Respeitem Lula!

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A farsa do "Choque de Gestão" de Aécio "Never"

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A MAIS TRADICIONAL E IMPORTANTE FACULDADE DE DIREITO DO BRASIL HOMENAGEIA O MINISTRO LEWANDWSKI

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NOVA CLASSE "C"

Tendo em vista a importância do tema, reproduzimos post do sitio "Conversa Afiada" que reproduz trecho da entrevista que Renato Meirelles deu a Kennedy Alencar na RedeTV, que trata da impressionante expansão da classe média brasileira. (...)

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

ENFIM, MILITARES GOLPISTAS SÃO CONDENADOS


Por: Odilon de Mattos Filho
Segundo alguns historiadores, entre tentativas e consumação, o Brasil passou por catorze golpes de Estado desde a sua independência. A esse número, soma-se a deposição da presidenta Dilma Rousseff, que claramente se tratou de um golpe de Estado perpetrado pela elite brasileira por meio do Congresso Nacional — ainda que essa mesma elite não reconheça o episódio como uma ruptura institucional.

O curioso, ou melhor, a vergonha desses períodos sombrios é o fato de que, na maioria dos golpes ou tentativas, os militares das três Forças estiveram envolvidos. O mais chocante é que, até o dia 12 de setembro de 2025, nenhum militar havia sido punido por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Talvez essa impunidade explique a recorrente intrepidez dos ocupantes das casernas.

Não há como negar a transcendência histórica do julgamento da tentativa de golpe iniciada em 2022 e culminada no fatídico dia 8 de janeiro de 2023. Encerrado no dia 12 de setembro de 2025 no STF, esse julgamento colocou, pela primeira vez, no banco dos réus o núcleo central da conspiração golpista e todos foram devidamente condenados: um ex-presidente da República (capitão da reserva), três generais de quatro estrelas e um almirante de esquadra, ex-comandante da Marinha.

Certamente, a maioria dos brasileiros e a comunidade internacional acompanharam todo o processo, observando a lisura e legalidade do julgamento. Houve farta produção de provas — paradoxalmente, muitas delas produzidas pelos próprios réus — devidamente juntadas ao inquérito da Polícia Federal e que embasaram a denúncia do Procurador-Geral da República.

É evidente que os defensores dos golpistas não compartilham dessa visão. Um exemplo é o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que abandonou o mandato e buscou abrigo nos Estados Unidos. O governo Trump, sensível ao discurso antipatriótico do deputado, tentou interferir no julgamento por meio de pressões comerciais e chantagens dirigidas a ministros da Suprema Corte. Mas nenhuma dessas ações produziram efeitos concretos: simplesmente os ministros ignoraram os ultimatos dos imperialistas do norte e conduziram o julgamento de forma transparente, legal, soberana e independente.

Conforme dispõe o Regimento Interno do STF, o julgamento coube à Primeira Turma, composta por cinco ministros. O relator, Alexandre de Moraes, foi o primeiro a votar, seguido por Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e, por fim, Cristiano Zanin, presidente da Turma.

Houve apenas um voto divergente, o do ministro Luiz Fux. Para espanto da comunidade jurídica, Fux levou mais de 12 horas para ler seu voto, que se mostrou contraditório com posições anteriores e soou mais como a peça de um advogado de defesa. Enquanto os réus não negaram a tentativa de golpe, apenas buscaram se desvincular dela, Fux foi além: sustentou a tese de que não houve golpe e questionou a prerrogativa de foro.

A propósito, sobre o voto do ministro, Fux, o jurista Lenio Streck afirmou: “A democracia brasileira continua sob forte ataque, tanto interno quanto externo, e o Supremo enfrenta um momento inédito de tensão. Parte da comunidade jurídica considera a decisão de Fux um erro grave, pois não altera o resultado do julgamento, mas expõe o colegiado a ataques da extrema direita. (...) Nós não estamos conseguindo compreender que escapamos de uma tentativa de golpe de Estado e não de um furto de supermercado. Quando é que nós vamos entender isso?1

Na mesma linha, o professor e constitucionalista Pedro Estevam Serrano destacou: “Com todo o respeito e admiração que Fux merece como grande jurista que é, a realidade é que, neste momento, ele foi extremamente contraditório. Foi um voto com baixo grau de fundamentação técnica e cheio de contradições. Não só internas, mas também em relação a decisões anteriores do próprio ministro.2

Já o jurista Fábio Tofic pontuou: “A divergência é saudável, pois enriquece o julgamento. Mas, quanto à prerrogativa de foro, vale lembrar que o Supremo tem a prerrogativa de errar por último. A jurisprudência atual é clara, e Fux destoou não só do colegiado, mas de si mesmo em decisões anteriores.3”.

Por fim, o ministro Gilmar Mendes em pouquíssimas palavras mostra a desconexão e desmonta parte do voto do ministro Fux. Diz o Decano: "O voto do ministro Fux está cheio de incoerência. Se não houve golpe, não deveria ter havido condenação de outros nomes. Condenar o tenente-coronel Mauro Cid e o general Braga Netto parece uma contradição nos próprios termos4".

