quinta-feira, 13 de outubro de 2016

SERÁ O FIM DA DEMOCRACIA E A ASCENÇÃO DO FASCISMO NO MUNDO?

Artigo do maior cronista do Brasil, Fernando Verissimo publicado no Jornal "O Globo". Ainda não li nenhuma análise tão concisa e brilhante como essa!   
Ninguém ganhou
O maior vencedor nas recentes eleições municipais, maior até do que o Suplicy, foi — como disse o Tarso Genro — ninguém. A soma dos votos nulos e brancos, portanto para ninguém, foi maior do que o total de votos válidos, e a tal mensagem das urnas foi a de desprezo pela classe política. Algumas evidências afloraram em meio ao desencanto geral. O PT pagou pelos seus pecados e perdeu força em todo o país. Ganharam força os evangélicos e os bolsonaros. Mas nada significou tanto quanto a votação do ninguém. Que não deve ser festejada: o que há no ar é mais do que uma revolta, é uma clara desesperança com o processo eleitoral e fastio com a democracia. Desmoralizada a política, nos sobra o quê? O silêncio das urnas foi um grito de alerta.

Trump x Hillary foi uma luta de um interminável round. Comentaristas americanos discutem quem foi melhor no counterpunch, em linguagem do boxe o contragolpe a um golpe recebido. No quesito, ganhou o Trump, que mais de uma vez atingiu Hillary com um comentário por baixo da sua guarda, mas o consenso geral é que Hillary ganhou por pontos.

Na Europa, fala-se no fim da austeridade, que sacrificou muita gente em nome da responsabilidade fiscal, um outro nome para irresponsabilidade social, durante anos. Saiu uma matéria a respeito num recente “New York Times”. Tem gente achando que chegou a hora de relaxar e investir em remédios para o desemprego e a pobreza, em vez de seguir a receita do capital financeiro, que não funcionou. Quer dizer, na Europa está acabando o que no Brasil de Temer está começando.

O fim da austeridade não resolve o grande problema do que fazer com os imigrantes que invadem a Europa, fugindo da guerra e da fome. Uma reação à invasão tem sido o crescimento de partidos de direita e de candidatos que, como Trump nos Estados Unidos, pregam o fechamento de fronteiras e a discriminação de imigrantes, principalmente muçulmanos. Trump pode vencer as eleições americanas, partidos de direita podem tomar o poder em muitos países da Europa e no Brasil não se sabe o que fará o ninguém quando vencer o seu silêncio ominoso.



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