quarta-feira, 21 de março de 2018

QUEREM MATAR, TAMBÉM, A HISTÓRIA DE MARIELLE!


Por: Odilon de Mattos Filho:
O dia 14 de março de 2018, certamente, é uma data que já entrou para a triste história do Brasil com os bárbaros assassinatos políticos da Vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ) e do motorista que conduzia o carro, Andersom Pedro Gomes na cidade do Rio de Janeiro, dita “protegida” pela intervenção militar determinada pelo golpista Michel Temer. As execuções foram cometidas logo que os criminosos pariaram o carro com o veículo das vítimas. Foram disparados treze tiros tiros com uma pistola 9mm, quatro acertaram a cabeça da vereadora Marielle.  

Logo após o assassinato de Marielle este articulista resolveu que naquele momento não escreveria nada sobre o assunto, pois, estava sob forte emoção e não conseguiria escrever um texto racional, ademais, seria mais prudente aguardar os desdobramentos do caso.

Passados sete dias do assassinato da vereadora Marielle nossa emoção, ainda é grande, mas agora, tomada de muita raiva e indignação com os inúmeros comentários de cunho fascistas e preconceituosos nas redes sociais.

A vereadora Marielle foi mais uma daquelas brasileiras negra, pobre e favelada que não acomodou com a sua condição social e saiu para a luta procurando o seu escasso espaço nesse país machista, racista e elitista. Marielle com 16 anos de idade começou o seu ativismo político na Pastoral da Juventude como catequista na comunidade do Complexo da Maré onde morava. Com 18 anos de idade Marielle se engravidou e teve uma filha de nome Luyara, hoje estudante de Educação Física pela UERJ.

Com o nascimento da filha, a ativista e vereadora Marille largou os estudos para trabalhar e educar a sua filha. Mais tarde, porém, retornou aos estudos e conseguiu passar no vestibular da PUC/RJ para cursar, com bolsa integral, o curso de Ciências Sociais e depois se tornou mestre em Administração Pública pela UFF com a dissertação sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

Foi nesse período que começou mais fundo o seu engajamento político na defesa dos direitos humanos e foi, também, nessa época que conheceu o deputado Marcelo Fleixo do PSOL e se tornou uma de suas assessoras na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro onde acompanhava, por exemplo, os casos de violações de direitos humanos, como as praticadas por milicianos e policiais.

Depois desse período conseguiu vencer a última eleição municipal do Rio de Janeiro se tornando Vereadora pelo PSOL com a expressiva votação de quase 47 mil votos. Como vereadora ficou marcada pelo enfrentamento ao racismo e às desigualdades de gênero. Marielle apresentou 116 proposições e 16 projetos de lei, dentre eles o que garantia acesso ao aborto nos casos previstos em lei e o que abria as creches no período noturno para pais que trabalham à noite. Era presidente da Comissão de Defesa da Mulher.

Logo após a morte da combatente Marielle, começaram a pipocar nas redes sociais os “fake News” no intuito de denigrir a imagem e a história dessa mulher engajada na luta pelos direitos humanos e na defesa do povo pobre e excluído do Rio de Janeiro. O mais assustador dessa macabra história das falsas notícias é o fato dessas postagens terem o envolvimento de pessoas com altos cargos públicos.

O Deputado Federal Alberto Fraga ( DEM/DF), por exemplo, três dias após o assassinato de Marielle publicou em sua página do Twitter a seguinte e ignóbil mensagem: “conheçam o novo mito da esquerda, Marielle Franco. Engravidou aos 16 anos, ex esposa de Marcinho VP, usuária de maconha, defensora da facção rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente 6 funcionários, mas quem a matou foi a PM1

Após essa maldosa, fascista e falsa mensagem a mesma foi replicada nas redes sociais por milhares de pessoas do mesmo nível inescrupuloso do deputado Alberto Fraga. E uma dessas pessoas foi nada mais, nada menos, que a desembargadora do TJ/RJ, Marilia Castro Neves que escreveu em suas páginas das redes sociais a seguinte e falsa mensagem: “A questão é que a tal Marielle não era apenas uma lutadora; ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu compromissos assumidos com seus apoiadores...Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro2”,

A propósito, os comentários preconceituosos e maldosos dessa magistrada, parecem fazer parte de sua conduta diária. Foi noticiado no portal UOl que a “nobre” magistrada, uma vez mais, destilou o seu veneno criminoso, desta feita foi contra a primeira professora com síndrome de Dawn do Brasil, Débora Seabra. Disse a desembargadora: "Voltando para casa ouço que o Brasil é o primeiro em alguma coisa. Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de Síndrome de Down. Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social... Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?3" . 


