Por: Odilon de Mattos Filho
Já assistimos, outrora, a gritaria da turma de lambe-botas do imperialismo estadunidense contrário à política externa dos dois primeiros mandatos do presidente Lula. Com pouco mais de cem dias de governo, o Lula 3 dá fortes sinais de desenvolver uma política externa muito parecida com a política adotada em seus dois governos anteriores, mas, mal começaram as visitas aos países, já estamos assistindo a mesma gritaria de antes.
A imprensa sabuja não se cansa de mostrar a contrariedade dos EUA e da horda conservadora do país com a visita de Lula à China e isso não apenas, pela ampliação das relações comerciais, mas especialmente, na possível quebra de um paradigma na geopolítica, com a construção de um mundo multipolar, onde inevitavelmente, os imperialistas do norte perderão a sua já decadente hegemonia.
Outro fato a ser considerado, esse, porém, de ordem emocional para a extrema-direita, é o gritante contraste entre a atual política externa e a do governo anterior. Hoje Lula mostra que o Brasil quer ser protagonista na geopolítica mundial, demonstrando que o país é grande, independente e diferente do governo Bolsonaro, onde a política externa primava, única e exclusivamente, à submissão do Brasil aos interesses do governo dos EUA comandado por Donald Trump, uma política de complexo de vira-latas. Lembra da continência à bandeira dos EUA?
Realmente, não pairam dúvidas a guinada, o pragmatismo e o reposicionamento da política externa do Brasil com Lula 3. Antes da posse, Lula já começou a sua peregrinação pelo mundo e foi para Europa. Depois, como convidado, participou da COP 27, Conferência da ONU voltada às pautas climáticas, realizada no Egito. Após a posse, Lula fez a sua primeira viagem como presidente para a Argentina e Uruguai, viagens marcadas pela volta do Brasil à Celac, o retorno do Brasil a Unasul e a reconstituição da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), além do reforço ao Mercosul.
Logo depois Lula recebeu a visita do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz e já mostrando a altivez do país, Lula foi claro em uma entrevista coletiva onde os dois chefes de estado estavam presentes: Lula disse: “o Brasil não tem interesse em passar munições para serem utilizadas entre Ucrânia e Rússia”, enfatizando que o papel do Brasil é formar um grupo de países para construir a paz e não alimentar a guerra.
Em fevereiro, a convite do presidente Joe Biden, Lula visitou os EUA e a conversa principal foi sobre uma agenda ambiental, inclusive, sobre a ajuda dos EUA para o Fundo da Amazônia, mas o que se viu foi uma pífia ajuda, se comparado com o que é destinado em armas para Ucrânia.
Após essa visita aos EUA, Lula foi a China e aos Emirados Árabes Unidos (EAU). Nessa viagem para a China Lula levou uma numerosa delegação e teve uma intensa agenda política cujo objetivo é tentar construir uma nova ordem internacional diferente daquela promovida pelos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial. No campo comercial, Lula conseguiu acordos da ordem de R$ 50 bilhões, diferentemente, dos resultados da sua visita aos EUA. Já nos EAU, Lula fortaleceu o multilateralismo e a pareceria entre os dois países, assinando vários acordos, dentre eles, nas áreas de defesa e do clima. Aliás, desde 2008 os EAU está entre os três principais parceiros do Brasil no Oriente Médio.
Nestes dois países o presidente Lula, acertadamente, voltou a condenar a guerra entre Rússia e Ucrânia e mais uma vez, propôs a criação de um grupo de países para negociar a paz e aproveitou para mandar um recado: “ninguém vai proibir que o Brasil aprimore suas relações com a China1” e como não poderia ser diferente, essa aproximação do Brasil com a China e o discurso de Lula pela paz, foram o estopim para uma nova gritaria dos EUA e dos capangas do imperialismo do norte, incluída a mídia, todos contrários à posição brasileira, inclusive, com vozes estadunidenses já clamando por sanções contra o Brasil.
No Brasil a defesa dos imperialistas foi mais longe e como sempre partiu da imprensa burguesa. O Editorial do jornal O Globo de 18/04/2023, teve a desfaçatez de sugerir que pode ocorrer o impedimento, ou “tombo” do presidente Lula por essa posição dita pró-Rússia. Diz o Editor: "A tradição de não alinhamento poderia ser seguida de modo mais produtivo em questões onde a voz do Brasil importa, como mudanças climáticas ou transição na Venezuela. Em vez disso, dentre quase 130 'neutros' no conflito ucraniano, o Brasil é o único que se meteu a criar um 'clube da paz' e flerta abertamente com a Rússia. O perigo de provocar os americanos e europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo2".
Evidente que esses olhares além de puro servilismo, trata-se de uma desonestidade intelectual quando afirma que o discurso do governo brasileiro é pro-Rússia. Lula, simplesmente, está pregando a paz e não a guerra. Será que ele está errado ao tentar buscar a paz?
Não se pode esquecer, também, que o Lula 3 conseguiu emplacar a presidenta Dilma como presidenta do Banco dos BRICS, uma escolha acertada, positiva, inteligente e com uma boa dose de vingança contra à elite do país.
Já no dia 17 de abril, Lula recebeu o Chanceler russo, Serguei Lavrov, uma visita de cortesia agendada há meses pelo Itamaraty, sem qualquer alinhamento com falas de Lula durante a sua visita à China. O Chanceler foi emissário de uma carta do presidente Putin convidando o presidente Lula para participar do Fórum Econômico de Petersburgo em junho deste ano.
O fato, como dito alhures, é que realmente a política externa do governo Lula 3 é diametralmente oposta ao do seu antecessor fujão e tudo indica que está no caminho certo e muitos frutos poderão ser colhidos para ajudar no desenvolvimento do Brasil e a necessária cooperação Sul-Sul.
De tudo isso, concluímos que efetivamente, o mundo não pode ser tutelado por um ou dois países, o Planeta Terra encontra-se globalizado, mas doente pela ganância do capitalismo que destrói o meio ambiente e a vida humana, por isso, há uma imperiosa necessidade de se construir um mundo multipolar com diferentes centros de poder político, econômico e militar, cujo objetivo tem que ser a garantia da sobrevivência digna dos seres humanos no Planeta Terra.
1Fonte:https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/04/14/ninguem-vai-proibir-que-o-brasil-aprimore-sua-relacao-com-a-china-diz-lula-em-reuniao-com-xi-jinping.ghtml
2-Fonte: https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2023/04/neutralidade-de-lula-revela-apoio-tacito-a-russia.ghtml
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