sábado, 12 de fevereiro de 2011

AS "PODRES" LARANJAS DA CUTRALE


“Dividir o chimarrão é uma lição de como se deve dividir tudo na vida. A terra, o pão. Não sou padre só para rezar. Sou padre para me engajar na luta por justiça. E a coisa mais importante a ser feita pela Justiça no Brasil é a reforma agrária."
(Padre Círio Vandresen) .

O tema que vamos analisar pode parecer extemporâneo, mas dada a deliberada omissão da grande mídia sobre o desfecho deste fato, achamos por bem retornar ao assunto.

O Povo brasileiro, no mês de outubro de 2009, foi surpreendido pelas manchetes dos jornais e telejornais noticiando e mostrando as imagens da depredação dos laranjais da empresa “Sucocitrico Cutrale Ltda, pelo Movimento dos Sem Terra/MST.

A empresa Cutrale “é uma das mais ricas e poderosas do mundo, detendo 30% do mercado global de suco de laranja, quase a mesma participação da OPEP no negócio de petróleo”.

Durante a cobertura da ação do MST na Cutrale, a mídia, como de costume, se esquivou de noticiar fatos que envolvem, negativamente, a citada Empresa. A imprensa não informou, por exemplo, que a propriedade de 5,0 mil hectares onde aconteceu o evento é objeto de uma ação judicial proposta pelo INCRA, que questiona a sua legalidade por suspeita de ter sido adquirida por grilagem.

Os meios de comunicação “esqueceram” também de dizer, que a Cutrale e outras empresas foram investigadas pela Polícia Federal na “Operação Fanta”, e são acusadas de formação de cartel. Segundo “uma autoridade da Receita Federal a estratégica para elevar a lucratividade do grupo [Cutrale] passa por contabilizar parte dos resultados por intermédio de uma empresa sediada no paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Com isso a Empresa conseguiria pagar menos impostos no Brasil. Outro fato omitido pela mídia é que a Cutrale monopolizou o mercado de laranja e fez com que milhares de pequenos e médios agricultores abandonassem, de 1999 a 2006, cerca de 280 mil hectares de pés de laranja em São Paulo”.

Outro caso que a maioria da imprensa escondeu da opinião pública e que foi publicado pela “Veja” em 2003, mas omitido pela revista durante a cobertura da destruição dos laranjais é com relação à agressividade gerencial da Cutrale. Segundo a revista “Veja”, “os plantadores de laranja no Brasil têm poucas opções para escoar a produção. Há apenas cinco grandes compradores da fruta, e a Cutrale é o maior deles. Por essa razão, acabam mantendo com o rei da laranja uma relação que mistura temor e dependência. Por um lado, eles precisam que ele compre a produção. Por outro, assustam-se com alguns métodos adotados pela Cutrale para convencê-los a negociar as laranjas por um preço mais baixo.” •.

Portanto, e pelo exposto, entendemos que a mídia não deveria demonizar apenas o MST, pois isso não nos afigura como coerente, justo e parcial frente a estas escandalosas notícias envolvendo a referida empresa.

Mas independentemente destes escândalos que cercam a “Cutrale”, as lideranças do MST reconheceram, em Nota Oficial, não divulgada pela imprensa, que foi uma cincada a ação dos “Sem Terras”, afirmando que “a destruição dos pés de laranja foi um erro. Deu margem para que o serviço de inteligência da PM de São Paulo, articulado com a TV Globo, desmoralizasse o MST. Para eles, o equívoco decorreu do desespero das famílias de sem-terra acampadas na região, que vivem em condições desumanas e sem qualquer infra-estrutura”.

Por outro lado, o MST afirma que “depois da saída das famílias da Fazenda, e antes da entrada da imprensa, o ambiente foi preparado para produzir imagens que impactaram a população”, afirmando também, “que as depredações das casas dos trabalhadores e tratores agrícolas não foram cometidas pelo Movimento, tanto, que estamos propondo a criação de uma Comissão independente que investigue a verdade”, disse João Pedro Stédile.

Frente a este e a outros fatos, não temos dúvidas de que há uma grande pressão midiática e de setores reacionários da sociedade em criminalizar os movimentos populares, em especial o MST, e defender o agro-negócio e o latifúndio em detrimento ao Processo de Reforma Agrária e à Agricultura Familiar, tanto, que a “mídia nativa”, com exceção da “TV Record” não noticiou que no dia 11 de janeiro de 2011, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo “declarou a inépcia da denúncia e determinou a revogação das prisões e a anulação do Processo contra os integrantes do MST acusados de invadirem a Fazenda “Cutrale”.

Diante de tudo isso, e sabedores que somos que a causa deste e de outros fatos é a vergonhosa concentração de terra no Brasil, fazemos nossas as sábias e precisas palavras do Poeta do Araguaia, Dom Pedro Casaldálica: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois e fazer a Terra, escrava e escravos os humanos!”

0 comentários:

Postar um comentário