segunda-feira, 19 de julho de 2021

A GUERRA HÍBRIDA CHEGA A CUBA

Por Odilon de Mattos Filho:                        
É sabido e reconhecido que Cuba tem uma longa trajetória de lutas por libertação, resistência e tradição de várias líderanças e heróis. A guerra de independência da Espanha é um desses momentos de resistência e onde surgiu o lendário herói José Martí, o maior símbolo da poderosa Ilha e o grande sonhador de uma “Pátria Grande”. Mas, mesmo depois da vitória sobre a Espanha, havia, ainda, no caminho dos cubanos os EUA que mantinham uma grande influência político-econômica e militar sobre Cuba, tanto, que os imperialistas do norte foram recompensados com a concessão da Ilha de Guantánamo, onde foi construída uma base naval dos EUA e o temido e abjeto Campo de Detenção da Baía de Guantánamo que mais se assemelha aos campos de concentração nazistas.

Passados os anos e em 1952, assume o governo central de Cuba o militar Fulgêncio Batista que já havia governado Cuba, mas, reassumiu o poder por meio de um golpe de Estado apoiado pelos EUA e instalando na Ilha um regime de subserviência, corrupção e violência.

Mas, esse governo durou pouco tempo, pois surgiu, um grande movimento comandado por Fidel Castro que junto com outros companheiros guerrilheiros, como o seu irmão Raul Castro, Chê Guevara, Camilo Cienfuegos e um grande número de camponeses começaram uma Revolução e em 1959 ocuparam a capital Havana, fazendo o presidente Fulgêncio Batista abandonar o cargo e fugir para a República Dominicana. Era o triunfo da Revolução Popular em Cuba com a promessa de “liberdade com pão e pão sem terror”.

Após a vitoriosa Revolução Popular, Cuba teve total apoio da antiga República Socialista Soviética para a reconstrução do país e a implantação do seu regime socialista e das medidas do governo revolucionário. No entanto, com o advento da Perestroika que levou ao fim da União Soviética, Cuba perdeu grande parte do apoio do novo país e começou a passar por graves problemas de abastecimento de alimentos, remédios, combustíveis, etc, que somados ao cruel embargo comercial, econômico e financeiro dos EUA que já causaram danos da ordem de US$ 144 bilhões à Cuba, levou os Cubanos a passar por graves problemas sociais e econômicos que agora foram agravados pela Pandemia. E aproveitando-se dessa situação o governo e empresas estadunidenses começaram a financiar grupos para disseminar a desordem, instabilidade e protestos contra o governo Cubano como aconteceu com as manifestações de julho de 2021.

Evidente que essa crise social vivida hoje por Cuba, não se trata, apenas,de um movimento que surgiu agora, ao contrário, essa água já vinha esquentando desde 1985 e Cuba não tem mais o colchão social de outrora, muita coisa mudou daquele tempo para 2021, só não mudou a política externa dos EUA contra a lendária Ilha.

Aliás, nesse sentido o professor e pesquisados Cubano, Julio Cesar Guanche escreveu: “...A crise atual assenta-se em várias crises anteriores e concomitantes: econômica, demográfica, de cuidados. E elas se combinam com a crise pandêmica, as crises internacionais – cada vez mais próximas umas das outras – e o agravamento da política dos EUA contra Cuba... Há também uma crise de horizontes – que se observa muito claramente no potencial migratório..1

Mas, não obstante essa visão do professor Cubano, não tem como negar que por de trás dessas manifestações em Cuba está a guerra híbrida que os imperialistas do norte passaram a utilizar no lugar das guerras convencionais, especialmente, na América Latina, aliás, essas agressões à soberania das Nações, são a tônica das políticas externas tanto de governos democratas como republicanos, pois, ambos têm alma imperialista e vocação dominadora. Aliás, para corroborar essa assertiva, vale lembrar, que logo nos primeiros dias o governo Joe Biden dotou US$ 23 milhões só para propaganda anticubana, dentro de Cuba. Realmente, um ataque covarde, desleal e abjeto dos imperialistas do norte!

A propósito, neste sentido o grande Sociólogo Emir Sader escreveu: “...A nova estratégia da direita na América Latina está coordenada com a estratégia imperial norte-americana. Consciente da impossibilidade de dar continuidade aos golpes militares, a estratégia da guerra híbrida consiste na corrosão interna dos sistemas políticos, para destruir os aspectos democráticos e impor um novo tipo de governo...” Continuando Emir Sader com precisão acrescenta: “...Cuba vive, da sua maneira, os efeitos da política imperial norte-americana sobre o conjunto da América Latina2”.

Sobre essa guerra híbrida, o próprio presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, durante um ato político realizado em Havana em julho de 2021, com mais de 100 mil pessoas, afirmou que nenhuma mentira sobre o país foi levantada por acaso, tudo é friamente calculado para atacar a Nação e ao mesmo tempo desarmá-la de seus possíveis instrumentos de defesa, com base em ataques cibernéticos a seus meios de comunicação e canais oficiais do governo.

Corroborando essa afirmativa do presidente Cubano, o Chanceler Rodríguez Parrilla em entrevista coletiva denunciou e provou que o “polêmico #SOSCuba não surgiu na Ilha maior das Antilhas, mas foi lançado desde junho passado, em Nova York, para tentar impedir o pronunciamento da Assembleia Geral das Nações Unidas contra o bloqueio. Especificou que essa operação utiliza recursos milionários, laboratórios e plataformas tecnológicas com recursos do governo dos EUA e de empresas privadas, como a empresa norte-americana ProActive Miami Incorporations, que a partir de 5 de junho lançou no Twitter a campanha de Intervenção Humanitária em Cuba e o Canal Humanitário Cuba3”.

Portanto, estamos diante de mais um grave e abjeto atentado ao princípio da autodeterminação dos povos e agora por intermédio de uma guerra híbrida patrocinada pelo governo estadunidense objetivando criar um clima de contrarevolucão em Cuba. No entanto, somos de opinião que dificilmente essa agressão/ingerência triunfará, pois, a grande maioria do povo cubano sabe que a "verdade é revolucionária" e sabe, também, da importância de se preservar os legados da Revolução que tem na rebeldia e na permanente luta de resistência o seu pilar de sustentação, não á toa, que o comandante Fidel Castro cunhou a célebre frase: "Se saio, chego; se chego, entro; se entro, triunfo!"

1 Fonte: https://outraspalavras.net/descolonizacoes/cuba-dois-textos-sobre-umacrise-incomoda/

3 Fonte: https://patrialatina.com.br/cuba-prova-envolvimento-dos-eua-em-acoes-de-desestabilizacao-contra-o-povo-cubano/

 

 

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