"...O Poder Judiciário está com gravíssimos problemas de infiltração
de bandidos escondidos atrás da toga”.
Ministra Eliana Calmon
Há pouco
tempo escrevemos nesse democrático Jornal um texto com o seguinte título: A
pseuda-castidade que encobria o Judiciário. Esse artigo questiona a conduta de
alguns Ministros do STF e da “Associação dos Magistrados Brasileiros” (AMB) que
pretendem impedir que o “Conselho Nacional de Justiça” (CNJ) investigue e puna
Juízes.
É cediço que a fiscalização dos Poderes constituídos é de fundamental
importância para o processo democrático. Nesse diapasão sabemos que os Poderes
Executivos são fiscalizados pelos Poderes Legislativos, pelos Tribunais de
Contas, pela Controladoria Geral da União, pelo Ministério Público e, por fim,
pelo voto popular. A mesma fiscalização recai sobre o Poder Legislativo. Já em
relação ao Poder Judiciário, a fiscalização dos atos administrativos e os
desvios de condutas de Juízes, são efetuados pelas Corregedorias dos Tribunais
de Justiça, ou seja, pelos próprios pares.
Contudo, com a criação do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), pela Emenda Constitucional nº. 61/2009, essa tarefa
passou também para incumbência desse órgão. Aliás, o artigo 103-B, da Carta
Magna, prevê a competência do Conselho Nacional de Justiça. .
Mas surpreendentemente a ABM e alguns
Ministros do STF parecem que não aceitam que o CNJ exerça essa tarefa de
investigar a magistratura brasileira, querem que as Corregedorias estaduais continuem
realizando tal trabalho, e pelo que temos observado a razão é bastante simples:
a continuidade da impunidade que reina nas entranhas do Poder Judiciário.
Nesse
início do mês Janeiro os jornais estamparam em suas páginas manchetes do
escabroso e lamentável caso de supostas nomeações ilegais de Juízes para o
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), ocorridas entre os anos
de 2006 a
2009.
O
Processo está tramitando no CNJ. Dois Conselheiros já votaram e consideraram
ilegais as promoções. O julgamento foi suspenso e deve ser retomado em
fevereiro.
Segundo
o jornal “Folha de São Paulo”, “Dezessete juízes teriam sido promovidos a desembargadores
irregularmente entre 2006 e 2009.
A denúncia foi encaminhada ao CNJ pela Associação
Nacional dos Magistrados Estaduais (Anamages). Segundo a denúncia, as promoções
não obedeceram às ordens de antiguidade nem de produtividade e teriam sido
feitas de acordo com relações pessoais dos desembargadores. As nomeações também
não foram publicadas em edital, como prevê a legislação”.
A “Anamages” noticia ainda que o Tribunal de Justiça
privilegiou parentes de desembargadores e ex-dirigentes de outra entidade de
classe em detrimento de juízes mais antigos. E de acordo com o portal “Terra”,
“entre os promovidos citados na acusação há sete ex-dirigentes da Associação
dos Magistrados Mineiros (Amagis), entre os quais, Nelson Missias, atual
secretário-geral da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)”.
Malgrado
esse caso, foi divulgado, ainda, que o COAF (órgão fiscalizador do Banco
Central) identificou que 3.426 magistrados e serventuários fizeram
movimentações consideradas “atípicas,” no valor de R$ 855 milhões. Esse caso
está sendo analisado pelo CNJ. Nessa mesma linha de fraudes financeiras, o
portal do jornal “Hoje em Dia”, noticia que “Relatório da Polícia Federal
aponta um possível envolvimento do Desembargador Hélcio Valentim de Andrade
Filho, do TJMG, com uma organização criminosa que cobrava propina de até R$ 180
mil em troca de decisões judiciais”. Essa investigação está em fase de
conclusão e tão logo será remetida para o Ministério Público Federal que
denunciará ou não os envolvidos.
Evidente
que todos os casos citados não são fatos isolados, muitos outros ocorrem no
meio judiciário e não são apurados como deveriam ser, e isso ocorrem pela força
da classe e pela ineficiência e leniência das corregedorias estaduais. Aliás, em relação a essa impunidade, a própria
Lei Orgânica da Magistratura contribui para isso quando prevê como punição para
Juízes que cometeram desvios de condutas a aposentadoria compulsória. Na verdade
esses magistrados deveriam ser demitidos
como acontece com qualquer servidor público
Por
outro lado, não há como negar que a grande maioria dos magistrados e
serventuários do Brasil, são cidadãos éticos, preparados intelectualmente e de
probidade indiscutível. Contudo, existem as “ovelhas negras”, por isso, é que
se faz imperioso a discussão sobre o fortalecimento do Conselho Nacional de
Justiça, como órgão fiscalizador, independente e autônomo, pois caso contrário,
assistiremos a um lamentável paradoxo:
a própria Justiça favorecendo a impunidade por debaixo da toga do
corporativismo.
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