Agora, tudo indica que virá um novo embate no STF, desta vez sobre a constitucionalidade do Projeto de Anistia em tramitação na Câmara dos Deputados, com reais chances de aprovação. Aqui vale alertar que a anistia não serve para pacificar a sociedade, ao contrário, essa impunidade enfraquece a democracia e fortalece e encoraja golpistas para novas aventuras de rupturas institucionais. Mas, não satifeitos com esse Projeto, a direita e a extrema-direita se articulam para aprovar a PEC da "Bandidagem" e o mais inusitado foi o fato do líder do governo, deputado Odair Cunha e mais 9 deputados do PT terem votado favoráveis ao Projeto.  Essa PEC nada mais é do que um instrumento que dificulta que parlamentares sejam investigados pelo STF sem a aprovação do Plenária da Câmara dos Deputados. 

Espermaos que o Senado Federal rejeite essa excrescência!

Evidente que tudo isso faz parte de um arcabouço de impunidade para proteger parlamentares crimosos e a tentativa de livrar da condenação essa organização crimonoso formada por militares e civis já punidos por atentarem contra a democracia.

De tudo isso e mesmo ciente da importante vitória da democracia - neste caso com um atraso de 21 anos - o momento exige cautela e firmeza, não se pode baixar a guarda, é imperioso que as massas ocupem as ruas para frear a sanha golpista do Congresso, defender a democracia, exigir a prisão dos conenados pelo STF e repudiar qualquer tentativa de anistia. Não podemos perder de vista a célebre e sempre atual frase do dramaturgo alemão Bertolt Brecht: “A cadela do fascismo está sempre no cio.”








1Fonte: https://www.brasil247.com/entrevistas/quando-entenderao-que-escapamos-de-um-golpe-nao-de-um-furto-de-supermercado-questiona-lenio-streck
2Fonte:https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2025-09/fux-foi-contraditorio-e-seletivo-nas-provas-do-golpe-dizem-juristas
3Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/juristas-discutem-o-peso-da-divergencia-de-fux-na-condenacao-de-bolsonaro/
4-Fonte:https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/09/15/gilmar-aponta-incoerencia-em-voto-de-fux-afirma-confiar-que-congresso-barre-anistia.ghtml

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O BRASIL É SOBERANO E NÃO COLÔNIA DOS EUA


Diante do descalabro da taxação comercial imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a vários países — especialmente ao Brasil —, lembrei-me de uma das maiores obras sobre a história da América Latina: As Veias Abertas da América Latina, do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano e comcei a reler essa importante obra que, contextualizando, nos ajuda a entender o atual momento político.

O livro, revela com riqueza de detalhes como os colonizadores e imperialistas dominaram e saquearam as riquezas dos povos latino-americanos, e apoiaram golpes e instalaram ditaduras sangrentas como foi feito pelos EUA para moldar a política de toda a região.

Logo no início, Galeano sintetiza a essência da Teoria da Dependência: “A divisão internacional do trabalho consiste em que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os tempos remotos.”

E prossegue: “Segundo a voz de quem manda, os países do sul do mundo devem acreditar na liberdade de comércio (embora não exista), honrar a dívida (embora seja desonrosa), atrair investimentos (embora sejam indignos) e entrar no mundo (embora pela porta de serviço).”

Com o fim da Guerra Fria, os EUA consolidaram uma hegemonia que os fez se enxergar como “tutores do mundo”, acima do bem e do mal. Para sustentar esse status, participaram e iniciaram guerras, promoveram golpes e patrocinaram barbáries mundo afora, sempre em defesa de seus interesses — muitas vezes com o silêncio cúmplice de organismos internacionais e até de governos aliados.

Vale lembrar, que o saque imperialista começou com o ouro e a prata; passou pelo açúcar, tabaco, guano, salitre, cobre, estanho, borracha, cacau, banana, café e petróleo; e hoje mira as chamadas “terras raras”.

A nova tarifa de 50% imposta por Trump ao Brasil é mais que uma medida econômica: é uma tentativa de intervir na política nacional e atacar nossa soberania. Por trás, está o interesse em se apoderar das reservas brasileiras de terras raras — especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte —, essenciais para baterias, armas de precisão, satélites e chips. Aliás, o Brasil foi agraciado geográfica e geologicamente, pois o país possui as maiores áreas agricultáveis do mundo, uma potência em água doce, vastas reservas de petróleo, as terras raras, etc. e tudo isso instiga a cobiça de outras Nações, como, por exemplo, o império decadente dos EUA, como estamos assistindo nesse momento. Aqui não se pode esquecer que até o PIX está sendo alvo dos imperialistas do norte, que vê nessa popular ferramenta financeira uma ameaça aos cartões de créditos cuja bandeiras são estadunidense. 

Porém, o governo dos EUA, acostumados a tutelar parte do mundo e "negociar" com governos submissos, desta feita, quebrou a cara, pois, encontrou no Brasil uma forte resistência do governo Lula à pressão de Trump para tentar espoliar essas riquezas e assim, reduzir sua dependência da China, transformando o Brasil em ativo geoestratégico.

A propósito, o momento remete ao governo João Goulart (1961-1964) quando interesses minerários estrangeiros também se chocaram com um projeto nacionalista. Outro  período similar ao de agora, foi de 1951 a 1954, quando o presidente Getúlio Vargas criou a Petrobras e implementou políticas nacionalistas, despertando a sanha dos imperialistas do norte, que pouco tempo depois colaboraram com o golpe militar de 1964. Aliás, qualquer semelhança não é mera coincidência como bem pontua o destemido jornalista, Xico Sá ao relembrar a obra "Aos Trancos e Barrancos" do grande mestre Darcy Ribeiro: “Em 1962, o presidente João Goulart cancela o registro das jazidas de minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero, concedidas ilegalmente à Hanna Corporation. O Brasil recupera, assim, a massa principal dos seus minérios de ferro. Com essa decisão, empresas dos EUA se juntaram a militares e empresários brasileiros no financiamento do golpe de 1964. Logo que assumiu, Castelo Branco devolveu as minas à multinacional norte-americana.1”.

