Por: Odilon de Mattos Filho
Não é novidade para ninguém a soberba e o status de "tutores do mundo" que os estadunidenses se autoproclamam desde o fim da chamada Guerra Fria. Convictos dessa posição, impuseram sua influência à maioria dos países e organismos multilaterais. O que mais chama atenção nessa postura é o desplante com que os imperialistas do Norte impõem a narrativa de que tal posição visa apenas à defesa do seu povo e da democracia mundo afora.
Esses imperialistas já aniquilaram nações, prenderam, torturaram e assassinaram cidadãos e presos políticos, invadiram países, colaboraram e participaram de golpes de Estado e de todo tipo de barbárie, sempre acompanhados do falso discurso da defesa da democracia. Os exemplos são fartos e envolvem tanto republicanos quanto democratas, pois ambos dependem da guerra para sustentar um dos pilares do capitalismo estadunidense: a indústria armamentista. As intervenções dos EUA não visam apenas ao domínio das riquezas naturais, mas também ao controle das tecnologias mais avançadas e de contratos internacionais. Para isso, utilizam uma nova modalidade de ataque: a guerra híbrida, cuja principal arma é o lawfare. Essa estratégia é amplamente utilizada em países onde as instituições estão fracas, corrompidas e tuteladas por uma elite submissa, como foi o caso do Brasil com a vergonhosa Operação Lava Jato, comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro, declarado suspeito e parcial pela Suprema Corte e intimamente ligado ao Departamento de Estado dos EUA.
Frédéric Pierucci, grande executivo da Alstom, apontou recentemente em seu livro: “Qualquer que seja o ocupante da cadeira de Presidente dos EUA, seja democrata, seja republicano, carismático ou detestável, o governo em Washington sempre atende aos interesses do mesmo grupo de industriais... Os Estados Unidos, que se arvoram em dar lições de moral a todo o planeta, são os primeiros a fechar negócios fraudulentos nos diversos países sob sua zona de influência, a começar pela Arábia Saudita e o Iraque1”
Hoje, não é mais novidade nem teoria da conspiração a existência do Deep State (Estado Profundo) nos EUA. Segundo alguns historiadores, essa entidade existe desde o início do século XX e é formada por grandes empresários da indústria armamentista, farmacêutica, do entretenimento, da mídia, do sistema financeiro e de parte da estrutura do próprio governo estadunidense. Esse grupo controla e manipula praticamente todas as ações governamentais, impondo uma agenda voltada a seus próprios interesses.
Segundo a jornalista Kalee Brown, o Deep State “é uma entidade que controla o governo e que se esconde nas sombras, tomando todas as decisões importantes em segredo. Sua agenda política e seus verdadeiros motivos estão completamente escondidos do público, sendo capazes de manter o controle sobre a população ao alimentar a ilusão da ‘democracia’... O Estado Profundo refere-se a um Estado dentro de um Estado, um grupo de pessoas que tem tanto controle dentro de um Estado que não precisa realmente obedecer às mesmas leis – em grande parte porque são elas que as criam de acordo com seus interesses e agendas, inclusive indicando e controlando juízes nas altas cortes2”
Após a posse de Donald Trump, ficou claro que ele tentou demonstrar o poder do império sem disfarces, expondo a existência do Estado Profundo. Nesse governo, não houve pudor em esconder essa estrutura: a participação do bilionário Elon Musk no governo central é prova disso, assim como o engajamento e apoio de outros bilionários como Mark Zuckerberg, Jeff Bezos dentre outos magnatas. Coincidentemente, todos são proprietários das chamadas Big Techs, empresas tecnológicas que emergiram como figuras dominantes na economia global e no cotidiano de bilhões de pessoas. Essa é uma nova forma de guerra cultural da extrema-direita, que agora se junta às Big Pharmas e às indústrias armamentistas, tornando-se uma grande ameaça ao mundo.
O cientista Miguel Nicolelis afirmou que “Houve um casamento do Big Money com o Big Oil e o Big Tech. E eles basicamente decidiram que não precisam mais do Estado Nacional. Eles não veem barreiras para exercer o seu poder nas fronteiras nacionais ou na Constituição3”
Como já vimos no Brasil, essa nova guerra cultural, impulsionada pelas redes sociais e financiada pelas Big Techs, fez surgir milhões de pessoas tomadas pela imbecilidade que o escritor e juiz de direito do TJRJ Rubens Casara chama de idiossubjetivação que é "uma ferramenta usada pelo neoliberalismo para formatar pessoas que naturalizam o absurdo... O sujeito idiossubjetivo se torna incapaz de perceber que está atuando contra seus próprios interesses e os de seus filhos. Esse fenômeno global está associado a uma mudança subjetiva provocada pela ‘racionalidade hegemônica neoliberal4”
Aliás, o Cientista Miguel Nicolelis, em entrevista disse que “Trump significa um fenômeno que eu descrevi nos meus livros, o último em 2020, de como um vírus informacional é capaz de infectar milhões de mentes e fazer com que essas mentes criem um supracérebro coletivo, que eu chamo de brain net, que passa a acreditar em coisas que desafiam a realidade tangível, a realidade concreta5”
As medidas tomadas no início do governo Trump contra imigrantes ilegais e seu discurso misógino, homofóbico, xenófobo e negacionista demonstram o grau de crueldade e incivilidade desse governo. Se tudo isso não bastasse, Trump propoõe que os EUA assumam a Faixa de Gaza, expulsando os mais de 2 milhões Palestinos de suas Terras e transformando aquela região numa espécie de “Riviera do Oriente Médio" comandada pelo império do norte, ou seja, na verdade o que o desumano presidente “cesarista” pretende é realizar uma limpeza étnica dos Palestinos o que caracterizaria crime contra a humanidade e certamente haveria um levante do mundo civilizado contra essa barbárie.
Acredita-se, também, que Trump quer ser um novo Reagan, aquele presidente que levou ao desmonte da União Soviética, e agora tentaria o mesmo contra a China. No entanto, resta saber se as condições geopolíticas permitirão tal empreitada, pois certamente encontrará resistência de outras nações, a começar pela Europa.
Sabe-se que o crescimento econômico chinês e suas parcerias globais colocaram os EUA contra a parede, aumentando a preocupação do império do Norte. Esse cenário pode beneficiar a América do Sul, especialmente o Brasil, mas é fundamental a unidade da América Latina e do Sul Global contra as ameaças de Trump, que certamente virão na forma de ataques econômicos e políticos.
Portanto, todo cuidado é pouco. O primeiro passo que os países democráticos deveriam fazer é a regulamentação do uso das redes sociais, visando ao combate à desinformação. Como alertou Bertolt Brecht, “A cadela do fascismo está sempre no cio.”
1Fonte:https://outraspalavras.net/crise-brasileira/as-entranhas-expostas-de-uma-lavajato-global/
2Fonte: https://thoth3126.com.br/visao-profunda-sobre-quem-realmente-controla-os-eua-deep-state-porque-nao-e-o-povo/
3Fonte: https://jornalggn.com.br/internacional/miguel-nicolelis-e-os-multiplos-furacoes-que-avassalam-o-sonho-americano/
4Finte: https://www.brasil247.com/entrevistas/a-idiossubjetivacao-e-uma-ferramenta-usada-pelo-neoliberalismo-para-formatar-pessoas-que-naturalizam-o-absurdo-diz-juiz
5Fonte: https://jornalggn.com.br/internacional/miguel-nicolelis-e-os-multiplos-furacoes-que-avassalam-o-sonho-americano/
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