segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

LULA TOMA POSSE COMO COMANDANTE-EM-CHEFE


Por: Odilon de Mattos Filho
É de conhecimento, até do mundo mineral, como diria o grande jornalista Mino Carta que a maioria dos militares das Forças Armadas do Brasil estão contaminados com a ideologia da extrema-direita estrategicamente pregada pelo ex-presidente da república que pretendia se perpetuar no Poder.

Conforme levantamento do Tribunal de Contas da União o governo do “capetão”, tinha mais sete mil militares da reserva e da ativa ocupando cargos civis no seu governo e recebendo vantagens e benesses do erário público. Com essa invasão de militares e com o ex-presidente chamando uma das Forças “de meu Exército” ele passava para a sociedade, ou melhor, para os seus seguidores, a impressão de que ele poderia contar com as Forças Armadas para as suas aventuras e o que vimos, ao longo desses últimos quatro anos, foram as Três Forças deixando de ser instituições de Estado para serem instituições de governo.

As posturas e até as narrativas dos comandantes das Forças Armadas durante o governo passado deixaram claras as suas subordinações, ou melhor, as suas submissões aos delírios do “capetão/presidente” e os exemplos são fartos e quando algum comandante se rebelava, imediatamente, era exonerado e o último acontecimento foi em 2022, quando o ex-presidente exonerou os três comandantes das Forças Armadas em uma canetada só.

Passadas as eleições com a extraordinária vitória do presidente Lula e com o ex-presidente covardemente fugido do país começou o novo governo a se organizar. A posse do presidente Lula e do seu vice Alckmin que, diga-se de passagem, estava sendo ameaçada pelos golpistas transcorreu normalmente e o que se viu foi uma grande festa da democracia e do povo brasileiro.

Mas, quando todo mundo achava que os golpistas não passariam de seus acampamentos, ou melhor, incubadora de terroristas, eis que chega o fatídico dia 08/01/2023, data escolhida e planejada por bolsonaristas criminosos para invadir os prédios da Praça dos Três Poderes e de forma livre e tranquila, saquear objetos e documentos e promover a criminosa destruição dos prédios da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Palácio da Alvorada e do STF e tudo visando um golpe de estado que por pouco não veio, aliás, este mesmo golpe foi tentado no dia 12/12/2022 quando bolsonaristas tocaram terror na cidade de Brasília e  tentaram de invadir a sede da PF e por fim no dia 25/12/2022, três terroristas bolsonaristas pretendiam, explodir uma bomba no setor de embarque do aeroporto de Brasília mas o plano falhou.

Decretada pelo presidente Lula no mesmo dia 08 de janeiro, a acertada  intervenção na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal que tem como atribuição constitucional garantir a segurança da capital, a situação foi dominada, os criminosos foram afastados da Praça dos Três Poderes e imediatamente o ministro Alexandre de Moraes decretou a prisão em flagrante de todos os criminosos envolvidos na invasão dos prédios dos Três Poderes, inclusive, aqueles que estavam acampados em frente ao Quartel General de Brasília.

Realizadas as prisões começaram, também, as investigações para apurar como foi possível a realização dessa invasão e descobrir quem foram os mandantes e financiadores desses atos criminosos.

Ficou claro a responsabilização da Secretaria de Segurança do Distrito Federal que tinha à frente o secretário Anderson Torres, braço direito do ex-presidente genocida, tanto, que foi decretada a sua prisão preventiva e o governador foi afastado por 90 dias de seu cargo. Mas faltava, ainda, investigar o papel das Forças Armadas, em especial, do Exército nesses acontecimentos golpistas patrocinados por criminosos bolsonaristas. Não há como negar esse envolvimento dos militares do Exército. Muitos leram, por exemplo, a carta dos Comandantes das Forças Armadas em apoio aos acampamentos dos bolsonaristas criminosos; há imagens de militares do Palácio do Planalto recebendo os criminosos com as portas abertas; teve, também, o famoso vídeo em que o major do Exército Paulo Jorge Fernandes da Hora, comandante do Batalhão da Guarda Presidencial mostrando a saída do prédio para os criminosos invasores, enquanto tenta impedir a ação da PMDF que cumpria ordens para prender todos os vândalos, sem contar as inúmeras vezes que questionaram a lisura das eleições e outros fatos envolvendo militares que os colocam como criminosos que atentaram contra o Estado Democrático de Direito.

Mas, vamos aos fatos do dia 08/01/2023. Segundo reportagem do site Metrópoles, no dia 08 de janeiro quando foi decretada a prisão dos bolsonarsitas acampados em frente do QG de Brasília, “o clima esquentou quando o secretário Ricardo Cappelli, liderando a tropa da Polícia Militar, chegou ao Setor Militar Urbano e anunciou que prenderia os golpistas acampados em frente ao quartel-general. O general Gustavo Dutra comandante militar do Planalto, afirmou que a tropa da PM não passaria dali....Depois deste entreveiro o comandante do Exército, general Júlio César de Arruda e Ricardo Cappelli, interventor na Secretaria de Segurança Pública do DF, se reuniram no Comando Militar do Planalto e lá houve a primeira discussão tensa de Arruda naquela noite, quando chegou a colocar o dedo na cara de Cappelli e do então comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira que segundo seu depoimento, em dado momento, o general Arruda dirigiu-se para o policial, também com o dedo em riste e disse em tom ameaçador. “O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?1” se referindo-se às tropas da PMDF e do Exército.

