terça-feira, 27 de agosto de 2013

"MÉDICOS COM FRONTEIRAS"

"O "Mais Médicos"’ tem fôlego para se transformar no ‘Bolsa Família’ da saúde pública brasileira". Saul Leblon

O primeiro curso de medicina do Brasil foi a “Escola de Cirurgia da Bahia” criada em 1808, pelo príncipe regente Dom João VI. Hoje, segundo o MEC, estão cadastrados 188 cursos de medicina, sendo 39% de instituições públicas e 61% de escolas privadas.

Somos sabedores de que no Brasil a medicina é a galinha dos ovos de ouro dos cursos superiores, isso devido ao status, ao bom salário e a rapidez com que o médico consegue seu emprego. No entanto, mesmo com todo esse glamour o país carece desses profissionais.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, no Brasil há 17,6 médicos para cada 10 mil pessoas. Esse baixo índice é ainda associado a uma grande disparidade regional. Enquanto nas regiões norte e nordeste do país há apenas 10 médicos para cada 10 mil habitantes, na região sudeste o índice chega a 26 médicos para cada 10 mil pessoas. Já nos países ricos essa média é de 33,3 médicos para cada 10 mil habitantes.

Verdadeiramente estamos diante de uma grande distorção que merece ser sanada ou ao menos amenizada. E foi exatamente isso que o governo federal fez com a criação do Programa “Mais Médicos”, que visa a contratação de médicos estrangeiros para trabalharem nas regiões mais carentes do país, até que o Brasil consiga suprir essa lacuna.

Mas curiosamente, assim que foi lançado esse Programa, de imediato, houve uma barulhenta reação do Conselho Federal de Medicina, das entidades de classe e da oposição raivosa. Os argumentos são variados: sustentam que o Projeto é inconstitucional e que não passa de uma manobra político-eleitoral. Aduzem ainda, que os diplomas dos médicos estrangeiros deveriam ser revalidados e que os contratos com os médicos cubanos beiram ao regime de escravidão, além do que, questionam a capacidade desses profissionais.

Quanto a esses argumentos nos afiguram sem razão, se não vejamos: o governo optou pela não revalidação dos diplomas dos médicos estrangeiros, exatamente, para proteger os médicos brasileiros, pois, revalidados esses diplomas os profissionais estrangeiros teriam o direito de trabalhar em qualquer lugar do país, competindo com os nossos médicos, por essa razão, e após serem submetidos a uma avaliação, terão apenas um registro provisório, lembrando ainda, que esses médicos estarão subordinados aos CRMs.

Em relação aos questionamentos sobre o Acordo do Brasil com Cuba para a contratação dos médicos é mais uma grande falácia. Essa parceria foi referendada pela Organização Pan-Americana da Saúde, que aliás, já chancelou esse tipo de Acordo com mais de 58 países, portanto, é impossível imaginar que uma organização que faz parte da OEA e da ONU apoiaria um "Contrato de Trabalho Escravo", como alegam o "Doutor CFM" e a oposição lacerdista. Isso não passa de uma picuinha ideológica.

Aliás, comentando essa absurda reação da classe médica, o brilhante jornalista Paulo Moreira Leite, escreveu: "....o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos...Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro...".

Por seu turno, Fernando Brito preleciona: "...os senhores [referindo-se aos médicos chorões] não gritaram, não xingaram nem ameaçaram com polícia aos Roger Abdelmassih, o estuprador, nem contra o infeliz que extorquiu R$ 1.200 para fazer o parto de uma adolescente pobre, nem contra os doutores dos dedos de silicone, nem contra os espertalhões da maternidade paulista cuja única atividade era bater o ponto. Eles não os ameaçaram, ameaçaram apenas aos pobres do Brasil...O que os médicos de Cubanos ameaça é colocar o egoismo, o consumismo, o mercantilismo reduzidos aos eu tamanho, a algo que não é e nem pode ser o tamanho da civilização humana..Aliás, é isso que Cuba, há 55 anos, representa..”.

Realmente nos causa estranheza a reação da classe médica, especialmente, quando observamos os dados que mostram, de forma inequívoca, que os médicos “coxinhas” não querem trabalhar em áreas pobres do país, que, aliás, é um direito que lhes assiste, mas opor-se a esse Programa e se prestar a ir aos aeroportos vaiar seus colegas estrangeiros é outra história, é uma postura aética, vergonhosa, desumano e beira a um xenofobismo estreito e inaceitável.

Por fim, parabenizamos ao governo federal pela importante iniciativa, quanto as reações contrárias, fica claro que não passam de uma anacrônica questão ideológica e de uma tentativa desesperada do “egrégio”Conselho Federal de Medicina de impor o seu próprio programa: “Médicos com Fronteiras”. É lamentável...!


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