Por: Odilon de MattosFilho
É de
conhecimento, até do mundo mineral, como diria Mino Carta que o carnaval é a mais
importante expressão cultural e a festa mais popular do Brasil pela alegria, espontaneidade,
diversão e por proporcionar, de maneira natural, um congraçamento entre as raças,
seitas, etnias e gêneros.
O carnaval
de 2019, como sempre, foi marcado pela alegria dos foliões Brasil afora e como
acontece todo ano serviu, também, como pretexto para o brasileiro protestar, homenagear
e prestar solidariedade. Foi o caso, por exemplo, de protestar contra o
presidente Bolsonaro, render homenagens a saudosa ativista e vereadora Mariele
e de prestar solidariedade ao presidente Lula com a hashtag #LulaLivre. É o exercício
da liberdade de expressão na sua mais pura essência.
No
entanto, nem tudo foi alegria neste carnaval, especialmente, pelas bandas da política já marcada pelo esfacelamento das instituições, pelos sentimentos de intransigência, ódio e intolerância e com a sistemática ameaça e desrespeito ao Estado Democrático de Direito.
Dentro
deste contexto e como já esperado, o primeiro a exercer esses sentimentos e se
debelar contra essa festa popular foi, exatamente, o presidente Jair Bolsonaro que
como de costume não aceitou as críticas e os protestos contra a sua pessoa e
patrocinou uma das cenas mais patetipa e dantesca que o país já viu e que certamente entrará para os anais da história como a maior baixaria que um presidente da república
já praticou. Um claro desrespeito à liturgia e ao decoro do cargo que ocupa.
O presidente
Bolsonaro, utilizando o seu twitter e agindo como se estivesse em campanha
eleitoral, pinçou um vídeo escatológico no qual um gay introduz o seu próprio
dedo no ânus enquanto outro homem urinava sobre a sua cabeça. Com esse vídeo Bolsonaro tentou associar
essas imagens como se fossem uma prática corriqueira do carnaval de rua no
Brasil. Junto com o vídeo o caudilho autoritário acrescentou: “Não me sinto confortável em
mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e
sempre tomar suas prioridades. É isso que tem virado muitos blocos de rua no
carnaval brasileiro. Comentem e tirem as suas conclusões1”.
Ciente de que muitos
cidadãos e aqui me incluo, entender que tais cenas ou performances foram
descabidas e desnecessárias, não havia dúvida de que a repercussão seria enorme,
talvez nem tanto pelas imagens, mas sim, por quem as postaram, tanto, que mais de setenta por cento dos comentários foram contra o presidente ter postado o vídeo em sua
conta do twitter, pois, além de depor contra o carnaval do Brasil que é uma das
atrações que mais dividendos financeiros trazem ao país, está longe, mas, muito
longe de ser um assunto a ser tratado por um presidente da república. E o caso
não ficou apenas no ambiente interno, a postagem ganhou manchete mundo afora. O
jornal “New York Times” publicou: “O artigo que você
está prestes a ler pertence a um vídeo com conteúdo sexual, publicado pelo
presidente da quarta maior democracia do mundo”. Já o jornal “The Guardian”
para a América Latina, disse que “alguém precisava tirar o celular do
presidente2”.
Neste
lamentável e degradante episódio, Bolsonaro lembrou Jânio Quadros que à época tentou
regular o comportamento dos cidadãos durante o Carnaval sob o slogan: “Janio é
a certeza de um Brasil moralizado”. Oito meses depois Jânio renunciou. Será que
a história se repetirá? Tomara!
Depois
deste e de outros fatos patrocinados pela figura caricata do presidente
Bolsonaro, no quais ficam patentes o seu despreparo intelectual e emocional,
não tardou muito para que ele voltasse à cena política com a sua metralhadora municiada
de bobagens e bravatas. Em cerimônia no Corpo de Fuzileiros Navais no Rio de
Janeiro no dia 07/02/2019, dois dias depois do seu twitter escatológico, o
presidente Bolsonaro estuprou a Constituição com um curto e autoritário discurso
– como de costume - e disparou: “a democracia e a
liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem".
Esse discurso foi suficiente para que ministros do STF e até
veículos de comunicação que patrocinaram a ditadura militar, se rebelassem
contra essa frase que permeia o obscurantismo. Foi o caso, por exemplo, do
Editorial do jornal conservador “Estadão”. Eis um trecho do Editorial: ”...a
julgar pelo comportamento muitas vezes grosseiro e indecoroso de Bolsonaro, o
presidente provavelmente se considera acima do cargo que ocupa, dispensado dos
rituais e protocolos próprios de tão alta função...Sobre o discurso durante cerimônia
no Corpo de Fuzileiros Navais o Editorial acrescenta: Será necessário um grande
malabarismo retórico para não considerar esse discurso como explícita
manifestação de um pensamento irremediavelmente autoritário, de quem acredita
que a democracia é apenas um favor dos militares aos civis. Para o presidente
da República – é o que se conclui –, a democracia e a liberdade seriam
meramente circunstanciais, pois dependeriam não da força e da solidez das
instituições democráticas e da honestidade de convicção dos homens que ele
próprio chefia, e sim dos humores dos quartéis...Vai mal um país cujo
presidente claramente não entende qual é seu papel, especialmente quando não
consegue dominar os pensamentos que, talvez, lhe venham à mente..3”.
Já o Ministro do STF Marco Aurélio assim reagiu a essa
manifestação autoritária: “...A democracia é garantida pelo povo, pelo
funcionamento a contento das instituições. Isso é o que garante a democracia,
Forças Armadas existem para uma possibilidade extravagante numa situação de
agressão externa, como recurso derradeiro. Se nós dependermos para termos dias
democráticos da atuação das Forças Armadas, nós estaremos muito mal. O respaldo
maior está nas Forças Armadas para uma eventualidade4”
Diante de tudo isso é assombroso, lamentável, revoltante e
embaraçoso assistir que um governo com apenas sessenta e seis dias consiga denegrir com tamanha velocidade e intensidade a imagem do Brasil perante o seu povo e a comunidade internacional. Não menos constrangedor
é saber que o Brasil está sendo comandado por um presidente autoritário,
preconceituoso, misógino e completamente despreparado intelectual, moral, ética e
psicologicamente. Que Deus nos proteja!
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