quarta-feira, 16 de agosto de 2017

OS REFLEXOS DE JUNHO DE 2013

A liberdade de manifestação é uma garantia constitucional para todo cidadão, aliás, é cláusula pétrea da Magna Carta de 1988.

Neste contexto acompanhamos em junho de 2013, a maior manifestação do povo brasileiro, depois da campanha pelas Diretas Já. Esse ato teve como pauta o impeachment da presidenta Dilma, o apoio à Operação Lava-jato e os protestos contra a corrupção.

Não obstante sabermos que essa manifestação contou com a manipulação da “mídia nativa” e das redes sociais, por meio de robôs bancados pelo empresariado nacional, por banqueiros e por Partidos do campo conservador, há que se reconhecer que a direita soube trabalhar e organizar, com sucesso, os protestos de 2013. Não é por menos que estão conseguindo seus objetivos!

Aliás, nesse sentido José Dirceu aponta: “...não podemos e não devemos subestimar a direita ou desconhecer as mudanças no seu modo de agir e atuar...[Um exemplo] é o ódio que os movem para nos derrotar e nos destruir como força política e social, como partido e consciência política, memória histórica e, principalmente, como legado e conquista de direitos sociais e políticos pelo povo trabalhador e o resgate da dignidade e soberania nacional..1

No entanto, o que nos chama atenção nessa denominada “festa democrática” é o paradoxo que se estabeleceu. A literatura nos mostra que qualquer ato democrático tem como objetivo colher resultados positivos, esse ato, porém, culminou em um retrocesso, político, social, econômico e judicial só visto nos meses que antecederam golpe militar de sessenta e quatro.

Hoje sabemos que essas manifestações foram o estopim para o golpe contra o povo brasileiro e contra a incipiente democracia do país.

No campo midiático, político, social, econômico e judicial, tivemos vários episódios que, certamente, entrarão para a história do país como o pior momento da República Federativa do Brasil.

Não há como negar que a “imprensa familiar” foi, junto com as redes sociais, os principais artífices do movimento de ódio, preconceito e intolerância que se espalhou Brasil afora e que resultou no fortalecimento da direita reacionária e o despertar dos fascistas tupiniquins comandados pelo nefasto pensamento do ignóbil Deputado Jair Bolssonaro.

Aliás, neste sentido Conceição Oliveira preleciona:”...A disseminação do ódio não restringe à personalidades públicas [militante e políticos de esquerda]. Ele é recorrente aos grupos sociais que historicamente sempre ocuparam o lugar de submissão social, daí o ódio aos estudantes cotistas negros que passaram a enegrecer as tradicionalmente arianas universidades brasileiras, e o ódio aos programas como Prouni e Fies, bem como aos programas de renda mínima que combatem a desigualdade histórica..2

No campo político e aproveitando-se da onda de ódio e intolerância que assolou o país, os parlamentares deram o primeiro golpe: o impeachment da presidenta Dilma, uma manobra rasteira que resultou em um falso processo para retirar do Poder uma mandatária sabidamente proba e comprovadamente honesta.

Após esse golpe, assume o Planalto Central o vice Michel Temer o presidente mais rejeitado da história do Brasil e o primeiro presidente no poder a se tornar réu em processos penais. E é com esse presidente ilegítimo que começa o golpe contra o povo e as manobras para proteger os golpistas que o colocaram no Poder.

Neste contexto, presenciamos incrédulos, as tentativas dos golpistas de se livrarem das investigações contra suas pessoas em inúmeros casos de corrupção.

Já o golpe contra a classe trabalhadora veio com as reformas trabalhista e previdenciária. Agora assistimos a nefasta reforma política com as tentativas de se implantar no país o parlamentarismo e o voto distrital. O primeiro, tira do povo o direito de escolher o presidente da república, e o voto distrital tem como meta eleger os mais ricos ou aqueles com maior influência junto ao poder financeiro do país. É uma clara tentativa de implantar no Brasil um governo da plutocracia e da cleptocracia.

No campo social/conômico, vivenciamos o maior desemprego das últimas décadas e o fim das políticas sociais. Ainda na área econômica, mais retrocessos: política fiscal suicida, estagnação da economia com reflexos perversos na indústria e no comércio e claros projetos de lesa pátria, como a entrega do Pré-sal às empresas internacionais, a autorização para que estrangeiros adquirem terras no Brasil, privatizações a toca de caixa e uma política econômica que está levando o país para o fundo do poço.

No campo jurídico, assistimos a conivência e a complacência do Poder Judiciário/MPF com o Estado de Exceção implantado no Brasil. A Operação Lava-jato é emblemática para essa afirmação, pois, estamos vivenciando reiteradas violações aos direitos e garantias fundamentais e o flagrante descumprimento de leis infraconstitucionais. Essa conduta, além de nefasta para a Justiça contamina a sociedade levando-a para uma completa despolitização. Mas não obstante esses aspectos, essa operação que deveria ser um divisor de águas no combate à corrupção, foi transformada em instrumento político, partidário e ideológico contra as forças progressistas, em especial, contra o presidente mais popular da história do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. A persecução penal, a condenação de Lula e a “inimputabilidade” de tucanos são as fezes que faltavam na vala de esgoto do Poder Judiciário.

Mas não obstante, todos esses nefastos efeitos das manifestações de junho de 2013, o que mais chama atenção é o poder anestésico que se abateu sobre o povo brasileiro, os movimentos sociais e a esquerda do país que não conseguem se articular para um contragolpe.

A propósito, o Deputado constituinte de 1988 Aldo Arantes sustenta que “sem o povo nas ruas ficará difícil reconstruir a hegemonia política com a criação de bases sociais amplas e sólidas que permitam conter a onda da direita e avançar na reconquista da democracia e dos direitos do povo, criando condições para as reformas estruturais do estado brasileiro...3”  
   
E realmente, se não sairmos desse estado letárgico o mais rápido possível não temos dúvidas de que o golpe se completará em 2018 e veremos, como consequências, retrocessos muito mais profundos e comprometedores para a sociedade brasileira. Trabalhadores, uni-vos, o firmamento é do condor e a rua é do povo ...!





1 Fonte: https://www.conversaafiada.com.br/brasil/dirceu-responde-a-o-que-fazer
2 Fonte: Golpe16 – Texto de Conceição Oliveira – pag. 45
3 Fonte: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/aldoarantes/311694/Por-que-o-povo-n%C3%A3o-est%C3%A1-nas-ruas.htm

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