Outro fato que nos chama atenção é a cobertura da Rede Globo. Todos sabem que a vereadora Marielle tinha lado, o lado oposto do que Rede Globo defende. Mas mesmo assim, a Globo tenta se apropriar do cadáver de Marielle para despolitizar o seu assassinato.  A Globo tenta de todas as formas, como bem afirma Paulo Henrique Amorim embranquecer a negra Marielle.  Na coluna de Zuenir Ventura, por exemplo, ele escreve:  “...Todas as afirmações contra Marielle eram falsas, a começar pela origem do apoio recebido nas urnas. A maioria de seus eleitores estavam nos chamados bairros nobres...”4. Ao afirmar que os votos que Marielle recebera foram de eleitores da zona sul, Zuenir Ventura tenta matar a origem pobre, negra e favelada da vereadora, isso é tão absurdo quanto os “fake news” postados nas redes sociais sobre a Marielle!

Vale registrar que a Marielle Franco, diferentemente, do que pensam, se é que pensam, aqueles trogloditas sem noção que gritam contra os direitos humanos, que a Vereadora no seu árduo e dedicado trabalho sempre esteve atenta e sempre prestou assistência aos familiares de policiais assassinados no Rio de Janeiro. Aliás, o comandante da PMRJ, Coronel Ibis Pereira, afirma que Marielle “fazia um trabalho de acolhimento das famílias de violência policial e dos próprios policiais atingidos pela violência...Uma das nossas tragédias é ignorar a centralidade dos direitos humanos para a segurança pública no Brasil”...Aproximar a polícia dos direitos humanos é fundamental para humanizá-la. E ela conseguiu isso com grande sensibilidade e intelectualidade5”.

Por fim e para demonstrar a repercussão internacional deste crime, registramos a manifestação da ONU. Diz a Nota: “As Nações Unidas no Brasil manifestam consternação com o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL),..Ela foi uma das principais vozes em defesa dos direitos humanos na cidade. Desenvolvia plataforma política relacionada ao enfrentamento do racismo e das desigualdades de gênero e pela eliminação da violência, sobretudo nas periferias e favelas do Rio...6

Frente a tudo isso, fica claro que estes dois, dentre milhares de exemplos de manifestações raivosas, intolerantes e preconceituosas que tomou conta do país, são frutos do modus operandi da Força Tarefa da Operação Lava-jato, que além de destruir o país, conseguiu encorajar os fascistas tupiniquins, incluídos aqui autoridades, a saírem de seus armários mofados pelo ódio de classe, a intolerância e preconceito.

Esperamos que os poderes constituídos tomem medidas enérgicas e exemplares para punir o deputado Alberto Fraga e a desembargadora Marilia Castro Neves, dois elementos que pouco se diferem dos bandidos que assassinaram a vereadora Marielle Franco.

Não podemos e não devemos aceitar que depois de tirarem a vida de Marielle com um bárbaro assassinato, queiram, também, matar a sua memória e a sua história de luta em defesa dos direitos humanos das minorias e do povo pobre e excluído do Rio de Janeiro. Marielle não pode continuar a ser assassinada!

















1-Fonte:https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/apos-divulgar-fake-news-sobre-marielle-deputado-alberto-fraga-suspende-redes-sociais.ghtml
2- Fonte: https://veja.abril.com.br/brasil/desembargadora-diz-que-marielle-estava-engajada-com-bandidos/
3-Fonte:https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2018/03/20/professora-com-sindrome-de-down-e-ofendida-por-desembargadora-e-da-a-melhor-resposta.htm
4-Fonte:https://www.youtube.com/watch?time_continue=305&v=n7pE7ZmUQF0
5-Fonte: https://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/marielle-ofereceu-ajuda-a-dezenas-de-familias-de-policiais-no-rj-20032018
6-Fonte:https://nacoesunidas.org/sistema-onu-brasil-divulga-nota-sobre-assassinato-da-vereadora-marielle-franco/

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