terça-feira, 10 de abril de 2012

CAÍRAM AS MÁSCARAS DOS PALADINOS DA MORALIDADE



Que a retórica de Demóstenes tenha força e se cumpra. Odilon de Mattos Filho


Nessas últimas semanas, graças às investigações da Polícia Federal (PF) com a Operação “Monte Carlo”, o brasileiro tomou conhecimento de um dos maiores escândalos da política brasileira, envolvendo o “empresário” Carlos Augusto Ramos, mais conhecido como “Carlinhos Cachoeira”, e sua quadrilha formada por políticos, empresários, arapongas e parte da imprensa brasileira.

Dentre os investigados pela PF destacamos o ex-paladino da moralidade, Demóstenes Torres, Senador do DEM/GO, e um dos nomes mais cotados para ser o vice-Presidente na chapa de Aécio Neves em 2014. Aliás, foi o próprio “playboy mineiro”, que discursando defendeu e enalteceu a figura do Senador Demóstenes. Disse Aécio: “...para nós que o conhecemos e o conhecemos em profundidade talvez soasse desnecessária sua presença hoje na tribuna do Senado Federal para tratar dessa questão[Carlinhos Cachoeira]...A serenidade que V. Exª demonstra, acompanhada da clareza de seu pronunciamento e da firmeza com que se coloca perante seus Pares só confirmam o caráter de V. Exª. Um homem digno, que sempre agiu dessa forma em todos os cargos públicos que ocupou. E digo mais, é um dos mais preparados e destemidos homens públicos deste País e, por isso mesmo, dos mais respeitados....Com respeito e enorme admiração”.

Não temos dúvidas de que essa Operação da PF alimentada agora pela bombástica entrevista do ex-Prefeito de Anápolis, Ernani de Paula, e de outros fatos que estão surgindo, serão nitroglicerina na CPI que se avizinha. E se tudo vier à tona, certamente, parte da recente história da política brasileira mudará, e o desfecho será trágico para essa acuada oposição e para a desacreditada imprensa brasileira.

Uma das denúncias do ex-prefeito de Anápolis revela que foi “Carlinhos Cachoeira” que preparou as gravações dos casos do Diretor dos Correios, Mauricio Marinho e de Waldomiro Diniz. Com relação a esse último, a fita foi gravada em 2002, quando Waldomiro era dirigente do Governo do Rio de Janeiro, porém, somente em 2004, depois que Waldomiro foi assessor de José Dirceu, que a gravação foi divulgada como se fosse atual. Essa jogada culminou na queda de José Dirceu e deflagrou o factoide denominado “mensalão”. De acordo com o ex-prefeito, essas gravações foram realizadas para que Demóstenes Torres se vingasse de José Dirceu, que teria vetado o seu nome para a Secretaria Nacional de Justiça, o que se daria com a sua saída do PFL para PMDB.

Somada a essa entrevista do ex-prefeito, e robustecendo ainda mais as acusações da participação da revista “Veja” nesse mar de lama, o judicioso jornalista, Luis Nassif postou em seu em seu blog que as gravações feitas pela Operação Monte Carlo “mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista [Veja] com o “Cachoeira”. Seriam mais de 200 telefonemas trocados entre Cachoeira e o diretor da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, nos quais o jornalista informa sobre as matérias publicadas e recebe informações e elogios. Segundo Nassif, “há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos”.  
                                            
Diante de tudo isso, fica nítido que essa operação da PF, além de seus fins específicos, desnuda parte das inúmeras facetas da nossa política. Uma delas é a existência de uma verdadeira fábrica de produzir factoides, corrupção e escândalos; outra é o lamentável fato da “mídia nativa” ser o principal distribuidor desses produtos. E finalmente, o lado positivo, é a importância de se ter uma Polícia Federal autônoma, independente, republicana, e prontamente preparada para combater esse e outros crimes.  

Assim, e frente a esse escabroso escândalo, vale finalizar esse texto com as precisas palavras do próprio  Senador Demóstenes Torres, que da Tribuna do Senado, costumeiramente, bradava alto e bom som: “...Temos problemas não só de vícios. Temos a prática de delitos aqui dentro. Se há crimes contra a Administração Pública, tem de ir para a cadeia quem os cometeu...Para que existe o Congresso Nacional? Somos um bando de fouchés, figuras menores; figuras que vêm aqui com o único objetivo do enriquecimento pessoal e não para defender os interesses da sociedade; Cada qual pague pelo seu erro, cada qual pague pelo crime cometido, cada qual pague pela improbidade...A resposta não pode ser arquivamento sumário, esquecimento, desmoralização. Repito: basta! Basta! O Brasil não merece esse espetáculo. Basta!”.

Ante esse cinismo do Senador, só nos resta recordar o Poeta, Gregório de Matos: Neste mundo é mais rico o que mais rapa; quem mais limpo se faz, tem mais carepa; com sua língua ao nobre o vil decepa; o velhaco maior sempre tem capa.”

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