Que a retórica de Demóstenes tenha força e se cumpra. Odilon de Mattos Filho
Nessas últimas semanas, graças às investigações da
Polícia Federal (PF) com a Operação “Monte Carlo”, o brasileiro tomou conhecimento de um
dos maiores escândalos da política brasileira, envolvendo o “empresário” Carlos
Augusto Ramos, mais conhecido como “Carlinhos Cachoeira”, e sua quadrilha
formada por políticos, empresários, arapongas e parte da imprensa brasileira.
Dentre os investigados pela PF destacamos o
ex-paladino da moralidade, Demóstenes Torres, Senador do DEM/GO, e um dos nomes
mais cotados para ser o vice-Presidente na chapa de Aécio Neves em 2014. Aliás,
foi o próprio “playboy mineiro”, que discursando defendeu e enalteceu a figura
do Senador Demóstenes. Disse Aécio: “...para nós que o conhecemos e o conhecemos em
profundidade talvez soasse desnecessária sua presença hoje na tribuna do Senado
Federal para tratar dessa questão[Carlinhos Cachoeira]...A serenidade que V.
Exª demonstra, acompanhada da clareza de seu pronunciamento e da firmeza com que
se coloca perante seus Pares só confirmam o caráter de V. Exª. Um homem digno,
que sempre agiu dessa forma em todos os cargos públicos que ocupou. E digo
mais, é um dos mais preparados e destemidos homens públicos deste País e, por
isso mesmo, dos mais respeitados....Com respeito e enorme admiração”.
Não temos dúvidas de que essa Operação da PF
alimentada agora pela bombástica entrevista do ex-Prefeito de Anápolis, Ernani
de Paula, e de outros fatos que estão surgindo, serão nitroglicerina na CPI que
se avizinha. E se tudo vier à tona, certamente, parte da recente história da política
brasileira mudará, e o desfecho será trágico para essa acuada oposição e para a
desacreditada imprensa brasileira.
Uma
das denúncias do ex-prefeito de Anápolis revela que foi “Carlinhos Cachoeira”
que preparou as gravações dos casos do Diretor dos Correios, Mauricio Marinho e
de Waldomiro Diniz. Com relação a esse último, a fita foi gravada em 2002, quando
Waldomiro era dirigente do Governo do Rio de Janeiro, porém, somente em 2004,
depois que Waldomiro foi assessor de José Dirceu, que a gravação foi divulgada
como se fosse atual. Essa jogada culminou na queda de José Dirceu e deflagrou o
factoide denominado “mensalão”. De acordo com o ex-prefeito, essas gravações
foram realizadas para que Demóstenes Torres se vingasse de José Dirceu, que
teria vetado o seu nome para a Secretaria Nacional de Justiça, o que se daria
com a sua saída do PFL para PMDB.
Somada a essa entrevista do ex-prefeito, e
robustecendo ainda mais as acusações da participação da revista “Veja” nesse mar
de lama, o judicioso jornalista, Luis Nassif postou em seu em seu blog que as gravações
feitas pela Operação Monte Carlo “mostram sinais incontestes de associação
criminosa da revista [Veja] com o “Cachoeira”. Seriam mais de 200 telefonemas
trocados entre Cachoeira e o diretor da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior,
nos quais o jornalista informa sobre as matérias publicadas e recebe
informações e elogios. Segundo Nassif, “há indícios de que Cachoeira foi sócio
da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos”.
Diante
de tudo isso, fica nítido que essa operação da PF, além de seus fins
específicos, desnuda parte das inúmeras facetas da nossa política. Uma delas é
a existência de uma verdadeira fábrica de produzir factoides, corrupção e
escândalos; outra é o lamentável fato da “mídia nativa” ser o principal
distribuidor desses produtos. E finalmente, o lado positivo, é a importância de
se ter uma Polícia Federal autônoma, independente, republicana, e prontamente
preparada para combater esse e outros crimes.
Assim,
e frente a esse escabroso escândalo, vale finalizar esse texto com as precisas
palavras do próprio Senador Demóstenes
Torres, que da Tribuna do Senado, costumeiramente, bradava alto e bom som:
“...Temos problemas não só de vícios. Temos a prática de delitos aqui dentro. Se há crimes contra a Administração Pública, tem de ir para a cadeia
quem os cometeu...Para que existe o Congresso Nacional? Somos um bando de fouchés, figuras menores; figuras que vêm aqui com
o único objetivo do enriquecimento pessoal e não para defender os interesses da
sociedade; Cada qual pague pelo seu erro, cada qual pague pelo crime cometido,
cada qual pague pela improbidade...A resposta não pode ser arquivamento
sumário, esquecimento, desmoralização. Repito: basta! Basta! O Brasil não
merece esse espetáculo. Basta!”.
Ante
esse cinismo do Senador, só nos resta recordar o Poeta, Gregório de Matos: “Neste mundo é mais rico o que mais rapa; quem mais limpo se faz, tem mais carepa; com
sua língua ao nobre o vil decepa; o velhaco maior sempre tem capa.”
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