÁ IRMÃS E IRMÃOS PRETOS..!

Por: Odilon de Mattos Filho
Foi sancionada em 2011 pela Presidenta Dilma Rousseff a Lei nº 12.519/2011, que institui o Dia 20 de Novembro como “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”. Essa data foi escolhida em memória do grande Líder Zumbi dos Palmares, maior representação da resistência negra quanto à sua situação de escravidão e  aos poderes coloniais. Zumbi foi assassinado no 20 de novembro de 1695 e teve suas mãos cortadas e sua cabeça decepada, salgada e de depois levada para Recife onde ficou em exposição em praça pública. A crueldade contra o povo preto chegava no auge da barbárie e o resto dessa triste história é de conhecimento de todos nós!

Entendemos que do ponto de vista simbólico não há dúvida da importância dessa data, porém, sob a perspectiva do povo negro esse Dia deve ser de muita agitação, reflexão e debates sobre as violências físicas, morais, materiais e psicológicas sofridas pelos irmãos negros por meio do racismo estrutural e institucional que campeia pelo país afora.

Neste contexto, não há como dissociar essa escandalosa e desumana discriminação e exclusão social do capitalismo selvagem que patrocina uma abjeta concentração de renda em detrimento ao sofrimento do povo pobre do Brasil.

Neste diapasão, não podemos nos esquecer também, que a partir do golpe de Estado parlamentar em 2016, patrocinado dentre outros, pelo “deus” mercado, várias políticas sociais foram excluídas e inúmeras conquistas do povo negro sofreram retrocessos e nessa mesma trilha o racismo antes velado, foi colocado para fora e recrudescido durante o governo Bolsonaro que também, ficará marcado pela exclusão social que levou o Brasil, novamente, ao triste mapa da fome, aliás, os dados sociais comprovam essa insidiosa discriminação e o abismo social que se encontra o país.

A propósito, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio - PNAD, divulgada pelo IBGE no início de novembro deste ano, corrobora essa afirmativa da discriminação e do apartheid social que toma do país, senão vejamos: segundo o PNAD, a hora de trabalho de uma pessoa preta no Brasil, valeu 40,2% menos que a de um branco entre abril e junho deste ano. Em 2021 o rendimento médio dos brancos foi R$ 3.099, enquanto dos pretos foi R$ 1.764. No mercado informal os dados, também mostram o tamanho dessa discriminação. Segundo o mesmo PENAD o percentual de pretos, no mercado informal de trabalho chegou a 48,4% em 2019, enquanto o percentual de trabalhadores brancos foi de 32,5%. Outra pesquisa mostra que dentre as 500 empresas de maior faturamento do Brasil, 58% dos aprendizes e trainees são negros, nas gerências eles são 6,3% e no quadro executivo, a proporção de negros é de apenas 4,7%. Essa mesma pesquisa aponta, também, que 63% das mulheres negras já foram discriminadas em processos seletivos para vagas de empregos formais e que entre 2017 e 2020, 61% das mulheres vítimas de feminicídio eram negras.

Portanto, esses dados publicados pelo IBGE somados a incessante postura de ódio, violência e de preconceito de boa parte da sociedade, nos faz concluir que, realmente, as elites do país, ainda carrega consigo, o espírito escravocrata de outrora, isto é, estamos diante de um processo histórico que modela a sociedade até hoje, ou seja, é o racismo estrutural na sua pura e abjeta essência.

Por essa e outras razões, há a imperiosa necessidade de nos posicionarmos individual e coletivamente contra toda forma de racismo e de segregação, denunciando e nos colocando ao lado e à disposição dos nossos irmãos pretos para resistir e lutar contra essa abjeta e criminosa situação de discriminação e racismo que permeia o país.

Já no campo institucional e frente as incalculáveis injustiças sofridas pelo povo negro ao longo destes últimos 490 anos, esperamos que o novo governo Lula retome as políticas de inclusão social, as políticas afirmativas, em especial, da promoção da igualdade racial e reconheça o povo negro como sujeito e protagonista de nossa história. Aliás, somente com essas e outras medidas, podemos forjar uma Nação inclusiva, justa, fraterna, igualitária e verdadeiramente democrática. Saravá irmãs e irmãos pretos...!

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