É exatamente isso que Trump desejava com a vitória do antipatriota Jair Bolsonaro e sua camarilha, o Brasil voltar a ser um país periférico e submisso. Felizmente, quem venceu foi Lula e a democracia e neste contexto é preciso reconhecer a postura firme e soberana do presidente Lula que saiu da defensiva e retomou o diálogo com sua base, defendendo de forma intransigente os interesses do Brasil. 

Afora a pressão comercial, vale destacar outro ponto: Trump, induzido pelas mentiras de Eduardo Bolsonaro, faz o confronto ideológico para tentar proteger Jair Bolsonaro da condenação que certamente virá, e para isso, busca, também, intervir, pressionar e atacar o STF na pessoa do ministro, Alexandre de Moares aplicando-lhe, sem fundamento jurídico e factual, a Lei Magnitsky, conhecida como “morte financeira” do sancionado. Mas isso não é tudo: Trump começou, também, avançar contra autoridades brasileiras e seus familiares com cassações de vistos de entrada nos EUA e outras medidas restritivas. Mas não sejamos ingênuos, com a proximidade do julgamento de Bolsonaro outras decisões poderão ser aplicadas ao Brasil e as autoridades brasileiras, como forma de presssionar os ministros da Suprema Corte no julgamento de Jair Bolsonaro e sua "facção" golpista.

Trocando em miúdos, o Brasil nunca viveu na sua história, tamanho ataque à sua soberania. Espera-se que os ministros do STF não se intimidem e façam o devido julgamento dos golpistas, e por outro lado, aguardamos que o governo Lula suporte as pressões externas e não se curve às chantagens do imperialismo estadunidense. Nossa soberania exige que se respeite as nossas instituições e as riquezas naturais do país que pertencem única e exclusivamente ao povo brasileiro. 

Nesse contexto, vale lembrar, que o Brasil possui um instrumento valioso para se defender desses ataques, o país integra o BRICS, bloco que detém quase 40% do PIB mundial, o que lhe garante retaguarda econômica, política e estratégica, ou seja, os imperialistas do norte não estão emparedando ou hostilizando uma republiqueta, o buraco é mais embaixo, o Brasil é uma Nação forte, democrática, independente e soberana.  

E para encerrar, recorro a um trecho do poema "Rio Doce", de Carlos Drummond de Andrade: “Quantas toneladas exportamos? Quantas lágrimas disfarçamos sem berros?”

Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça!








1Fonte: https://iclnoticias.com.br/cobica-mineral-liga-tarifaco-de-trump-a-golpe-de-1964/

sexta-feira, 11 de julho de 2025

A PALAVRA DE ORDEM É VIRAR À ESQUERDA

 


Por: Odilon de Mattos Filho

Sabe-se que, apesar da miopia de algumas lideranças do campo progressista, a Frente Ampla articulada por Lula e pelo Partido dos Trabalhadores foi uma estratégia eleitoral bem-sucedida em 2022. Diante da ameaça bolsonarista, era necessário construir uma aliança tática para derrotar o fascismo nas urnas. Mas o custo político dessa composição está se tornando insustentável para o governo e para a esquerda brasileira.

Hoje, assistimos a um Congresso Nacional dominado por forças conservadoras, neoliberais e bolsonaristas que atuam como linha auxiliar da extrema-direita. O governo é diariamente chantageado, travado e sabotado. E o principal instrumento dessa chantagem são as chamadas emendas PIX e o legado criminoso do orçamento secreto, criados no desgoverno Bolsonaro e perpetuados por um Congresso fisiológico que deseja implantar um parlamentarismo orçamentário de fato — sem responsabilidade, sem transparência e sem voto popular.

Segundo dados oficiais, o valores dessas emendas ultrapassam a casa dos R$ 50 bilhões de reais. São recursos usados não para o bem público, mas para irrigar bases eleitorais, comprar apoios e alimentar esquemas. A transparência passa longe. A moralidade administrativa, exigida pelo artigo 37 da Constituição Federal, é rasgada diariamente nos bastidores do Congresso.

Diante desse assalto ao orçamento, o caso foi parar no STF, sob relatoria do ministro Flávio Dino. E a resposta dos presidentes da Câmara, Hugo Mota e do Senado, Davi Alcolumbre — ambos bolsonaristas de carteirinha — foi endurecer ainda mais esse jogo sujo, lembrando, porém, que os dois presidentes foram eleitos com apoio do governo e hoje lideram o cerco ao Executivo

A derrubada do decreto que aumentava a alíquota do IOF — o que garantiria R$ 30 bilhões em arrecadação até 2026 — é emblemática. Foi uma retaliação direta à atuação do Judiciário. E o mais grave: o Congresso também sentou sobre projetos centrais do governo, como a isenção do IRPF para quem ganha até R$ 7 mil e a taxação dos super-ricos, pilares da justiça tributária..

