quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

BOLSOGATE: "ISSO NÃO VEM AO CASO!"

Por: Odilon de Mattos Filho
Muitos brasileiros, ainda, não têm conhecimento do escândalo envolvendo um motorista e ex-assessor da família Bolsonaro chamado Fabrício José Carlos de Queiroz que movimentou em um ano mais R$ 1,2 milhão, fato que foi considerado suspeito e atípico pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

O caso denominado de “Bolsogate” guarda muita semelhança com o escândalo que cominou no impeachment do presidente Fernando Collor. Assim como no caso Collor, o Bolsogate tem como personagens um motorista e assesor (Fabrício Queiroz) e membros da família (Flávio Bolsonaro e a esposa Bolsonaro).

Para entendermos o escândalo envolvendo a família Bolsonaro se faz necessário, inicialmente, explicar, para aqueles que não conhecem, o que é o Coaf. Trata-se um órgão ligado ao Ministério da Fazenda cujo atribuição é "monitorar e receber informações dos bancos sobre transações suspeitas ou atípicas. Pela lei, os bancos devem informar qualquer transação que não siga o padrão ou rotina do cliente1”.


Pois, bem, o Coaf, segundo noticiado, foi informado que o assessor e motorista do senador eleito, Flávio Bolsonaro movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 e em 2016, o motorista Fabrício Queiroz fez 176 saques em dinheiro. O relatório do Coaf foi juntado pelo MPF à Operação Furna da Onça, que resultou na prisão de 10 deputados estaduais da Alerj em novembro de 2018.

As investigações apontam, ainda, que foi depositado na conta da futura primeira dama, Michelle Bolsonaro um cheque no valor de R$ 24 mil e que Fabrício Queiroz realizou transferências financeiras no valor de R$ 80 mil para a sua filha Nathalia Melo de Queiroz que até o mês passado era assessora lotada no gabinete do ex-deputado federal e agora presidente eleito, Jair Bolsonaro.

O curioso, também, é que a Operação da PF 
batizada de Furna da Onça e que teve como base, dados do Coaf foi deflagrada no dia 16 de outubro, porém, no dia 15 de outubro, exatamente, um dia antes, a assessora de Bolsonaro, Nathalia Melo  e o seu pai Fabrício Queiroz assessor do Fábio Bolsonaro, foram exonerados de seus cargos comissionados. Não pairam dúvidas de que tais exonerações um dia antes da operação da PF foram frutos de um vazamento com o objetivo de proteger os dois assessores e preservar a imagem e a campanha de Bolsonaro no segundo turno. Além disso tudo, vale destacar  que toda família de Queiroz está sumdida e ninguém sabe o paradeiro dos mesmos. 

Estourado o caso, começaram as explicações para tentar encerrá-lo ou ao menos minimizá-lo. O senador eleito Flávio Bolsonaro, por exemplo, disse em sua conta no Twitter, sempre as redes sociais, que “Fabrício Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança. Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta...Continuando ele disse: “Queiroz me relatou uma história bastante plausível e me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações. Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar os devidos esclarecimentos2".

Por sua vez, o presidente Jair Bolsonaro disse que a importância de R$ 24 mil reais depositada na conta de sua esposa é fruto de um empréstimo que ele fez ao amigo Fabrício Queiroz, aliás, segundo ele o valor foi de R$ 40 mil reais e que foi depositado na conta de sua esposa porque ele não tinha tempo de ir ao banco.

Porém, todos sabem que trata-se de um grande escândalo que precisa ser, totalmente, esclarecido, afinal, envolve o presidente eleito que se postava como paladino da moral, pronto para combater à corrupção.

Aliás, neste contexto, o insuspeito jornalista Reinaldo de Azevedo escreveu sobre o bolsogate; “É, por óbvio, sobra o questionamento se a prática não seria uma constante nos respectivos gabinetes dos quatro políticos: além de Jair e Flávio, também Eduardo e Carlos. Uma coisa e certa: a prática do motorista, amigo pessoal do presidente eleito, pode ser considerada tudo; corriqueira não é. Até porque a família inteira do ex-assessor, mulher e duas filhas, está enredada no caso3".

