Mas o grande empresariado urbano e rural, o capital financeiro nacional
e internacional, o sistema judiciário do país e os barões da mídia não
aceitaram a derrota para um torneiro mecânico, em especial, a política adotada pelo
seu governo que oportunizou a ascensão social de uma grande parcela da sociedade
e frente a isso, não pestanejaram, partiram
para cima do presidente Lula e de seu Partido o PT e o resultado todos nós o conhecemos:
a presidenta Dilma foi injustamente deposta, o presidente Lula ilegalmente
preso e a extrema-direita chega ao Poder e instaura um governo bonapartista
cujo o resultado é um caos político, social e econômico poucas vezes visto no
país.
Estamos a quatro meses de novas eleições e a elite brasileira em nada
mudou, ao contrário, está cada vez mais reacionária e gananciosa e considerando
esse fato e o momento político vivido no Brasil, esse pleito, seja talvez, o
mais importante da história, pois, está claro que estamos diante de uma
encruzilhada: democracia ou barbárie. De um lado, o ex-presidente Lula é a
certeza da democracia e do outro, Bolsonaro é a certeza da continuidade e do
recrudescimento da barbárie.
Muitos intelectuais, comentaristas políticos e até parte da esquerda
brasileira, entendem que esse discurso de golpe, ou melhor, de autogolpe não passa
de uma fantasia ou teoria da conspiração e para justificar esse entendimento
alegam que não há clima para essa insurreição e muito menos as Forças Armadas se
prestariam ou participariam dessa aventura junto com “capetão” que ocupa,
provisoriamente, o Palácio da Alvorada.
Este modesto escriba é da turma que pensa diferente e entende que há
fortes sinais de que o atual presidente, junto com as Forças Armadas e com
apoio das elites conservadoras do país e de forças internacionais, vão tentar
melar as eleições ou a posse do novo presidente, que certamente será o ex-presidente
Lula.
Somos do entendimento que as falas do presidente da república questionando
as urnas eletrônicas não são apenas bravatas para contagiar seus seguidores, ao
contrário, isso já faz parte do plano para o autogolpe, não à toa que a
camarilha do presidente composta por milicianos, pastores, parlamentares da
base, militares e outros, estão dando eco e fortalecendo essa narrativa.
Aliás, o próprio Bolsonaro, recentemente, em transmissão ao vivo pelas redes sociais enviou
uma mensagem cifrada aos seus apoiadores, na qual os incitam a tomarem atitudes de
baderna ou violência, antes mesmo das eleições. Disse o “capetão”: "...se
o pessoal do Comando de Defesa Cibernética do Exército detectar fraude não vai
valer de nada esse trabalho porque o sr. Fachin já declarou que isso não muda o
resultado das eleições. Não preciso aqui dizer o que estou pensando, o que você
está pensando. Você sabe o que está em jogo, e você sabe como deve se preparar,
não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas nós sabemos o que
temos que fazer antes das eleições1".
O senador Flávio Bolsonaro, por sua vez, em entrevista ao jornal Estadão, já tentando
eximir o pai de qualquer responsabilidade pelos caos passado ou futuro, disse
que Jair Bolsonaro “não tem responsabilidade sobre atos de seus apoiadores” e
projetando o futuro fez um paralelo com a invasão do Capitólio nos EUA
afirmando: "...como a gente tem controle sobre isso? No meu ponto de
vista, o (Donald) Trump não tinha ingerência, não mandou ninguém para lá
(invadir o Capitólio). As pessoas acompanharam os problemas no sistema
eleitoral americano, se indignaram e fizeram o que fizeram. Não teve um comando
do presidente...Por isso, desde agora, ele [Bolsonaro] insiste para que as
eleições ocorram sem o manto da desconfiança2".
Recentemente o general Braga Neto, apontado como vice na chapa de
Bolsonaro nas próximas eleições, também, como de costume, além de dá eco a essa
narrativa teve o desplante de ameaçar a sociedade brasileira.