Mas o tiro saiu pela culatra. O governo e os movimentos sociais reagiram com firmeza, inundando as redes sociais com denúncias e revelando quem são os verdadeiros defensores dos super-ricos e das elites rentistas. A campanha ganhou as ruas, com manifestações em diversos estados, deixando claro que o povo não aceita ser governado por chantagistas e corruptos.

Em meio a isso, veio o “presente” dos imperialistas do Norte: os Estados Unidos impuseram taxações abusivas contra as exportações brasileiras, e Donald Trump — em campanha — atacou o Judiciário brasileiro e saiu em defesa de Bolsonaro. Foi um ataque frontal à nossa soberania.

Mais uma vez, a extrema-direita deu munição ao campo progressista. O povo viu quem está ao lado do Brasil e quem atua como serviçal de interesses estrangeiros.

Em menos de duas semanas, o governo Lula — que enfrentava dificuldades em sua popularidade — teve em mãos as armas políticas e simbólicas para expor os inimigos da democracia. A narrativa golpista foi desmontada. A máscara dos "patriotas" caiu.

Diante desse cenário, torna-se urgente o enfrentamento ideológico. O campo progressista e o governo Lula precisam dar nome aos bois, apontar os responsáveis pelo sequestro do orçamento e convocar as massas para defender aquilo que os elegeu: os programas sociais, a valorização do trabalho, a justiça fiscal, a soberania nacional, a rvogação das reformas trabalhista e previdenciária e o fim da escala 6X1. 

É hora de devolver ao povo o protagonismo da luta política. É ele — e só ele — quem tem legitimidade para garantir a governabilidade. Foi o povo que deu a vitória a Lula. Foi o povo que referendou o projeto progressista e popular apresentado nas eleições.

Além disso, o Brasil — e o mundo — enfrentam uma crise sistêmica. O modelo capitalista e imperialista revela suas contradições e suas debilidades marcadas por um processo de acumulação de capital e com uma brutal concentração de renda, exclusão social e esgotamento ambiental. Estamos diante de um colapso civilizatório — e o campo progressista precisa reagir para estar à altura do desafio.

Portanto, não há mais espaço para recuo. O Congresso atual, capturado por interesses fisiológicos, pode a qualquer momento enterrar o futuro do Brasil. Por isso, o governo e o PT devem virar à esquerda e se colocar na defesa dos interesses da classe trabalhadora. Com coragem. Com o povo. Com a firmeza de quem sabe que sem luta, não há mudança.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A PÁTRIA GRANDE PERDE UM DOS SEUS MAIORES LÍDERES, PEPE MUJ́ÍÍCA


 Por: Odilon de Mattos Filho

José Alberto Mujica Cordano, mais conhecido como Pepe Mujica, nasceu em Montevidéu no dia 20 de maio de 1935. Filho de agricultores, Mujica recebeu educação primária e secundária na escola nº 150 de Paso de la Arena. Após concluir o liceu, matriculou-se no Instituto Alfredo Vásquez Acevedo (IAVA) para cursar Direito, mas não concluiu o curso.

Durante a juventude, embalado e empolgado pela vitoriosa Revolução Cubana e ciente das mazelas que o Uruguai enfrentava, juntou-se a outros camaradas e fundaram o Movimento de Libertação Nacional — Tupamaros, um dos principais grupos guerrilheiros do país.

Em virtude de sua militância, Mujica foi preso quatro vezes e passou catorze anos nas prisões da ditadura uruguaia.

Desde os anos 1970, viveu com sua companheira e também guerrilheira, Lúcia Topolansky, com quem oficializou o casamento em 2005. O casal viveu sempre em um pequeno sítio na zona rural de Montevidéu, de onde tirava o sustento com o trabalho no campo. Uma vida de humildade e simplicidade — um franciscano dos tempos modernos.

Com o retorno à democracia, Mujica foi libertado em 8 de março de 1985, por meio da anistia aos delitos políticos cometidos a partir de 1º de janeiro de 1962.

Logo após a abertura democrática, Mujica criou, junto a outras lideranças do MLN e de partidos de esquerda, o Movimento de Participação Popular (MPP), dentro da Frente Ampla. Já nas eleições de 1994, foi eleito deputado por Montevidéu e, diante de sua atuação parlamentar e política, tornou-se o senador mais votado da história do Uruguai em 1999.

No dia 1º de março de 2005, com a eleição de Tabaré Vázquez pela Frente Ampla, Mujica foi nomeado ministro da Agricultura. Em 25 de outubro de 2009, venceu as eleições presidenciais com cerca de metade dos votos válidos e foi ao segundo turno contra Luis Alberto Lacalle, vencendo com mais de 52% dos votos.

Como presidente, iniciou seu mandato com vigor e atenção total ao povo mais pobre do Uruguai, implantando, aos poucos, políticas antes enterradas nos porões das elites conservadoras. Destacam-se três políticas corajosas e fundamentais para o povo uruguaio: a legalização do aborto, a regulamentação do mercado da maconha e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Essas medidas colocaram o Uruguai na vanguarda mundial das políticas sociais progressistas.

Mas os avanços não se restringiram apenas nessas pautas de costumes, durante seu mandato, a economia do país cresceu uma média anual de 5,4%, o índice de pobreza caiu, e o desemprego foi mantido em níveis baixos. Além disso, houve crescimento dos programas de transferência de renda, aumento do salário mínimo, além da distribuição de laptops para estudantes e professores e políticas habitacionais para famílias de baixa renda.

