quarta-feira, 12 de agosto de 2020

UM FIEL E OBEDIENTE SOLDADO

Por: Odilon de Mattos Filho:
Diante das recentes revelações da “Revista Piauí” noticiando que o presidente Bolsonaro pretendia enviar militares ao STF para destituir todos os ministros da Suprema Corte e frente à fétida entrevista do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ) no Programa Roda Vida, podemos concluir que, realmente, o país está diante de uma gravíssima crise política e institucional. 

Segundo a informação da citada revista, a tentativa de invadir o STF foi ventilada no mês de maio pelo presidente Bolsonaro por não concordar com a decisão do ministro Alexandre de Moraes que impediu a posse de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal e o despacho do ministro Celso de Melo requerendo ao PGR Parecer sobre a apreensão ou não dos aparelhos celulares de Bolsonaro e de seu filho Carlos Bolsonaro para instruir um inquérito.

Sabemos que Bolsonaro foi dissuadido de sua intenção de invadir a Corte Suprema por um general, mas, isso não o impediu que mandasse um recado em tom de intimidação e ameaça, aliás, quem deu esse recado foi o General Heleno Nunes, por meio de Nota na qual o caudilho disse: “O Pedido de apreensão do celular do presidente da república é inconcebível, e até certo inacreditável...O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude [se referindo a possível apreensão do celulares] é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional1”. 

Posteriormente a essa proposta de golpe, eis que surge o presidente Bolsonaro fazendo novas ameaças e intimidações à Nação dizendo, publicamente, que as Forças Armadas ocupam posição de superioridade ao poder civil, ou seja, o presidente mandou as favas, a soberania popular que está esculpido na CF/88 onde está previsto que o poder emana do povo e em seu nome será exercido.

Depois dessas e de outras graves ameaças, que, diga-se de passagem, não teve nenhuma reação prática por parte das instituições e autoridades, veio à entrevista do deputado Rodrigo Maia ao Programa “Roda Vida”. Neste bate papo entre amigos, ficou claro o quanto é deletéria e comprometedora a postura acovardada do presidente da Câmara dos Deputados frente aos acontecimentos políticos e aos desmandos do chefe da Nação. Aliás, neste contexto, ficou nítido, também, o quanto as instituições do país estão carcomidas, aparelhadas e em completo frangalhos. 

Nesta entrevista o deputado Rodrigo Maia mostrou de forma objetiva que sempre esteve comprometido com o sistema financeiro e com o status quo da oligarquia tupiniquim, tanto, que quando perguntado sobre o impeachment da presidenta Dilma ele não hesitou e afirmou que está convicto de sua posição e que não se arrepende do voto pelo impedimento da presidenta, ou melhor, não se arrepende de ter participado do golpe. Já com relação aos quase cinquenta pedidos de impeachment do atual inquilino do Palácio do Planalto, Rodrigo Maia como um fiel e obediente soldado, respondeu: “Eu não tenho os elementos para tomar uma decisão agora sobre este assunto...impeachment não pode ser instrumento para solução de crises, você tem que ter um embasamento legal para esta decisão e eu não encontro ainda nenhum embasamento legal para tomar uma decisão..2” 

Portanto, para Rodrigo Maia não há nada que comprometa o Presidente Bolsonaro e como bem afirmou o professor Roberto Bueno, “...para Maia, nada, nenhuma irregularidade, nenhum crime, nada...nem sequer sob o argumento do “conjunto da obra” que encontra indefectível amparo no tétrico resultado de sua política sanitária que implica em 100.000 mortos até o momento, turbinados com propaganda de cloroquina, invasões de hospitais e anticientificismos. Afinal, se 100.000 cadáveres não pesam para Maia tomar a decisão de deferir o pedido de impeachment, então, o que justificaria?3”. 

Realmente, estamos diante de uma clara ameaça à democracia e estamos sendo governados por autoridades que enxergam no golpe uma opção factível para implantar regimes de força “que destituem a soberania de sua residência popular”.

Assim, diante desse quadro, só há uma saída para retirar o país do fundo poço e transformá-lo em uma verdadeira Nação soberana, igualitária e justa: o povo nas ruas exigindo o fim deste governo, conclamando novas eleições com uma Assembleia Nacional Constituinte soberana e popular. E como bem diz Emiliano Zapata, “Se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo”

 

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