Nessa mesma linha de insubordinação e ameaças o general Arruda peitou os ministros, Flávio Dino (Justiça), José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil), exigindo que os ônibus dos golpistas, que haviam sido apreendidos pela PM por ordem de Dino, fossem devolvidos, mas, o ministro da Justiça mantendo a sua autoridade afirmou que não devolveria os ônibus porque era prova de crime e assim seriam tratados. E segundo a matéria do Metrópoles “o general, subindo o tom de voz, insistia que ninguém seria preso no acampamento, mas, Rui Costa interveio e fizeram um acordo de que as prisões não seriam naquela hora, mas sim no dia seguinte pela manhã2”.

Outro fato envolvendo o comandante do Exército, general Arruda foi a sua recusa em exonerar o tenente-coronel Mauro Cid, comandante do 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia. Este Tenente-coronel foi ajudante de ordens do ex-presidente, inclusive, cuidava das contas pessoais da “famiglia” Bolsonaro, uma espécie de Queiroz do Palácio do Planalto. Esse militar foi, estrategicamente, nomeado para comandar essa tropa de elite do Exército que, diga-se de passagem, está muito próximo de Brasília e pode ser acionada para garantir a ordem na capital, ou seja, um Batalhão estratégico para um possível golpe militar.

Diante destes episódios envolvendo o comandante do Exército, o presidente Lula não titubeou e ordenou ao Ministro da Defesa que exonerasse, imediatamente, o general Arruda do comando do Exército e em seu lugar foi convocado o general, Tomás Miguel Ribeiro Paiva que já havia tido uma postura legalista em discurso ocorrido depois das eleições junto à sua tropa, inclusive, afirmando que o Exército é uma instituição de estado e não de governo e por essa razão não pode ser uma tropa partidarizada e/ou ideologizada, ao contrário, a missão do Exército é defender o Estado brasileiro e a democracia e isso passa pelo respeito à vontade soberana expressada pelo povo nas urnas.

De imediato veio a reação contra o presidente Lula, dessa feita de um militar de pijama que foi vice decorativo e hoje é Senador da República, estamos falando de Hamilton Mourão que disse ao jornal “Estadão que “Lula quer alimentar crise com Exército ao demitir comandante3".

A reposta a esse desatino do senador Mourão, veio com o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa que com muita propriedade colocou o senador em seu devido lugar, dizendo: "Ora, ora, senhor Hamilton Mourão. Poupe-nos da sua hipocrisia, do seu reacionarismo, da sua cegueira deliberada e do seu facciosismo político! Fatos são fatos! Mais respeito a todos os brasileiros! 'Péssimo para o país' seria a continuação da baderna, da 'chienlit' e da insubordinação claramente inspirada e tolerada por vocês, militares. Senhor Mourão, assuma o mandato e aproveite a oportunidade para aprender pela primeira vez na vida alguns rudimentos de democracia! Não subestime a inteligência dos brasileiros4!",

Sem dúvida que há uma imperiosa necessidade de se punir todos os envolvidos nessa tentativa de golpe, em especial, os militares da ativa e da reserva. Nada de anistia. E ainda com relação aos militares, é urgente, também, revogar o equivocado artigo 142 da CF/88 que serve de pretexto para a narrativa da tutela militar. Necessário, também, rever os conteúdos dos currículos das Escolas Militares que refletem, ainda, os pretéritos tempos da Guerra Fria e do inimigo interno, discursos anacrônicos e démodé!. O governo e o povo têm que ter em mente que não haverá democracia com militares na política!

Por fim e voltando na demissão do comandante do Exército, pelo presidente Lula, nos afigura que tal medida, longe de ser apenas uma providência administrativa e discricionária, foi corajosa, cirúrgica e teve também, um caráter pedagógico, pois, servirá de exemplo para os demais comandantes das Três Forças e ao mesmo tempo, corta o mal pela raiz, ou seja, alijou qualquer tentativa futura de sublevação e/ou insubordinação por parte dos militares. Finalmente, Lula toma posse como comandante-em-chefe das Forças Armadas do Brasil.     

 

 

 

 

 

 



1Fonte: https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/dedo-na-cara-e-ameaca-comandante-demitido-peitou-flavio-dino-no-8-de-janeiro
2Fonte: https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/dedo-na-cara-e-ameaca-comandante-demitido-peitou-flavio-dino-no-8-de-janeiro
3 Fonte: https://www.brasil247.com/poder/troca-de-comando-do-exercito-joaquim-barbosa-reage-a-criticas-de-mourao-a-lula
4 Fonte: https://www.brasil247.com/poder/troca-de-comando-do-exercito-joaquim-barbosa-reage-a-criticas-de-mourao-a-lula

0 comentários:

Postar um comentário