Desde sua eleição como deputado, Mujica doava 70% de seus rendimentos à Frente Ampla e a um fundo de construção de moradias populares e mesmo como presidente, continuou vivendo em sua chácara na zona rural.

Pepe Mujica viveu o exemplo que prega e colocou em prática seus ideais e pensamentos de vida, deixando um legado sem precedentes na história do povo uruguaio. O presidente Lula sintetizou bem quem foi Mujica ao dizer: “Mujica não foi apenas um militante de esquerda, deputado, senador ou presidente — foi um exemplo de ser humano com muita dignidade, respeito, solidariedade e coragem. Eu conheço muita gente, mas ninguém se iguala à grandeza da alma do meu amigo Pepe Mujica.”

Foi para a eternidade um dos maiores líderes da “Pátria Grande”, mas seu legado e suas ideias seguirão vivos em nossas lutas, corações e mentes.

Pepe Mujica, presente!


domingo, 27 de abril de 2025

QUAL O FUTURO DA IGREJA CATÓLICA PÓS PAPA FRANCISCO ?


Por: Odilon de Mattos Filho

O Estado do Vaticano foi criado em 1929, pelo “Tratado de Latrão”, um acordo realizado entre o Papa Pio XI e o Presidente fascista da Itália, Benito Mussolini. Após o surgimento desse monastério absolutista, cercado de conspirações, segredos e silêncios quase obsequiosos, começam aparecer também os problemas comuns de um País, sobretudo as disputas políticas, a corrupção, a falta de transparência e os interesses financeiros, tanto, que é célebre a frase do arcebispo Paul Marcinkus, Secretário do Banco do Vaticano em 1971, que disse: “Pode-se viver nesse mundo sem se preocupar com o dinheiro? Não se pode dirigir a Igreja com ave-marias”.

No livro “Vaticano S.A.”, o jornalista Italiano, Gianluigi Nuzzi, demonstra como é sombrio a vida política e administrativa desse pequeno País. Diz o autor:“...O Vaticano desenvolve seus negócios em absoluto sigilo, protegendo a delicada relação entre a teocracia e o dinheiro... As intensas atividades da holding da Santa Sé representa um dos segredos mais bem guardados do mundo....A falta de informações alimenta lendas, mas continua sendo uma das regras dos banqueiros de longa batina, muito mais reservados que de seus esquivos colegas leigos1”.

E foi neste nebuloso contexto político que Pontífice Francisco encontrou a “Igreja de Pedro”, especialmente, o Estado do Vaticano, mas se isso não bastasse, havia pela frente muitas e ncessárias “Reformas”, notadamente, com relação aos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana.

Diante deste cenário cercado de mistério, dogmas retrógrados, corrupção e intrigas, imaginávamos à época, que com o Papa Francisco, um Pastor progressista, humano, generoso e corajoso seria possível realizar as mudanças e o reencontro dessa milenar instituição com os anseios de um povo muita à frente dessa Igreja ultrapassada e estagnada  no tempo. Poderia ser a oportunidade de se deflagar uma Nova Primavera e uma releitura do Concílio Vaticano II e mesmo diante de todos esses desafios, somos de opinião que houve avanços consideráveis no Papado do Pontífice de Francisco.

A propósito, vale destacar as sábias palavras do brilhante Teólogo, Leonardo Boff sobre a indicação do Cardeal Jorge Mario Bergoglio: “...Este é o Papa de que a Igreja precisava. Isto fica claro na escolha do seu nome: trata-se de um jesuíta com alma franciscana. O nome Francisco [é por si só uma encíclica, como bem assinala Dom Cláudio Hummes]. O novo Papa nasce com a inspiração franciscana de simplicidade, ética, solidariedade com os pobres, amor à natureza e liberdade de criação...O centro não é a Igreja, mas a humanidade. Certamente não será um Papa doutrinador, mas um Pastor... Importa que o Papa Francisco seja um João XXIII dos novos tempos, um “Papa buono”, como já o mostrou. Só assim poderá resgatar a credibilidade perdida e ser um luzeiro de espiritualidade e de esperança para todos. O Papa Francisco vem de uma experiência pastoral, não é um espelho de Roma, ele tem autonomia, tem capacidade de falar para o centro do poder da Igreja. O Papa Frnacisco não é apenas um nome, mas um Projeto de Igreja2”.

E realmente com o Papa Francisco a “Igreja de Pedro” passou a ter uma abordagem pastoral mais acolhedora, com um conceito de sinodalidade e comprometida com o Povo Pobre do nosso Planeta, trazendo também para o centro dos debates temas sensíveis que estavam escondidos, a séculos, nos subterrâneos do Vaticano, como, por exemplo, as questões ambientais, moralidade sexual e conjugal, questões econômicas globais, crise migratória e até uma contundente denúncia sobre o sistema financeiro/capitalista.

No contexto geopolítico “a Igreja do Papa Francisco entendeu os eventos globais marcados pela ascensão da extrema direita, a ascensão das igrejas evangélicas, o declínio da Europa e o crescente multilateralismo. Nesse contexto, o papa Francisco expandiu a presença da Igreja Católica no Sul Global com novos cardeais. Ele também negociou com a China e promoveu o diálogo com a Igreja Ortodoxa Russa e outras religiões. Entre seus marcos estão sua mediação entre Cuba e os Estados Unidos e seu reconhecimento do Estado palestino3".