Segundo o Blog da jornalista Malu Gaspar, “empresários relataram à
equipe da jornalista que Braga Netto afirmou que se não for feita a auditoria
dos votos defendida pelo presidente, não tem eleição3”. Essa fala de Braga
Netto, que estava acompanhado pelo general Pazuello, teria ocorrida no dia
24/06/2022, dois dias antes de ele ser oficializado como vice de
Bolsonaro e teria causado grande constrangimento entre os empresários presentes
no evento. Aliás, ao escolher o general Braga Neto, como seu vice, Bolsonaro
radicaliza sua postura e o seu discurso e dá mais um sinal da pretensão de
promover o autogolpe.
A propósito, comentando o papel das Forças Armadas e o falso discurso da
insegurança das urnas, o presidente Lula foi preciso: "...O papel das
Forças Armadas não é cuidar de urna eletrônica. Quem tem que cuidar de urna
eletrônica é a Justiça Eleitoral, quem tem que fiscalizar é a sociedade civil e
quem tem que fazer as mudanças é o Congresso Nacional...O que eles querem na
verdade é criar confusão, querem fazer a mesma coisa que o Trump fez nos EUA.
Uma mentira contada mil vezes pode ganhar cara de verdade. Eles querem levantar
a suspeita de que serão roubados nas eleições. Roubar eles roubaram em 2018,
com as fake news. Roubar eles roubaram sendo eleito contando mentiras4".
Não podemos perder de vista, também, que as Forças Armadas estão se
lixando com o passado bandido de Bolsonaro no Exercito, pois, o que vale é o presente,
são as benesses que o governo está gerando para os militares, especialmente,
aqueles do alto escalão. Segundo levantamento do TCU existe hoje no governo
federal 6.157 militares da ativa e da reserva distribuídos em mais de 240
cargos civis, isso significa o dobro do que existia no governo Temer. Junte-se
a isso o fato de que dos 23 ministérios 08 são ocupados por militares e a
maioria dos cargos estratégicos como as empresas públicas e os cargos do
segundo e terceiros escalões estão, também, nas mãos dos milicos. E segundo
noticiado dos 17 generais que formam o Alto Comando do Exército, 15 exercem
cargos de primeira ordem. Há militares tanto na administração direta (Esplanada
dos Ministérios), quanto nas empresas estatais, autarquias e órgãos de
fiscalização. Evidente que os milicos não querem largar essa vaca de tetas
grandes e generosas e vão fazer de tudo para não perdê-la, inclusive,
participando, ativamente, de uma ruptura institucional, ademais, por mais paradoxal
que pareça, a tutela militar já é uma realidade no país.
A propósito, sobre esse apego dos militares ao Poder, vale citar a
entrevista do insuspeito Coronel da reserva, Marcelo Pimentel Jorge de Souza ao
Site da BBC News Brasil que afirma: “...são militares formados na AMAN nos anos
70, em plena ditadura - como o próprio Bolsonaro. São generais da reserva em
sua maioria, mas também da ativa. É um grupo bastante coeso, hierarquizado,
disciplinado, com algumas características autoritárias e pretensões de poder
até hegemônicas. Sua finalidade é manter o poder conquistado5".
Por fim e nessa mesma linha do aparelhamento do governo com os militares pode haver, também, como medida preventiva, caso Bolsonaro seja derrotado e/ou fracassado do autogolpe, o ressuscitamento da PEC do senador vitalício que tem como objetivo blindar presidentes da república de uma futura condenação e prisão em primeira instância. O Centrão está de olho nessa saída para o "capetão"!
Diante de tudo isso, resta claro o perigo que a nossa democracia está correndo,
portanto, cabe às forças progressistas estarem atentas, pois, a classe
dominante e a camarilha que cerca o atual governo, não vão deixar barato a
volta da “esquerda” ao Poder, para tanto, dão claros sinais de que está em
curso no país um projeto de ruptura institucional, ou seja, um autogolpe que
pode levar o Brasil de volta aos tristes momentos do obscurantismo de outrora.
Todo cuidado é pouco!