"A crise representa purificação e oportunidade de crescimento." (Leonardo Boff)
Etimologicamente a palavra “crise” é um substantivo derivado do latim “crisis”, que significa momento de decisão ou de mudança súbita. Mas a definição que melhor se enquadra no contexto é
aquela que nos é ensinada pelos chineses, que afirmam que essa palavra possui
dois ideogramas: um representa perigo e o outro
simboliza oportunidade. Feito essa breve observação, vamos aos
fatos.
Estamos
assistindo nos noticiários dessas últimas semanas, que o Governo passa por uma
grande crise com a sua base aliada, especialmente, com PMDB.
Todos
nós sabemos da grandeza do PMDB e de sua rica e importante história. Contudo,
não é menos verdade, que após a morte de Ulisses Guimarães, o Partido perdeu o
seu norte, e nitidamente se prescinde de uma grande liderança nacional, tanto,
que o vem sendo comandado por forças regionais ou por “caciques” que militam na
política única e exclusivamente, por meio do fisiologismo, mesmo com a forte
oposição de importantes quadros do PMDB.
As
forças conservadoras do país, capitaneadas pela “mídia nativa”, sabem que o
governo está navegando em águas calmas, portanto, rumando para as vitórias nas
eleições municipais, e por conseqüência, no pleito de 2014. A única
possibilidade de frear esse avanço político seria uma oposição forte, porém,
essa se encontra inerte, sem rumo e sem proposta. Assim, resta se valer do fogo
amigo, desde que o mesmo seja alimentado até se criar uma crise institucional.
E exatamente o que essas forças estão tentando fazer, mesmo sabendo que tal
crise pertence ao PMDB, e não ao governo.
Diferentemente
do que vem sendo propalado pelos analistas de plantões, que afirmam que a
Presidenta Dilma não tem jogo de cintura para comandar essas crises políticas,
o que está ocorrendo no Brasil é uma nova e bem vinda modalidade de se fazer
política. Inversamente do modelo da “Era FHC”, onde a premissa foi o velho jogo
do “toma lá dá cá”, com a Presidenta, o que observamos de fato, é um novo
padrão de política, e a grande prova dessa mudança, foram às exonerações de vários
Ministros, inclusive, do PT, e tudo isso incomoda aqueles que sempre se
locupletaram com as benesses governamentais.
Aliás,
analisando esses dois modelos, o mestre Mauro Santayana, escreveu: “...A maior dificuldade da
política reside na busca do equilíbrio entre a ética e a prática do poder.
Fernando Henrique, apoiando-se em Max Weber, aludiu a uma ética da
responsabilidade, que absolveria os homens públicos. Talvez com isso, o então
presidente estaria justificando as manobras de seu competente auxiliar nesses
assuntos, o ex-militante de esquerda Sérgio Motta, encarregado de lubrificar as
relações com o Parlamento. Em suma, ao considerar necessária, em sua avaliação
e em sua conveniência pessoal, as emendas que lhe permitiram a prazerosa
reeleição e a venda dos bens do povo aos empreendedores privados, o
presidente se valia da ética weberiana da responsabilidade. Como depois se
constatou, não se tratava exatamente da ética, mas de sua contrafação”.
A
propósito, nesse mesmo sentido o Presidente Lula falando sobre essa mudança na
prática de governar, disse ao Senador Eduardo Braga: “O momento é de transformação. O País
vive uma nova realidade econômica e social, por isso é fundamental a renovação
e a instituição de novos métodos e práticas políticas.”
Frente
a tudo isso, fica claro que a Presidenta Dilma está valendo-se dos seculares
ensinamentos chineses, ou seja, reconhece que a crise do PMDB constitui um
perigo, mas também, uma oportunidade para inaugurar um novo modelo de fazer política,
trocando o retrógrado presidencialismo de coalizão com os conhecidos
apadrinhamentos espúrios, por uma nova prática governativa, onde a ética, a
eficiência e a probidade constituem, verdadeiramente, os pilares da
administração pública.
0 comentários:
Postar um comentário