Com a morte do papa Francisco uma pergunta peregrina pelas mentes dos católicos e até dos não católicos: quais serão os rumos e o futuro da Igreja pós Papa Francisco? Evidente que a resposta a essa pergunta dependerá da escolha do nome do novo Pontífice que saberemos depois que a fumaça branca sair sobre a Capela Sistina. A Igreja Católica estará diante de dois caminhos: o retrocesso com os setores conservadores ou o avanço com os setores progressista da Igreja.

Sabemos que o Conclave será formado por 80% de Cardeais nomeados pelo Papa Francisco, porém, muitos especialistas entendem que, apesar deste perfil progressista, será difícil combater a maquinaria historicamente conservadora e eurocêntrica que dominou a estrutura clerical e que tantas vezes foi criticada pelo Papa Francisco.

Segundo alguns vaticanólogos, os progressistas que mais se aproxima do legado deixado pelo Papa Francisco, são: Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, cujas origens representam a expansão global da Igreja, o italiano Pietro Parolin, braço direito de Bergoglio, todos estes podem consolidar a mudança em direção ao “Sul Global”.

Pelo lado dos conservadores há um poderoso lobby ultraconservador que busca líderes eclesiásticos que possam defender as pautas de costumes como, por exemplo, a anti-imigrante, anti-LGBT e anti-reforma social progressista, o enfraquecimento das agendas climáticas, a comunhão para divorciados ou bênçãos, etc. Dentre os candidatos que defendem essas pautas pode-se destacar figuras como os Cardeais conservadores, Raymond Leo Burke(EUA), Gerhard Ludwig Müller (Alemanha), Péter Erdő(Hungria) e Fridolin Ambongo(República Democrática do Congo).

Não temos dúvidas de que este Conclave, dado o momento geopolítico com o avanço da extrema-direita mundo afora e o crescimento vertiginoso dos Evangélicos, em especial, das Igrejas Neopentecostais fundamentalistas, será o mais disputado, mais importante e decisivo para o futuro da Igreja Católica, pois, a morte do Papa Francisco não impacta apenas a Igreja, foi uma perda para a humanidade.

O fato é que a Igreja Católica Apostólica Romana está diante de uma decisão que pode definir os seus rumos para os próxmos anos. A escolha de um Papa de linha conservadora pode levar a Igreja para um perigoso retrocesso, enquanto a escolha de um Papa progressista significará a continuidade do legado deixado pelo Papa Francisco no sentido de levar a Igreja para as periferias do mundo promovendo o respeito a diversidade, a tolerância, o acolhimento, a fé, a paz, a ternura, e a fraternidade. 

Que seja um Pontífice com o vigor e a ternura do Papa Francisco e que seja um Papado que possa desencadear a esperança e uma Nova Primavera na Igreja Católica. Paz e Bem!







1Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2025/04/23/sucessao-do-papa-francisco-a-extrema-direita-e-o-sul-global-na-disputa-do-vaticano/
2 Fonte: http://dilmanarede.com.br/ondavermelha/blogs-amigos/boff-fala-do-seu-entusiasmo-com-a-escolha-do-novo-papa
3- Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2025/04/23/sucessao-do-papa-francisco-a-extrema-direita-e-o-sul-global-na-disputa-do-vaticano/









sábado, 15 de março de 2025

SERÁ QUE EU TENHO "LUGAR DE FALA"?


Por: Odilon de Mattos Filho

As informações mostram que as políticas identitárias remontam à década de 70. O termo surgiu com o coletivo de mulheres negras e lésbicas denominado Combahee River Collective. O coletivo surgiu em Chicago e atuou entre os anos de 1974 e 1980 em Boston. Era um movimento de mulheres negras e lésbicas que não se sentiam apropriadamente representadas pelo movimento feminista — predominantemente branco — em suas demandas específicas1”. Já outros estudos apontam que este “fenômeno parece ter surgido de movimentos como o Occupy Wall Street, o Me Too e o Black Lives Matter, mas tem raízes muito anteriores. As sementes dessa militância puramente identitária germinaram no pós-guerra, desenvolveram-se nos movimentos americanos e europeus da década de 1960 e se consolidaram com o fim da Guerra Fria2”.

Política identitária, segundo o professor Wilson Gomes, é “...uma forma de politização das contraposições entre determinados grupos sociais cujos membros reconhecem que o seu pertencimento é compelido por aspectos da sua identidade..”.

No Brasil, esse fenômeno das políticas identitárias ou do identitarismo surgiu recentemente no meio de alguns movimentos sociais e é apoiado por alguns partidos políticos de esquerda, notadamente pelo PSOL. Mas, apesar da grande visibilidade e força desse movimento, ele começa a ser debatido, ainda que timidamente e com certa hesitação, por intelectuais, políticos e grupos representantes desse movimento sobre sua eficiência política, social e seus resultados coletivos.

É evidente que não há como negar o desprezo, o desrespeito e o preconceito da sociedade e do próprio Estado contra os chamados grupos minoritários, sejam eles étnicos, religiosos, de gênero, de orientação sexual ou por outras características. E certamente foi por isso que surgiu essa luta dos distintos grupos contra toda essa opressão. As discussões a favor ou contra o identitarismo trafegam hoje por várias correntes de pensamento, inclusive no meio da direita conservadora e da extrema-direita, que se aproveitam de maneira sarcástica desse fenômeno para dialogar diretamente com sua bolha, como exemplificado por Bolsonaro, Donald Trump e outras lideranças da extrema-direita mundo afora.

