Por: Odilon de Mattos Filho
A velha narrativa utilizada pelas classes dominantes e pelo capitalismo em decomposição para justificar os seus argumentos da necessidade de se constituir um Estado Mínimo com uma ampla política de privatizações e concessões para a iniciativa privada, é a de que o Estado é inoperante, pesado e corrupto. Partícipe desse pensamento o atual governo aposta na aprovação da Reforma Administrativa para colocar em prática parte dessa política de desmonte do Estado brasileiro.
Aliás, o atual governo foi eleito com esse compromisso: defender os interesses do capital nacional e internacional em detrimento aos interesses da classe trabalhadora. E a trancos e barrancos estão conseguindo cumprir as promessas.
A política entreguista e de destruição do Estado brasileiro, pós-redemocratização, teve início com Collor, depois com FHC, passou pelo governo golpista de Michel Temer e tendo continuidade com o governo negacionista e bonapartista de Bolsonaro.
A destruição do Estado brasileiro e o enfraquecimento do pacto social começaram a ser preparadas com Temer quando foi promulgada a EC/95, conhecida como a PEC da Morte, uma política de teto de gastos que, dentre outros absurdos, congelou por vinte anos as receitas da educação e saúde. .
A propósito, o presidente Lula foi muito assertivo e didático quando analisou o teto de gastos, dizendo: "A quem interessa o teto de gastos? Aos banqueiros? Ao sistema financeiro? Gasto é quando você investe um dinheiro que não tem retorno. Quando você dá 1,0 bilhão para o rico é investimento e quando você dá R$ 300 para o pobre é gasto? Nós vamos revogar esse teto de gastos!1",
Com o advento da Pandemia salta aos olhos que a tais narrativas da classe dominante não se sustentam. Essa grave crise sanitária revelou, dentre outras coisas, como essa EC/95 teve impacto negativo nas receitas financeiras da área de saúde, mas, mostrou também, que não obstante esse sucateamento, o nosso Sistema de Saúde Pública é de suma importância para o povo brasileiro. Ficou escancarado igualmente, o quanto o sistema capitalista está em decomposição acelerada e por fim, se comprovou o perigo, a falta de humanidade e de escrúpulos das empresas privadas - com honrosas exceções - que trabalham com a área de saúde.
Neste contexto, ficamos estarrecidos com as revelações da CPI da COVID-19, sobre o modus operandi da Prevente Senior, uma empresa de Plano de Saúde que possui, também, uma rede hospitalar para onde são levados a maioria de seus pacientes.
Ficou cabalmente demonstrado na referida CPI a ligação e a proximidade da direção da Prevente Senior com o “gabinete paralelo” do governo Bolsonaro, especialmente, com relação às condutas médicas defendidas por integrantes desse gabinete, especificamente, com o “tratamento precoce” composto por, exemplo, pelos medicamentos ivermectina e cloroquina, drogas, cientificamente comprovadas ineficazes para combater o vírus da COVID-19, mas ampla e macabramente prescritas por médicos da Prevente Senior. Aliás, ficou comprovado que a utilização desse tratamento preventivo fazia parte de uma “pesquisa” da Prevente Senior, que, aliás, não tinha autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) para realizá-la, ou seja, não passava de um experimento nos quais os pacientes, em sua maioria idosos, foram transformados em meras e indefesas cobaias desses monstros que se intitulam “médicos pesquisadores”.
Outros fatos dilacerantes envolvendo a Prevente Senior, também, vieram à tona na CPI, como, por exemplo, as revelações da advogada Bruna Morato que representa os médicos que denunciaram e que foram demitidos pela Prevente Senior. Segundo o depoimento da advogada, os seus clientes médicos relataram vários casos escabrosos cometidos nos hospitais da operadora, dentre eles a fúnebre redução do fornecimento de oxigênio por respiradores a pacientes internados em UTIs por mais de 10 dias. Segundo a advogada, “esses pacientes evoluíam a óbito dentro da própria UTI e se tinha uma liberação de leitos2". E esse escabroso crime até ganhou um mote da sanguinária diretoria da Prevente Senior: “óbito é também alta”. Esse delito tinha como vil objetivo economizar custos, ou seja, os pacientes morriam para a operadora que eles mesmos contrataram não tivessem prejuízos. Um horrendo crime que se assemelha muito àqueles cometidos nos campos de concentração da Alemanha nazista. Auschwitz é aqui!
Diante desses fatídicos fatos é fácil constatar o caos que recairá sobre o povo brasileiro se esse governo continuar e se a Reforma Administrativa for aprovada, pois, isso significará o fim do pacto social com a entrega dos serviços públicos para a iniciativa privada, especialmente, a área de saúde, a menina dos olhos do capital nacional e internacional, com isso, o povo brasileiro poderá ser jogado nas garras de algumas “Prevente Senior” da vida nacional.
1 Fonte: https://economia.ig.com.br/2021-06-17/lula-teto-de-gastos-revogar.html
2 Fonte: https://oglobo.globo.com/politica/a-expressao-que-eu-ouvi-ser-muitas-vezes-utilizada-obito-tambem-alta-diz-advogada-sobre-prevent-senior-25216484
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