Outro dado que demonstra que esse caso do Bolsogate é muito nebuloso é o fato de Fabrício Queiroz que movimentou R$ 1,2 milhão residir numa casa simples localizada numa viela no bairro Taquara Zona Oeste do Rio de Janeiro. Isso nos força a pensar que que esse assessor/motorista pode ser um laranja dos Bolsonaros e que esse recurso pode ter abastecido parte do Caixa2 da campanha de Bolsonaro.


Realmente temos que tirar o chapéu para Fabrício Queiroz! O sujeito conseguiu um milagre que lhe pode garantir uma vaga no Ministério da Fazenda, inclusive, no lugar de Paulo Quedes, afinal, Queiroz conseguiu, em um ano, levantar recursos financeiros que levaria doze anos e isso sem gastar um tostão dos seus rendimentos como policial e motorista. É ou não é um “Ninja” da economia?

Mas, se toda essa nebulosa transação financeira não bastasse, outro fato deveria chamar atenção das autoridades que é o aumento exponencial do patrimônio de Bolsonaro. Segundo matéria assinada pelo jornalista Mauro Lopes “até 2008, a família declarava à Justiça Eleitoral bens em torno de R$ 1 milhão; este ano, declarou R$ 6,1 milhões. Mas há indícios graves de lavagem de dinheiro e de uso da estratégia de subavaliação patrimonial. Segundo valores de mercado, os bens dos Bolsonaro já alcançam mais de R$ 15 milhões4”.

Não temos dúvidas, como se diz aqui na provincia das minas gerais, que neste angu tem caroço e, portanto, cabe à família Bosonaro e as autoridades respoderem as seguintes perguntas: como um motorista/assessor com rendimentos de pouco mais de R$ 21 mil por mês pode movimentar R$ 1,2 milhão em um só ano? Será que uma pessoa que tem esse movimento financeiro em sua conta precisa de R$ 24 mil emprestados? Se houve este empréstimo por parte do Bolsonaro, quando e como o mesmo foi realizado? Por que não foi declarada no IR esta suposta dívida? Será que essa importância de R$ 1,2 milhão foi levantada para alimentar o Caixa2 da campanha de Bolsonaro? Por que um homem que movimenta tanta grana reside em um beco num bairro simples do Rio de Janeiro? Por que toda família de Fabrício Queiroz trabalhava para os Bolsonaros em seus gabinetes nos legislativos municipal, estadual e federal? Será que o sumiço de Fabrício Queiroz e de sua família não foi proposital e que isso pode prejudicar as investigações ou até mesmo caracterizar obstrução dos trabalhos da Justiça? Por que em outros casos menos sombrios, os "judiciosos" Procuradores e/ou Delegados da PF requereram prisões cautelares e neste caso há um silêncio sepulcral das autoridades? Como o patrimônio de Bolsonaro saltou de R$ 1,0 milhão para R$ 15,0 milhões em dez anos?

E por fim, a última pergunta que foge ao texto, mas, tem conexão com toda trama que envolve a campanha de Jair Bolsonaro. Bolsonaro fugiu dos debates com a desculpa médica de que estava impossibilitado fisicamente. Por que, então, depois de 35 dias das eleições, Bolsonaro foi a São Paulo e comemorou o campeonato Brasileiro do Palmeiras e ergueu um troféu de 25 kg, colocou uma criança nos ombros e levantou o treinador Felipão que deve ter mais de 100 kg? Será que para essas estripulias ele estava apto, fisico e emocionalmente, mas, para um simples debate de ideias (se é que ele tem) com seu adversário estava mesmo impossibilitado?

Realmente tudo isso fede uma grande tramoia que se constitui como um dos maiores escândalos envolvendo o futuro presidente da república e sua família. Porém, no frigir dos ovos, é sabido que essas e outras perguntas nunca serão respondidas e o Bolsogate, simplesmente, será enterrado e na sua lápide será gravado o famoso epitáfio de Sérgio Moro: “Isso não vem ao caso!”




1Fonte:https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2018/12/08/entenda-as-transacoes-atipicas-de-um-ex-motorista-da-familia-bolsonaro.htm 
2Fonte:https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2018/12/08/entenda-as-transacoes-atipicas-de-um-ex-motorista-da-familia-bolsonaro.htm
3Fonte:http://www3.redetv.uol.com.br/blog/reinaldo/cubanos-de-bolsonaro-3-e-claro-que-a-suspeita-e-a-de-que-familia-fica-com-parte-do-salario-dos-seus-funcionarios/



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