No nosso modesto entendimento, não temos dúvidas da importância desse movimento identitário enquanto luta por direitos e reconhecimento social. Por outro lado, é sabido que esses movimentos se apresentam de maneira fragmentada, ou seja, cada grupo defende seus interesses específicos, mas essa luta está desconectada dos interesses de outros grupos, esquecendo-se que, no fundo, as reivindicações colocadas são comuns e interseccionais, já que a raiz de tudo é a desigualdade social e a luta de classes.

Aliás, nesse sentido, Marcel Coelho defende que “...a história testemunha a tentativa, bem-sucedida, em desagregar grupos com interesses comuns, confrontando-os através de pequenos privilégios, oferecidos a um dos lados e minando suas forças contra o inimigo comum. Nesse caso, os patrões...”.Continuando Marcel acrescenta: "no Brasil, o tema das pautas identitárias ingressou com uma força descomunal e potência desagregadora de ordem nuclear. Com dinheiro de fundações internacionais e de setores da burguesia nacional, como a família Setúbal, Marinho e a emergente Fundação RENOVA, são formados e pautados nos mesmos princípios liberais. Temas progressistas são colocados na ponta do discurso desde que as lutas de classes, base da subversão dos males do capitalismo e do neocolonialismo, não sejam questionadas. De pautas ambientais, corrupção, educação, até as lutas identitárias, tudo é discutido com ares progressistas e até de esquerda, desde que princípios neoliberais não sejam ameaçados. Esta tomada de pauta, desconectada com as lutas universais, tem um impacto sem precedentes no desenvolvimento econômico do Brasil. Alguém acredita que a Rede Globo tem compromisso com nosso povo? Enquanto líderes destas políticas são “perseguidos” por defendê-las e colocá-las no centro do debate, nossos “supremacistas brancos”, penalizados por mazelas sociais similares, como a famigerada reforma da previdência, posicionam-se em trincheiras opostas. Dividida, a sociedade brasileira não tem discutido um projeto de desenvolvimento universal e generoso...3

Por fim, não temos a pretensão de demonizar os grupos identitários. Ao contrário, reconhecemos suas lutas, bandeiras e os avanços conquistados no sentido da efetivação da cidadania. No entanto, entendemos que os movimentos e as políticas identitárias não podem esquecer que a raiz dessas distorções é a desigualdade social. Assim, para que este movimento seja mais abrangente e verdadeiramente vitorioso, não pode se desconectar da luta de classes, até porque todas as representações de minoria estão ligadas, umbilicalmente, ao processo de manutenção da exploração capitalista.

Dito isso, fica claro que não cabe aos identitários criticar aqueles que querem debater o tema como sujeitos “sem lugar de fala” e, por outro lado, não se pode simplesmente, como alguns querem, demonizar esse movimento como responsável pelas mazelas eleitorais, sociais e políticas que nassolam o país.

Dessa forma e considerando o melindroso momento político que vivemos, é imperioso a unidade da esquerda e de setores progressistas da sociedade  para se preservar direitos e avançar em conquistas. Não se deve esquecer do ensinamento de Bertold Brecht: "a cadela do fascismo está sempre no cio".







1Fonte: https://www.politize.com.br/identitarismo/
2Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/09/17/artigo-como-surgiu-a-politica-identitaria-e-qual-sua-relacao-com-a-ideologia-liberal/
3Fonte: https://disparada.com.br/pautas-identitarias/

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

GOVERNO TRUMP A GRANDE AMEAÇA AO PLANETA


Por: Odilon de Mattos Filho

Não é novidade para ninguém a soberba e o status de "tutores do mundo" que os estadunidenses se autoproclamam desde o fim da chamada Guerra Fria. Convictos dessa posição, impuseram sua influência à maioria dos países e organismos multilaterais. O que mais chama atenção nessa postura é o desplante com que os imperialistas do Norte impõem a narrativa de que tal posição visa apenas à defesa do seu povo e da democracia mundo afora.

Esses imperialistas já aniquilaram nações, prenderam, torturaram e assassinaram cidadãos e presos políticos, invadiram países, colaboraram e participaram de golpes de Estado e de todo tipo de barbárie, sempre acompanhados do falso discurso da defesa da democracia. Os exemplos são fartos e envolvem tanto republicanos quanto democratas, pois ambos dependem da guerra para sustentar um dos pilares do capitalismo estadunidense: a indústria armamentista. As intervenções dos EUA não visam apenas ao domínio das riquezas naturais, mas também ao controle das tecnologias mais avançadas e de contratos internacionais. Para isso, utilizam uma nova modalidade de ataque: a guerra híbrida, cuja principal arma é o lawfare. Essa estratégia é amplamente utilizada em países onde as instituições estão fracas, corrompidas e tuteladas por uma elite submissa, como foi o caso do Brasil com a vergonhosa Operação Lava Jato, comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro, declarado suspeito e parcial pela Suprema Corte e intimamente ligado ao Departamento de Estado dos EUA.

