quarta-feira, 6 de novembro de 2019

UMA NAÇÃO ANESTESIADA E SEM LIDERANÇAS

Por: Odilon de Mattos Filho
Não obstante as inúmeras ilegalidades e arbitrariedades que cercaram as eleições de 2018, um fato já era de conhecimento da ampla maioria da população: o modelo econômico pautado pelo  capital internacional que seria empregado pelo governo Bolsonaro e sua camarilha da extrema-direita.

Neste contexto há, ainda, um fato, no mínimo estranho para não dizer leviano. A esquerda e o governo PTista deveria ter tido conhecimento prévio do desfecho que estamos vivenciando hoje, pois, tudo isso começou a ser arquitetado no ano de 2006, quando foi julgada a Ação Penal 470 mais conhecida, como Mensalão.

Depois do exitoso primeiro mandato do presidente Lula e a possibilidade de sua reeleição, a direita começou a planejar o golpe, pois, sabia que pelas urnas seria muito difícil derrotar a esquerda. Foi assim que surgiu AP 470, a primeira etapa do plano: “não tenho provas contra José Dirceu, mas, a literatura me permite condená-lo”, Ministra do STF Rosa Weber. Lembram?

Pois bem, essa etapa não derrubou a esquerda. Lula foi reeleito, terminou o mandato com uma extraordinária aprovação de 86% e elegeu a Dilma que, depois se reelegeu, mas, não terminou o seu governo, pois, entrou em cena uma nova etapa do plano dos golpistas, desta feita, por meio de um guerra híbrida, ou seja, o pesado e decisivo apoio da mídia nativa, do empresariado, dos rentistas e do Sistema Judiciário Brasileiro com a malfadada, Operação Lava-jato. Essa etapa foi decisiva, pois, derrubou a Dilma e condenou o presidente Lula por meio de um processo, absolutamente, ilegal, arbitrário e sujo, conforme revelado pelo The Intercept. Depois, para fechar com chave-de-ouro, Lula foi impedido de disputar as eleições de 2018, na qual era o grande favorito.

Resumidamente, essa foi à macabra história de um plano arquitetado pela direita brasileira que demorou treze anos para ser concluído, e sejamos honestos, vitorioso até o momento.

Com a eleição de Bolsonaro a direita e a extrema-direita se viram na oportunidade de concluir os seus sonhos e objetivos: entregar todas as nossas riquezas para o capital internacional e colocar em prática a política econômica dos Chicago Boys de Paulo Guedes implantada no Chile nos obscuros tempos do general Augusto Pinochet.

Aliás, um nefasto modelo econômico adotado por vários países e que está destruindo a natureza e levando o povo a um empobrecimento assustador. 

A propósito, neste sentido o Papa Francisco com sabedoria e coragem vem denunciando essa calamidade. Disse Sua Santidade"..a pessoa frágil e vulnerável encontra-se indefesa diante dos interesses do mercado divinizado, que se tornaram regra absoluta. Hoje, alguns setores econômicos têm mais poder que os próprios Estados. Esta realidade torna-se mais evidente em tempos de globalização do capital especulativo...O capital financeiro global está na origem dos crimes graves contra as pessoas e o meio ambiente. Trata-se de uma criminalidade organizada pelo excesso de endividamento dos Estados e pela pilhagem dos recursos naturais do nosso planeta, que pode ser comparada a crimes contra a humanidade, quando levam à fome, pobreza, migração forçada e morte por doenças evitáveis, desastres ambientais e extermínio dos povos indígenas1".


Mas, o que nos chama atenção no cumprimento dos objetivos desse governo e que deveria ser objeto de análise por parte dos estudiosos do comportamento humano e da política, é como em um curto espaço de tempo, apenas onze meses, um governo sem credibilidade moral, ética e com uma aprovação popular baixíssima (30%) tem o atrevimento de preparar e aprovar um conjunto de medidas, amplamente, impopulares e danosas ao país sem qualquer oposição ou revolta popular.

Bolsonaro conseguiu aprovar uma reforma da previdência que massacra a classe trabalhadora, retirou várias conquistas e direitos dos trabalhadores, reduziu drasticamente e vai liquidar com todos os programas sociais, já entregou a Embraer aos EUA, está entregando toda nossa riqueza ao capital internacional, inclusive, áreas estratégicas, como por exemplo, o petróleo, a energia, o solo, a Floresta Amazônica, a base de Alcântara e agora, até a Casa da Moeda vai ser privatizada. E para fechar ele apresentou nessa semana do 05/11/2019, três PEC's que, se aprovadas, coloca um fim ao pacto federativo, destrói os serviços públicos, desapare com os pequenos municípios, extingui mais de 240 Fundos Públicos, como, por exemplo, o FAT e tudo isso sob o eufemismo de pagar a dívida pública, mas, que na verdade o objetivo é encher os cofres dos banqueiros e rentistas. Além disso, essa política entreguista faz parte de um projeto de Poder político, econômico e financeiro de longo prazo.

Em qualquer país do mundo se a metade dessas atrocidades políticas fossem colocadas em práticas, os povos já tinham se rebelado e ganhado às ruas com grandes protestos, como acontece, por exemplo, no Líbano, Argélia, Chile, Equador, Argentina, Hong Kong, Iraque, etc.   
     
Aliás, nesse sentido o Editorial do Jornal “O Trabalho” Nº 496, nos chama atenção sobre a movimentação que acontece mundo afora contrária a essas políticas: “A ordem mundial ditada pela sobrevivência da propriedade privada dos grandes meios de produção, do imperialismo em crise, assenta-se sobre um barril de pólvora que explode em vários países. Neste ano, inaugurado pela revolução argelina, as explosões atingem países em todos os continentes. É a inexorável luta de classes que marca o cenário mundial convulsionado...Os povos se revoltam, querem viver e cada vez mais expressam a rejeição aos regimes que cumprem as ordens mortíferas do imperialismo2”.

Portanto, não conseguimos entender, ainda, como toda essa destruição  acontece no Brasil e não há uma grande revolta popular contra esse caos. Como explicar essa letargia do povo, será problema cultural, falta de lideranças? Será que o presidente Lula é esse  grande líder que comandará a tão esperada e imperiosa  reação popular?

Por fim, vale aqui relembrarmos os dois primeiros versos da canção "O que foi feito deveras" de Milton Nascimento, que resume bem todo o nosso sentimento com relação a essa prostação coletiva:

"O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou? 
O que foi feito da vida, o que foi feito do amor?”



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