terça-feira, 2 de junho de 2020

"POR FAVOR, NÃO CONSIGO RESPIRAR..!"

Por: Odilon de Mattos Filho:
A independência dos Estados Unidos foi declarada no dia 4 de julho de 1776, sendo a primeira Nação do continente americano a ter sua independência. Essa nova Nação nasceu sob as inspirações dos ideais iluministas, sendo ratificado esse ideal com a Lei dos Direitos Civis (Civil Rights Act) de 1964, que revogou as Leis de Jim Crow, que foram sistemas de leis estaduais que impunham a segregação racial. 

Os EUA um país, sabidamente, capitalista, sempre se colocaram como os paladinos da democracia e da liberdade. Porém, isso não passa de retórica para justificar as agressões, atrocidades e desmandos dentro e fora de suas fronteiras. Aliás, não é segrego para ninguém, de que se trata de um país predador e selvagem tido como o mais cruel dos países imperialistas do mundo. Aliás, só a título de caracterização política, vale citar a lição da professora da UFRJ, Doutora, Marina Machado Gouvea que nos ensina que mais que uma característica, “o imperialismo é o desdobramento histórico do próprio capitalismo na sua totalidade” e como tal, esses países, têm como prática subjugar as Nações subdesenvolvidas, fazendo-as dependentes e defensoras dos interesses econômicos, financeiros e geopolíticos desses países dominadores. 

O brutal e covarde assassinato do cidadão George Floyd que foi imobilizado e asfixiado até a morte é mais um capítulo do racismo estrutural e institucionalizado dos EUA, o que mostra que a Lei dos Direitos Civis não passa de uma letra morta numa folha de papel e que, diferentemente do que é propagado, o país está longe de ser uma Nação que preza pela liberdade e pela democracia. É um país extremamente cruel com os negros, um império racista onde parte da sociedade e de suas instituições não negam a ideologia do branqueamento, fato bastante visível nos dias de hoje com um presidente, reconhecidamente, preconceituoso, racista, xenófobo e homofóbico. Um verdadeiro déspota! 

O homicídio de George Floyd não é um caso isolado. Somente em Minneapolis, maior cidade do Estado de Minnesota, onde Floyd foi assassinado, dois terços das pessoas que já foram imobilizadas e asfixiadas eram negros, lembrando que, apenas, 19% da população dessa cidade são de negros e destes, cinquenta vieram a óbito, ou melhor, foram covardemente assassinados. 

A proporção de negros mortos por policiais nos EUA é mais que o dobro do que a de brancos. Os negros têm quase três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos. E Segundo o professor David Kennedy, da Universidade John Jay, “desde a escravidão, a história americana é marcada por supremacia branca e violência contra negros, tudo respaldado pela lei, como por exemplo, as leis criadas no início da chamada guerra contra as drogas nos anos de 1980 que são aplicadas de tal forma que mais negros são presos do que no passado. E a polícia é a manifestação mais visível dessa história1”. 

Evidente, e não seria diferente, a grande onda de revolta popular que se espalhou pelos EUA denunciando esse cruel assassinato e a conduta complacente do presidente Donald Trump diante dessa barbárie. Já são sete dias de grandes protestos por várias cidades e por inúmeras personalidades públicas. 

O presidente Barack Obama, por exemplo, assim se manifestou: "Cabe a todos nós, independente da raça ou posição —incluindo a maioria dos homens e mulheres da lei que têm orgulho em fazer o seu difícil trabalho do jeito certo, todos os dias — trabalharmos juntos para construirmos um 'novo normal' no qual o legado de tratamento preconceituoso e desigual não infecte mais nossas instituições e nossos corações2

O ator estadunidense Will Smith em entrevista disse que “..o racismo claramente não é pior do que nos anos 60 e, consequentemente, não tão ruim quanto em 1860. Nós estamos discutindo sobre raça nesse pais mais abertamente e claramente do que nunca foi feito anteriormente na história desse país (…) O racismo não está piorando, está sendo filmado3” 

A atriz Viola Davis escreveu: “É isso que significa ser negro na América. Tentou. Morto por ser negro. Somos ditados por centenas de anos de políticas que restringem nossa existência e ainda precisamos continuar enfrentando linchamentos modernos..4.” 

Já o grande astro da NBA, Michal Jordan desabafou: "Estou profundamente entristecido, verdadeiramente dolorido e claramente enraivecido. Cada um de nós precisa fazer parte da solução e devemos trabalhar juntos para garantir justiça para todos. Meu coração vai para a família de George Floyd e para os incontáveis outros cujas vidas foram tiradas brutalmente e sem sentido através de atos de racismo e injustiça5

A cantora Rihanna desabafou: “ver meu povo ser assassinado e linchado dia após dia me levou a um lugar pesado no meu coração!" A ponto de ficar longe das redes sociais, apenas para evitar ouvir novamente a agonia de gelar o sangue na voz de George Floyd, implorando repetidamente por sua vida!!! O olhar de prazer, a pura alegria e o clímax no rosto desse fanático, assassino, bandido, porco, vagabundo, Derek Chauvin, me assombra !! Eu não posso evitar isso6", 

Por fim, não podemos deixar de destacar que o assassinato de George Floyd, não mostrou apenas o racismo estrutural que reina nos EUA há séculos, mas, também, outra faceta do capitalismo, reconhecidamente, excludente. Foi mais um crime cometido contra um pobre, negro e desempregado. Mais um dado para a frieza das estatísticas destes homens brancos e do seu capital financiador deste e de tantos outros assassinatos mundo afora. 

Realmente é terrível pensar que em pleno século XXI tenhamos que assistir a barbárie do racismo, especialmente, o estrutural e institucional, como ocorre nos EUA, no Brasil e em outros países. Não podemos nos intimidar, não podemos nos esconder, não devemos nos calar diante dessas atrocidades cometidas contra os nossos irmãos negros, afinal, como bem afirma Martin Luther King “chega um momento em que o silencio é uma traição”.  



1 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-528326212
2-Fonte: https://www.bol.uol.com.br/noticias/2020/05/30/de-obama-a-kim-kardashian-personalidades-protestam-por-george-floyd.htm
3- Fonte: https://agorarn.com.br/showetv/will-smith-racismo-nao-esta-piorando-esta-sendo-filmado/
4 -Fonte: https://claudia.abril.com.br/famosos/personalidades-george-floyd-morto-por-policiais/
5- Fonte: https://www.bol.uol.com.br/noticias/2020/06/01/caso-george-floyd-artistas-internacionais-se-manifestam.htm
6- Fonte:
https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/05/31/artistas-homenageiam-george-floyd-e-condenam-racismo-nos-eua-veja-repercussao.ghtml

4 comentários:

  1. Excelente, Odilon! O penúltimo parágrafo sintetiza tudo.Parabéns!

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  2. Quanto ódio incutidos no texto !!! Mas é sempre assim: aqueles que se afirmam "paladinos da justiça" não passam de odiosos protoditadores fazendo "virtue signalling".

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    1. Olha o "Anônimo" está de volta. É só escrever algo que lhe pertube que o cara-pálida" aparece. Certamente, é mais um racista dentre tantos no país. Mas qualquer maneira, obrigado pela leitura. Outra coisa: a expressão "virtue signalling" tem o seu perfil, aliás, ela foi muito utilizada por Claude Frédéric Bastiat, um economista Francês que se fosse vivo seria estaria ao lado de Olova de Carvalho.

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