Por: Odilon de Mattos Filho
Não obstante a classe trabalhadora está ansiosa para colocar um fim neste governo, o cenário aponta que esse fim só será alcançado nas eleições de 2022, pois, ainda, não se conseguiu levar as massas para as ruas com grandes manifestações que possam pressionar o presidente da Câmara dos Deputados a colocar em votação um dos mais de cem pedidos de impeachment contra o presidente Bolsonaro.
Evidente que nossa opinião espelha o momento, pois, pode acontecer - e oxalá que sim – que essas grandes manifestações aconteçam, inclusive, uma explosão das massas como ocorreu, por exemplo, no Chile.
Mas independente dessas manifestações acontecerem ou não, é fácil constatar os movimentos das peças desse tabuleiro político que mira 2022, em especial, por parte do PT, maior Partido de esquerda do país e da grande liderança nacional que é o presidente Lula, que visivelmente, tem procurado apoio político para sua candidatura em todos os espectros ideológicos, com a esquerda, como seria óbvio, mas também, com o centro e parte da direita o que nos leva a crer que pode está sendo costurada uma Frente Ampla visando o próximo pleito.
O resultado de uma eleição, assim como um o jogo de xadrez, é imprevisível, mas, há certos movimentos que se pode antecipar por leitura do jogo ou até porque a jogada já aconteceu em outras ocasiões e você pode neutralizar o adversário. No entanto, nos parece que a esquerda brasileira, especialmente, o PT desaprendeu a fazer essa leitura. Aliás, o resultado dessa leitura equivocada aconteceu com a presidenta Dilma Rousseff e agora, mais recentemente, com as eleições dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que contou com o apoio do PT e de outros Partidos de oposição, que para justificar o injustificado, vieram com a velha narrativa da “redução de danos” e os resultados dos dois casos nós conhecemos muito bem: o caos.
O PT e outros Partidos de esquerda teimam no discurso de que é preciso uma Frente Ampla para ganhar as eleições e para governar, é a antiga narrativa da tal governabilidade ou do presidencialismo de coalisão "adotado" no país.
Estamos assistindo desde o governo do golpista, Michel Temer o maior ataque aos direitos e conquistas da classe trabalhadora e a completa dilapidação do que restou de nossas riquezas, pós-FHC. Estamos diante de um claro projeto que tem como único foco defender e beneficiar o capital privado nacional e internacional em detrimento aos interesses do povo brasileiro.
Diante do caos que se instalou no país, por consequência dessa política entreguista e do desmonte do estado brasileiro, há uma grande expectativa com a volta do presidente Lula ao Poder e a esperança de que todos estes ataques aos trabalhadores e à soberania popular possam ser revogados e que as reivindicações concretas da classe trabalhadora sejam atendidas, inclusive, se aguarda, também, uma nova constituinte soberana e verdadeiramente popular que possa colocar um fim nas instituições que se encontram aparelhadas pelo estado burguês e hoje tutelada pelos militares. Porém, para que isso possa acontecer, os Partidos de esquerda, em especial, o PT não pode perder de vista que o grande inimigo se chama capital privado e que para derrota-lo não há espaço para conciliações, concessões ou acordos, aliás, neste sentido a Carta do Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio CILI deixa claro que o “capital é o responsável pela terrível catástrofe atual, que se soma à pilhagem destruidora das nações, às guerras e à fome que provoca anualmente nove milhões de mortes, quando para ela existe vacina: o alimento. Existem, também, dezenas de milhões de seres humanos, em todos os continentes, chamados de “migrantes”, que fogem de guerras, da miséria e da fome..” Aqui está a questão central dos caos que atinge o mundo e que deve ser enfrentada com coragem e urgência.
No entanto, se realmente, concretizar essa Frente Ampla, não temos dúvidas de que esse sonho poderá ser frustrado, pois, parte dessa Frente não irá permitir que um futuro governo de esquerda faça o que tem que ser feito, ao contrário, vai defender com unhas e dentes os interesses do capital privado e não aceitará as revogações das medidas que os beneficiaram, com isso o governo terá que negociar, recuar e até ceder frente às fortes pressões que, certamente, virão. A propósito, e como dito alhures, já vimos este filme antes e agora é a Argentina que nos mostra, ou melhor, comprova o quanto é arriscada e conspiradora uma Frente Ampla.
Havia na Argentina uma grande expectativa com o governo “Coalizão Frente de Todos” formado com a chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner e a possibilidade de se reverter o caos deixado pelo governo Macri. Não obstante alguns avanços, parece que as esperanças estão caindo por terra e as lideranças sindicais e os movimentos de desempregados estão criticando duramente as medidas econômicas adotadas pelo presidente Alberto Fernández e as identificando como aquelas do macrismo neoliberal, especialmente, com relação à alta da inflação, o desemprego e a relação com o FMI, medidas sugeridas ou impostas por um grupo do governo que são defensores dessa política pró-capital. E o descontentamento já apareceu na queda dos índices de popularidade do presidente e nos resultados das eleições primárias do dia 12/09/2021, nas quais o governo amargou uma derrota que poderá colocá-lo, futuramente, nas cordas.
A propósito, o Sociólogo Milton Alves escreveu que “a polarização política em curso na América Latina tem como eixo determinante a luta contra o projeto de recolonização neoliberal — conduzido pelo imperialismo norte-americano em aliança com as classes dominantes locais....O cenário vivenciado pelos hermanos é um indicador dos limites e do curto prazo de validade das políticas conciliadoras e de frente ampla com segmentos e frações da burguesia libera2”.
Portanto, fica os exemplos do passado e agora o recado da Argentina para as forças de esquerda e popular no Brasil: o combate à atual política econômica deve ser um dos eixos programático e mudancista. No entanto, caberá à Direção Nacional do PT reconhecer os seus equívocos do passado, entender que não há espaço para conciliação e agir como o PT agia, ou seja, primeiro, o Partido necessita resgatar o seu papel histórico e político contra a ordem capitalista e anti-sistema e depois buscar a unidade com os demais Partidos de esquerda, com as centrais sindicais e com os movimentos sociais para formar uma Frente Única e conclamar à classe trabalhadora e a sociedade em geral a ganharem as ruas do país e exigir o fim deste governo bonapartista, negacionista e genocida. Esperar 2022 pode ser tarde demais e esperar com uma Frente Ampla pode ser suicídio politico com consequências incalculáveis para a classe trabalhadora.
1 Fonte:https://militante.petista.org.br/2021/06/14/rol-de-acusacoes-ao-capitalismo-cili/
2 Fonte: https://www.brasil247.com/blog/crise-na-argentina-um-duro-recado-sobre-as-ilusoes-politicas-com-frentes-amplas
Estranho...Quer dizer que a "classe trabalhadora" que por um fim no atual governo, mas a esquerda não consegue fazer com que estas pessoas se manifestem nas ruas.
ResponderExcluirJá o atual presidente, é ovacionado por onde passa e conseguiu reunir uma multidão nunca antes vista nas ruas no 7 de setembro passado.
Nada está mais distante da realidade que este texto ridículo !!!
Olha aí novamente o "Anônimo"covarde, aliás, covardia é uma das características do bolsomínios. Mais uma vez obrigado pela leitura do meu texto e pelo comentário.
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