Frédéric Pierucci, grande executivo da Alstom, apontou recentemente em seu livro: “Qualquer que seja o ocupante da cadeira de Presidente dos EUA, seja democrata, seja republicano, carismático ou detestável, o governo em Washington sempre atende aos interesses do mesmo grupo de industriais... Os Estados Unidos, que se arvoram em dar lições de moral a todo o planeta, são os primeiros a fechar negócios fraudulentos nos diversos países sob sua zona de influência, a começar pela Arábia Saudita e o Iraque1

Hoje, não é mais novidade nem teoria da conspiração a existência do Deep State (Estado Profundo) nos EUA. Segundo alguns historiadores, essa entidade existe desde o início do século XX e é formada por grandes empresários da indústria armamentista, farmacêutica, do entretenimento, da mídia, do sistema financeiro e de parte da estrutura do próprio governo estadunidense. Esse grupo controla e manipula praticamente todas as ações governamentais, impondo uma agenda voltada a seus próprios interesses.

Segundo a jornalista Kalee Brown, o Deep State “é uma entidade que controla o governo e que se esconde nas sombras, tomando todas as decisões importantes em segredo. Sua agenda política e seus verdadeiros motivos estão completamente escondidos do público, sendo capazes de manter o controle sobre a população ao alimentar a ilusão da ‘democracia’... O Estado Profundo refere-se a um Estado dentro de um Estado, um grupo de pessoas que tem tanto controle dentro de um Estado que não precisa realmente obedecer às mesmas leis – em grande parte porque são elas que as criam de acordo com seus interesses e agendas, inclusive indicando e controlando juízes nas altas cortes2

Após a posse de Donald Trump, ficou claro que ele tentou demonstrar o poder do império sem disfarces, expondo a existência do Estado Profundo. Nesse governo, não houve pudor em esconder essa estrutura: a participação do bilionário Elon Musk no governo central é prova disso, assim como o engajamento e apoio de outros bilionários como Mark Zuckerberg, Jeff Bezos dentre outos magnatas. Coincidentemente, todos são proprietários das chamadas Big Techs, empresas tecnológicas que emergiram como figuras dominantes na economia global e no cotidiano de bilhões de pessoas. Essa é uma nova forma de guerra cultural da extrema-direita, que agora se junta às Big Pharmas e às indústrias armamentistas, tornando-se uma grande ameaça ao mundo.

O cientista Miguel Nicolelis afirmou que “Houve um casamento do Big Money com o Big Oil e o Big Tech. E eles basicamente decidiram que não precisam mais do Estado Nacional. Eles não veem barreiras para exercer o seu poder nas fronteiras nacionais ou na Constituição3

Como já vimos no Brasil, essa nova guerra cultural, impulsionada pelas redes sociais e financiada pelas Big Techs, fez surgir milhões de pessoas tomadas pela imbecilidade que o escritor e juiz de direito do TJRJ Rubens Casara chama de idiossubjetivação que é "uma ferramenta usada pelo neoliberalismo para formatar pessoas que naturalizam o absurdo... O sujeito idiossubjetivo se torna incapaz de perceber que está atuando contra seus próprios interesses e os de seus filhos. Esse fenômeno global está associado a uma mudança subjetiva provocada pela ‘racionalidade hegemônica neoliberal4

Aliás, o Cientista Miguel Nicolelis, em entrevista disse que “Trump significa um fenômeno que eu descrevi nos meus livros, o último em 2020, de como um vírus informacional é capaz de infectar milhões de mentes e fazer com que essas mentes criem um supracérebro coletivo, que eu chamo de brain net, que passa a acreditar em coisas que desafiam a realidade tangível, a realidade concreta5

As medidas tomadas no início do governo Trump contra imigrantes ilegais e seu discurso misógino, homofóbico, xenófobo e negacionista demonstram o grau de crueldade e incivilidade desse governo. Se tudo isso não bastasse, Trump propoõe que os EUA assumam a Faixa de Gaza, expulsando os mais de 2 milhões Palestinos de suas Terras e transformando aquela região numa espécie de “Riviera do Oriente Médio" comandada pelo império do norte, ou seja, na verdade o que o desumano presidente “cesarista” pretende é realizar uma limpeza étnica dos Palestinos o que caracterizaria crime contra a humanidade e certamente haveria um levante do mundo civilizado contra essa barbárie.

Acredita-se, também, que Trump quer ser um novo Reagan, aquele presidente que levou ao desmonte da União Soviética, e agora tentaria o mesmo contra a China. No entanto, resta saber se as condições geopolíticas permitirão tal empreitada, pois certamente encontrará resistência de outras nações, a começar pela Europa.

Sabe-se que o crescimento econômico chinês e suas parcerias globais colocaram os EUA contra a parede, aumentando a preocupação do império do Norte. Esse cenário pode beneficiar a América do Sul, especialmente o Brasil, mas é fundamental a unidade da América Latina e do Sul Global contra as ameaças de Trump, que certamente virão na forma de ataques econômicos e políticos.

Portanto, todo cuidado é pouco. O primeiro passo que os países democráticos deveriam fazer é a regulamentação do uso das redes sociais, visando ao combate à desinformação. Como alertou Bertolt Brecht, “A cadela do fascismo está sempre no cio.”















1Fonte:https://outraspalavras.net/crise-brasileira/as-entranhas-expostas-de-uma-lavajato-global/
3Fonte: https://jornalggn.com.br/internacional/miguel-nicolelis-e-os-multiplos-furacoes-que-avassalam-o-sonho-americano/
5Fonte: https://jornalggn.com.br/internacional/miguel-nicolelis-e-os-multiplos-furacoes-que-avassalam-o-sonho-americano/